Parâmetros tecnológicos da cana-de-açúcar

A avaliação qualitativa do canavial, utilizando certos parâmetros, é um importante indicador para o produto da cana, seja este o açúcar ou etanol. Mas além deles, a cana-de-açúcar fornece inúmeros subprodutos, tais como a vinhaça e a torta de filtro – advindos do processo de industrialização – que são utilizados como fertilizantes na própria produção da cana-de-açúcar, resultando em um ciclo produtivo sustentável.

A análise tecnológica é a responsável pelo acompanhamento do canavial, visando o melhor momento para colheita, focando este, no retorno de açúcar. Essas analises são realizadas em um equipamento chamado PCTS, como observado na Figura 1.

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Figura 1 – Amostragem de lote para análise tecnológica.
Disponível em: https://docplayer.com.br/74772079-Pcts-laboratorio-de-pagamento-de-cana-por-teor-de-sacarose.html.

Após o procedimento de amostragem, o volume coletado segue, identificado, para o laboratório o qual é responsável pela geração dos parâmetros de avaliação.

Índice

Parâmetros tecnológicos da cana: quais são?

Os fatores que impactam os parâmetros tecnológicos da cana-de-açúcar podem ser intrínsecos às plantas, como o estado fisiológico das plantas, o clima, a idade do canavial e – até mesmo – os insumos utilizados durante o ciclo da cultura.

Índices tecnológicosValor recomendado
POL13%
ATR> 15%
AR<0,8%
Fibra12%
Brix18º Brix
Pureza> 85%
Tabela 1 – Valores recomendados para a análise tecnológica.
Fonte: Adaptado de Ripoli e Ripoli (2004); Baptista (2017).

Os parâmetros observados na tabela acima são os principais responsáveis pela qualidade da matéria-prima da indústria sucroenergética e, como supracitado, têm impacto fundamental na valorização dos produtos derivados da cana-de-açúcar.

  • POL: representa o teor de sacarose aparente no caldo da cana-de-açúcar e, tendo em vista a importância da sacarose nos processos de obtenção do açúcar e do etanol, quanto mais alto o valor de POL%, maior a qualidade industrial da matéria-prima. Assim, recomenda-se o início da colheita quando o canavial atinge, em média, 13% de POL.
  • Açúcares recuperáveis totais (ATR): representam a quantidade de açúcares na cana-de-açúcar. O teor de glicose, frutose e sacarose é importante para o processo de obtenção de açúcares, sendo um parâmetro usual para precificação dos lotes de cana-de-açúcar. A mensuração dos açúcares totais recuperáveis é impactada pelo teor de outros parâmetros, como POL% e Brix, sendo expresso em quilogramas de ATR por tonelada de cana-de-açúcar. Diversos fatores podem corroborar na redução do ATR, como o ataque de pragas, alterações climáticas e a sanidade fitopatológica do canavial. 
  • Brix: expressa a porcentagem dos sólidos solúveis de uma solução açucarada. Pode ser determinado por refratômetros e, no campo, pode servir como parâmetro indicativo na verificação da maturação da cana.
  • Açúcares redutores (AR): compõem um parâmetro essencial para a qualidade do açúcar obtido por meio da cana-de-açúcar, uma vez que a redução da glicose e frutose (componentes do AR) no caldo pode tornar o açúcar mais escuro e, dessa forma, reduzir o valor de mercado do mesmo. Além disso, o alto teor de AR na matéria-prima implica na menor cristalização da sacarose, reduzindo a eficiência na produção de açúcar.
  • Teor de fibras tem impacto direto no transporte e moagem da cana-de-açúcar, refletindo na susceptibilidade a danos durante o processo logístico (matéria-prima com baixo teor de fibras) e dificuldade na moagem (alto teor de fibras).
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Figura 2 – Refratômetro utilizado, no campo, para obtenção do Brix.
Disponível em: https://www.instrutherm.com.br/refratometro-mod-rt-280
  • Índice de pureza: visa representar o teor de elementos úteis para a industrialização da cana-de-açúcar. Assim, quanto maior o grau de pureza da cana-de-açúcar, mais simples se torna o processo de recuperação do açúcar para a obtenção dos produtos.

Como aprimorar os parâmetros qualitativos da cana?

O desenvolvimento mútuo da produtividade e do aprimoramento dos parâmetros tecnológicos é fundamental, tendo em vista a a importância de ambos “caminharem” juntos para o aumento da eficiência dos canaviais.

O adequado manejo de pragas e plantas daninhas tem papel fundamental no controle do desenvolvimento de espécies indesejadas e na manutenção da sanidade do canavial. Assim, há o favorecimento do desenvolvimento vegetativo da cana-de-açúcar e da obtenção de melhores parâmetros biométricos,. Além disso, a menor incidência de plantas daninhas no momento da colheita implica na maior eficiência operacional e menor impureza da matéria-prima.

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Figura 3 – Canavial bem manejado.
Disponível em: http://www.canaonline.com.br/conteudo/medidas-que-aumentam-a-qualidade-do-canavial.html

O aprimoramento da nutrição mineral da cana-de-açúcar gera respostas positivas na produtividade e, consequentemente, no acúmulo de açúcares no colmo, favorecendo o TAH (toneladas de açúcar por hectare). Além disso, é válido ressaltar o uso de maturadores visando o acúmulo de sacarose nos colmos da cana-de-açúcar. Siqueira (2014) concluiu que o uso de maturadores, tanto no início quanto no fim de safra, resultou no maior acúmulo de açúcares no colmo, tanto de forma isolada quanto em conjunto com outros nutrientes (pré maturadores).

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Figura 4 – Curvas de desempenho do uso de maturadores no aumento de POL% na cana-de-açúcar.
Fonte: Siqueira (2014).

Conclusões

O incremento de produtividade nos canaviais é uma das prioridades, em conjunto com o incremento de ATR, sendo essencial para o aumento da eficiência produtiva na cana-de-açúcar.

É essencial que os manejos realizados nas áreas produtivas visem o condicionamento dos talhões de forma benéfica ao desenvolvimento da cultura, buscando melhorias no controle de espécies prejudiciais (plantas daninhas e pragas), bem como por meio de manejos específicos, como o uso de maturadores, que propicia melhores condições para a realização de processos como a colheita.

Referências bibliográficas

AMARAL, Rafael Camargo do; BERNARDES, Thiago. Como definir o ponto de colheita da cana-de-açúcar. 2010. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/colunas/thiago-fernandes-bernardes/como-definir-o-ponto-de-colheita-da-canadeacucar-67828n.aspx#. Acesso em: 11 jul. 2023.

BAPTISTA, Antonio Sampaio. Qualidade da cana-de-açúcar como matéria-prima para a indústria sucroenergética. Piracicaba: Esalq, 2017. 96 slides, color.

BOVI, Roberto; SERRA, Gil Eduardo. Impurezas fibrosas da cana-de-açúcar e parâmetros tecnológicos do caldo extraído. Scientia Agricola, [S.L.], v. 56, n. 4, p. 885-896, out. 1999. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0103-90161999000400016.

RPANEWS. Por que o ATR vem caindo? 2016. Disponível em: https://revistarpanews.com.br/por-que-o-atr-vem-caindo/. Acesso em: 11 jul. 2023.

SIQUEIRA, Gabriela Ferraz de. Aplicação de boro e maturadores na pré-colheita da cana-de-açúcar em início e final de safra. 2014. 149 f. Tese (Doutorado) – Curso de Agronomia, Unesp, Botucatu, 2014.

VIAN, Carlos Eduardo Freitas. Qualidade da matéria-prima. 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/cana/pos-producao/gestao-industrial/qualidade-de-materia-prima. Acesso em: 11 jul. 2023.

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