Rotação de Culturas: Entenda tudo sobre a prática agrícola

O agronegócio é peça fundamental da economia nacional, contribuindo com 24,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Tal atividade é sustentada, principalmente, pelo cultivo agrícola (com a utilização de práticas como a rotação de culturas) e pela pecuária, sendo explorada em todo o território do país em diferentes níveis de intensidade e tecnificação.

A produção agrícola brasileira tem como base o cultivo de soja e milho, principais produtos provenientes das lavouras, ocupando as grandes áreas agricultáveis do país. A rentabilidade de ambas as culturas viabiliza a manutenção de um sistema baseado, unicamente, em seu cultivo sucessivo. Entretanto, o uso contínuo do solo por culturas semelhantes gera diversos prejuízos, semelhantes aos originados pela monocultura, dentre eles a redução da biodiversidade microbiológica do solo, maior uso de defensivos agrícolas devido à permanência de pragas específicas e maior incidência de doenças.

A importância da cobertura do solo e o cultivo permanente sobre as áreas agricultáveis pode ser constatada por Rudel et al. (2023), que constataram o incremento na produtividade de lavouras cultivadas com culturas de cobertura através – principalmente – de seus impactos na germinação de plantas daninhas.

Índice

Conceitos e benefícios da rotação de culturas

O monocultivo, como supracitado, pode apresentar malefícios para os solos cultivados e – dessa forma – demonstra a fragilidade de sistemas simples de manejo do solo. Assim, práticas como a rotação de culturas surgem como opção viável de conservação física, química e biológica do ambiente edáfico.

O conceito de rotação de culturas é o cultivo de espécies vegetais distintas em uma determinada área, a fim de diversificar a exploração radicular e – assim – possibilitar efeitos benéficos ao solo, agregando ao cultivo das espécies sucessoras. As culturas rotacionadas não necessariamente são comerciais, uma vez que comumente são cultivadas as denominadas “culturas de cobertura”, espécies sem valor comercial, mas que beneficiam propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

As culturas de cobertura têm como principal papel o estabelecimento de palhada sobre o solo, que reduz o impacto da água e as perdas por erosão e escorrimento superficial. Elas também ciclam nutrientes através da mineralização da matéria orgânica e reduzem a incidência solar sobre o solo, impactando na baixa taxa de desenvolvimento das plantas daninhas, além de apresentarem efeito alelopático de determinadas espécies, que inibe ainda mais o desenvolvimento dessas invasoras.

É comum que ocorra a confusão de rotação de culturas com a consorciação de culturas, mas a principal diferença é o período em que as culturas ocupam o solo. No caso das rotações, como o próprio nome sugere, várias espécies ocupam o solo, mas em momentos diferentes, não havendo simultaneidade de cultivo.

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 Figura 1 – Esquema representativo de rotação de culturas.
Disponível em: https://atuaagro.com.br/blog/rotacao-de-culturas-conheca-os-beneficios-dessa-pratica/

Já na consorciação de culturas, apesar de algumas semelhanças em relação à objetividade, as diferentes espécies ocupam a mesma área em determinado momento. Dessa forma, o manejo do cultivo deve ser baseado nas necessidades fisiológicas de ambas as culturas implementadas.

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Figura 2 – Sistema Santa-Fé (Consórcio Milho-Braquiária).
Disponível em:  https://rehagro.com.br/blog/sistema-santa-fe/.

Uma das principais características de sistemas produtivos baseados na rotação de culturas é o aumento da matéria orgânica do solo através da denominada “adubação verde”, uma vez que os solos brasileiros – de maneira geral – apresentam baixa porcentagem de M.O.S. (matéria orgânica no solo) e tal prática contribui com menor erosão do solo e maior retenção de água.

Além desses benefícios, o aspecto biológico do solo é muito afetado pela rotação, uma vez que diferentes sistemas radiculares beneficiam a diversidade de organismos presentes no solo e, dessa forma, favorecem a redundância funcional (vários grupos funcionais ativos), contribuindo com a estabilidade do sistema edáfico.

Institucional - Rotação de Culturas: Entenda tudo sobre a prática agrícola

Plantio direto

O sistema plantio direto é uma prática com potencial sustentável muito adotada nas lavouras brasileiras, baseada em três princípios: não revolver o solo, manutenção de cobertura sobre o solo e a rotação de culturas. Dessa forma, a prática de alternância de culturas, propiciada pela rotação, viabiliza o sistema plantio direto, refletindo os impactos benéficos da diversidade de culturas no solo e no sistema como um todo. 

A curto prazo, os benefícios fornecidos pelo SPD não são observados, uma vez que o mesmo não se encontra consolidado e com a funcionalidade total atingida. Apesar disso, segundo estudos elaborados por Passos et al. (2014), a partir do segundo ano de cultivo já se observa o maior impacto da manutenção da cobertura do solo e das práticas conservacionistas, já que as produtividades passam a se equiparar e os benefícios, tanto químicos, quanto físicos e biológicos, são obtidos no ambiente produtivo.

Aplicações práticas de rotação de culturas

O uso de culturas de cobertura para o solo, na rotação de culturas, com o objetivo de formação de palhada e ciclagem de nutrientes, traz o seguinte questionamento: para o produtor, é viável tal prática?

Essa resposta depende única e exclusivamente da decisão do produtor. A ação deve ser baseada na viabilidade econômica da produção, aspectos edafoclimáticos da região produtora e características intrínsecas às plantas cultivadas, com amplo espectro de possibilidades para a cobertura do solo e benefícios diversos em relação às culturas comerciais.

A rotação com espécies de desenvolvimento rápido, tolerância ao alumínio (Al) tóxico e exploração radicular profunda pode favorecer o estabelecimento de culturas comerciais através da descompactação do solo, que beneficia o enraizamento das culturas sucessoras, a ciclagem de nutrientes e o aporte de matéria orgânica na área cultivada. 

Um dos principais exemplos de culturas de cobertura que possibilitam – principalmente – a melhora de atributos químicos e físicos do solo são as espécies do gênero Brachiaria. O impacto na disponibilidade de nutrientes por tais plantas se dá através da absorção de nutrientes em grandes profundidades (alta exploração radicular das espécies), que são imobilizados na matéria seca das plantas e, posteriormente, mineralizados pelos microrganismos presentes no solo. Além disso, essas espécies acumulam grande biomassa e propiciam elevado acúmulo de palhada no solo, além de servir como fonte nutricional para sistemas de integração lavoura-pecuária.

No cultivo da cana-de-açúcar, a rotação tem grande importância durante a reforma do sistema, realizado – em média – após 5 cortes no Brasil. Assim, a fim de beneficiar o aporte de nutrientes ao solo e o beneficiamento da microbiota, prefere-se o uso de leguminosas, que realizam fixação biológica de nitrogênio, convertendo N2 atmosférico em formas absorvidas pelas plantas.

Crotalaria spp. é um gênero de plantas que podem atuar de forma antagônica à nematoides, principalmente o nematoide-do-cisto-da-soja (Heterodera glycines). Esse efeito contrário se dá devido aos exsudatos radiculares liberados pelas plantas citadas, que afetam os nematóides fitopatogênicos e – consequentemente – reduzem sua população no ambiente.

Dessa forma, é extremamente importante o entendimento e acompanhamento do sistema, pensando nas características do local e das espécies cultivadas. Assim, pode-se tomar as melhores decisões de manejo e diversificar o sistema com as plantas mais adequadas.

Referências bibliográficas

CEPEA (São Paulo). PIB do agronegócio brasileiro. 2023. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx#:~:text=Considerando%2Dse%20os%20desempenhos%20da,pecu%C3%A1rio%20avan%C3%A7ou%202%2C11%25.. Acesso em: 09 maio 2023.

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DO SISTEMA DE PLANTIO DIRETO. Home. 2022. Disponível em: https://plantiodireto.org.br/. Acesso em: 10 maio 2023.

PASSOS, Alexandre Martins Abdão dos et al. Cultivares de soja em sucessão ao trigo nos sistemas convencional e plantio direto. Revista Agrarian, Lavras, v. 8, n. 27, p. 30-38, jul. 2014.

RUDELL, Eduardo C. et al. Integrated weed management strategies in a long-term crop rotation system. Advances In Weed Science, Sertão, v. 1, n. 1, p. 1-9, nov. 2022.

SANTOS, Henrique Pereira dos; REIS, Erlei Melo. Rotação de culturas em plantio direto. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2001.

 SCHWAN, Adriana Viana. Antagonismo de espécies de crotalária ao nematóide de cisto da soja. 2003. 59 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Agronomia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Dourados, 2003.

ZIMMERMANN, Cirlene Luiza. Monocultura e transgenia: impactos ambientais e insegurança alimentar. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v. 6, n. 12, p. 79-100, dez. 2009.

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