Percevejo-marrom: saiba tudo sobre a praga

Uma das principais pragas da cultura da soja é o percevejo-marrom (Euschistus heros), uma praga neotropical cujos impactos vêm aumentando desde a década de 70. A espécie é adaptada a regiões quentes, tornando-a mais comum desde o norte do estado do Paraná ao Centro-Oeste (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999). Além da soja, o percevejo-marrom pode atacar outras culturas como feijão, milho, algodão, girassol e outras espécies das famílias Fabaceae e Brassicaceae (CAMPOY; DURIGAN, [s.d.]).

Neste texto, buscaremos entender o desenvolvimento da espécie, quais os danos que ela causa às culturas, como deve ser realizado o monitoramento e quais métodos de controle são possíveis de serem adotados.

Índice

Reprodução de desenvolvimento

Os percevejos fitófagos, como o percevejo-marrom, pertencem à ordem Hemiptera; os insetos dessa ordem não passam por metamorfose completa como borboletas (Ordem Lepidoptera) e besouros (Ordem Coleoptera), mas ainda sofrem mudanças em sua estrutura corporal ao longo do seu desenvolvimento, e são, portanto, chamados de hemimetábolos (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999).

Durante o seu desenvolvimento os percevejos passam pela fase de ovo, ninfa (com cinco ínstares) e, por fim, alcançam a fase adulta (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999). A identificação da fase do desenvolvimento do percevejo-marrom é essencial para a tomada de decisão das medidas de controle; ninfas nos primeiros ínstares não causam tantos danos quanto ninfas de 3º a 5º ínstar e adultos, alterando o nível de controle a depender do estádio de desenvolvimento.

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Figura 1 – Ínstares do percevejo-marrom (Euschistus heros)
Fonte: Cividanes, 1992.

O desenvolvimento de ovo a ninfa do Euschistus heros leva de 28 a 35 dias, e a longevidade média varia entre 50 a 120 dias. Os ovos são postos em massas de 5 a 7 ovos e possuem coloração amarelada (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999); ninfas recém-eclodidas possuem coloração alaranjada e permanecem próximas aos ovos, sem se alimentarem até alcançarem o segundo ínstar. Do terceiro ao quinto ínstar sua coloração varia do cinza ao marrom, e apenas quando adultos apresentam os “espinhos” no pronoto e as asas completamente desenvolvidas (CAMPOY; DURIGAN, [s.d.]).

Na soja, o período de colonização desses percevejos se inicia no final do período vegetativo (Vn) ou no início da floração (R1 ou R2). Com o aparecimento das vagens em R3 a população aumenta, em especial de ninfas, fase denominada período de alerta. Contudo, a fase mais crítica do ataque de E. heros  ocorre no início do enchimento dos grãos (R5.1), e sua população continua crescendo até atingir o pico populacional em R6. A partir daí a população cresce e, ao final da colheita, os indivíduos remanescentes já se realocaram para plantas hospedeiras alternativas (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999). O E. heros possui a capacidade de entrar em um estado de dormência (diapausa) após a colheita em restos culturais, podendo atravessar um longo período de até sete meses sem se alimentar. Em razão disso, sua persistência nas lavouras é alta, considerando que durante esse período o percevejo-marrom está menos suscetível ao ataque de parasitóides e predadores (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999).

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Figura 2 – Comportamento da população dos percevejos-pragas da soja no Norte do Paraná.
Fonte: Corrêa-Ferreira e Panizzi, 1999.

Danos do percevejo

O percevejo-marrom é um sugador de grãos, e seu ataque pode afetar seriamente o rendimento e a qualidade do grão cultivado. Neste, os sintomas são enrugamento, redução no tamanho e cor mais escura que o normal, mais popularmente conhecido como “grão chocho” (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999). Além disso, o ataque de E. heros pode provocar a “retenção foliar” em algumas plantas, em razão de toxinas injetadas pelos insetos durante sua alimentação (CAMPOY; DURIGAN, [s.d.]).

Em comparação a outras espécies de percevejo, como o percevejo-verde-pequeno, o dano causado por indivíduo de E. heros é menor, mas considerando seus níveis populacionais superiores ao percevejo-verde-pequeno, o dano coletivo pode ser maior (EMBRAPA, 2021).

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Figura 3 – Danos de percevejos em grãos de soja
Fonte: Revista Cultivar. Foto: Jerson Guedes.

Monitoramento do percevejo

O método de amostragem mais utilizado para quantificar a quantidade de percevejos presentes na lavoura é por meio do pano de batida (2 m de fileira). A amostragem deve ser realizada toda semana nas horas mais frescas do dia, a partir do início do desenvolvimento das vagens em R3 (“canivetinho”) até a maturação fisiológica em R7. Durante o período crítico, como já mencionado anteriormente entre R5.1 e R6, o monitoramento deve ser intensificado. As ninfas até o segundo ínstar são contadas separadamente, e a partir do terceiro ínstar são contadas juntas aos adultos. A identificação visual não é eficiente para estimar o nível populacional (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999).

Durante o período crítico, o controle deve ser realizado quando encontrados 4 ou mais percevejos por pano de batida (adultos e ninfas a partir do terceiro ínstar) para campos de produção de grãos, sendo esse nível reduzido pela metade quando se tratando de campos de produção de sementes (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999). No caso de cultivares resistentes ao ataque de percevejos, este nível pode ser dobrado (8 percevejos por pano de batida ou 4 por m de fileira) (EMBRAPA, 2021).

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Figura 4 – Níveis de ação para a tomada de decisão em controlar percevejos em soja.
Fonte: Corrêa-Ferreira e Panizzi, 1999.

Métodos de controle do percevejo

Controle químico: Os grupos químicos considerados eficientes para o controle do percevejo-marrom são três: Organofosforados (Grupo 1B), Neonicotinóides (Grupo 4A) e Piretróides (Grupo 3A) (CAMPOY; DURIGAN, [s.d.]). Junto à calda dos inseticidas pode ser adicionado sal de cozinha (0,5%), que possui efeito arrestante no inseto, mantendo-o por mais tempo sobre o alimento e, consequentemente, aumentando sua contaminação (EMBRAPA, 2021).

O horário mais recomendado para a aplicação é entre as 11h e 14h, quando os percevejos se encontram nas partes superiores da planta e mais expostos aos jatos de pulverização (EMBRAPA, 2021).

É importante salientar a importância da rotação dos mecanismos de ação e de outras táticas de controle aplicadas contra os insetos (CAMPOY; DURIGAN, [s.d.]). Inseticidas não seletivos podem afetar populações de inimigos naturais do percevejo-marrom e de polinizadores (TOGNON, 2021).

Controle cultural: como já mencionado anteriormente, o percevejo-marrom é capaz de sobreviver em restos culturais e em plantas hospedeiras voluntárias, como a macega-estaladeira, o esporão-de-galo (TOGNON, 2021), amendoim-bravo, carrapicho-de-carneiro e guandu (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999). O controle dessas plantas no campo é de extrema importância para evitar a persistência da praga na área.

Controle biológico: o controle de percevejo-marrom com inimigos naturais pode ser feito com a utilização do parasitóide Telenomus podisi e microrganismos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae. No caso do T. podisi, é uma vespa parasitóide que deposita seus ovos no interior dos ovos dos percevejos; por parasitismo, as novas vespas se alimentam dos ovos, tornando-os escuros.

Figura 4 Acao do fungo B bassiana sobre o Percevejo marrom 15 dias apos a inoculacao 1 - Percevejo-marrom: saiba tudo sobre a praga
Figura 5 – Ação do fungo B. bassiana, sobre o Percevejo-marrom
Fonte: ResearchGate
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Conclusão

O percevejo-marrom (Euschistus heros) é uma praga de importância enorme para muitas culturas de destaque no Brasil, principalmente para a soja. Seu controle pode ser feito de várias formas, isso possibilita a realização do Manejo Integrado de Pragas, aumentando a eficiência do controle e reduzindo custos para o produtor.

O conhecimento da espécie e seu comportamento é a ferramenta mais útil ao produtor para que a espécie deixe de ser um problema tão grande quanto é hoje.

Referências bibliográficas

CAMPOY, Helvio; DURIGAN, Mariana. Percevejo-marrom Euschistus heros. [s.d.]. Disponível em: https://www.irac-br.org/euschistus-heros. Acesso em: 18 mar. 2024.

CIVIDANES, Francisco J. Determinação das exigências térmicas de Nezara viridula (L., 1758), Piezodorus guildinii (West., 1837) e Euschistus heros (Fabr., 1798) (Heteroptera: Pentatomidae) visando ao seu zoneamento ecológico. 1992. 100 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP, Piracicaba, 1992.

CORRÊA-FERREIRA, Beatriz S.; PANIZZI, Antônio R. Percevejos da Soja e seu Manejo. Circular Técnico n.29. Londrina: Embrapa Soja, 1999. Disponível em: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/461048. Acesso em: 18 mar. 2024.

EMBRAPA. Como manejar percevejos na cultura da soja. 2021. Dourados, MS. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/63509003/como-manejar-percevejos-na-cultura-da-soja. Acesso em: 18 mar. 2024.

TOGNON, Roberta. Conheça o percevejo-marrom, Euschistus heros, e as principais formas de controle! 2021. Disponível em: https://bioinagro.com.br/conheca-o-percevejo-marrom-euschistus-heros-e-as-principais-formas-de-controle/. Acesso em: 18 mar. 2024.

Henrique Stefanini - Percevejo-marrom: saiba tudo sobre a praga

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