Algodão: conheça seus reguladores de crescimento

Dentro de um mesmo talhão há diferenças na disponibilidade de nutrientes, incidência de pragas, disponibilidade hídrica, estrutura do solo, e muitos outros fatores que influenciam o crescimento das plantas. O algodoeiro, em especial, é extremamente sensível a essas alterações e a falta de padrão no crescimento das plantas na lavoura dificulta o manejo, os tratos culturais e a colheita, e ainda impacta na qualidade das fibras colhidas e nas impurezas que as acompanham. Isso ocorre porque o algodão possui um hábito de crescimento indeterminado, o que, aliado a um campo corrigido e bem adubado, pode promover um desenvolvimento vegetativo exacerbado, que compete por fotoassimilados com os órgãos reprodutivos da planta (maçãs e capulhos).

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Imagem 1 – Plantas de algodão apresentando crescimento desuniforme entre si.
Fonte: Embrapa Algodão

Em razão disso, são utilizados, na cultura do algodão, reguladores de crescimento para uniformizar o desenvolvimento das plantas. Estes produtos atuam nos mecanismos de balanço dos hormônios vegetais responsáveis pelo alongamento, divisão e diferenciação celular, como a giberelina, por exemplo. Os produtos mais conhecidos e utilizados são o Cloreto de Mepiquat e o Cloreto de Clormequat, que interferem na síntese e velocidade de translocação do ácido giberélico.

Os principais efeitos do uso desses produtos são (1) a redução do tamanho dos internódios, do número de nós, da altura das plantas, do comprimento dos ramos vegetativos e reprodutivos, do número de frutos danificados, do número de folhas na época da colheita; (2) aumento da espessura e da intensidade coloração verde das folhas; (3) aumento da retenção de frutos nas primeiras posições dos ramos produtivos, do peso de capulho e do peso de 100 sementes; (4) uniformização da abertura das maçãs (Banci, 1992; Carvalho et al., 1994; Stewart et al., 2001).

Nesse texto buscaremos indicar qual o momento de entrada desses produtos e a frequência com que devem ser aplicados.

Índice

Métricas para avaliar a necessidade de reguladores de algodão

Os aspectos que devem ser considerados em relação à tomada de decisão sobre a aplicação desses produtos são (1) o crescimento das plantas, (2) a fertilidade do solo, (3) as condições de temperatura e umidade, (4) a cultivar plantada, (5) a população de plantas e (5) época de semeadura.

Para avaliação do crescimento das plantas existem várias métricas, que não diferem em eficiência entre si: altura de plantas, comprimento dos últimos 5 internódios da haste principal, razão entre altura e número de nós.

Na fertilidade do solo, áreas que foram adubadas com doses elevadas de nitrogênio apresentam crescimento vegetativo intensificado.

As condições climáticas também influenciam a eficiência dos reguladores; Rosolem et al. (2013) avaliaram que a faixa de temperatura de 22ºC a 32ºC propiciava os melhores efeitos dos fitorreguladores.

Em cultivares de porte elevado e ciclo longo os efeitos dos reguladores são mais evidentes, e as doses de produto necessárias são diferentes.

Populações de plantas maiores serão mais sensíveis ao crescimento vegetativo desregulado, afetando a chegada de luz solar às folhas.

Para plantios tardios, é mais evidente o potencial de controle de crescimento e aumento da produtividade realizado pelos fitorreguladores.

Quando entrar com a aplicação de reguladores de crescimento no algodão

O momento da primeira aplicação deve ocorrer entre os estádios B1 e F1, ou seja, entre o aparecimento do primeiro botão floral e a primeira flor, quando as plantas atingirem 0,30 m – 0,45 m, a depender da cultivar. Para cultivares de crescimento inicial vigoroso (BRS Cedro, BRS 269 – Buriti, BRS Jatobá) a primeira aplicação ocorre com as plantas com 0,30 – 0,35 m de altura; para as cultivares BRS Ipê, BRS Aroeira, FiberMax 966, DeltaOpal, DeltaPente e BRS Araçá, de crescimento mais lento, a altura “controle” será de 0,40 m – 0,45 m. As outras aplicações não seguirão um prazo certo de dias, mas serão definidas pela retomada do crescimento pelas plantas (acompanhando o comprimento dos últimos 5 internódios da haste principal). O atraso na entrada dos produtos pode exigir doses maiores de produto para a obtenção dos mesmos resultados.

As doses do produto também serão definidas com base na cultivar, sempre buscando a altura de plantas na colheita entre 1,20 m e 1,30 m. Um estudo realizado por Ferreira et al., (2005), no Goiás, estipulou as doses ótimas para algumas cultivares:

CultivarCloreto de Mepiquat (g ha-1)
BRS 229 – Buriti95
BRS Aroeira82,5
CNPA GO 2000 AR+50
DeltaPenta30
BRS Araçá20
FiberMax 96610
Tabela 1 – Doses estimadas de cloreto de mepiquat (g ha-1) para diferentes cultivares, considerando-se a altura das plantas na colheita de 1,30 m. Resultados obtidos em Santa Helena de Goiás, GO, 2005. Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS, 2006.

Para outras cultivares, como valor de referência para cálculo, é possível utilizar a dose de 50 g ha-1 de cloreto de mepiquat, aumentando para cultivares de porte alto (BRS Cedro e BRS 269 – Buriti), e reduzindo para cultivares de porte baixo (FiberMax 966, Suregrow 821, BRS Araçá).

Além disso, o parcelamento da dose recomendada tem efeitos mais pronunciados sobre a altura das plantas. Quando parcelada em quatro aplicações, aconselha-se a divisão em 10% da dose da primeira aplicação, 20% na segunda, 30% na terceira e 40% na quarta; quando dividida em três aplicações recomenda-se 25% da dose na primeira, 35% na segunda e 40% na terceira. 

O melhor momento para a pulverização dos fitorreguladores é durante a manhã, com umidade superior a 55% e velocidade do vento entre 3 e 10 km/h, e também sem previsão de chuva para as 8 horas seguintes à aplicação (que pode lavar o produto).

Entre os produtos registrados (cloreto de mepiquat e clormequat) não foram observadas diferenças significativas exceto para a porcentagem de fibra reduzida quando usado o cloreto de clormequat.

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Deve-se considerar, também, que, ao buscar a uniformidade das plantas, a aplicação em taxa variável dos fitorreguladores pode ser interessante, não só por reduzir o desperdício de produto, mas por fornecer as doses necessárias para cada planta, que podem apresentar taxas de crescimento diferentes. As construções de mapas de necessidade desses produtos podem utilizar métricas como o NDVI, obtidas a partir de imagens de drones, consorciadas com amostragens pontuais feitas a mão para validar os dados coletados pelo drone.

Conclusão

O uso de reguladores de crescimento na cultura do algodão é de extrema importância para garantir um bom manejo e uma boa produtividade da cultura. Por meio do seu uso é possível “moldar” plantas com estruturas desejáveis (que favoreçam a colheita, a aplicação de herbicidas, inseticidas e fungicidas), antecipar a abertura dos frutos, aumentar a retenção de frutos nas primeiras posições dos ramos frutíferos etc.

Sua aplicação é necessária, mas requer conhecimento, observando as particularidades de cada propriedade e cultivar plantada.

Referências bibliográficas

BANCI, C.A. Espaçamento entre fileiras e doses do regulador de crescimento cloreto de mepiquat, em três épocas de plantio, na cultura do algodoeiro herbáceo. 1992. 81 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.

CARVALHO, L. H.; CHIAVEGATO, E. J.; CIA, E.; KONDO, J. I.; SABINO, J. C.; PETTINELLI JÚNIOR, A.; BORTOLETTO, N.; GALLO, P. B. Fitorreguladores de crescimento e capação na cultura algodoeira. Bragantia, Campinas, v. 53, n. 2, p. 247-254, 1994.

FERREIRA, A. C. de B.; LAMAS, F. M.; BARBOSA, K. de A. Resposta de genótipos de algodoeiro a doses de regulador de crescimento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 5., 2005, Salvador. Algodão, uma fibra natural: anais. [S. l.: s. n.], 2005.

LAMAS, Fernando Mendes. Fitoreguladores bem manejados equilibram crescimento da planta. Visão Agrícola. Piracicaba, p. 81-84. jul. 2006. Disponível em: https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va06-manejo03.pdf. Acesso em: 14 fev. 2024.

LAMAS, F. M.; FERREIRA, A. C. D. B. Reguladores de Crescimento na Cultura do Algodoeiro. Comunicado Técnico, Brasília, DF, n. 121, p. 1-5, jul. 2006 1679-0472. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/24412/1/COT2006121.pdf. Acesso em: 14 fev. 2024.

ROSOLEM, C. A.; OOSTERHUIS, D. M.; SOUZA, F. S. de. Cotton response to mepiquat chloride and temperature. Scientia Agricola, v. 70, n. 2, p. 82–87, mar. 2013.

STEWART, M. A.; EDMISTEM, K. L.; WELLS, R.; JORDAN, D. L.; YORK, A. C. Wick applicator for applying mepiquat chloride on cotton: I. Rate response of wick and spray delivery systems. Journal of Cotton Science, Bossier City, v. 5, n. 1, p. 9-14, 2001. 

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