Culturas de Cobertura: um guia para a segunda safra

Considerando a vastidão das áreas agricultáveis em nosso país, as diferentes condições climáticas, as características de cada tipo de solo, as especificidades de cada planta utilizada como cobertura e a intenção de cada produtor, não existe uma única estratégia para a implementação de culturas de cobertura, mas sim, inúmeras possibilidades, o que gera um ambiente de dúvidas entre produtores que, muitas vezes, não encontram um material que se adeque às suas necessidades.

Neste texto buscaremos explorar quais são essas possibilidades pensando em uma possível implementação na segunda safra, indicando características de cada espécie de planta (quando deve ser feita a semeadura, qual a quantidade de sementes que deve ser utilizada, qual a biomassa esperada etc.), quais as indicações e limitações de uso e, por fim, os impactos no manejo da saúde do solo, para que cada produtor consiga encontrar a melhor opção para o seu cenário.

Índice

Benefícios do uso de culturas de cobertura

O uso de culturas de cobertura é uma prática conservacionista que busca, como diz o nome, cobrir o solo. Entretanto os benefícios de sua implementação vão muito além do seu mero recobrimento superficial e impactam seus aspectos físicos, químicos e biológicos. Na superfície, as culturas de cobertura protegem o solo de erosão pela redução do impacto da chuva, reduzem as enxurradas e aumentam a resistência à desagregação. Também auxiliam na regulação térmica, redução da evaporação e no controle de plantas daninhas. Fisicamente, as culturas de cobertura auxiliam na formação de agregados estáveis e de bioporos para a circulação de ar e água através do crescimento de suas raízes. Quimicamente, essas culturas de cobertura auxiliam na ciclagem de nutrientes após sua decomposição, quando disponibilizam nutrientes que absorveram durante o seu crescimento (Nitrogênio, Fósforo, Potássio e outros macro e micronutrientes); além do aumento dos teores de matéria orgânica do solo. Biologicamente, elas auxiliam no controle de pragas e patógenos ao favorecerem a alta atividade biológica do ambiente.

Como as culturas de cobertura devem ser usadas?

As culturas de cobertura podem ser utilizadas em diversas situações, como na reforma de canaviais, na entressafra, em consórcio com outras culturas, entre espécies arbóreas perenes ou mesmo para posterior pastejo, tanto individualmente como em mix de espécies, que também apresentaremos aqui. 

Espécies de culturas de cobertura

Estarão elencadas aqui as seguintes espécies: aveia-branca, aveia-preta, canola, centeio, chícaro, crotalária (ocroleuca e spectabilis), ervilha-forrageira, feijão-guandu-anão, girassol, nabo-forrageiro, trigo, trigo-mourisco e triticale. Confira abaixo as principais características dessas culturas de cobertura.

Aveia-branca (Avena sativa)

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Cultura de cobertura: Aveia-branca (Avena sativa)

A aveia-branca é resistente a secas, a baixas temperaturas e ao pisoteio animal e é capaz de cobrir rapidamente o solo. O custo de cultivo e produção de sementes é relativamente baixo e também pode ser cultivada para a produção de forragem, silagem e grãos para a alimentação de bovinos. 

Possui efeito alelopático que atrapalha a germinação de daninhas para as culturas de verão, auxilia no manejo de podridões radiculares e mofo branco e diminui a população de nematóides do gênero Meloidogyne.

Suas limitações se relacionam à época de semeadura (exige temperaturas mais amenas), ao mal desempenho sob a presença de alumínio e por exigir altos teores de matéria orgânica.

É mais plantada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde as condições são mais favoráveis e o seu potencial de acúmulo de nutrientes pode ser de até 130 kg/ha de N, 340 kg/ha de K e 23 kg/ha de P.

ÉPOCA DE SEMEADURAMarço – Abril: para cobertura e alimentação animalMaio – Junho: produção de sementes
SEMEADURA200 a 300 sementes viáveis por m2 com espaçamento de 17 a 20 cm
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO80 – 110 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEIStemperatura ideal entre 20 e 25ºC; não tolera altas temperaturas
EXIGÊNCIA NUTRICIONALMais exigente que aveia-preta; demanda adubação nitrogenada e solo de média a baixa fertilidade
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 30 – 50 t/ha
Matéria seca: 7 – 15 t/ha

Aveia-preta (Avena strigosa)

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Cultura de cobertura: Aveia-preta (Avena strigosa)

É uma ótima alternativa para cobertura de inverno, principalmente na região Sul. Também é comumente utilizada na entressafra em sistemas de plantio direto e é boa candidata como antecessora da cultura do milho, pelo seu baixo custo de plantio, alto potencial de produção de biomassa e rápido recobrimento do solo.

A aveia-preta também auxilia na ciclagem de nutrientes, permitindo a reciclagem de K de camadas mais profundas (até 200 kg/ha) e, ainda, podendo retornar ao solo, em média, 80 a 130 kg/ha de N, 12 kg/ha de P, 68 kg/ha de Ca e 20 kg/ha de Mg.

Possui efeito alelopático sobre daninhas de folha estreita e pode ajudar a reduzir infestações de nematóides do tipo Meloidogyne javanica. O próprio recobrimento da superfície do solo já promove a supressão de plantas daninhas.

Suas raízes profundas e fasciculadas aumentam a estabilidade de agregados e melhoram a estrutura do solo no geral, consequentemente aumentando a capacidade de troca catiônica e ciclagem de nutrientes.

Suas limitações estão relacionadas à sensibilidade a altos teores de alumínio, não tolera solos alagados, alta demanda por luz solar, desenvolvimento melhor em solos argilosos de boa drenagem e deve-se evitar o cultivo junto com cereais de inverno como o trigo.

ÉPOCA DE SEMEADURAMarço – Julho
SEMEADURA60 a 90 kg/ha (a depender do sistema de plantio)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO80 – 110 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEIStemperatura amenas a quentes (até 30ºC) e tolera estresse hídrico
EXIGÊNCIA NUTRICIONALSolos bem drenados, férteis, ricos em matéria orgânica. Faixa de pH ideal entre 5,5 e 6,0
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 30 – 60 t/ha
Matéria seca: 5 – 10 t/ha

Canola (Brassica napus)

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Cultura de cobertura: Canola (Brassica napus)

A canola é a terceira oleaginosa mais cultivada do Brasil nos últimos anos, e os destinos de sua produção vão desde ração animal à fabricação de óleo e biodiesel. É muito usada no Sul, mas existem estudos sobre o seu cultivo no Centro-Oeste.

É considerada uma ótima opção para sistema de rotação de culturas, principalmente com trigo, pois auxilia na mitigação de doenças desta cultura reduzindo inóculos de fungos necrotróficos (Fusarium graminearum e Septoria nodorum). Além disso, proporciona a possibilidade de produção de óleo vegetal no inverno.

Quanto às suas limitações, essa cultura tem um potencial de potencialização de algumas doenças de culturas de verão como a soja. Sua implementação deve considerar a propagação do fungo do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) e canela preta (Leptosphaeria maculans). Também é sensível a geada em estádios iniciais do seu crescimento e no florescimento, e apresenta sensibilidade ao histórico de herbicidas usados na cultura anterior como atrazina, cinarizina, diclosulam, flumetsulam, fomesafen, imazaquin, imazethapyr e metribuzin.

A decomposição de sua palhada oferece, em média, 40 kg/ha de N, 19 kg/ha de P, 105 kg/ha de K e 14 kg/ha de S e a liberação de exsudados de suas raízes, nomeadamente os glucosinolatos, apresenta efeito inibitório de oomicetos e nematóides do solo e a inibição de germinação de sementes de daninhas.

ÉPOCA DE SEMEADURAMarço – Junho
SEMEADURA3 a 4 kg/ha de sementes (40 plantas/m2)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO50 – 70 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISAdaptada ao clima temperado e subtropical, se desenvolve melhor em temperaturas próximas a 20ºC, mas é sensível a geada em algumas fases.
EXIGÊNCIA NUTRICIONALFaixa de pH ideal entre 5,0 e 6,0
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 20 – 30 t/ha
Matéria seca: 2 – 3 t/ha

Centeio (Secale cereale)

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Cultura de cobertura: Centeio (Secale cereale)

O centeio é destinado principalmente para a colheita de grãos e forragem. Possui alta rusticidade, crescimento rápido e sistema radicular profundo e agressivo. Além disso tem vantagens na redução de inóculos de doenças no solo e é muito persistente como palhada, por possuir altos teores de lignina, celulose e hemicelulose.

Diferente da aveia, é mais resistente ao alumínio tóxico e a solos com baixa fertilidade e pH, ou seja, não apresenta grandes exigências em adubação

Seus fatores limitantes se resumem ao custo com a semente, visto que são muito pequenas e frequentemente semeadas a lanço, o que aumenta a possibilidade do aparecimento de daninhas. Deve ser controlada na época certa para evitar infestação e competição com a cultura sucessora. Para evitar o acamamento não deve-se exceder 80 kg/ha de N.

O centeio é muito utilizado na recuperação de áreas em processo de desertificação, tornando-o viável para solos degradados e arenosos.

ÉPOCA DE SEMEADURAA partir de março: pastagem
Maio – Junho: produção de grãos
SEMEADURA40 a 60 kg/ha (a depender do sistema de plantio)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO60 – 90 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISTemperatura ideal entre 25ºC e 31ºC; tolerante a geadas
EXIGÊNCIA NUTRICIONALAdaptado a solos pobres. Faixa de pH ideal entre 5,0 e 7,0
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 20 – 30 t/ha
Matéria seca: 4 – 10 t/ha

Chícharo (Lathyrus sativus)

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Cultura de cobertura: Chícharo (Lathyrus sativus)

O chícharo é uma alternativa às culturas de cobertura cobertura leguminosas e se adapta muito bem em diferentes tipos de solos, desde os calcários a secos e pouco férteis. Muito utilizada no Paraná para a adubação verde antes da safra em função da fixação biológica de nitrogênio que pode fornecer até 105 kg/ha de N.

Sua adaptação é melhor nas regiões mais frias do Sul do país, e quando usada com fim de adubação verde pode ser roçada logo na emissão das flores, aportando nutrientes no solo e fornecendo cobertura contra a erosão. É muito usada antes de lavouras de milho, altamente exigentes por nitrogênio, mas também em entrelinhas de culturas perenes frutíferas.

Limitações, entretanto, podem surgir quanto ao tamanho de suas sementes (dificultando a semeadura e até mesmo o transporte até a lavoura). Deve ser bem manejada para evitar a infestação dessas culturas de cobertura e os produtos químicos registrados para a cultura ainda são escassos.

Como mencionado anteriormente, a planta realiza fixação biológica de nitrogênio em associação com bactérias do gênero Rhizobium, o que reduz a necessidade de aporte desse nutriente para os próximos cultivos. Sua relação C/N é baixa, o que implica em uma rápida decomposição de suas estruturas, aportando C e outros nutrientes mais rapidamente. Quando cultivadas na entrelinha é capaz de recuperar nutrientes que não estão no alcance das raízes, e é capaz de ciclar, além do nitrogênio já mencionado, 5 kg/ha de P e 25 kg/ha de K, além de aumentar os teores de matéria orgânica do solo.

ÉPOCA DE SEMEADURAMarço – Maio
SEMEADURA120 kg/ha com espaçamento de 20 a 30 cm
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO100 a 120 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISApresenta tolerância à seca e ao frio não prolongado, não tolera geadas. Adaptabilidade em clima temperado quente ou subtropical com estação fria. 
EXIGÊNCIA NUTRICIONALSe adapta bem a solos pobres e bem drenados, mas em solos de baixa fertilidade recomenda-se a calagem
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 20 – 40 t/ha
Matéria seca: 2 – 6 t/ha

Crotalária ocroleuca (Crotalaria ochroleuca)

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Cultura de cobertura: Crotalária ocroleuca (Crotalaria ochroleuca)

Essa espécie de crotalária é considerada uma das principais culturas de cobertura e é conhecida por sua resistência ao déficit hídrico e crescimento rápido e vigoroso de suas raízes, que podem descompactar camadas adensadas de solo. Em comparação às outras espécies de crotalária, a Ochroleuca tem um crescimento mais acelerado, muito interessante para cenários de colheita tardia.

Sua alta capacidade de descompactação, aporte de biomassa, combate à erosão e nematóides e adaptabilidade a diversas condições de solo a coloca como uma boa opção para talhões de produtividade reduzida da propriedade e áreas de reforma de canaviais, por exemplo.

Entretanto, pode servir como “ponte verde” em casos de rotação com soja (por serem da mesma família), e pode gerar problemas na semeadura resultando em desuniformidade de stand em razão de suas sementes pequenas.

Sua capacidade de aporte de biomassa, citado anteriormente, combinada à sua baixa relação C/N (que favorece a acelerada decomposição de suas estruturas) contribui para a ciclagem de nutrientes. Essa decomposição contribui com o aporte médio de 200 kg/ha de N, 18 kg/ha de P, 100 kg/ha de K, 35 kg/ha de Ca e 25 kg/ha de Mg ao solo.

Quanto aos benefícios à biologia do solo, o cultivo com crotalária promove um aumento na taxa de colonização na rizosfera e no crescimento de micorrizas arbusculares (que contribuem para a estabilidade dos agregados, ciclagem de nutrientes – especialmente P – e na construção de bioporos que auxiliam na retenção de água).

ÉPOCA DE SEMEADURAOutubro – Novembro: recomendado
Dezembro – Março: tardio
SEMEADURA10 kg/ha com espaçamento de 50 cm e profundidade de 2 a 3 cm. Se feita a lanço, utiliza-se 12 kg/ha de sementes e cobre-se com solo.
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO120 a 135 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISAdapta-se aos climas tropical e subtropical, porém não tolera geada.  
EXIGÊNCIA NUTRICIONALPossui capacidade de se desenvolver em solos com baixa fertilidade e com baixo teor de matéria orgânica. 
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 20 – 30 t/ha
Matéria seca: 7 – 10 t/ha

Crotalária spectabilis (Crotalaria spectabilis)

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Cultura de cobertura: Crotalária spectabilis (Crotalaria spectabilis)

Como a Crotalária ocroleuca, essa a Crotalária spectabilis também é considerada como uma das principais culturas de cobertura nos campos. Originária das Américas, essa leguminosa destaca-se em relação às outras quanto ao seu alto potencial de reduzir a população de nematoides de galhas, cistos e das lesões radiculares e pela excelente capacidade de fixação biológica de nitrogênio. Durante a segunda safra é muito utilizada em consórcio com o milho por seu porte mediano, que não interfere no trânsito de máquinas e pessoas, mas também pode ser utilizada ao fim da janela de plantio da segunda safra se, na área em questão, não for instalada a cultura principal.

Dentre as espécies de crotalárias, é justamente a sua estrutura que a torna apropriada para o consórcio com o milho. Nesse caso, seu plantio ocorre com a lavoura de milho já estabelecida, entre V2 e V3 (junto à adubação de cobertura).

Um ponto de extrema atenção à escolha dessa espécie é sua impossibilidade de uso em áreas de pastagem, visto seu efeito tóxico. Também pode competir com a cultura principal e apresentar problemas com Fusarium spp. em caso de uso constante.

Sua relação C/N baixa favorece sua decomposição rápida e ciclagem de nutrientes, especialmente de nutrientes lixiviados no perfil do solo trazidos à superfície pelo seu sistema radicular ramificado e profundo, como potássio, cálcio, magnésio e nitrato. Disponibiliza, em média, 220 kg/ha de N, 24 kg/ha de P, 220 kg/ha K, 65 kg/ha de Ca e 28 kg/ha de Mg ao solo.

ÉPOCA DE SEMEADURAOutubro – Novembro: recomendado
Dezembro – Fevereiro: tardio
SEMEADURA30 sementes/metro (12 – 15 kg/ha), com entrelinhas de 40 – 50 cm. Se feito à lanço, aumentar em 20% o volume de sementes e cobri-las com solo em sequência.
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO110 a 140 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISAdapta-se aos climas tropical e subtropical, porém não tolera geada. Necessita de precipitação acima de 800 mm/ano. Possui alta tolerância à seca e baixa tolerância ao encharcamento. 
EXIGÊNCIA NUTRICIONALSe desenvolve bem em diferentes tipos de textura de solo, inclusive nos solos relativamente pobres em fósforo.
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 20 – 30 t/ha
Matéria seca: 4 – 6 t/ha

Ervilha-forrageira (Pisum sativum subs. arvense)

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Cultura de cobertura: Ervilha-forrageira (Pisum sativum subs. arvense)

A ervilha forrageira é uma planta rústica com crescimento inicial acelerado e alta capacidade de cobertura do solo. É muito usada como adubação verde e fonte de nitrogênio, por ser uma leguminosa. Seus usos abrangem também feno, silagem, ou grãos para alimentação animal. 

É recomendado que seu controle seja feito antes do florescimento para favorecer o rebrote e é comumente consorciada com triticale, crotalária, guandu e outros.

Suas limitações, contudo, indicam que seu crescimento é retardado sob condições de déficit hídrico e é susceptível a algumas pragas como Ascochyta pisi, Rhizoctonia solani, Fusarium sp., além de estar sujeita ao ataque de pulgões, lagartas e tripes.

É uma planta com alta relação C/N, por isso pode disponibilizar rapidamente, em média, 143 kg/ha de N, 20 kg/ha de P, 196 kg/ha de K, 48 kg/ha de Ca e 26 kg/ha de Mg.

ÉPOCA DE SEMEADURAJaneiro – Junho
SEMEADURA60 – 80 kg/ha (solteira)
40 – 45 kg/ha (consorciada)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO80 – 110 dias (pleno florescimento)145 – 160 dias (ciclo completo)
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISTemperaturas amenas e altas; Tolerante a geadas desde que não sejam frequentes e prolongadas
EXIGÊNCIA NUTRICIONALSolos de média a alta fertilidade, responde a aplicação de N, P e Ca.
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 35 t/ha
Matéria seca: 4 – 6 t/ha

Feijão guandu-anão (Cajanus cajan)

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Cultura de cobertura: Feijão guandu-anão (Cajanus cajan)

Outra leguminosa capaz de realizar fixação biológica de nitrogênio, é conhecida por sua rusticidade e apelidado de “zebu” das leguminosas. Possui alto valor proteico, o que a torna uma opção tanto para a alimentação humana quanto animal. Para a alimentação animal pode ser oferecida em consórcio com gramíneas (como feno), picado ainda verde, farelo (moído quando seco), como banco de proteína ou para ser pastejado.

É muito recomendada para recuperação de solos degradados pois apresenta eficiente produção de massa verde com baixa relação C/N para utilização como adubo, além de ser uma grande recicladora de nutrientes e descompactadora do solo em razão do seu sistema radicular vigoroso e profundo. Pode ser usada em consórcio com culturas perenes, e para a produção de silagem é comum plantar a cultura junto a uma gramínea na mesma linha, visando o corte conjunto.

Os empecilhos a sua implementação são a sua suscetibilidade a fungos (Sclerotium rolfsii, Fusarium sp.), principalmente em solos de textura arenosa, e a sensibilidade ao ataque de formigas saúvas e cortadeiras. Seu lento crescimento inicial também a torna sensível à competição com plantas daninhas.

Seu aporte de nutrientes gira em torno de 40-280 kg/ha/ano de N, 29 kg/ha de P, 74 kg/ha de K, 209 kg/ha de Ca e 4,5 kg/ha de Mg.

ÉPOCA DE SEMEADURASetembro: adiantado
Outubro – Novembro: recomendado
Dezembro – Fevereiro: atrasado
SEMEADURA60 kg/ha (adubação verde)
20 – 60 kg/ha (produção de sementes)
50 – 60 kg/ha (à lanço)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO70 – 100 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISBem adaptadas às regiões tropicais e subtropicais. De lento crescimento inicial, sua faixa de temperatura ideal está entre 18 e 30ºC. Também são tolerantes a períodos prolongados de seca pelo seu sistema radicular vigoroso e é suscetível a geadas.
EXIGÊNCIA NUTRICIONALDesenvolve-se melhor em solos bem drenados, e quanto à fertilidade não é exigente. 
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 12 – 45 t/ha
Matéria seca: 3 – 12 t/ha

Girassol (Helianthus annuus)

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Cultura de cobertura: Girassol (Helianthus annuus)

Popularmente conhecida por sua capacidade de acompanhar o sol (movimento heliotrópico), essa cultura de cobertura pode ser utilizada para a safrinha, em substituição ao milho ou sorgo. Mais tolerante ao estresse hídrico, propõe-se como uma opção para o Centro-Oeste, além do seu ciclo curto e alto potencial de produção de óleo.

Entretanto, pode se apresentar como sensível à acidez do solo e à toxicidade do alumínio em pH inferior a 5,2 (recomenda-se o plantio em solo corrigido). Solos rasos e/ou compactados podem comprometer o crescimento da planta que possui sistema radicular profundo. Sua população deve ser adequada a 40 – 45 mil plantas/ha, dificultando a semeadura. 

Sua colheita também pode ser um problema, com perdas na produtividade ocorrendo por pequenas desregulagens nas máquinas; é possível adaptar colhedoras de milho para o serviço. Outro limitante pode ser a suscetibilidade à nematóides do gênero (Meloidogyne) e a exigência de N, que pode afetar a produtividade de biomassa e óleo significativamente se estiver em falta ou excesso.

Tem um bom crescimento de parte aérea, de baixa relação C/N, favorecendo sua decomposição. Aporta ao solo, em média, 31 kg/ha de N, 2 kg/ha de P, 45 kg/ha de Ca e 17 kg/ha de Mg.

ÉPOCA DE SEMEADURASetembro – Janeiro: Sul e Centro-Sul
Janeiro – Março: Centro-Oeste
SEMEADURA20 kg/ha
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO60 – 80 dias
EXIGÊNCIA NUTRICIONALSolo de média a alta fertilidade, baixa acidez, solo profundo e bem drenado. 
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 40 – 70 t/ha
Matéria seca: 7 – 15 t/ha

Nabo-forrageiro (Raphanus sativus)

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Cultura de cobertura: Nabo-forrageiro (Raphanus sativus)

Da família das Brássicas, é uma das principais culturas de cobertura e é amplamente utilizada para adubação verde e rotação ou sucessão de culturas como soja, milho e algodão. Tem um sistema radicular agressivo capaz de explorar solos compactados e adensados em grandes profundidades (popularmente conhecido como escarificador biológico). Cresce rapidamente até cobrir 70% do solo em 60 dias, e possui características alelopáticas que inibem o crescimento de invasoras.

O nabo forrageiro vem sendo amplamente utilizado em sistemas de integração lavoura-pecuária e para a extração de óleo dos grãos (usados na produção de biocombustível). 

Possui baixa relação C/N, favorecendo a decomposição rápida; para a permanência mais prolongada da palhada na superfície do solo recomenda-se o consórcio com aveia, triticale ou alguma outra gramínea. Ainda, exige a aplicação de herbicidas para evitar seu rebrotamento, e pode apresentar efeitos alelopáticos negativos no feijão.

Deve-se atentar para a possibilidade de ponte verde para o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum).

A decomposição de sua palhada fornece, em média 63,5 kg/ha de N (extraído de camadas mais profundas), 4,5 kg/ha de P, 78,5 kg/ha de K e 35,5 kg/ha de Ca, e a decomposição de suas raízes estimula a população e diversidade de bactérias do solo.

ÉPOCA DE SEMEADURAAbril – Maio: época ideal
Junho – Julho: com restrições
SEMEADURA15 kg/ha (a lanço)
12 kg/ha (em linha com espaçamento de 25 cm)
Para mistura com fertilizante/corretivo: 1 kg de semente para 50 kg de corretivo.
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO60 – 90 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISAdaptada ao clima temperado quente e subtropical com estação fria; tolerante a secas e geadas.
EXIGÊNCIA NUTRICIONALDesenvolve-se razoavelmente em solos pobres e ácidos.
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 20 – 65 t/ha
Matéria seca: 3 – 9 t/ha

Trigo (Triticum spp.)

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Cultura de cobertura: Trigo (Triticum spp.)

Pertencente à família das Poáceas, é a segunda maior cultura de cereais do mundo, largamente utilizada na alimentação humana e de animais. É a principal alternativa para a semeadura no Sul do país como uma ótima fonte de renda. No Cerrado também pode ser uma alternativa para evitar as consequências negativas da monocultura. Sua comercialização pode viabilizar investimentos maiores na safra principal.

Suas limitações estão relacionadas à época de plantio que pode coincidir com o período de estiagens, prejudicial à germinação e mais suscetível à lagarta Elasmo, além do seu florescimento poder coincidir com a época de geadas. O excesso de chuvas, irrigação e alta umidade podem favorecer o aparecimento de doenças.

Sua palhada possui uma alta relação C/N, o que pode causar a imobilização de nutrientes do solo exigindo posterior adubação, mas sua decomposição, ainda que lenta, libera, em média, 25 kg/ha de N, 3 kg/ha de P, 18 kg/ha de K, 5,5 kg/ha de Ca e 4 kg/ha de Mg.

O crescimento de suas raízes é pouco vigoroso, mas profundo, portanto não se recomenda o plantio em áreas com compactação ou adensamento em profundidade.

ÉPOCA DE SEMEADURAAbril – Junho
SEMEADURA120 kg/ha (entrelinhas de 20 cm, 60 plantas por metro linear)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO50 – 70 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISTemperaturas próximas a 20ºC e dias longos, podendo florescer mais rápido em razão do fotoperíodo prolongado
EXIGÊNCIA NUTRICIONALSolos de textura média, férteis e pH em torno de 6,0.
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 10 t/ha
Matéria seca: 4 – 6 t/ha

Trigo-mourisco (Fagopyrum esculentum)

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Cultura de cobertura: Trigo-mourisco (Fagopyrum esculentum)

É uma planta da família Polygonaceae, rústica, de ciclo curto, adaptável ao controle de daninhas, tolerante à acidez, capaz de aproveitar sais de fósforo e potássio pouco solúveis no solo e bom desenvolvimento em solos pobres.

Pode ser alternativa de rotação de culturas na primavera-verão (Sul) ou outono-inverno (Centro-Oeste) tanto para culturas anuais quanto semi-perenes. Pode ser utilizada como adubo verde em razão de sua produção de biomassa e controle de nematóides, mesmo em regiões de baixa pluviosidade. 

Contudo, não tolera solos muito úmidos e exige a temperatura do solo acima de 18ºC durante o seu plantio, e não tolera temperaturas inferiores a 3ºC. Ainda, a cultura exige a polinização cruzada, o que implica em atenção ao uso de inseticidas que possam atingir a população de abelhas, e deve ser plantada na época certa para evitar competição com a cultura em sucessão. 

Seu sistema radicular agressivo é capaz de ciclar, em média, 46 kg/ha de N, 11 kg/ha de P, 88 kg/ha de K, 29 kg/ha de Ca e 13 kg/ha de Mg em 4,5 t/ha de matéria seca. Ainda auxilia no controle de nematóides ao inibir a reprodução de Pratylenchus e suprimindo o desenvolvimento de até 90% de formas juvenis de Meloidogyne e Incognita.

ÉPOCA DE SEMEADURAOutubro – Dezembro: recomendado
Janeiro – Março: atrasado
SEMEADURA60 – 65 kg/ha (em linha)
70 – 80 kg/ha (a lanço)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO35 – 50 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISTemperatura amenas a altas (18 a 25°C), não tolera geadas ou temperaturas inferiores a 3ºC. 
EXIGÊNCIA NUTRICIONALDesenvolve-se razoavelmente em solos pobres.
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 15 – 28 t/ha
Matéria seca: 3 – 6 t/ha

Triticale (X Triticosecale)

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Cultura de cobertura: Triticale (X Triticosecale)

O triticale é o produto da hibridização entre o trigo (Triticum aestivum) com o centeio (Secale cereale), com considerável rusticidade, o que permite seu cultivo em solos ácidos ou que apresentam déficit hídrico. É utilizado em períodos mais frios do ano em regiões de temperaturas mais amenas, principalmente em sucessão com a soja na região Sul, permitindo um recobrimento prolongado dos solos.

Por ser um híbrido entre o trigo e o centeio, seu valor nutricional e manejo é muito semelhante ao seus parentais, com uso na alimentação humana e animal. Além disso, pode ser utilizada para a produção de forragem e tem alto potencial de rebrotamento e rendimento de grãos.

Suas limitações são poucas, direcionadas ao clima mais ameno e à escolha da cultivar certa para cada situação (considerando época de semeadura, densidade de semeadura, nutrição de plantas e controle de pragas e doenças).

É tolerante ao alumínio tóxico do solo, produz bem em solos arenosos e de baixa fertilidade, mas a adubação com fertilizantes pode aumentar a produção de grãos e biomassa. Em sua decomposição a palhada fornece, em média, 6,8 kg/ha de N, 1,4 kg/ha de P, 20,6 kg/ha de K, 3,3 kg/ha de Ca e 0,4 kg/ha de Mg.

ÉPOCA DE SEMEADURAMarço – Maio
SEMEADURA80 – 120 kg/ha (entrelinhas de 17 cm, 60 – 80 plantas por metro linear)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTO70 – 85 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISTemperaturas baixas e amenas; tolerante a geadas
EXIGÊNCIA NUTRICIONALSolos de baixa e média fertilidade com pH entre 4,5 e 5,5.
PRODUÇÃO DE BIOMASSABiomassa: 9 – 10 t/ha
Matéria seca: 4 – 7 t/ha

Mix de Sementes: Aveia preta + Ervilhaca + Nabo forrageiro (Avena strigosa + Vicia sativa + Raphanus sativus)

O consórcio dessas três espécies é benéfico porque, enquanto a aveia-preta promove a imobilização do nitrogênio, as outras aumentam sua disponibilidade no solo e o tempo de permanência dos resíduos no solo é alto. Ao mesmo tempo, impedem a dispersão de invasoras na área e são utilizadas como adubo verde na entressafra de grandes culturas, podendo ser cultivadas no sul, parte do sudeste e centro-oeste. 

Deve-se tomar cuidado com o plantio muito tardio, que pode fazer com que essas culturas de cobertura sofram com altas temperaturas comuns no outono brasileiro.

Com a diversidade dos sistemas radiculares, o consórcio entre essas três espécies favorece a formação de bioporos que auxiliam na aeração do solo, promovem o aumento da população e diversificação de microrganismos do solo, auxiliam na boa estruturação dos agregados e na descompactação do solo. 

ÉPOCA DE SEMEADURAAveia-preta: Março – Julho; Ervilhaca: Abril – Maio; Nabo forrageiro: Abril – Maio
SEMEADURA60 kg/ha (55% aveia-preta, 30% ervilhaca e 15% nabo forrageiro)
CICLO ATÉ O FLORESCIMENTOAveia-preta: 80 – 120 dias; Ervilhaca: 100 – 130 dias; Nabo forrageiro: 80 dias
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS FAVORÁVEISAveia Preta: regiões temperadas e subtropicais, podendo ser cultivada a nível do mar e também de 1000 a 1300 m. É resistente ao estresse hídrico e à geada. 
Ervilhaca: regiões temperadas e subtropicais, sendo sensível ao frio, à deficiência hídrica e ao calor. 
Nabo Forrageiro: Planta de clima frio e úmido, sendo tolerante a geadas e também à secas.
EXIGÊNCIA NUTRICIONALAveia preta: prefere solos argilosos com boa drenagem; pouco sensível à acidez (pH entre 5 e 7); não tolera baixa fertilidade. Requer adubação nitrogenada de cobertura. 
Ervilhaca: não tolera solos úmidos, nem excessivamente ácidos e nem baixa fertilidade. Tem boa produção em solos argilosos e férteis, podendo se adaptar a solos arenosos com boa fertilização. 
Nabo forrageiro: pouco exigente quanto a fertilidade, resistindo a solos ácidos
PRODUÇÃO DE BIOMASSAAveia Preta: Biomassa: 10 – 30 t/ha; Massa seca = 2 – 6 t/ha 
Ervilhaca: Biomassa = 20 – 28 t/ha; Massa seca = 2 – 3 t/ha 
Nabo Forrageiro: Biomassa = 20 – 35 t/ha; Massa seca = 3,5 – 8 t/ha
Biorecover - Culturas de Cobertura: um guia para a segunda safra

Conclusão

O uso de culturas de cobertura é extremamente benéfico à saúde do solo, melhorando seus aspectos físicos, químicos e biológicos. A capacidade dessas culturas de cobertura em ciclar nutrientes, contribuir para a supressividade do solo e a estabilidade dos agregados, aumentar a retenção de água e reduzir a perda de umidade, promover a biodiversidade dos microrganismos do solo, traz, por fim, benefícios à produtividade e sustentabilidade da produção agrícola.

Contudo, considerando as diversas variáveis, é de competência do produtor escolher aquela espécie (ou mix de espécies) que melhor se adapta ao seu cenário e ao seu objetivo, sempre buscando as instruções de fontes confiáveis que entregam um conteúdo verídico e aplicável.

Referências bibliográficas

CHERUBIN, Maurício Roberto (org.). Guia Prático de Plantas de Cobertura: aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo. Piracicaba: Divisão de Biblioteca – Dibd/Esalq/Usp, 2022. 126 p. DOI: 10.11606/9786589722151

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