Áreas degradadas: como as tornar produtivas?

O Brasil é considerado um dos principais países produtores de alimento do mundo, participando ativamente do fornecimento de diversas commodities agrícolas para o globo. Entretanto, apesar da elevada produção, a agricultura brasileira apresenta diversos pontos de melhoria, com destaque ao aproveitamento de áreas degradadas que, se tratadas corretamente, poderão se tornar campos agricultáveis. 

O impasse entre o crescimento das áreas de cultivo e a degradação ambiental é ponto central das discussões entre profissionais do setor e ambientalistas, gerando alarde para a expressiva área degradada brasileira, que poderia ser utilizada para sistemas de cultivo agrícola, e ocupa cerca de 140 milhões de hectares, espalhados por todo o território brasileiro.

Índice

O que são áreas degradadas?

O conceito de área degradada, estabelecido por Capellezi et al. (1990), considera como tal áreas que, após distúrbios, tiveram sua vegetação e seus meios de regeneração eliminados. Assim, apresentam baixa resiliência às alterações físico-químicas, se fazendo necessária a ação antrópica para a recuperação das mesmas. Pode-se citar como exemplos de áreas degradadas as áreas de mineração ou utilizadas para deposição de resíduos.

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Figura 1 – Área degradada por mineração.
Disponível em: https://andina.pe/Agencia/noticia-peru-restaurara-32-millones-has-bosques-areas-degradadas-al-ano-2020-609338.aspx.

A maior relevância, em relação à degradação de áreas, é dada às pastagens, que perdem sua eficiência produtiva ao sofrer com a relação antagônica com plantas daninhas e pragas. O Brasil conta com 159 milhões de hectares de pastagens, sendo 100 milhões indicados como degradados em algum nível. A ação antrópica, principalmente por meio de manejos errôneos, pode intensificar a degradação de pastagens e, dessa forma, reduzir a capacidade produtiva da cadeia.

Além de áreas degradadas, ressalta-se a existência de áreas perturbadas que – apesar dos distúrbios sofridos – ainda possuem seus meios de regeneração, eliminando a obrigatoriedade da ação antrópica para a recuperação, sendo recorrente nas áreas de pastagens quando mal manejadas.

Processos de degradação

A degradação das áreas ocorre de forma gradual por meio de processos erosivos, como o transporte de sedimentos e retirada de material do solo. Tais processos podem ocorrer de forma natural, mas a ação antrópica sobre o ecossistema, seja por meio da mineração (como observado na Figura 1) ou dos processos de exploração vegetal, contribui com a aceleração dos mesmos, resultando em alterações súbitas.

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 Figura 2 – Impacto observado após rompimento de barragem de resíduos de mineração.
Disponível em:  https://www.metroworldnews.com.br/foco/2019/01/31/brumadinho-antes-e-depois-fotos.html

A retirada de camadas de solo pode ocorrer pela alteração das propriedades físicas do solo, acometendo em agregação e posterior lavagem dos horizontes superficiais pela chuva, principalmente. Entretanto, esse processo se agrava em locais com solo exposto, principalmente em áreas de desmatamento, onde a camada superficial é exposta às intempéries e é impactada pelas ações antrópicas e naturais. 

A ocorrência de voçorocas representa o máximo impacto da erosão do solo sobre uma área, degradando-o e eliminando grande parte das camadas superficiais do solo. Observa-se, na Figura 3, sua ocorrência, relacionada ao uso errôneo e não sustentável do solo.

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Figura 3 – Voçoroca em área degradada.
Disponível em: https://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/produtor-e-multado-em-r-369-mil-e-tera-que-recuperar-area-tomada-por-erosoes-em-ms.ghtml.

Dessa forma, considera-se a cobertura do solo com palhada uma alternativa mitigadora das perdas por erosão do solo, beneficiando o ambiente edáfico e reduzindo o impacto diante da degradação do mesmo. Além disso, propicia a melhoria do ambiente biológico e, consequentemente, beneficiando a recuperação de áreas degradadas e perturbadas. Isso ocorre pois a cobertura vegetal (palhada) atua como barreira física contra o impacto da água, seja corrente ou da chuva, diminuindo a desagregação e, consequentemente, os processos de perda por erosão do solo. 

Ademais, a manutenção de plantas durante as janelas entre plantios das grandes culturas pode apresentar diversos benefícios às características físico-químicas do solo, como a ciclagem de nutrientes e a descompactação por plantas como as do gênero Brachiaria.

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Figura 4 – Esquema representativo da expansão radicular de plantas de cobertura.
Fonte: Andreote, 2022.

Correção de solo de áreas degradadas

A reestruturação das áreas degradadas deve ser estabelecida a fim de tornar as mesmas propícias à prática agrícola, sendo iniciada pelo preparo de solo, beneficiando as propriedades físicas para posterior correção. Recomenda-se o uso  de práticas como o gradeamento, aração e descompactação do solo, visando o estabelecimento de melhores condições para o desenvolvimento radicular e, consequentemente, da cultura a ser implantada. Posteriormente, deve-se iniciar o processo de correção do solo.

As práticas corretivas, como a calagem, gessagem e fosfatagem, têm as seguintes funções atribuídas:

  • Calagem: correção da acidez do solo, condicionando o solo à um pH entre 5,5 e 6,5, ideal para maior disponibilidade dos nutrientes; fornecimento de cálcio (Ca) e magnésio (Mg), dois macronutrientes;
  • Gessagem: condicionamento da subsuperfície do solo, diminuindo a concentração de alumínio tóxico (Al3+) por meio dos processos de neutralização e auxiliando na movimentação de cátions, como Ca2+, K+ e Mg2+ para as camadas mais profundas do solo;
  • Fosfatagem: fornecimento de fósforo, a fim de aumentar o teor total do nutriente no solo.

Ressalta-se que a recomendação das doses dos corretivos e condicionadores, bem como dos fertilizantes aplicados após a correção, devem ser baseados em análises de solo, a fim de fornecer a quantidade necessária de cada componente.

Biorecover - Áreas degradadas: como as tornar produtivas?

Por fim, é válido sintetizar o fato de que o uso de biológicos para a instalação de sistemas produtivos em áreas de abertura ou degradadas é comum e mostra resultados consolidados. A inoculação e coinoculação de bactérias diazotróficas na cultura da soja contribui com o papel de fixação biológica de nitrogênio, reduzindo a necessidade do uso de fertilizantes nitrogenados. Além disso, a inserção de microrganismos benéficos ao sistema produtivo e estabelecimento das culturas compõem uma prática essencial em áreas degradadas, a recolonização.

Conclusões

O uso eficiente da terra é fundamental para o futuro da agricultura brasileira, visando a expansão da mesma para novas áreas e a instalação de sistemas produtivos funcionais nas mesmas. Assim, pode-se destacar a importância da recuperação de áreas degradadas por meio do manejo físico, visando a melhoria nas condições físicas para o desenvolvimento da cultura, correção e adubação do solo, bem como instalação e manutenção de sistemas conservativos, beneficiando as características físico-químicas e biológicas.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, DS. Conceitos básicos. In: Recuperação ambiental da Mata Atlântica [online].3rd ed. rev. and enl. Ilhéus, BA: Editus, 2016, pp. 24-30. ISBN 978-85-7455-440-2. Available from SciELO Books.

ALVARENGA, Bianca. Investidores buscam lucrar com recuperação e plantio em área degradada. 2022. Disponível em: https://www.metropoles.com/negocios/investidores-buscam-lucrar-com-recuperacao-e-plantio-em-area-degradada. Acesso em: 08 ago. 2023.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. ISSN 0104-9046: Práticas de conservação do solo e recuperação em áreas degradadas. Rio Branco: Embrapa, 2003. 32 p.

GUERRA, Antonio Jose Teixeira. Degradação dos solos: abordagens teóricas e estudos de casos ao longo de 25 anos (1994 – 2019), no âmbito do lagesolos. Revista Humboldt, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 1-29, jul. 2020.

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