Bicudo-do-algodoeiro: aspectos importantes para o manejo

O algodão (Gossypium hirsutum L.) é uma das principais culturas produzidas no Brasil, principalmente no Centro-Oeste e Nordeste, tendo papel socioeconômico relevante nas regiões produtoras. A perspectiva de produção da Companhia Nacional de Abastecimento para a safra algodoeira 2023/24 mostra tendência de queda na produtividade e na produção devido a pragas, como o bicudo-do-algodoeiro, e à previsão de El Niño, fenômeno que caracteriza déficit hídrico na região Nordeste e Centro-Oeste, que deve reduzir as produtividades nas duas principais regiões produtoras brasileiras. Mesmo assim, há expectativa de aumento na área brasileira destinada à produção de algodão, graças à redução de produção nos EUA que incentiva o desenvolvimento da cotonicultura no Brasil. 

A alta rentabilidade da cultura, principalmente no século passado, instigava a produção em massa de algodão, levando a cultivos sucessivos e manejos intensivos de controle de doenças, plantas daninhas e pragas, uma vez que a qualidade da pluma é o principal fator de retorno econômico.

Atualmente, a principal praga do algodoeiro é a espécie Anthonomus grandis (bicudo-do-algodoeiro), inseto que pode causar perdas relevantes e inviabilizar a produção de algodão. Sua relevância cresceu nos últimos anos, tendo em vista os fortes impactos produtivos causados pela sua presença nos sistemas de produção e a seleção de organismos resistentes pelo manejo errôneo de controle da praga.

Índice

Principais danos

O bicudo-do-algodoeiro é um inseto da ordem Coleoptera, de coloração castanho-acinzentada. Seu ciclo biológico pode atingir cerca de 40 dias, sendo caracterizado como holometábolo, ou seja, possui ciclo completo (ovo, larva, pupa e adulto). Os danos da espécie são iniciados tardiamente na cultura, mas por atingir – principalmente – a estrutura reprodutiva, apresenta alto potencial de redução de produtividade.

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Figura 1 – Adulto de Anthonomus grandis.
Disponível em: https://institutoagro.com.br/bicudo-do-algodoeiro/.

Os principais danos causados pelos organismos da espécie são promovidos nas estruturas reprodutivas das plantas, principalmente os botões florais. Entretanto, as flores e as maçãs podem sofrer com o ataque dos insetos, especialmente quando não há ocorrência dos botões florais e na presença de alta densidade populacional da praga. Tais danos podem ser diretos (danificação das estruturas) ou indiretos (favorecimento da incidência de doenças).

O ataque do bicudo-do-algodoeiro, a fim de alimentação, é identificado pela presença de orifícios nos botões florais, com a presença de grãos de pólen ao redor do local de perfuração (Figura 2). Já os ataques para oviposição são reconhecidos pela presença de orifícios com presença de substância cerosa próximo à perfuração, propiciando a formação de uma camada protetiva no orifício a fim de dificultar a ação de inimigos naturais (Figura 3).

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Figura 2 – Orifício de alimentação de Anthonomus grandis.
Fonte: Grigolli (2020).
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Figura 3 – Dano por oviposição de Anthonomus grandis.
Disponível em: https://revistacultivar.com.br/artigos/manejo-adequado-do-bicudo-do-algodoeiro.

Após a eclosão dos ovos no interior dos botões florais, há o desenvolvimento da fase larval e pupal, até atingir a idade adulta. Durante as fases ocorridas no interior do botão, há o consumo da estrutura pelos indivíduos, causando a queda do botão em menos de 10 dias. Após a queda, o inseto continua seu desenvolvimento, atingindo o estágio adulto. Quando as maçãs são atacadas, ocorre sua abertura irregular, causando deformação e coloração inadequada, reduzindo seu valor agregado.

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Figura 4 – Dano às maçãs causado pelo bicudo-do-algodoeiro.
Fonte: Barros (2020).

Devido ao fato dos produtos obtidos por meio da produção de algodão serem originados pelas estruturas reprodutivas, pode-se constatar a importância do controle do bicudo-do-algodoeiro.

Monitoramento do bicudo-do-algodoeiro

O conhecimento sobre o nível populacional de Anthonomus grandis é fundamental para o manejo assertivo e eficiente da praga, assegurando menores impactos na produtividade do algodão.

Como citado anteriormente, o bicudo-do-algodoeiro é considerado uma praga tardia, iniciando os ataques às plantas cerca de 30 dias após a emergência, permanecendo até o final do período de maturação. Tendo isso em vista, é essencial que o monitoramento do bicudo-do-algodoeiro seja realizado constantemente após a emergência das plantas. 

Sugere-se que sejam observados os danos nos botões florais, citados no tópico anterior, principalmente dos orifícios de alimentação, facilmente observáveis. Apesar de funcional, a observação de danos permite o levantamento menos assertivo quando comparado à utilização de armadilhas de feromônios (“grandlure” é o nome dado ao feromônio), eficientes no monitoramento. Tais armadilhas permitem a detecção do início da infestação e permitem maior assertividade na tomada de decisão quanto ao momento de controle da praga. Além disso, podem ser utilizadas armadilhas de captura, que possuem formato cônico e também são acrescidas de feromônios, a fim de atrair indivíduos para a mesma.

Segundo Degrande (2002), o controle deve ser realizado quando até 5% dos botões florais estiverem atacados, sendo – no mínimo – amostrados 250 botões florais por talhão. Entretanto, alguns autores afirmam que até 10% de botões florais atacados ainda permite o controle da praga. 

Manejo do Bicudo-do-algodoeiro

O controle do inseto-praga, como citado anteriormente, é fundamental para maior eficiência produtiva, qualidade do produto final e maior rentabilidade do sistema; assim, o manejo integrado da praga pode se caracterizar como principal fator de viabilidade da produção, visando o equilíbrio ecossistêmico junto à eficiência de controle.

Dessa forma, pode-se citar como principais formas de controle do bicudo-do-algodoeiro: 

  • Controle cultural: o uso de práticas culturais que auxiliam na redução da população de Anthonomus grandis pode ser viável para maior produtividade do sistema. Dentre as práticas mais utilizadas, pode-se citar a desfolha (por meio da aplicação de desfolhantes, que – além de reduzirem a incidência dos insetos-praga – propiciam maior índice de qualidade de colheita) e a destruição de soqueira, inibindo a permanência de insetos nos restos culturais permanentes no campo após a colheita.
  • Controle químico: o uso de inseticidas é a principal forma de controle dos insetos-praga, tendo ação imediata, mesmo com espectro de ação reduzido devido à proteção dos organismos prejudiciais à cultura, que se localizam – majoritariamente – no interior dos capulhos. Os princípios ativos mais utilizados para o controle do bicudo-do-algodoeiro são os organofosforados (inibidores de colinesterase), ciclodienos (inibidor do receptor de GABA) e piretróides (controladores dos canais de sódio). É válido ressaltar que a rotação dos princípios ativos se torna fundamental tendo em vista a seleção de organismos resistentes causada pela utilização contínua dos mesmos princípios ativos.
  • Controle biológico: o uso de agentes biológicos de controle tem se mostrado uma alternativa viável ao manejo do bicudo-do-algodoeiro, principalmente com o uso de Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana. Ambos os fungos apresentam alta compatibilidade com os organismos prejudiciais, causando a infecção e morte dos indivíduos da espécie Anthonomus grandis.
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Conclusões

Sendo considerada a praga mais importante da cultura do algodão, o bicudo-do-algodoeiro expressa grande potencial de redução da produtividade nos sistemas, representando perdas relevantes em um dos principais setores do agronegócio brasileiro. Tendo em vista a expressão máxima da produção, é fundamental que todas as etapas do controle dessa praga sejam realizadas de forma exímia, possibilitando a tomada de decisão correta o mais rápido possível.

Assim, o monitoramento e o manejo integrado de pragas surge como alternativa viável para redução da incidência do inseto e, consequentemente, favorece maior patamar produtivo em todo o território brasileiro.

Referências bibliográficas

AZAMBUJA, Rosália; DEGRANDE, Paulo Eduardo. Trinta anos do bicudo-do-algodoeiro no Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, [S.L.], v. 81, n. 4, p. 377-410, dez. 2014. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1808-1657000012013.

DEGRANDE, Paulo Eduardo. Ameaça do bicudo exige organização e empenho de todos. Visão Agrícola, Piracicaba, v. 1, n. 6, p. 55-58, jul. 2006.

LIMA, Tardelly de Andrade. Controle químico Anthonomus grandis (Boheman, 1843) (COLEOPTERA: CURCOLIONIDAE) com base no monitoramento de botões florais de algodoeiros com brácteas abertas e/ou amarelecidas. 2022. 51 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ciências Agrárias, UFPB, Campina Grande, 2022.

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