A cultura do milho safrinha apresenta uma grande relevância no cenário agrícola brasileiro. Impulsionado pelo crescimento da segunda safra, esse cultivo representa uma importante janela de produção para os agricultores, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do país. No entanto, para alcançar altas produtividades nesse sistema, é essencial que os nutrientes essenciais estejam disponíveis em quantidades adequadas ao longo do ciclo da planta. Entre esses nutrientes, o potássio ocupa uma posição estratégica. Seu papel é fundamental para diversos processos fisiológicos e bioquímicos, impactando diretamente a sanidade da lavoura, a tolerância ao estresse hídrico e, principalmente, a produtividade final.
Mesmo sendo um dos nutrientes mais requeridos pela cultura do milho, o potássio ainda é negligenciado em muitos planos de adubação. Isso se agrava nas áreas de milho safrinha, em que o manejo muitas vezes é feito com base na adubação residual da cultura de verão, como a soja. Essa prática, embora comum, pode comprometer o desenvolvimento das plantas, visto que o milho apresenta uma alta demanda por potássio, especialmente durante o enchimento de grãos. Portanto, compreender a importância desse nutriente, seus mecanismos de atuação e como manejá-lo de forma eficiente é crucial para garantir a sustentabilidade e rentabilidade da produção de milho safrinha.
Índice
A função do potássio na fisiologia do milho
O potássio é um dos três macronutrientes essenciais, juntamente com o nitrogênio e o fósforo. Esse nutriente atua principalmente como um ativador enzimático, participando de mais de 60 processos metabólicos, incluindo a fotossíntese, a síntese de proteínas e o transporte de açúcares no floema. No milho, essas funções estão diretamente relacionadas à formação de colmos mais robustos, maior área foliar e melhor qualidade de grãos.
Outro ponto crucial é a regulação osmótica. O potássio contribui para o controle da abertura e fechamento dos estômatos, estruturas que permitem a troca gasosa e a transpiração. Em condições de estresse hídrico, algo comum nas áreas de milho safrinha, o potássio garante que as plantas consigam manter o equilíbrio hídrico, melhorando a tolerância à seca e reduzindo perdas por murcha. Além disso, é responsável pela movimentação de fotoassimilados das folhas para os grãos, o que impacta diretamente o enchimento dos grãos e o peso final da espiga.
A deficiência de potássio em lavouras de milho manifesta-se visualmente por meio de clorose marginal nas folhas mais velhas, acamamento das plantas e baixa resistência a pragas e doenças. Esses sinais, quando não diagnosticados a tempo, comprometem seriamente a produtividade. Estudos demonstram que solos deficientes em potássio ou manejos inadequados podem causar reduções de até 30% no rendimento do milho safrinha, tornando evidente a necessidade de monitoramento e ferraplicação estratégica do nutriente.

Fonte: Agroadvance
A dinâmica do potássio no solo e seus desafios no milho safrinha
Entender a dinâmica do potássio no solo é essencial para planejar a adubação potássica de forma eficiente. O potássio encontra-se no solo em três formas principais: a forma estrutural (não disponível para a planta), a forma trocável (adsorvida nos coloides do solo) e a forma em solução (prontamente disponível). Apenas uma pequena fração está disponível imediatamente para absorção pelas raízes, o que demanda uma reposição constante, especialmente em solos arenosos ou com baixa CTC (capacidade de troca de cátions).

Nas áreas de milho safrinha, o desafio aumenta devido ao intervalo reduzido entre a colheita da cultura anterior (geralmente soja) e a semeadura do milho. Em muitos casos, a adubação potássica é feita de forma antecipada ou mesmo negligenciada, confiando-se no residual da cultura anterior. Contudo, o potássio é altamente móvel no solo, principalmente em condições de chuva intensa, podendo ser lixiviado para camadas mais profundas, fora do alcance das raízes do milho, especialmente no início do ciclo.
Além disso, o milho apresenta uma demanda concentrada por potássio no período entre o florescimento e o enchimento de grãos. Se o nutriente não estiver disponível nesse momento, a planta pode translocar potássio das folhas mais velhas para os órgãos reprodutivos, prejudicando a fotossíntese e, consequentemente, a produção de energia necessária para o desenvolvimento da espiga. Por isso, é fundamental garantir o suprimento contínuo de potássio ao longo do ciclo, considerando práticas como a aplicação parcelada ou o uso de fontes de liberação lenta.
Outro desafio importante é o antagonismo com outros nutrientes. A presença excessiva de cálcio ou magnésio no solo pode reduzir a disponibilidade de potássio, competindo por sítios de absorção nas raízes. Em solos corrigidos com calcário, por exemplo, esse desequilíbrio é comum. Portanto, uma análise química detalhada do solo antes da semeadura é imprescindível para um manejo nutricional equilibrado e eficiente.

Fonte: Agromove
Estratégias de manejo do potássio para altas produtividade
Para garantir uma adubação potássica eficiente no milho safrinha, é essencial adotar um manejo baseado em diagnóstico, tecnologia e estratégias adaptadas à realidade de cada área. A análise de solo continua sendo a principal ferramenta para determinar a necessidade do nutriente, mas deve ser complementada com informações sobre o histórico da área, cultivos anteriores, produtividade esperada e características físicas do solo, como textura e profundidade efetiva.
A aplicação do potássio pode ser feita de diversas formas: a lanço, em linha, parcelada ou via fertirrigação (em sistemas irrigados). No milho safrinha, a aplicação a lanço antes da semeadura costuma ser a mais prática, especialmente quando há limitação de tempo entre a colheita da soja e o plantio. No entanto, quando possível, a aplicação em linha no momento da semeadura garante maior eficiência na absorção, reduzindo perdas por lixiviação.
Em solos com alta vulnerabilidade à perda de nutrientes, como os arenosos, a aplicação parcelada pode ser uma boa alternativa. Nessa estratégia, parte do potássio é aplicado na semeadura e o restante em cobertura, no estádio V4 a V6 do milho, coincidindo com o início da fase de alta exigência da planta. Essa prática melhora o aproveitamento do nutriente, reduz os riscos de perdas e garante maior segurança nutricional à cultura.
Outra abordagem interessante envolve o uso de fontes de potássio com liberação gradual, como o sulfato de potássio de liberação controlada ou misturas com polímeros protetores. Essas fontes garantem a liberação progressiva do nutriente, acompanhando a demanda da planta ao longo do ciclo. Além disso, a combinação com tecnologias biológicas, como microrganismos solubilizadores de potássio ou bioestimulantes que favorecem o crescimento radicular, tem mostrado bons resultados na agricultura regenerativa e sustentável.
Cabe destacar também que o manejo integrado do potássio deve considerar o equilíbrio com outros nutrientes. Um programa de adubação completo deve avaliar a relação K/Mg/Ca e buscar um equilíbrio que favoreça a absorção simultânea dos três cátions, sem causar desequilíbrios que possam comprometer o desempenho da lavoura. Para isso, o apoio de um engenheiro agrônomo ou consultor técnico especializado é fundamental.

Fonte: Biomatrix
Potássio e produtividade: evidências e resultados práticos
Diversos estudos agronômicos realizados ao longo da última década reforçam a importância do potássio na produtividade do milho safrinha. O nutriente, que atua diretamente na regulação estomática, no transporte de fotoassimilados e no enchimento de grãos, tem efeito comprovado tanto no aumento da produtividade quanto na melhoria da qualidade fisiológica da planta, especialmente em ambientes de segunda safra, onde os desafios climáticos são maiores.
Pesquisas conduzidas pela Embrapa Milho e Sorgo demonstraram que a aplicação adequada de potássio em sistemas de cultivo sob safrinha pode elevar a produtividade do milho em até 20%, especialmente quando o nutriente é fornecido em equilíbrio com o nitrogênio e o fósforo (Coelho et al., 2017). Esse ganho está associado à maior eficiência no uso da água e ao estímulo à atividade fotossintética da planta, garantindo melhor formação e enchimento de espigas.
Outro estudo relevante, realizado por Silva et al., 2020, mostrou que a deficiência de potássio em solos de cerrado reduziu significativamente o número de grãos por espiga e o peso de mil grãos em cultivares de milho. A pesquisa concluiu que a disponibilidade adequada do nutriente, em especial nas fases V6 a V12 da cultura, é essencial para assegurar o potencial produtivo do híbrido, mesmo sob estresse hídrico moderado, condição comum no final do ciclo do milho safrinha.
Além disso, em experimentos de campo realizados no Paraná, pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) verificaram que o parcelamento da adubação potássica em cobertura favoreceu o aproveitamento do nutriente em anos de distribuição irregular de chuvas (Martins et al., 2019). As áreas tratadas com potássio em duas aplicações (30 e 60 dias após a emergência) apresentaram maior massa seca da parte aérea, maior índice de colheita e produtividade até 1.500 kg/ha superior em relação às áreas com aplicação única na semeadura.
Também é importante destacar os dados obtidos pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que demonstraram que a presença equilibrada de potássio no solo contribui para uma maior resistência do milho à pressão de doenças como a ferrugem e a cercosporiose, além de melhorar a sanidade radicular (Rossetto et al., 2018). Esses efeitos indiretos sobre a sanidade da planta acabam refletindo positivamente no desempenho agronômico e na estabilidade produtiva ao longo dos anos.
A somatória dessas evidências científicas reforça que o manejo correto do potássio não é apenas uma questão de fornecimento de nutrientes, mas um componente estratégico na construção de produtividade e resiliência da lavoura. Considerar o histórico do solo, as exigências da cultivar e as condições climáticas da safrinha são passos fundamentais para otimizar a eficiência do uso desse nutriente e garantir o retorno econômico ao produtor.
Conclusão
O potássio é um nutriente essencial e estratégico para o sucesso da cultura do milho safrinha. Seu papel vai muito além da simples nutrição da planta, impactando processos fisiológicos fundamentais, como a fotossíntese, o transporte de açúcares e a regulação hídrica. A sua correta disponibilidade ao longo do ciclo da cultura é determinante para o alcance de altas produtividades e para a sustentabilidade da lavoura.
Para obter o máximo retorno sobre o investimento, o manejo do potássio deve ser técnico e baseado em diagnóstico. A análise de solo, a escolha da fonte adequada, o momento da aplicação e o equilíbrio com outros nutrientes são fatores-chave para o sucesso. Em um cenário de produção cada vez mais competitivo, adotar estratégias eficientes de adubação potássica pode ser o diferencial entre uma lavoura mediana e uma lavoura de alta performance.
Dessa forma, produtores e técnicos agrícolas devem olhar para o potássio não apenas como um insumo, mas como um aliado estratégico na construção de sistemas produtivos resilientes, rentáveis e alinhados com os princípios da agricultura moderna e sustentável.
Referências bibliográficas
Malavolta, E. (2006). Manual de Nutrição Mineral de Plantas. São Paulo: Agronômica Ceres.
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Raij, B. van et al. (2001). Interpretação de análises de solo para fins de fertilidade. Campinas: Instituto Agronômico.
EMBRAPA. (2021). Cultivo do milho safrinha: manejo e recomendações técnicas. https://www.embrapa.br
Souza, D. M. G., Lobato, E. (2004). Calagem e adubação para culturas anuais e semiperenes. In: Cerrado: correção do solo e adubação.

Formada em Tecnologia Agropecuária pela UERGS, Graduação em Agronomia pela UNIBTA, mestre e doutora em Fitotecnia/Entomologia pela UFRGS.