Algodão: Conheça os estádios fenológicos da cultura

A identificação dos estádios de desenvolvimento das plantas, como o algodão, é uma ferramenta de grande importância utilizada pelos produtores para tomarem decisões assertivas em suas práticas de manejo, como adubação, aplicação de hormônios e monitoramento de pragas, possibilitando, dessa forma, um direcionamento dos recursos de maneira eficiente e obtendo resultados econômicos mais satisfatórios.

O algodão, entretanto, possui uma grande variabilidade de desenvolvimento entre suas cultivares, ou mesmo entre elas quando as situações meteorológicas são diferentes, com ciclos que variam entre 130 e 170 dias. Dessa forma, a avaliação de ciclos unicamente a partir da contagem de “dias após o florescimento”, por exemplo, pode não ser muito precisa.

Os estádios fenológicos do algodão são divididos em cinco grandes fases:

  • (i) semeadura à emergência
  • (ii) da fase vegetativa (V)
  • (iii) dos botões florais (B)
  • (iv) do florescimento (F)
  • (v) da abertura do capulho à colheita (C).

Neste texto detalharemos as características que definem cada uma dessas fases e quais observações e/ou medidas são necessárias em cada uma delas.

Índice

Da semeadura à emergência

Em condições normais, essa fase pode durar entre 5 e 10 dias e depende fundamentalmente da temperatura e quantidade de água disponível no solo. É considerada ideal a faixa de temperatura de 25 a 30ºC. Condições diferentes dessas não necessariamente impedem a germinação, mas podem aumentar significativamente o intervalo entre a semeadura e a emergência.

Para garantir um bom estande e sem muitos atrasos, é importante que o produtor opte por sementes de boa qualidade, semeie em épocas adequadas (com temperatura e umidade adequadas) e realize a deposição das sementes em profundidade adequada e uniforme por máquinas bem reguladas.

Fase do Algodão: Vegetativa (V)

A depender da temperatura, essa fase pode demorar de 27 a 38 dias. Nela, o crescimento do sistema radicular é muito intenso, enquanto o desenvolvimento da parte aérea é mais lento. Ainda assim, é por meio do crescimento da parte aérea que é feita a identificação do estádio fenológico.

Nesta fase se desenvolvem os nós e entrenós; desses crescerão os ramos da planta do algodão, que podem ser de dois tipos: vegetativo ou reprodutivo. Em cada nó irá surgir um ou mais ramos vegetativos, que serão acompanhados de um ramo reprodutivo a partir do 5º ou 6º nó. Muitos ramos vegetativos, entretanto, podem ser indesejáveis, visto que competirão pelos nutrientes e produtos da fotossíntese com a parte reprodutiva, podendo aumentar excessivamente o sombreamento da lavoura.

Para a classificação fenológica, é observado o comprimento das folhas verdadeiras (que brotam após as folhas cotiledonares). Da emergência até que o comprimento da primeira folha verdadeira atinja 2,5 cm de comprimento, o estádio será V0. Desta fase até que a segunda folha verdadeira atinja 2,5 cm, será V1, e assim sucessivamente até Vn, quando a “enésima” folha verdadeira atinge os 2,5 cm.

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Figura 1 – Estádios vegetativos do algodoeiro.
Fonte: Adaptado de Marur e Ruano, 2002.

É nessa fase também que se fazem visíveis os resultados das práticas de manejo do solo: solos mal corrigidos, mal adubados e compactados irão comprometer o crescimento radicular e atrapalhar a absorção de nutrientes usados para o crescimento da parte aérea. Por isso é importante planejar a época da correção e adubação para que seus resultados sejam máximos durante esse período.

Quanto às pragas, essa fase é caracterizada pelo ataque de tripes, da broca-da-raiz e de pulgões. O monitoramento dessas pragas para adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP) deve levar em consideração o nível de controle para a adoção de medidas.

Fase do Algodão: Botões Florais (B)

Essa fase é caracterizada pelo crescimento vertical e é, também, muito influenciada pela temperatura. O objetivo do produtor nessa fase, que pode durar de 25 a 35 dias, é obter plantas do algodão com o maior número de nós reprodutivos possível, que providenciarão espaço para o crescimento de flores que posteriormente evoluirão para maçãs e capulhos.

A cada aparecimento de um botão floral em um novo ramo frutífero, é dado o nome de Bn. Ao aparecimento do primeiro botão floral no primeiro ramo reprodutivo, a planta se encontra em B1, até que o próximo ramo reprodutivo emita seu primeiro botão floral, quando a planta entra em B2, e assim por diante até o florescimento, quando os estádios passam a ser precedidos pela letra “F”. Quando a planta alcança B3 também acontece o aparecimento do segundo botão floral do primeiro ramo reprodutivo, ou seja, apesar das variações, em resumo, aparecerá um novo botão floral a cada 3 dias (em média) e um botão floral no mesmo ramo a cada 6 dias (em média).

Uma planta do algodão bem desenvolvida nessa fase apresentará, ao florescimento da primeira flor branca, entre 9 e 10 nós acima desta posição.

Nessa fase, a necessidade de água pelas plantas aumenta de 1 mm por dia para quase 4 mm. Falta de água nesse período pode deixar as plantas menores do que deveriam, com menos ramos reprodutivos, e até mesmo interromper o desenvolvimento se muito severa.

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Figura 2 – Estádios de desenvolvimento dos botões florais do algodoeiro.
Fonte: Adaptado de Marur e Ruano, 2002.
Figura 2 – Estádios de desenvolvimento dos botões florais do algodoeiro.
Fonte: Adaptado de Marur e Ruano, 2002.

Durante essa fase, de B1 até F1, são realizadas as aplicações dos reguladores de crescimento e a adubação de cobertura.

Quanto às pragas, é comum encontrar novamente a broca-da-raiz e pulgões, além da chegada de outras como a lagarta-das-maçãs, percevejos, o bicudo-do-algodoeiro e o curuquerê.

Fase do Algodão: Florescimento (F)

Com o desabrochar do primeiro botão, que acontece entre 60 e 70 dias após a semeadura, a planta entra em F1, e passa a F2 com a abertura da primeira flor do segundo ramo, a F3 com a abertura da primeira flor do terceiro ramo, e assim sucessivamente. Também é comum que ocorra, durante esta fase, a queda de flores e maçãs; uma planta pode evoluir para F5 sem necessariamente o desabrochar de seu primeiro botão, mas por sua queda.

É considerado comum a queda de até 60% das estruturas, com esse número variando entre cultivares, que apresenta uma média de queda de estruturas de 57%. Esse fenômeno acontecerá pela relação entre o teor de açúcares no tecido e o teor de etileno, ou seja, qualquer fator que acarrete na redução da fotossíntese ou aumento no gasto metabólico ocasionará a queda das estruturas, como autossombeamento pelo crescimento excessivo, muitos dias nublados e temperaturas muito altas ou muito baixas.

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Figura 3 – Estádios de florescimento do algodoeiro.
Fonte: Adaptado de Marur e Ruano, 2002.

Para garantir uma boa produtividade, é necessário que, durante essa fase, seja realizada a segunda adubação de cobertura, o monitoramento da altura das plantas do algodão e da taxa de queda de estruturas frutíferas e, principalmente, um bom controle de pragas. As pragas incidentes nesse período são várias, como: pulgões, lagarta-da-maçã, percevejos, bicudo-do-algodoeiro, curuquerê, Spodoptera spp., ácaros e lagarta-rosada.

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Fase do Algodão: Abertura dos Capulhos (C)

Semelhante aos eventos que nomeiam os estádios anteriores, a planta alcança o estádio C1 (entre 105 e 125 dias após o plantio) quando ocorre a abertura do primeiro capulho do primeiro ramo frutífero, e passa a C2 quando o primeiro capulho do segundo ramo se abrir, assim sucessivamente até Cn. Em algumas ocasiões haverá um intervalo de tempo no qual não serão observadas floresnem capulhos abertos, fase essa denominada FC (entre o Florescimento e os Capulhos).

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Figura 3 – Estádios de abertura dos capulhos do algodoeiro.
Fonte: Adaptado de Marur e Ruano, 2002.

Ao final dessa fase, entre 130 e 160 dias após a semeadura, acontecerá a aplicação dos desfolhantes e/ou maturados que precedem a colheita. Estresses durante esse período afetam mais a qualidade das fibras do que a quantidade colhida, a não ser que ocorra um excesso de chuvas; o excesso de água ocasiona um microclima de umidade excessiva, que pode levar ao apodrecimento dos capulhos e das maçãs das partes inferiores da planta (que geralmente são as mais desenvolvidas).

Nessa fase, as pragas que continuam afetando a lavoura são, principalmente, bicudos e ácaros.

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Figura 5 – Resumo dos estádios fenológicos do algodoeiro.
Fonte: Mosaic Fertilizantes

Como identificar o estádio fenológico de uma lavoura, não apenas de uma planta

Em uma lavoura, a recomendação para a identificação do estádio fenológico geral é seguir com a observação de 20 plantas por hectare, tomadas ao acaso e distantes entre si. A definição ocorre a partir do estádio que se observou com maior frequência entre essas plantas.

Conclusão

Como citado no início do texto, a identificação estágios fenológicos do algodão, assim como em outras culturas onde a prática já é mais consolidada como no milho e na soja, é uma importante ferramenta para auxiliar o produtor ou técnico agrícola na tomada de decisões das práticas de manejo, garantindo assim um uso racional dos recursos disponíveis e um aproveitamento financeiro maior em razão da economia com aplicação de pesticidas e fertilizantes feitos na hora certa.

Referências bibliográgicas

MARUR, Celso Jamil; RUANO, Onaur. Escala do Algodão: um método para determinação de estádios de desenvolvimento do algodoeiro herbáceo. Informações Agronômicas. Piracicaba, p. 3-4. mar. 2004. Disponível em: http://www.ipni.net/publication/ia-brasil.nsf/0/EB769E04A0D3A15983257AA2005B0E12/$FILE/Page3-4-105.pdf. Acesso em: 30 jan. 2024.

ROSOLEM, Ciro A.. ECOFISIOLOGIA E MANEJO DA CULTURA DO ALGODOEIRO. Informações Agronômicas. Piracicaba, p. 1-9. set. 2001. Disponível em: http://www.ipni.net/publication/ia-brasil.nsf/0/D68D80B4EC7657CD83257AA30063EED3/$FILE/Enc95p1-9.pdf. Acesso em: 30 jan. 2024.

Henrique Stefanini - Algodão: Conheça os estádios fenológicos da cultura

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