Defensivos Biológicos: Conheça os modos de ação

O mercado bioinsumos tem se destacado na agricultura e a aderência do uso de defensivos biológicos para o controle de pragas e doenças é comum no sistema produtivo brasileiro. A perspectiva de desenvolvimento sustentável, norteada pela redução do uso de agroquímicos, é o principal fator que impacta no crescimento rápido do mercado de bioinsumos, principalmente dos relacionados à ação contra fatores prejudiciais, como os patógenos e seus vetores.

Dessa forma, a tecnologia envolvida na produção dos biodefensivos tem sido aprimorada e seus mecanismos de ação elucidados, visando encontrar meios cada vez mais eficientes de aplicação.

Índice

O controle dos defensivos biológicos

O controle biológico é um processo natural que, dentro de cada ecossistema, se estabelece por meio de relações ecológicas entre os organismos que nele estão situados. Dessa forma, pode-se afirmar que se trata de uma interação natural entre organismos, que pode ser afetada pela ação antrópica por meio do manejo ecológico ou pela inserção de organismos no sistema, sendo esse o principal papel do uso de biodefensivos. Tal inserção pode ser realizada de formas diferentes, tendo impacto nos resultados obtidos e no equilíbrio do ecossistema manejado:

  • Controle biológico por importação: a introdução de uma espécie exógena (que tem origem no exterior) ao ambiente de inserção caracteriza a importação de organismos, com o objetivo de estabelecer a nova população, uma vez que terá menos limitações do ambiente ao seu desenvolvimento;
  • Controle biológico por conservação: trata-se do manejo de conservação das espécies naturais do ambiente a ser manejado, tendo em vista a importância da manutenção dos inimigos naturais no ecossistema.
  • Controle biológico aumentativo: consiste na liberação de inimigos naturais no sistema produtivo, tendo em vista a ineficiência dos já presentes no ambiente em controlar as pragas e doenças visadas. A intensidade de liberação afeta diretamente o manejo da área, podendo ser dividida em:
    • Método inoculativo: objetiva a liberação de organismos para que se reproduzam e se estabeleçam no sistema produtivo;
    • Método inundativo: liberação de grande número de indivíduos visando a redução drástica da população de organismos maléficos.
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Mecanismos de ação dos defensivos biológicos

Os biodefensivos, de forma geral, atuam na redução dos impactos causados às plantas por fatores bióticos, como pragas e doenças, e abióticos, como o clima. Assim, quando inseridos no sistema, podem ser estabelecidas relações ecológicas visando a melhoria das condições de desenvolvimento das plantas cultivadas.

A ação direta sobre o sistema pode ser relacionada à ação dos inimigos naturais, que objetivam a redução dos impactos de pragas ou patógenos sobre a produção. Pode-se destacar dois principais métodos de ação pelos agentes biológicos de controle: a predação e o parasitismo.

A predação consiste na busca ativa pela presa, compreendendo os processos de perseguição, captura e ingestão dos inimigos. O uso de organismos predadores é adotado há muito tempo no controle biológico de pragas, sendo facilmente observado e compreendido, até mesmo, de forma natural no sistema produtivo.

Sendo destaque no controle biológico de insetos-praga, a relação de predação pode ser observada no manejo de pulgões, ácaros e lagartas, por meio da ação de joaninhas e tesourinhas.

Sendo consideradas predadoras vorazes, as joaninhas – enquanto larva ou adulto – alimentam-se de espécies de pulgões, cochonilhas e mosca-branca, sendo importante agente biológico de controle para culturas como citrus, gramíneas e hortaliças. Adapta-se facilmente a ambientes diversos, sendo muito versátil no ecossistema, e tem grande potencial de predação, devorando dezenas de inimigos durante seu ciclo de vida.

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Figura 1 – Joaninha (Harmonia axyridis (Pallas, 1773)) predando pulgões.
Disponível em: https://blog.chbagro.com.br/cenario-atual-e-futuro-do-mercado-de-controle-biologico.

As tesourinhas (Doru luteipes) têm papel importante na predação de insetos-praga, principalmente de pulgões, lagartas e moscas. Com alta capacidade de predação, enquanto ninfa ou adulto, se mostra relevante no controle de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho do milho). 

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Figura 2 – Tesourinha (Doru luteipes).
Fonte: Souza et al. (2011).

O mecanismo de parasitismo é considerado direto e muito usual para o controle biológico de pragas, sendo subdivido em parasitismo oval e larval, a depender do estágio de desenvolvimento do hospedeiro. Esse mecanismo de ação consiste na agregação de um organismo a um hospedeiro, que pode ser parasitado durante todo o seu ciclo e, invariavelmente, é morto ou consumido pelo parasitoide.

Trichogramma spp. é um gênero bastante disseminado de parasitoides, ovipositando nos ovos de espécies prejudiciais ao desenvolvimento de diversas culturas, como cana-de-açúcar, milho e algodão. Os ovos das microvespas, ao eclodirem no interior dos ovos dos insetos-praga, causam o rompimento dos mesmos e – dessa forma – inibem o desenvolvimento da população de pragas.

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Figura 3 – Trichogramma pretiosum posicionando seus ovos.
Fonte: Litholdo (2018). 

Um dos exemplos mais comuns de parasitoides larvais é a Cotesia flavipes, microvespa que insere seus ovos no interior de lagartas, como da fase larval da Diatraea saccharalis (broca-da-cana-de-açúcar), e – com a eclosão dos ovos – há o rompimento do organismo do inseto-praga. Assim, o hospedeiro é morto e há a inibição de desenvolvimento do ciclo de vida da praga.

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Figura 4 – Cotesia flavipes parasitando larva de Diatraea saccharalis.
Disponível em: https://gebio.com.br/pesquisas/horario-de-liberacao-sobre-o-parasitismo-de-cotesia-flavipes-hymenoptera-braconidae-em-lagartas-de-diatraea-saccharalis-lepidoptera-crambidae-na-cana-de-acucar/.

A ação dos defensivos biológicos em relação às doenças das culturas se difere, em partes, do manejo biológico de pragas. Entretanto, a relação de parasitismo pode ser realizada, também, para a redução da incidência de patógenos, por meio do desenvolvimento de microrganismos nas estruturas vegetativas ou reprodutivas de outros organismos.

Além disso, os biodefensivos podem utilizar de suas características para induzir resistência das plantas a fatores prejudiciais, principalmente contra patógenos. A principal vantagem do uso de indutores de resistência é o seu efeito resistente e sistêmico, atuando em diversas áreas das plantas. Entretanto, seu uso deve ser realizado constantemente, renovando seu efeito e possibilitando maior eficiência. 

Um exemplo de sucesso da aplicação biológica visando a indução de resistência nas plantas é o uso de Piriformospora indica para redução dos danos de Fusarium verticillioides, graças às características promotoras de crescimento do fungo endofítico. Apesar de alguns casos de sucesso, a aplicação em larga escala depende do desenvolvimento de pesquisas e da viabilização dos processos de indução de resistência.

Conclusões

Os defensivos biológicos são alternativas já estabelecidas no sistema agrícola, com relevância no mercado de insumos e sendo disseminados como prática sustentável e eficiente na proteção de plantas. Com isso, é fundamental que pesquisas e testes práticos de desenvolvimento de novas tecnologias sejam realizados, visando maior viabilidade de utilização e a conscientização dos produtores em relação às vantagens do uso de mecanismos biológicos de controle fitossanitário.

Referências bibliográficas

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. ISSN 0100-6460: Controle biológico como opção no manejo de pragas do algodoeiro. 1 ed. Campina Grande: Embrapa, 2003. 29 p.

EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO DISTRITO FEDERAL. ISBN 978-85-87697-68-4: Predadores e parasitoides: aliados do produtor rural no processo de transição agroecológica. 1 ed. Brasília: Emater, 2011. 92 p.

FONTES, Eliana Maria Gouveia; VALADARES-INGLIS, Maria Cleria. Controle Biológico de Pragas na Agricultura. Brasília: Embrapa, 2020. 514 p.

PASCHOLATI, S. F. et al. Indução de resistência contra patógenos: definição e perspectivas de uso. Visão Agrícola: Proteção de plantas, Piracicaba, v. 1, n. 13, p. 110-112, jul. 2015.

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