Formação de calda: aspectos importantes para a pulverização

O contexto do desenvolvimento da agricultura permite conhecer a necessidade de eficiência para que os maiores retornos financeiros ocorram, possibilitando a redução dos custos operacionais para o cultivo. Devido a isso, é essencial reportar a elaboração de máquinas e implementos agrícolas adaptados a tais funções, mesmo que necessitando da ação antrópica para a realização correta de operações como a formação de calda.

A aplicação de produtos fitossanitários representa uma relevante parcela do número de operações realizadas nos cultivos, enquadrando a distribuição de herbicidas, fungicidas e inseticidas, auxiliando no manejo sanitário do cultivo e o melhor desempenho – se realizado corretamente – do sistema produtivo. Para isso, a correta formulação e compatibilidade de calda é fundamental para que a aplicação seja eficiente e tenha sua ação desempenhada, distribuindo de forma homogênea os produtos, e possibilitando a desenvoltura dos materiais cultivados.

Índice

Água na calda

A água é considerada solvente universal, sendo o principal substrato para a formulação das caldas de aplicação, e possui diversos fatores físico-químicos que influenciam diretamente o desempenho dos ingredientes ativos disponibilizados pelos produtos fitossanitários.

Características como pH, condutividade elétrica e tensão superficial da água podem propiciar alterações na calda e nos equipamentos utilizados para aplicação, como os bicos de pulverização e o próprio tanque para armazenamento do volume. Recentemente, tem-se notado o aumento do uso de água para a pulverização, advinda de poços artesianos, devido à presença de partículas em suspensão nas águas de rios e açudes, que são adversas à aplicação via foliar. Entretanto, usualmente se pode notar a elevada dureza da água, ou seja, alto teor de carbonato de cálcio (CaCO3) ou carbonato de magnésio (MgCO3), além de alcalinidade elevada (pH > 7,0).

A água dura, como supracitado, pode interferir negativamente na eficiência de produtos como os herbicidas, uma vez que os cátions Ca2+ e Mg2+ podem substituir ligantes presentes na composição dos ativos, formando compostos insolúveis.

ClassePPM de CaCO3Graus de Dureza
Muito branda< 71,2< 4
Branda71,2 – 142,44 – 8
Semi-dura142,4 – 320,48 – 18
Dura320,4 – 534,018 – 30
Muito dura> 534,0> 30
Tabela 1 – Classes de dureza da água.
Fonte: Conceição (2003).

O potencial hidrogeniônico tem papel relevante na qualidade da formação de calda, uma vez que o balanço iônico do meio da mistura é fundamental para o desempenho de diversos produtos, como o Glyphosate, que possui maior absorção foliar na faixa de 4,5 ~ 5,0 de pH. Isso pode ocorrer devido à dois principais fatores: maior absorção de ácidos fracos quando 50% das moléculas se encontram dissociadas ou devido à menor taxa de hidrólise em baixos pH’s, que possibilita molhamento foliar mais duradouro e – consequentemente – maior absorção foliar.

image - Formação de calda: aspectos importantes para a pulverização
Figura 1 – Escala de pH.
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/voce-sabe-que-significa-ph-.htm.

Mistura de calda

Como citado anteriormente, a problemática que envolve a mistura de calda se baseia em aspectos físico-químicos entre o meio e os produtos fitossanitários. Dessa forma, a incompatibilidade de calda pode ser visível e representar, visualmente, a perda de eficiência da mistura e, consequentemente, ocasionar em perdas produtivas significantes para o sistema.

image 1 - Formação de calda: aspectos importantes para a pulverização
Figura 2 – Representações da heterogeneidade de calda.
Disponível em: https://rehagro.com.br/blog/tecnologia-de-aplicacao-de-defensivos-agricolas-melhores-praticas/.

Dessa forma, pode-se ressaltar a importância dos adjuvantes como substâncias que, quando misturadas à calda, permitem o aumento da eficiência dos produtos pela ação físico-química. Os principais adjuvantes são:

  • Surfactantes: afetam propriedades superficiais dos líquidos, favorecendo a retenção em locais favoráveis, a penetração por afetar a permeabilidade da cutícula;
  • Emulsificantes: promovem a suspensão de um líquido sobre outro, reduzindo a tensão superficial entre os mesmos;
  • Dispersantes: substâncias que evitam a aglomeração das partículas reduzindo a força de coesão entre elas.

Por meio do seu uso, pode-se propiciar condições favoráveis à aplicação foliar de produtos fitossanitários, elevando o patamar produtivo.

image 2 - Formação de calda: aspectos importantes para a pulverização
Figura 3 – Calda sem surfactante (à esquerda) e com surfactante (à direita).
Fonte: Oliveira (2023).

Por meio da Figura 3, constata-se a importância do uso de adjuvantes para a homogeneidade da calda e da aplicação de diferentes produtos, visando sempre a manutenção da integridade química dos ativos e, consequentemente, a sanidade do cultivo instalado.

Vycit - Formação de calda: aspectos importantes para a pulverização

Cuidados com produtos biológicos

O mercado de biofertilizantes tem aumentado nos últimos anos, mostrando potencial de utilização nos cultivos pelos benefícios químicos e biológicos oferecidos pelos mesmos. Tendo isso em mente, é essencial inserir tais aplicações dentro da programação estabelecida para as entradas nas áreas produtivas, elencando os fatores anteriormente descritos – também – para os biofertilizantes. Além dos produtos biológicos voltados à nutrição mineral de plantas, pode-se destacar os biocontroladores, com ação fitossanitária.

Os cuidados com a formulação de calda devem ser similares aos elencados para os produtos sintéticos. Entretanto, os biológicos sólidos exigem preparo específico, uma vez que a diluição é necessária para a homogeneização do produto, evitando processos como observado na Figura 2.

Por fim, ressalta-se a necessidade de compatibilidade química entre os fitossanitários sintéticos e os produtos biológicos, uma vez que o uso de químicos pode corroborar na morte dos microrganismos utilizados para controle biológico, afetando diretamente sua eficiência na promoção da produtividade e de maior sanidade do ambiente produtivo.

Conclusão

A eficiência está atrelada à otimização das operações agrícolas e ao estudo das interações entre o sistema produtivo e os materiais adicionados ao mesmo. Dessa forma, deve-se buscar práticas que propiciem a melhora das condições de aplicação e de formulação da calda de aplicação, beneficiando o manejo operacional da lavoura e aumentando a eficiência dos protocolos realizados.

Assim, recomenda-se o acompanhamento de um técnico durante a formulação das caldas e das análises envolvidas no processo, como a análise de água – fundamental para a eficiência de aplicação.

Referências bibliográficas

AGROINSIGHT. Bioinsumos: tecnologia de aplicação. Tecnologia de aplicação. Disponível em: https://agroinsight.com.br/bioinsumos-tecnologia-de-aplicacao/. Acesso em: 30 ago. 2023.

CONCEITOS E APLICAÇÃO DOS ADJUVANTES, 2006, Passo Fundo. Embrapa. Passo Fundo: Embrapa, 2006.

LABORSOLO. A importância da análise da água da calda na eficiência das pulverizações. 2016. Disponível em: https://laborsolo.com.br/analise-agua-agricultura/a-importancia-da-analise-da-agua-da-calda-na-eficiencia-das-pulverizacoes. Acesso em: 30 ago. 2023.

PRATTI, Rafael Mesquita. Qualidade da água utilizada para aplicação de defensivos agrícolas na região do capim, sudeste paraense. 2019. 30 f. TCC (Graduação) – Curso de Agronomia, Ufram, Paragominas, 2019.

QUEIROZ, Angélica Araujo et al. Adjuvantes e qualidade da água na aplicação de agrotóxicos. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 4, n. 24, p. 8-19, out. 2008.

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