Tratamento de Sementes: Um aliado para altas produtividades na Soja

O potencial de produção de qualquer cultura começa a ser definido no momento do plantio ou semeadura. Este potencial resume-se pelo máximo teto produtivo em que nas condições ideais durante todo o ciclo, resultará em produtividade.

Logo, nós sabemos que fatores abióticos (Ex: déficit hídrico) e bióticos (Ex: pragas e doenças) interferem neste potencial reduzindo essa produtividade máxima. Dessa forma, o primeiro passo da busca por altas produtividades está na aquisição de sementes de qualidade, tendo uma boa formação do “stand” e população da cultura.

Mas o que é Tratamento de sementes? E qual a relação com o potencial produtivo? Como este manejo realizado previamente a semeadura auxilia no ganho de produtividade?

No informativo desenvolvido pelo AgroInovador Rafael Albertim, responderemos essas perguntas e abordaremos um pouco sobre aspectos envolvendo o Tratamento de Sementes.

Índice

Definição do Tratamento de Sementes

O Tratamento de Sementes (TS) define-se por uma prática agrícola em que é posicionado na semente algum insumo previamente a semeadura. Esta prática visa proteger o potencial de produção presente no material genético plantado atingindo altas produtividades. Podemos realizar 2 métodos de posicionar estes insumos, sendo no pré-plantio e no momento da operação.

O manejo realizado antes do plantio ocorre em reservatórios que por meio de agitadores mecânicos movimentam as sementes e estes produtos são uniformizados na superfície das sementes.

No caso da aplicação em semeadura, o tratamento ocorre por meio de tecnologias que possuem um pingente formado por um bico de aplicação que distribuirá estes produtos diretamente na deposição da semente ao solo. Os insumos posicionados em um TS podem ser diversos, alguns exemplos estão abaixo:

  • Fungicidas, inseticidas e nematicidas – visando controle destes patógenos;
  • Inoculantes – fixação biológica de nitrogênio (FBN);
  • Biodefensivos – utilização no manejo integrado de pragas e doenças;
  • Fitohormônios – maior enraizamento e vigor da planta ;
  • Nutrientes – auxilio na FBN e deficiências de solo;
  • Polímeros – maior adesão dos produtos utilizados;
  • Grafite – menor aderência e maior eficiência de plantabilidade.

Na utilização de fungicidas e inseticidas no TS, visamos a proteção da semente desde o momento em que foi distribuída no solo, como também proteger a semente de patógenos que podem estar previamente presentes nela, como exemplo no caso do campo de sementes. Dentre os produtos químicos utilizadas nesta prática, alguns deles possuem absorção pelo tegumento e sistemicidade de atuação (translocação em vasos) na plântula, estendendo seu residual de proteção ainda quando a planta esta emergida. Esta proteção da semente desde o início da semeadura garante uma proteção em momentos chave, como no enraizamento e posterior formação do “stand” de plantas desejado, explorando ao máximo a produtividade de cada lavoura.

Como citado, existem diversas opções que podem manter o potencial e agregar em produtividade quando pensamos em TS, porém um fato importante que mudou o cenário de produção da soja e não pode ser deixado de lado é a inoculação ou coinoculação em culturas que possuem FBN como a soja. A Embrapa possui estudos publicados mostrando ótimos resultados na cultura da soja com associação de Bradyrhizobium + Azospirillum. A inoculação com Bradyrhizobium substituiu o manejo de nitrogênio na soja, realizada no TS da semente.

Qual as vantagens do Tratamento de Sementes?

O tratamento de sementes tem foco principal em permitir a germinação destas sementes infectadas, controlar patógenos transmitidos pela semente e proteger as sementes dos fungos do solo (HENNING et al., 1994). Além de conferir proteção às sementes, o tratamento de sementes oferece garantia adicional ao estabelecimento da lavoura a custos reduzidos, menos de 0,5% do custo de instalação da lavoura (HENNING, 2005).

Pragas de solo também podem causar falhas na lavoura, pelo fato de se alimentarem de sementes, raízes e da parte aérea das plantas (BAUDET & PESKE, 2007). Para a maioria dessas pragas, o tratamento de sementes também desempenha um papel primário na proteção das sementes e das plântulas, reduzindo o dano causado por elas.

Ainda no contexto de manejo contra pragas de solo e foliares, temos o posicionamento de diferentes moléculas visando boa eficiência de controle. Isto pois alocação de grupos químico recomendados a insetos sugadores (neonicotinóides) ou mastigadores (diamidas), seguindo registro de cada produto, temos um melhor resultado a campo.

image - Tratamento de Sementes: Um aliado para altas produtividades na Soja
Ataque de lagarta (Helicoverpa armigera) em plântula de soja.
Fonte: Pixabay.

Segundo Ademir Henning, pesquisador da Embrapa Soja em Londrina, as vantagens em relação ao custo desta prática associado ao ganho de produtividade atingidos são conquistados iniciando uma cultura com boa sanidade e assegurando altos tetos produtivos. Dados da Embrapa Soja, atualmente temos 93% da área semeada contendo sementes tratadas com algum tipo de tecnologia ou algum insumo sendo posicionado nas sementes.

No contexto crescente da utilização do manejo integrado de pragas e doenças, o tratamento de sementes vem sendo uma ferramenta chave para o posicionamento destes defensivos, a exemplo de fungos e bactérias que possuem grande potencial de controle de fitopatógenos. Os microrganismos mais utilizados no TS visando este manejo são do gênero Trichoderma spp., Bacillus spp., Paecilomyces spp., entre outros que possuem bons resultados agronômicos a campo.

Dessa forma, dentre toda esse contexto o tratamento de semente realmente traz uma boa performance a campo ao produtor? Esta ferramenta (TS) está sendo realizado de forma correta?

Como realizar o procedimento?

A forma mais comum de ser realizado o TS é na própria fazenda, ou seja, a técnica chamada de “on farm”. Ela ocorre muitas vezes em tambores de mistura adaptados ou em máquinas próprias comercializadas, geralmente utilizamos sistemas tipo “rosca sem fim” visando aumentar a homogeneização e uniformidade do recobrimento destes produtos nas sementes. A utilização de máquinas apropriadas garante uma melhor uniformização nas sementes resultando em maior proteção, bem como um considerável ganho de agilidade quanto ao rendimento de sementes tratadas por hora.

Dentre estas tecnologias, temos com grande relevância o desenvolvimento um pouco mais recente do tratamento de sementes industrial (TSI). Esta alta tecnologia baseia-se em realizar esta prática de forma industrial de forma computadorizada, ou seja, temos um tratamento desenvolvido buscando aumentar a eficiência na uniformidade e recobrimento superficial, menor volume de umidade por meio de baixa vazão de aplicação nos grãos e garantindo segurança aos operadores na realização do TS. O TSI já está presente em 40% das sementes tratadas hoje no país, mostrando a importância da implantação de alta tecnologia na semeadura das culturas (HENNING, 2016).

image 1 - Tratamento de Sementes: Um aliado para altas produtividades na Soja
Tratamento de sementes industrial (TSI). Fonte: Bayer

A realização do TS na maioria das vezes envolve a utilização de defensivos químicos, biológicos, nutrientes entre outros insumos que podem ser posicionados. Contudo, a recomendação de ordem de aplicação dos produtos é um ponto chave que faz parte da obtenção de bons resultados a campo. Enfim, a recomendação do pesquisador da Ademir Henning segue a ordem dos tratamentos serem realizados na ordem fungicidas, inseticidas, nutrientes, biológicos/inoculantes. Neste momento do manejo ressalva a necessidade de tanques separados para cada produto, tendo sua aplicação e homogeneização na ordem recomendada pelo pesquisador.

Cuidados na realização do Tratamento de Sementes

Um dos aspectos principais ao se realizar este manejo está relacionado ao volume máximo de umidade que está sendo direcionado no TS. Na literatura temos alguns posicionamentos de limite máximo quanto ao teor líquido presente nas sementes, sendo que na Embrapa Soja a recomendação é de no máximo 300ml a cada 50kg de sementes tratada.

Esta recomendação do limite de umidade muitas vezes acaba sendo mais elevada, gerando muita discussão pelos profissionais, pois, uma ferramenta que utilizamos para auxiliar o produtor pode se tornar algo prejudicial se realizado incorretamente. Os danos que podem ser causados pelo excesso de água no tratamento afetam de forma direta (danos no tegumento da semente) e indireta (embebição da semente e danos ao embrião na semeadura).

Além dos ricos a umidade excessiva direcionada na semente, deve-se atentar aos insumos químicos utilizados nestas práticas, sendo que em excesso ou elevado tempo de exposição (tratada por longo período de tempo), ocasionam em toxidez ao próprio embrião no interior. Isto explica-se pelo fato de muitos insumos serem absorvidos pelo tegumento e translocado no interior da semente, ocasionando redução da germinação e vigor. Sendo assim, torna-se mais uma vez essencial a recomendação de produtos com base no registro da bula, seguindo os posicionamentos respectivos para cada cultura.

Tratamento de sementes relacionado a altas produtividades

Este manejo realizado na própria fazenda (TS “on farm”) ou comercializado de forma industrial junto as sementes (TSI) faz parte de todo cenário agrícola hoje no país devido aos diversos benefícios citados no texto.

Contudo, sabemos que existe um “gap” entre a sua utilização nas sementes e a sua boa performance a campo. Isto pois como toda prática agrícola existem diversos fatores necessários para serem aperfeiçoados e executar um tratamento de sementes com qualidade protegendo nosso potencial produtivo.

Qual fungicida escolher para sua semente? Contato ou sistêmico? Assista o vídeo abaixo do pesquisador Ademir Henning (EMBRAPA SOJA) e veja a melhor recomendação para seu TS.

Referências

BALARDIN, Ricardo Silveiro et al. Tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas como redutores dos efeitos do estresse hídrico em plantas de soja. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cr/v41n7/a5711cr4207.pdf. Acesso em: 03 set. 2019.

FERREIRA, Leidiane Aparecida et al. BIOESTIMULANTE E FERTILIZANTE ASSOCIADOS AO TRATAMENTO DE SEMENTES DE MILHO. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbs/v29n2/v29n2a11. Acesso em: 02 set. 2019.

HENNING, Ademir Assis. Patologia e Tratamentos de Sementes: Noções Gerais. 2005. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/469530/1/documento264.pdf. Acesso em: 20 ago. 2019.

HENNING, Ademir Assis. Tratamento de Sementes com fungicida. 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-EMDUN1LXFg. Acesso em: 22 ago. 2019.

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