Meiosi vs cantosi: entenda as diferenças

Na cultura da cana-de-açúcar é comum a prática de reforma de canaviais, utilizando métodos como a meiosi, à medida que a produtividade da lavoura é reduzida com o tempo. Considerando o intenso tráfego de máquinas e a incidência de pragas e doenças, a reforma é uma necessidade para garantir boas produtividades, sendo o momento ideal para o preparo do solo visando criar um ambiente favorável ao desenvolvimento das raízes da cana.

Segundo Carvalho et al. (2011), o preparo do solo é uma etapa crucial para definir a longevidade do canavial. Para isso, a decisão por uma reforma deve ser tomada com base em indicadores da qualidade física do solo, como porosidade, densidade, resistência à penetração, bem como o potencial produtivo da área (VARGAS, 1977).

Para isso, duas práticas se destacam quando se fala em reforma de canaviais: a meiosi e a cantosi. Em resumo, ambos os processos consistem no cultivo de mudas de cana em uma fração da área reformada que posteriormente serão multiplicadas para a consolidação do canavial por completo, enquanto na área restante é realizada a implementação de outra cultura, podendo ser desde leguminosas a outras gramíneas como braquiárias, cereais e culturas de cobertura.

Neste texto buscaremos trazer as diferenças entre cada um desses métodos, quais são as situações e épocas ideias e quais os custos envolvidos para cada processo.

Índice

Meiosi

O Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente, ou simplesmente meiosi, é uma técnica de plantio que consiste em “plantar de forma intercalar um percentual da área de reforma, e sua própria produção será utilizada como muda para o restante da área. Neste período, a área pode ser utilizada com outras culturas de ciclo curto” (BARCELOS, 1984).

Os benefícios da meiosi vão desde a redução dos custos de implementação do canavial à renda extra com a cultura de grãos e a utilização da área para semeadura de espécies vegetais que serão posteriormente utilizadas para cobertura do solo ou adubação verde (CTC, 2019).

Essa prática só se tornou viável com o barateamento do custo da muda, o uso de equipamentos de GPS (Sistema de Posicionamento Global) acoplados em equipamentos agrícolas e a utilização de mudas pré-brotadas ou MPB (CTC, 2019). De acordo com um estudo conduzido pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) em 2019, 76,6% das 137 unidades produtoras consultadas na região Centro-Sul utilizaram a meiosi para a reforma de canaviais.

Entretanto, a técnica exige algumas condições para o seu sucesso, como a possibilidade de irrigação, se realizada em épocas secas, as áreas devem ser de fácil acesso o ano todo.

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Fonte: CTC (2019).

As culturas escolhidas para a meiosi dependem da situação em que se encontra a lavoura, o que se deseja obter da cultura e da época em que será plantada (CTC, 2019).

Pensando em adubação verde, as leguminosas são as que mais promovem um aumento na produtividade da cana-de-açúcar. Sendo as mais usadas atualmente o guandu e crotalárias (C. juncea, C. spectabilis e C. ochroleuca) (CTC, 2019).

Para a produção de grãos, a alternativa mais escolhida tem sido a soja por ser uma cultura muito evoluída tecnicamente. A cultura do amendoim também pode ser realizada nesse sistema. As Poáceas requerem alguns cuidados no cultivo por serem do mesmo gênero que a cana-de-açúcar, podendo multiplicar doenças e pragas. O cultivo do milho ou sorgo deve ser evitado em locais onde a variedade anterior ou a ser cultivada não for resistente ao mosaico da cana-de-açúcar (CTC, 2019).

No Dry - Meiosi vs cantosi: entenda as diferenças

Meiosi X Cantosi

A principal diferença da meiosi para a cantosi é que, na última, a área que receberá a desdobra pode ou não estar próxima da fileira plantada inicialmente, o que pode acarretar em maiores custos de multiplicação, com corte, carregamento e transporte.

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A escolha do método depende das tecnologias e da mão de obra disponíveis. Enquanto a desdobra mecanizada da meiosi depende de maquinário específico, apesar de pode ser feita de forma manual, a cantosi requer equipamentos considerados padrão por parte das empresas, sendo preferida em alguns casos (COURY, 2019).

Segundo entrevista dada à página NovaCana, o gerente de desenvolvimento de produto Mauro Violante, do CTC, conta que a meiosi demanda um maior planejamento das operações ao exigir uma maior atenção no controle de pragas e plantas daninhas, além da necessidade de irrigação para minimizar os riscos climáticos. Na mesma entrevista, Violante ainda explica que alguns dos motivos determinantes para que a meiosi não seja adotada estão na falta de conhecimento da técnica, aliada a uma necessidade de planejamento mais complexo, disponibilidade de mão de obra e necessidade de GPS.

Em outra entrevista a mesma página, ainda, Bonilha, da Ourofino Agrociência, considera o investimento válido, pois as vantagens compensam: redução no consumo de mudas, a sanidade das mudas com relação a pragas e doenças, o ganho de produtividade, o benefício agronômico para o solo e o aumento da renda com a rotação de cultura.

Conclusão

Ambas as práticas são essenciais para garantir boas condições do solo para o desenvolvimento da cana-de-açúcar e estão consolidadas entre as unidades produtoras no país. Para a escolha da meiosi, planejamento é a palavra-chave, devendo considerar os objetivos do produtor e a época em que será realizado o processo. Nela, a intercalação das linhas de mudas auxilia na multiplicação futura, reduzindo custos ao produtor.

A cantosi, por sua vez, é uma técnica mais simples mas que ainda assim, em situações onde o preparo para a meiosi não pode ser realizado, ainda garante que as áreas já plantadas não se deteriorem ao ponto de reduzir o rendimento das indústrias canavieiras.

A expansão para novas áreas não deve ser realizada se as áreas já implantadas não estão sendo bem manejadas. A preservação das boas características físico-químicas dos solos cultivados é um compromisso de todo produtor que deseja se manter forte no mercado, uma vez que esse cuidado impacta diretamente na produtividade da lavoura, e a meiosi e a cantosi são ótimas alternativas para esse manejo.

Referências bibliográficas

BARCELOS, J.E.T. “Meiosi – Cana e Alimentos” Método inter-rotacional ocorrendo simultaneamente. SACCHARUM (Revista Tecnológica da indústria açucareira alcooleira). Ano VII, Número 31. Março/ abril 1984.

CARVALHO, L. A.; SILVA JUNIOR, C. A.; NUNES, W. A. G. A.; MEURER, I.; SOUZA JÚNIOR, W. S. Produtividade e viabilidade econômica da cana-de-açúcar em diferentes sistemas de preparo do solo no Centro Oeste do Brasil. Revista de Ciências Agrárias, v. 34, n. 1, p. 199-211, 2011.

CENTRO DE TECNOLOGIA CANAVIEIRA (CTC). Manual Técnico MEIOSI. Piracicaba, fev. 2019, 14 p. Disponível em: https://ctc.com.br/produtos/wp-content/uploads/2018/09/Manual-de-Boas-Práticas-Meiosi-FEV2019-V5.pdf. Acesso em: 26 mar. 2024

COURY, Rafaella. Meiosi ganha força como alternativa para aumentar produtividade dos canaviais: evolução das tecnologias e utilização de mudas pré-brotadas facilitam implementação da técnica. Evolução das tecnologias e utilização de mudas pré-brotadas facilitam implementação da técnica. 2019. Disponível em: https://www.novacana.com/noticias/meiosi-forca-alternativa-aumentar-produtividade-canaviais-300419. Acesso em: 26 mar. 2024.

VARGAS, M. Introdução à mecânica dos solos. São Paulo. Mcgraw-Hill do Brasil, 1977. 509p.

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