Microrganismos e sua ação no controle de pragas e doenças

O manejo integrado de pragas foi criado com o objetivo de intensificar a rotação dos mecanismos de ação para o controle de pragas e doenças, usufruindo também de meios não químicos (como com a utilização de microrganismos) e, dessa forma, reduzindo os impactos causados pela produção agrícola no meio ambiente. Proposto em 1954, por Smith e Allen, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma prática comum e disseminada na agricultura brasileira, com mercado em expansão – principalmente dos agentes biológicos de controle.

Tais organismos são considerados fundamentais para o manejo biológico de pragas e doenças, visando a inserção de espécies benéficas a fim de combater insetos prejudiciais e potenciais patógenos no sistema produtivo. Entretanto, o uso de tais agentes exige cuidados e conhecimento por parte do operador, uma vez que seu uso pode causar danos ao ecossistema e levar a consequências graves.

Nesse texto, vamos focar nos microrganismos que atuam no controle de patógenos e potenciais pragas aos cultivos, entender sua interação com o ecossistema e os resultados atingidos no sistema de produção.

Índice

Interações

Naturalmente, os organismos presentes em um ecossistema realizam interações entre si, sendo elas sinérgicas ou antagônicas, essenciais para o equilíbrio do ambiente no qual vivem. Portanto, a atuação dos agentes biológicos de controle ocorre de forma natural, sendo importante – para os sistemas produtivos – a preservação dos inimigos naturais presentes nas áreas agricultáveis, favorecendo o aspecto econômico da liberação dos biocontroladores.

Entretanto, tendo em vista a melhor eficiência do controle biológico e maior amplitude de impacto, pode-se realizar a liberação de inimigos naturais nas áreas produtivas, podendo ocorrer de forma inundativa ou inoculativa, diferenciando-se pelo objetivo da prática. A primeira (inundativa) visa a liberação massal de organismos controladores, realizando sua função a curto prazo; enquanto isso, a inoculativa visa a liberação de agentes biológicos de controle de forma gradual, estabelecendo a população a longo prazo na área.

A fim de elucidar as relações estabelecidas entre os organismos no ecossistema, pode-se citar, principalmente, as interações de parasitismo, competição e antibiose, que propiciam a atuação dos agentes biológicos de controle na redução da incidência de população dos insetos-praga e das doenças.

As relações de parasitismo ocorrem quando um organismo se “hospeda” em outro, usufruindo de seu hospedeiro e, após um determinado período de tempo, o hospedeiro morre, sendo necessário ao parasita que encontre outro organismo para continuar seu ciclo. Tal relação pode ser observada em diferentes fases de desenvolvimento das pragas, principalmente, desde os ovos até a fase adulta. O reconhecimento de sua atuação, à campo, pode ser realizada por meio da visualização das estruturas parasitadas, que apresentam alterações morfológicas, como observado na Figura 1.

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Figura 1: Ovos não parasitados (à esquerda) e ovos parasitados (à direita).
Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/manejo-integrado-de-pragas/inimigos-naturais-das-pragas-de-soja/parasitoides.

Outra importante interação ecológica que dita grande parte das relações entre os agentes biológicos de controle e os inimigos naturais é a competição interespecífica. Tal relação se dá entre espécies que competem por recursos em um determinado local, levando à redução da população da espécie menos adaptada. O controle biológico pode ser favorecido pelo desenvolvimento das relações de competição, ainda mais quando a mesma já ocorre no ambiente em questão, podendo ser viabilizada pela maior liberação de biocontroladores.

Por fim, a relação de antibiose – também denominada amensalismo – pode ser conceituada como o prejuízo de uma espécie pela liberação de substâncias/metabólitos por outra espécie.

Controle de pragas com microrganismos

Como supracitado, o uso de mecanismos biológicos para controle de pragas é amplamente difundido na agricultura brasileira, mas ainda há espaço para expansão e desenvolvimento do mercado. Assim, é fundamental o conhecimento acerca das possibilidades e do modo de funcionamento dos agentes biológicos de controle, para que seu uso seja correto e evite – à longo prazo – efeitos negativos no ecossistema agrícola.

Um dos exemplos mais relevantes do controle de pragas por microrganismos é o uso de Metarhizium anisopliae para o controle de cigarrinhas, como a Mahanarva fimbriolata (cigarrinha-das-raízes) e Bemisia tabaci (mosca-branca). O Metarhizium é um fungo entomopatogênico que atua na colonização da extensão corporal dos insetos prejudiciais às lavouras, permitindo a germinação de esporos e a consequente formação do tubo germinativo, levando à penetração das estruturas fúngicas no hospedeiro (cigarrinha).

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Figura 2: Adulto de Mahanarva fimbriolata infectado por Metarhizium anisopliae.
Disponível em: https://gebio.com.br/campo/entenda-sobre-a-dose-de-metarhizium-anisopliae-utilizada-para-o-controle-das-cigarrinhas-das-raizes-em-canavial/.

O mecanismo de ação do Metarhizium é o parasitismo, uma vez que estabelece seu ciclo em um hospedeiro, levando-o à morte.

Além do Metarhizium, a espécie Beauveria bassiana também tem potencial entomopatogênico, sendo fundamental para o controle biológico de Helicoverpa zea (lagarta-da-espiga do milho) e Euschistus heros (percevejo-marrom). O mecanismo de atuação é semelhante ao Metarhizium, parasitando o inseto prejudicial e causando a morte por extravasão dos líquidos internos dos mesmos.

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Figura 3: Controle biológico de Euschistus heros por Beauveria bassiana.
Disponível em: http://www.afolhadomedionorte.com.br/agrivalle-registra-nova-formulacao-de-controle-biologico-com-beauveria-bassiana/.

A liberação de tais organismos, como os fungos supracitados, ocorre de forma inundativa – ou seja – em grande quantidade a fim de reduzir a população de maneira imediatista e, dessa forma, evitar possíveis danos graves à cultura instalada.

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Controle de doenças com microrganismos

A ação de microrganismos sobre o controle de fitopatologias ainda é algo em desenvolvimento, tendo muitas pesquisas sendo desenvolvidas e buscando práticas viáveis e eficientes para o uso de tal método no manejo de doenças.

O uso de Bacillus spp. como agente biológico de controle de doenças tem se mostrado bastante eficiente, com resultados promissores por meio do desenvolvimento de pesquisas. O estudo guiado por Dorighello et al. (2014) demonstrou que a aplicação foliar de Bacillus subtilis apresentou relevante inibição sobre a germinação de uredósporos de Phakopsora pachyrhizi, fungo causador da ferrugem-asiática-da-soja, atingindo até 96% de controle, sem haver relação entre a dose aplicada e a eficiência do mesmo.

O uso de microrganismos pode afetar diretamente, como é o caso do Bacillus subtilis, ou indiretamente o controle de doenças nas plantas. O principal meio indireto de controle é a indução de resistência às fitopatologias, por meio da sinalização e desenvolvimento de mecanismos fisiológicos que diminuem os efeitos patogênicos de algumas espécies, como o caso do Trichoderma spp., que – além de favorecer a absorção de nutrientes da rizosfera por meio da formação de hifas – induz a produção de metabólitos que atraem predadores e parasitas de fungos patogênicos, diminuindo a incidência dos mesmos sobre as plantas de interesse comercial.

Conclusões

Por meio do desenvolvimento de pesquisas e estudos acerca da proteção de plantas com o uso de organismos, é possível favorecer o equilíbrio ecossistêmico e o estabelecimento de práticas agrícolas sustentáveis e focadas na qualidade e conservação do solo.

O uso de diversos métodos de controle, principalmente o biológico, pode-se atingir melhores resultados produtivos, elevando o patamar dos sistemas de produção, e viabilizar ainda mais a atividade agrícola, reduzindo os custos de produção e os impactos ambientais, tão relevantes no atual momento do agronegócio.

Referências bibliográficas

BUENO, Adeney de Freitas et al. Parasitóides. 2021. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/manejo-integrado-de-pragas/inimigos-naturais-das-pragas-de-soja/parasitoides. Acesso em: 16 ago. 2023.

DORIGHELLO, Dalton Vinicio; BETTIOL, Wagner; MAIA, Nilson Borlina; LEITE, Regina Maria Vilas Bôas de Campos. Controlling Asian soybean rust (Phakopsora pachyrhizi) with Bacillus spp. and coffee oil. Crop Protection, [S.L.], v. 67, p. 59-65, jan. 2015. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.cropro.2014.09.017.

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