Pragas do Feijão: conheça e saiba como controlá-las

O feijão é um dos principais produtos do agro brasileiro e um dos alimentos mais importantes e populares na alimentação da população do país. A produção do feijão, contudo, é constantemente ameaçada por muitas pragas, cujo controle desperta muitas dúvidas entre produtores e técnicos. Neste texto, buscamos elencar as principais pragas do feijoeiro, quando ocorrem e como controlá-las.

Índice

As pragas de cada fase do desenvolvimento do feijoeiro

Para um controle eficiente das pragas na lavoura é indispensável o seu monitoramento contínuo desde a emergência. Diferentes pragas atacam em diferentes estádios de desenvolvimento do feijão, fazendo-se necessário que o produtor ou técnico saiba distinguir os caracteres morfológicos que definem cada um desses estádios para posterior identificação da praga que se deseja combater.

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Figura 1 – Pragas da cultura do feijão associadas aos estádios fenológicos da planta.
Fonte: EMBRAPA, 2001.
Etapas¹Descrição²
V0Germinação: absorção de água pela semente; emergência da radícula e sua transformação em raiz primária.
V1Emergência: os cotilédones aparecem ao nível do solo e começam a separar-se. O epicótilo começa o seu desenvolvimento.
V2Folhas primárias: folhas primárias completamente abertas.
V3Primeira folha trifoliolada: abertura da primeira folha trifoliolada e o aparecimento da segunda folha trifoliada.
V4Terceira folha trifoliolada: abertura da terceira folha trifoliolada, as gemas e os nós inferiores produzem ramas.
R5Pré-floração: aparece o primeiro botão floral e o primeiro rácimo.
R6Floração: abre-se a primeira flor.
R7Formação das vagens: aparece a primeira vagem.
R8Enchimento das vagens: começa o enchimento da primeira vagem (crescimento das sementes). Ao final desta etapa, as sementes perdem a cor verde e começam a mostrar as características da cultivar. Inicia-se o desfolhamento.
R9Maturação fisiológica: as vagens perdem a pigmentação e começam a secar. As sementes adquirem a coloração típica da cultivar.
¹V = Vegetativa; R = Reprodutiva;²Cada etapa inicia-se quando 50% das plantas mostram as condições que correspondem à descrição da etapa.
Tabela 1 – Estádios fenológicos do feijoeiro comum.
Fonte: Embrapa, 2001.

Pragas do feijão: no solo

Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)

Muito comum nas lavouras de feijão, essa lagarta causa danos nas sementes no sulco de plantio e em plântulas recém-emergidas, por isso são comuns entre V0 e V4. Seu dano à lavoura se dará pela redução no estande de plantas.

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Figura 2 – (a) Lagarta-rosca / (b) Lagarta-rosca se alimentando
Fonte: (a) Aegro / (b) Agrolink

Esse inseto permanece na fase larval, em média, por 30 dias e então passa para a fase de pupa no solo por 15 dias, quando emerge o adulto.

Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus

Essa lagarta inicialmente se alimenta de folhas para posteriormente atacar o caule das plântulas (abrindo galerias na região do colo), mas também pode causar danos em raízes e sementes. Sua incidência é elevada em períodos de seca.

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Figura 3 – Lagarta-elasmo
Fonte: Syngenta

Pragas do feijão: nas folhas

Vaquinhas (Diabrotica speciosa, Lagria villosa, Cerotoma arcuatus)

Espécies também popularmente conhecidas como patriota ou brasileirinho, seu dano se dá pela desfolha severa quando abundantemente presente, muito preocupante e danosa se ocorrer nos primeiros estádios da cultura, comprometendo a taxa fotossintética da planta e o seu desenvolvimento. O nível de controle dentro dos 20 primeiros dias da cultura é de 25% de desfolha e de 40% até o enchimento de vagens.

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Figura 4 – (a) Diabrotica speciosa / (b) Lagria villosa / (c) Cerotoma arcuatus
Fonte: (a) e (c) Agrolink / (b) EMBRAPA

Mosca-minadora (Liriomyza spp.)

Os adultos desse inseto medem 1mm de comprimento, de coloração preta, e as larvas são as responsáveis pela abertura de galerias no mesófilo foliar. São essas galerias  que causam o secamento das folhas. Seu aparecimento é comum no começo da cultura em períodos de estiagem.

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Figura 5 – (a) Minadora adulto / (b) Galerias deixadas pela larva-minadora
Fonte: (a) Agrolink / (b) EMBRAPA

Cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri)

Os adultos têm coloração verde enquanto as ninfas são de um verde mais claro; comumente se movem lateralmente. Seu dano é mais relevante no plantio da seca. Embora os sintomas relembrem a uma virose, os danos são causados por sua ação toxicogênica associada à alimentação.

Onde a população desses indivíduos é elevada, as plantas são levadas ao enfezamento, com folíolos enrolados para baixo ou arqueados. Quando a infestação é mais severa, pode ocorrer o amarelecimento das margens dos folíolos.

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Figura 6 – Cigarrinha-verde adulta
Fonte: Agrolink

Ácaro-rajado (Tetranychus urticae)

É comum o aparecimento de manchas cloróticas na parte superior das folhas, na região oposta às colônias que se situam na parte inferior destas. Essas manchas vão progressivamente ficando avermelhadas e tomando conta da folha até que se torne necrótica e caia. São comuns em ambientes com temperatura elevada e umidade baixa.

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Figura 7 – (a) Ácaro-rajado / (b) Sintomas do ataque do ácaro-rajado
Fonte: (a) Agrolink / (b) Aegro

Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus)

Costuma atacar folhas jovens, inicialmente apresentando escurecimento, seguido de um enrolamento dos bordos para baixo e a face ventral da folha apresentando um aspecto vítreo ocorrendo, por fim, rasgaduras. Ambientes com temperatura e umidade elevados são favoráveis para esse ácaro.

Os prejuízos à lavoura vêm com a destruição de folhas jovens, reduzindo o potencial fotossintético das plantas, e possível ataque às vagens com aspecto prateado.

Lagartas das folhas (Omiodes indicatus, Urbanus proteus, Chrysodeixis includens)

Seu prejuízo à lavoura se dá pela destruição do limbo foliar. No caso da lagarta-falsa-medideira (C. Includens), seus sinais são típicos porque não se alimenta das nervuras centrais ou laterais, deixando a folha perfurada com o aspecto de renda.

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Figura 8 – (a) Omiodes inficatus / (b) Urbanus proteus / (c) Chrysodeixis includens
Fonte: (a) e (c) Agrolink / (b) Wikipedia

Mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo A e B)

Uma das principais, talvez a principal, praga do feijoeiro também tem a soja como hospedeira. Seu maior problema é a transmissão de viroses, principalmente do mosaico dourado e mosaico anão. consideradas como grandes doenças do feijão que podem causar muitos danos. São mais prejudiciais ao feijão da seca.

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Figura 9 – Mosca-branca adulta
Fonte: EMBRAPA
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Pragas do feijão: nas vagens

Lagartas-das-vagens (Etiella zinckenella, Thecla jebus, Spodoptera eridania, Maruca testualis, Helicoverpa armigera)

Os danos causados pelas lagartas-das-vagens são diretamente no produto final visado pelo produtor: os grãos. As larvas atacam os grãos ainda em formação no interior das vagens, reduzindo a produtividade.

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Figura 10 – Helicoverpa armigera
Fonte: Elevagro

Métodos de controle

A incidência de pragas na cultura do feijão teve um grande aumento nas últimas décadas, o que dificulta e encarece o controle, reduzindo a margem do produtor. Dentre as causas estão o crescimento das lavouras de soja, que servem como hospedeira para algumas das pragas do feijão, o aumento no custo dos inseticidas e a resistência adquirida pelas pragas. Algumas alternativas procuram amenizar os efeitos deste último, trazendo técnicas de manejo que reduzem o uso dos defensivos, concentrando sua aplicação apenas em situações chave para o controle das pragas e reduzindo custos, garantindo a eficácia a longo prazo dos defensivos.

A EMBRAPA, por sua vez, indica a implementação do Manejo Integrado de Pragas do Feijoeiro, para que o controle de pragas da cultura seja realizado de forma racional e econômica. Esse método leva em consideração o reconhecimento de pragas danosas à cultura, a capacidade de recuperação das plantas aos ataques, o número máximo de indivíduos dessas pragas que podem ser tolerados sem causar dano econômico (nível de controle) e o uso de inseticidas seletivos criteriosamente.

A tecnologia MIP-Feijão já confirmou sua eficácia em diversas regiões como em Santa Helena de Goiás-GO, onde houve redução de 64% na aplicação de inseticidas e economia de 78% no custo de controle, mantendo-se a produtividade média em 3.030kg por hectare.

Os passos para a realização do Manejo Integrado de Pragas do Feijoeiro são:

  1. Identificar os danos, as pragas e seus inimigos naturais;
  2. Amostrar as pragas e os inimigos naturais;
  3. Interpretação dos resultados das amostragens;
  4. Tomada de decisão;
  5. Escolha dos inseticidas.
Pragas ou DanoEstágio de Desenvolvimento do FeijoeiroNível de Controle
Plantas mortasNa fase vegetativaDuas plantas cortadas ou com sintomas de murcha em 2m de linha.
VaquinhasAté formação de vagens20 insetos/pano ou em 2m de linha.
DesfolhaFolhas Primárias | Antes da floração | Após floração50% de desfolha | 30% de desfolha | 15% de desfolha
MinadoraFase vegetativaUma a duas larvas vivas por folha. Não considerar as folhas primárias.
Cigarrinha verdeAté floração40 ninfas/pano ou em 2m de linha.
TripesAté floração100 tripes em 1m; 3 tripes/flor.
ÁcarosAté formação de vagensSeis plantas com sintomas e presença dos ácaros
LesmasAté maturação fisiológicaUma lesma/m² ou 1 lesma armadilha/noite.
PercevejosFormação das vagens até a maturação fisiológicaDois percevejos grandes/pano de batida.
Lagartas da vagemFormação das vagens até a maturação fisiológica20 vagens atacadas em 2m de linha.
Tabela 2 – Níveis de controle para as principais pragas do feijoeiro
Forte: EMBRAPA, 2001

Conclusão

O material acima foi escrito com base no livro Entomologia Agrícola (Gallo et al. 2002) e na Circular Técnica 46 – Manejo Integrado de Pragas do Feijoeiro (EMBRAPA). Em ambos os materiais se faz evidente a importância da identificação da praga que está instalada, em que fase do desenvolvimento da planta ela se encontra e, principalmente, avaliar o momento correto para entrada dos métodos de controle.

Quanto mais aplicado for o conhecimento das pragas do feijão, mais eficiente, econômico e sustentável poderá ser o manejo de pragas na lavoura.

Referências bibliográficas

EMBRAPA. Circular Técnica 46: manejo integrado de pragas do feijoeiro. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2001. 28 p.
GALLO, Domingos et alEntomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 921 p.

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