Extrato de Algas: Conheça o biofertilizante

A busca por alternativas às práticas comuns de manejo, como a utilização de extrato de algas, se intensificou desde o reconhecimento dos impactos, principalmente climáticos, gerados pelos sistemas tradicionais de cultivo, quando o equilíbrio ecossistêmico era deixado de lado em prol de maiores produtividades.

Entretanto, com as mudanças climáticas e a necessidade de alcançar altas produtividades, mesmo que em condições adversas, surgiram novas tecnologias que favorecem o potencial produtivo em condições não ideais de cultivo. 

Dentre essas alternativas, destaca-se o uso de extrato de algas como biofertilizante, buscando aumentar a resistência das culturas e, dessa forma, reduzir o impacto das condições adversas na produtividade das plantas.

Nesse texto, vamos abordar o funcionamento e as principais vantagens do uso dos extratos de algo em culturas comerciais.

Índice

Principais aspectos do extrato de algas

Os biofertilizantes têm como principal função promover o desenvolvimento das plantas cultivadas, podendo auxiliar em processos fisiológicos e beneficiar a microbiota do solo por meio de suas propriedades biológicas. 

Sendo considerado um produto biológico, os extratos de algas são derivados de algas marinhas encontradas, principalmente, em águas frias – que não excedam os 27 ºC. O principal objetivo da aplicação nas culturas comerciais é beneficiar a resistência das plantas às intempéries bióticas e abióticas, em suma. Dessa forma, é possível que a planta expresse grande parte de seu potencial genético produtivo mesmo em situações contrárias ao seu desenvolvimento, como déficits hídricos e ataques de pragas.

Existem três principais grupos de algas utilizados para a produção de extratos de algas: marrons, pardas e vermelhas. As algas marrons e pardas, embora apresentem diversas características semelhantes às vermelhas, se destacam devido à presença de florotaninos, polifenóis que auxiliam na atividade antioxidante; dessa forma, o uso de tais algas pode auxiliar a planta à reduzir o estresse oxidativo causado por déficit hídrico, por exemplo. Além disso, possuem como característica o alto teor de nitrogênio, bem como de fitormônios.

As algas vermelhas também apresentam propriedades antioxidantes devido às micosporinas, aminoácidos que absorvem radiação ultravioleta e a dissipam, sem impactar na concentração de espécies reativas de oxigênio (ERO’s). Ademais, as algas vermelhas possuem como característica o aumento do metabolismo basal, favorecendo maior taxa fotossintética, divisão celular e assimilação de nitrogênio. 

A composição dos extratos de alga é bastante complexa, contando com diversos compostos benéficos ao desenvolvimento vegetal como nutrientes (macro e micro), fitormônios e aminoácidos. Devido ao equilíbrio dos compostos apresentados, uma das espécies mais utilizadas é a Ascophyllum nodosum, que conta com altos teores de auxinas, citocininas, bem como outros compostos promotores de crescimento.

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Figura 1 – Ascophyllum nodosum.
Disponível em: https://www.fertilizantesyabonos.com/ascophyllum-nodosum/.

O principal uso dos extratos de alga têm sido relatados em cana-de-açúcar, onde os benefícios fornecidos pelos produtos têm sido relevantes na resistência e manutenção da produtividade em condições de estresse abiótico.

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Aplicações práticas do extrato de algas

Apesar do uso ainda não comum em grande parte das propriedades brasileiras, o consumo de extrato de alga tem aumentado ano após ano no Brasil e – de certa forma – possibilitado efeitos fisiológicos e bioquímicos envolvidos em respostas positivas em condições onde tais efeitos não eram esperados de forma natural.

Como o foco do uso dos extratos de alga visa a mitigação dos efeitos adversos dos estresses abióticos, como o estresse hídrico, é importante ressaltar quais propriedades intrínsecas aos extratos colaboram com a maior resistência às intempéries citadas. 

Os fitormônios, como auxinas, citocininas e giberelinas, são compostos responsáveis pelo desenvolvimento primário das plantas, apesar do funcionamento específico de cada um. Contidos no extrato de alga, principalmente de Ascophyllum nodosum, favorecem a vegetação das plantas e, em culturas que possuem maior ciclo (especialmente as perenes), maior consistência da produção, uma vez que períodos de estresse hídrico são comuns durante o ano e podem afetar negativamente o desenvolvimento da planta. Por isso, Chen et al. (2021) buscaram desenvolver estudos relacionados à aplicação de Ascophyllum nodosum em cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) e notaram que o uso de tal produto durante diversos estágios de desenvolvimento da planta contribuiu com a maior altura dos colmos.

Além disso, os mesmos autores demonstraram que o uso de Ascophyllum nodosum no estádio vegetativo, pré-seca e na maturação da cana-de-açúcar beneficiou o aumento do acúmulo de sacarose no colmo devido à ativação de enzimas como a Sacarose Sintase e a Invertase Ácida, propiciando maior qualidade tecnológica da cultura. 

Aziz et al. (2011) concluíram que a aplicação foliar de Ascophyllum nodosum contribui, além dos benefícios supracitados, com o aumento do teor nutricional das partes comerciais, alcançando até 50% de aumento de P na folha de alface (Lactuca sativa).

Por fim, a soja – principal cultura produzida no país – também é beneficiada pelo uso de extrato de algas, como constatado por Meyer et al. (2021). Em seu ensaio, os autores observaram que a aplicação foliar de extrato de Ecklonia maxima, principalmente em R1, proporcionou maior quantidade de flores, nós, vagens e grãos por planta, resultando em maior produtividade da cultura.

Conclusão

O uso de extrato de algas contribui com diversos processos fisiológicos e com o mais eficiente uso da terra e dos insumos. Dessa forma, se mostra como uma alternativa viável e benéfica aos sistemas produtivos, levando em conta o impacto ambiental causado por práticas tradicionais e o excesso de uso de fertilizantes, que pode ser atenuado pela aplicação de biofertilizantes nos cultivos. 

Assim, tendo em vista as operações rurais e os métodos produtivos estabelecidos durante o desenvolvimento da agricultura, deve-se atentar aos efeitos gerados por todo o sistema extrativo e produtivo para que não haja um desequilíbrio ambiental pelo uso de tais produtos.

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