Soja: Doenças de final de ciclo

As doenças de final de ciclo na soja (DFC’s) são conhecidas pelos seus impactos na produção e a perda que podem causar na qualidade dos grãos. Tais doenças, diferentemente das outras, ocorrem exclusivamente no final de ciclo da soja, sendo importante ressaltar que a ferrugem asiática, por exemplo, pode afetar a planta no final de seu ciclo, mas também em outros momentos do desenvolvimento vegetal.

A Figura 1 representa os períodos de ocorrência de doenças da soja, demonstrando os principais estádios afetados pelas doenças, dentre elas as DFC’s.

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Figura 1 – Períodos de ocorrência de doenças da soja.
Disponível em: https://maissoja.com.br/eficiencia-de-fungicidas-no-controle-de-doencas-de-final-de-ciclo-da-soja/.

Como observado na figura acima, as doenças de final de ciclo ocorrem a partir do estádio R4, período inicial da formação de grãos, quando as vagens já foram formadas. A planta, após o início do período reprodutivo, inicia processos metabólicos intensos de translocação de fotoassimilados para as estruturas reprodutivas, elevando a exigência nutricional das plantas.

Índice

Introdução

As doenças de final de ciclo da soja, como supracitado, apresentam impactos extremamente relevantes na cultura, podendo causar prejuízos gigantescos na produção do carro-chefe da agropecuária brasileira.

O ciclo final da cultura da soja é variável de acordo com a cultivar e o local de plantio, como por exemplo na região Sul, onde o ciclo da soja é mais longo quando comparado à região Centro-Oeste. Dessa forma, a ocorrência de DFC’s pode ser mais frequente e penalizar a produtividade da cultura de forma relevante.

Dessa forma, é essencial que os profissionais do setor agrícola tenham conhecimento acerca das condições de desenvolvimento dessas doenças e saibam, com o uso de manejos adequados, aplicar práticas de controle eficientes, viabilizando o cultivo da soja.

Crestamento foliar de Cercospora

O patógeno Cercospora kikuchii é um dos principais causadores de doenças do final de ciclo da soja, atacando folhas, pecíolos, vagens, sementes e hastes da planta. O ataque, por ocorrer em praticamente toda a planta, causa prejuízos no desenvolvimento das estruturas reprodutivas e, consequentemente, perdas relevantes na produtividade da soja.

O fungo é beneficiado por condições de alta umidade e temperatura, na faixa de 23 a 27 ºC, tendo como característica a sobrevivência em restos culturais. Tal fato permite que a doença se propague para os próximos cultivos, sendo uma problemática constante em cultivos convencionais, onde não há rotação de culturas.

Os principais sintomas do crestamento foliar de Cercospora, como o próprio nome sugere, é a irregularização dos bordos foliares e formação de manchas escuras a partir dos crestamentos, causando desfolha a partir do terço superior da planta.

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Figura 2 – Sintoma de crestamento foliar de Cercospora.
Disponível em: https://www.digifarmz.com/blog/soja-crestamento-foliar-mancha-purpura/.

Quando ataca as hastes, o Cercospora kikuchii ocasiona manchas vermelhas superficiais; entretanto, quando o ataque ocorre sobre os nós, pode haver infecção da medula e, dessa forma, causar necrose das hastes.

O controle ainda é bastante limitado ao uso de sementes saudáveis e tratadas com fungicidas, visando a redução do inóculo junto ao plantio para posterior danos à cultura. Além disso, o controle químico na parte aérea apresenta eficiência no controle, mas se ressalta a importância da prevenção, diminuindo a pressão de seleção dos fungos patogênicos como o Cercospora kikuchii.

Antracnose da soja

A antracnose é causada pelo Colletotrichum truncatum, fungo recorrente no Cerrado devido às condições climáticas (altas temperaturas e precipitação elevada) serem favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. Para germinar, o fungo necessita de 12 horas de molhamento foliar; dessa forma, ocorre principalmente em períodos chuvosos ou em locais de alta umidade. Os principais sintomas da ocorrência de antracnose se dá, usualmente, nos períodos reprodutivos da cultura, sendo caracterizados pelo escurecimento das nervuras das folhas, pecíolos e vagens. Além disso, o sintoma mais característico é a abertura prematura das vagens, ocasionada pelo retorcimento das mesmas, gerando perdas produtivas de 90 kg ha-1 de acordo com o aumento de 1% na incidência. O início dos sintomas nas vagens ocorre por meio de pontos encharcados e, posteriormente, evoluem para manchas negras, como na Figura 3.

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Figura 3 – Vagens abertas devido à antracnose.
Disponível em: https://blog.aegro.com.br/antracnose/.

O controle, assim como da Cercospora, se dá por meio da prevenção (tratamento de sementes) e erradicação com a aplicação de fungicidas na parte aérea das plantas. Além disso, a rotação de culturas é recomendada, a fim de reduzir a propagação dos patógenos nos restos culturais, além da adequação da população de plantas e manejo correto de plantas daninhas, visando a menor incidência de condições propícias ao desenvolvimento dos patógenos.

Mancha-olho-de-rã da soja

Causada por outra espécie do gênero Cercospora, a Cercospora sojina, a mancha olho-de-rã é disseminada por meio de sementes e pelo vento, sendo capaz de sobreviver nos restos culturais da soja, se mantendo em condições de infecção nos próximos ciclos. Assim como outras doenças fúngicas, a mancha olho-de-rã é favorecida em condições de alta umidade e altas temperaturas. 

Os sintomas são comuns após o florescimento (estádio R1) e atingem diversas áreas das plantas, como as folhas, vagens, hastes e sementes e se assemelha à antracnose, diferenciando-se pelas manchas com centro claro na face adaxial e cinza na face abaxial.

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Figura 4 – Sintomas da mancha olho-de-rã (Cercospora sojina).
Disponível em: https://blog.aegro.com.br/mancha-olho-de-ra/.

O controle recomendado para a DFC em questão se baseia no uso de sementes sadias e tratadas, visando a redução do inóculo no início do desenvolvimento da soja. Além disso, já existem cultivares resistentes à Cercospora sojina, sendo recomendado o uso de tais materiais para reduzir a incidência de tal doença e, consequentemente, suas perdas.

1Institucional - Soja: Doenças de final de ciclo

Mancha-parda da soja

Uma das principais DFC’s, responsável por perdas relevantes na produtividade da soja, é a mancha parda, causada pelo patógeno Septoria glycines. O fungo em questão pode se manter ativo nos restos culturais, perpetuando-se nos cultivos subsequentes da soja, e é favorecido – também – em ambientes de altas temperaturas e alta umidade. Para sua germinação, o fungo necessita de 6 horas de molhamento foliar, além de temperaturas entre 15 e 30 ºC.

Os principais sintomas da doença se dão por meio de manchas com halos amarelados, que caracterizam o nome de tal doença, sendo característico e bem visível no campo. Ataques severos da doença podem causar a desfolha e precocidade da maturação, prejudicando a colheita dos grãos e causando perdas produtivas relevantes.

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Figura 5 – Sintomas de mancha parda na soja.
Disponível em: https://maissoja.com.br/agricultores-precisam-ficar-atentos-e-agir-contra-a-presenca-da-mancha-parda-nas-lavouras-de-soja2/.

O controle recomendado para a doença é a adoção dos sistemas de rotação de culturas, visando a redução do inóculo nos cultivos subsequentes, além do aprimoramento nutricional das plantas, buscando a melhoria do quadro nutricional. Em anos com alto índice pluviométrico, recomenda-se a aplicação de fungicidas para fins de controle.

Conclusões

A ocorrência de doenças prejudica, severamente, o cultivo da soja no Brasil devido às condições favoráveis de desenvolvimento de fungos, principalmente. Um dos manejos mais adotados para o controle das mesmas é o uso de fungicidas químicos, tradicionalmente utilizados, mas que recentemente têm mostrado impacto negativo no ecossistema e exigido alternativas sustentáveis de controle para as doenças, principalmente as de final de ciclo da soja.

Dessa forma, recomenda-se a busca pela adoção dos métodos de controle alternativos das doenças, essencialmente o biológico, tendo em vista o desenvolvimento de formas sustentáveis e eficientes de controle, que possam perdurar por mais de um ciclo e – de forma natural – equilibrar o ambiente produtivo.

Referências bibliográficas

EMBRAPA (Londrina). Manual de identificação de doenças de soja. Londrina: Embrapa, 2014. 78 slides, color.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. ISSN 2176-2902: Tecnologias de produção de soja – Região central do Brasil 2011. Londrina: Embrapa, 2010. 247 p.

GUERZONI, Rodrigo Ayusso. Efeito das doenças foliares de final de ciclo (Septoria glycines Hemmi e Cercospora kikuchii (Matsu. & Tomoyasu) Gardner) na produção e na duração da área foliar da soja. 2001. 61 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Agronomia, Usp, Piracicaba, 2001.

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