Sistema Santa Fé: O quê você precisa saber

O sistema Santa Fé surgiu a partir de uma pesquisa que tinha por intuito analisar a influência da braquiária cultivada juntamente com o milho para combater fungos.

Após a análise dos dados verificou-se que além da inibição do desenvolvimento de alguns fungos o sistema bem manejado apresentou outras vantagens, entre elas:

  • Bom desenvolvimento de ambas culturas, sem competição significativa;
  • Colheita realizada normalmente não sendo prejudicada pela integração;
  • Diminuição da incidência de plantas daninhas;
  • Melhor cobertura do solo pela palhada deixada pela braquiária.

Como meio de analisar a influência do plantio de outra cultura sobre a palhada da braquiária plantou-se feijão no cultivo de inverno e os dados também foram positivos.

Observou-se o bom desempenho da cultura, a diminuição do uso de fungicidas e herbicidas e maior produtividade quando comparado ao plantio normal.

Com base no sucesso obtido dos resultados a técnica passou a ser utilizada visando dois âmbitos principais:

  • Primeiro fornecer palhada para o cultivo da próxima safra ou visando obter melhor aproveitamento da área nos locais em que só se cultivava uma safra;
  • Segundo possibilitar a produção de forragens para desenvolvimento da pecuária na entressafra (MEROLA, 2002).
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Figura 1: Consórcio milho-brachiária
Disponível em: Rural Pecuária

Índice

O que é Sistema Santa Fé?

O Sistema Santa Fé é uma tecnologia que se fundamenta na produção consorciada de culturas de grãos, especialmente o milho, sorgo e milheto com forrageiras tropicais, principalmente as do gênero Brachiaria, tanto no sistema de plantio direto como no convencional.

Nestes, as culturas anuais apresentam grande performance de desenvolvimento inicial, exercendo, com isto, alta vantagem competitiva sobre as forrageiras, evitando, assim, qualquer prejuízo à sua produção.

Este sistema apresenta grande vantagem, pois não altera o cronograma de atividades do produtor e não exige equipamentos especiais para sua implantação.

O consórcio é estabelecido anualmente, podendo ser implantado simultaneamente ao plantio da cultura anual ou cerca de 10 a 20 dias após a emergência desta (KLUTHCOUSKI, J; YOKOYAMA, L.P., 2003).

O principal uso do Sistema está associado às áreas do cerrado, visto que, cerca de 32 milhões de hectares no bioma está ocupado por pastagens degradadas, além disso, parte das propriedades realizam apenas cultivo de verão, o que faz com que essas terras fiquem ociosas por cerca de 8 meses.

Nesses locais é possível implementar ou fortalecer a atividade pecuária com o uso do Sistema Santa Fé, seja através da produção de grãos, produção de silagem de ou produção de forrageiras para pastejo.

Além disso, esse manejo também pode estar associado ao fornecimento de palhada ao solo para prepará-lo ao recebimento de outra cultura sob o Sistema Plantio Direto (KLUTHCOUSKI, João et al., 2000).

Quais são as vantagens do Sistema Santa Fé?

As vantagens do Sistema Santa Fé estão direcionadas a dois usos principais.

O primeiro uso está ligado à viabilização da área utilizada para agricultura no verão para desenvolvimento pecuário no inverno, principalmente nas áreas de cerrado, visto que, devido à baixa incidência de chuvas a produção de forragens é escassa.

O segundo uso que traz grandes vantagens ao sistema está ligado ao fornecimento da palhada proveniente da braquiária ao solo, fator esse que melhora as condições químicas, físicas e biológicas e favorece o desenvolvimento de um próximo cultivo no local sob o Sistema Plantio Direto, seja no inverno ou no verão do próximo ano (EMBRAPA, 2016).

No que tange à pecuária extensiva, ou seja, em que o gado é criado à base de pasto, um grande impecílio para o desenvolvimento da atividade no cerrado é a baixa disponibilidade de forragens durante o inverno.

Com pouca disponibilidade de alimento a taxa de desenvolvimento do rebanho é baixa, o que torna a atividade inviável.

Com o uso do Sistema Santa Fé esse problema é reduzido, pois, quando a braquiária é cultivada junto ao milho recebe adubação e tem água disponível em quantidade adequada, condições essas que possibilitam o desenvolvimento de forma adequada.

Desse modo, após a retirada do milho a braquiária já tem seu sistema radicular formado, o que permite que ela desenvolva sua parte aérea com bom vigor e suporte com maior capacidade a seca do inverno.

Com isso, é possível aumentar a oferta de forragens e suprir as necessidades do gado durante o período seco do ano.

Em relação à produção de palhada a mesma agrega muita qualidade ao sistema, desde o momento que cai sobre o solo até sua decomposição.

Quando a palhada está sobre o solo promove proteção, evita problemas como erosão e mudanças bruscas de temperatura, promove maior retenção de água, tem efeito supressor sobre plantas daninhas e controla/minimiza doenças como mofo branco, podridão radicular seca e podridão de Fusarium.

A braquiária possui decomposição lenta, o que promove sua permanência sobre o solo por maior tempo, contudo, conforme se decompõe promove a formação de matéria orgânica e fornece nutrientes gradativamente ao solo, sendo esses absorvidos pela próxima cultura (MEROLA, 2002).

Além disso, as espécies de braquiária possuem sistema radicular muito desenvolvido o que promove melhorias ao solo, como: descompactação, formação de macrosporos para maior absorção de água da superfície, fornecimento de matéria orgânica após a morte de suas raízes, entre outros.

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Figura 2: Potencial de produção de raízes de algumas espécies.
Fonte: EMBRAPA, 2020.

Como instalar o sistema?

Semeadura simultânea

A princípio, a única modificação do sistema convencional de implantação da lavoura convencional é a adição, misturada ao adubo ou não, das sementes da forrageira.

Esta é uma das grandes facilidades do Sistema, visto que não é necessário maquinário específico.

A quantidade de braquiária (Brachiaria brizantha, B. decumbens ou B. ruziziensis) a ser utilizada varia de acordo com a cultura com a qual será consorciada, mas em média utiliza-se de 5 a 10 kg de sementes.

No caso do consórcio com milho o ideal é utilizar de 7 a 10 kg para obter uma população final de forrageiras de 8 a 10 plantas por m2 (KLUTHCOUSKI, João et al., 2000).

Na operação de semeadura, deve-se utilizar velocidade média entre 4 e 6 km/h e regular, para que a mistura de adubo e semente da forrageira seja colocada mais profundamente que as sementes da cultura anual.

Essa operação é feita para que a cultura anual germine primeiro e não seja suprimida pela forrageira, podendo assim se desenvolver normalmente (KLUTHCOUSKI, João et al., 2000).

Em relação ao modo de plantio, as sementes da forrageira devem ser depositadas no solo em todas as linhas de plantio da cultura anual.

Contudo, caso o produtor deseje, é possível também semear a forrageira nas entrelinhas da cultura ou até mesmo substituir uma das linhas por forrageira.

Entretanto, é necessário destacar que a deposição na linha de plantio é uma operação mais facilitada, pois não necessita mudanças no espaçamento da semeadora e não alterará o modo de colheita (KLUTHCOUSKI, João et al., 2000).

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Figura 3: Desenvolvimento do milho consorciado com brachiária.
Disponível em: Grupo Cultivar

Para a colheita dos consórcios com sorgo ou milho com forrageira, o procedimento de colheita é o convencional.

Deve-se, contudo, evitar atrasos, já que a partir de senescência da cultura, as forrageiras tendem a crescer muito vigorosamente devido à maior incidência de luz, podendo causar embuchamento ou reduzir a velocidade de operação da colhedora (KLUTHCOUSKI, J; YOKOYAMA, L.P., 2003).

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Figura 4: Colheita do milho consorciado com brachiária para produção de grãos.
Disponível em: Sementes SOESP

Semeadura da forrageira após estabelecimento da cultura anual

Esta prática é recomendada para áreas muito infestadas por plantas daninhas, pois permite controlá-las em pós-emergência precoce e, após isso, semear a cultura forrageira (KLUTHCOUSKI, João et al., 2000).

Os procedimentos a serem realizados são semelhantes à semeadura simultânea no que diz respeito ao preparo do solo, quantidade de sementes, adubação e colheita.

A operação de semeadura da forrageira, neste caso, torna-se mais simplificada.

Deve-se utilizar o espaçamento idêntico ao da cultura anual, porém os sulcos de semeadura devem ser o mais próximo possível das fileiras da cultura anual.

Pode-se usar tanto a mistura de sementes com fertilizantes ou apenas as sementes.

Deve ser considerado também que a semeadura muito tardia da forrageira, resultará numa qualidade inferior do seu estabelecimento e desenvolvimento, por isso, o ideal é realizar o plantio de 10 a 20 dias após a germinação da cultura anual.

Conclusão

O sistema Santa Fé é uma tecnologia que possibilita a produção de grãos aliada à produção de forragens, sendo assim, uma possibilidade para alimentar o gado no período de seca ou utilizado para fornecer palhada ao solo.

Devido à facilidade de instalação, por não necessitar de implementos exclusivos, esse sistema tem baixos custo de instalação o que o torna viável economicamente ao produtor.

Além disso, os ganhos são expressivos, o que faz com que esse modelo de produção seja ainda mais vantajoso quando comparado à produção convencional (MEROLA, 2002).

A criação de gado a pasto, conhecido como “Boi Verde” e a deposição de palhada ao solo para implantação do Sistema Plantio Direto são as duas maiores vantagens do Sistema, o que possibilitam maior geração de renda e o melhor, a baixo custo.

Por isso, o Sistema é altamente viável e com grande capacidade de expansão pelo território brasileiro.

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Referências

EMBRAPA. Manejo de forrageiras no consórcio com o milho safrinha. 2016. Disponível em: http://ruralpecuaria.com.br/tecnologia-e-manejo/milho/embrapa-manejo-de-forrageiras-no-consorcio-com-o-milho-safrinha.html. Acesso em: 27 fev. 2020.

KLUTHCOUSKI, João et al. Sistema Santa Fé: Integração lavoura – pecuária pelo consórcio de culturas anuais com forrageiras, em áreas de lavoura, nos sistemas plantio direto e convencional. Santo Antônio de Goiás: Embrapa, 2000.

KLUTHCOUSKI, J.; YOKOYAMA, L.P.; Opções de Integração Lavoura-Pecuária. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONES, L.F.; AIDAR, H. Integração Lavoura-Pecuária. Santo Antonio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 570 p. 2003.

MEROLA, Ricardo de Castro. Sistema Santa Fé: Santa Helena: Potafos, 2002. Color.

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