Doenças do milho: conheça as 5 principais

As doenças de plantas podem ser responsáveis por grandes perdas na produtividade das lavouras e, consequentemente, reduzir a rentabilidade da atividade agrícola. Neste texto, buscaremos elencar as cinco principais doenças da cultura do milho, como identificá-las e controlá-las.

Antes de apresentá-las, é importante esclarecer um ponto que leva a muitas dúvidas e decisões equivocadas pelos responsáveis da lavoura: a diferenciação entre doenças bióticas e abióticas. Doenças bióticas, que discutiremos aqui hoje, são causadas por agentes biológicos como bactérias, fungos e vírus, mas seus sintomas são frequentemente confundidos por deficiências nutricionais, estresse hídrico, crescimento radicular dificultado e outros fatores que atrapalham o desenvolvimento da planta mas não são causados por organismos vivos, que chamamos de doenças abióticas.

Para diferenciar esses sintomas e partir para uma identificação correta é necessário entender que os sintomas abióticos são geralmente simétricos e/ou generalizados, enquanto o crescimento de uma colônia de bactérias ou de fungos apresenta um crescimento assimétrico, partindo do ponto de infecção.

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Figura 1 – (a) folha de milho com deficiência de fósforo / (b) folha com deficiência de nitrogênio / (c) folha infectada com Helminthosporium.
Fonte: Adaptado de International Plant Nutrition Institute (IPNI).

Índice

Doenças do Milho: Enfezamento

O enfezamento do milho é uma doença muito presente nas lavouras causada por bactérias da classe dos mollicutes, que são transmitidas por um agente muito conhecido do agricultor: a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). A doença é muito relevante para as condições brasileiras, principalmente em plantios tardios (segunda safra). São duas as doenças do enfezamento que ocorrem no milho:

Enfezamento vermelho (Phytoplasma sp.)

Enfezamento pálido (Spiroplasma kunkelii)

Os sintomas do enfezamento vermelho são, inicialmente, a clorose marginal das folhas do cartucho com um avermelhamento das pontas das folhas inferiores, posteriormente evoluindo para um avermelhamento mais generalizado das folhas e diferentes graus de clorose marginal, além de um possível encurtamento dos internódios superiores.

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Figura 2 – Sintomas do enfezamento vermelho em lavoura de milho.

Os sintomas do enfezamento pálido são muito semelhantes, mas sua coloração é esbranquiçada e a clorose marginal pode ser mais acentuada no início da infecção.

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Figura 3 – Sintomas do enfezamento pálido em milho.

Considerando que ambas as doenças são transmitidas pela cigarrinha-do-milho, as medidas de controle mais indicadas são: (i) evitar plantios tardios, fugindo das épocas de maior incidência da praga; (ii) escolha por cultivares resistentes.

Contudo, considerando a importância da segunda safra de milho para o agronegócio brasileiro, muitos dos esforços se concentram no controle da cigarrinha. A prática ideal é o MIP (Manejo Integrado de Pragas), que direciona medidas culturais (já mencionadas acima), químicas e biológicas, por exemplo. Além disso, o monitoramento da praga deve ser intensificado durante os estádios VE e V8 da planta.

Ainda considerando as medidas culturais, deve-se remover o milho-tiguera das proximidades, que hospeda a cigarrinha na entressafra, bem como tomar cuidado no transporte da colheita para evitar a dispersão de sementes.

Para o controle químico, o tratamento de sementes vai fornecer alguma proteção às plântulas, enquanto para fases mais avançadas os neonicotinóides têm se mostrado muito eficientes (lembre-se de rotacionar inseticidas com mecanismos de ação distintos).

O controle biológico da cigarrinha pode ser realizado com produtos cujo ingrediente ativo seja o fungo Beauveria bassiana, que infecta e coloniza o interior do inseto.

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Doenças do Milho: Antracnose (Colletotrichum graminicola)

Apesar de ser também chamada de podridão-do-colmo, pode ocorrer em todas as partes da planta e pode atingi-la durante grande parte de seu desenvolvimento, contanto que as condições favoráveis de alta umidade e temperatura moderada estejam presentes.

Seus sintomas são caracterizados pelas manchas necróticas no limbo foliar ao longo da nervura principal, com aspecto marrom e formato alongado. No colmo as lesões inicialmente assumem coloração pardo-avermelhada, depois evoluindo para manchas mais escuras com a morte dos tecidos.

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Figura 4 – Sintomas de antracnose no colmo (a) e nas folhas (b + c).
Fonte: Agrolink (a) e Revista Cultivar (b + c).

Os conídios dispersados das plantas doentes permanecem nos restos culturais e nas sementes, o que faz com que a rotação de culturas, o tratamento de sementes e o uso cultivares resistentes sejam as melhores medidas de controle da doença. Além disso, a adubação equilibrada é importante, principalmente em relação a nitrogênio/potássio.

Doenças do Milho: Ferrugens

As ferrugens são doenças fúngicas que estão presentes na maioria das áreas de milho do país. Para a cultura, são três ferrugens diferentes:

Ferrugem comum (Puccinia sorghi)

Ferrugem polissora (Puccinia polysora)

Ferrugem tropical (Physopella zeae)

A ferrugem comum é comum em condições de baixa temperatura e alta umidade relativa, e suas manchas são elípticas e alongadas na cor marrom-canela.

A ferrugem polissora é a mais agressiva e destrutiva das ferrugens e sua incidência no centro-oeste é alta, visto sua afinidade por condições de temperatura mais elevada e tolerante a tempos secos. Se não controlados, os danos econômicos podem ultrapassar 65%. Seus sintomas possuem formato similar a ferrugem comum, mas seus esporos possuem coloração entre amarelo e dourado, com pústulas marrom-escuras aparecendo só em estágios mais avançados da doença.

Já a ferrugem tropical encontrou seu caminho no centro-oeste e sudeste por meio de híbridos suscetíveis frequentemente plantados nessas regiões. Seus sintomas ocorrem em ambas as faces da folha em pústulas paralelas às nervuras. Essas pústulas estão sob a epiderme da folha, com o centro exposto, com possível aparecimento de halos circulares ao seu redor com o avanço da doença.

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Figura 5 – Sinais da ferrugem-comum (a), ferrugem polissora (b) e ferrugem tropical (c).
Fonte: EMBRAPA

O controle das ferrugens mais eficiente é por meio da escolha de cultivares resistentes, escolha correta de época e local de plantio, além da aplicação de fungicidas foliares (estrobilurinas e triazóis após o aparecimento das primeiras pústulas).

Doenças do Milho: Cercosporiose

A cercosporiose é uma doença foliar causada por algumas espécies de fungos do gênero Cercospora, como Cercospora zea-maydis, Cercospora sorghi f. sp. maydis e Cercospora zeina. Suas lesões podem ser confundidas com o enfezamento pálido pelo seu formato e coloração. A infestação por Cercospora ocasiona manchas pálidas que crescem paralelamente às nervuras, e pode ocorrer o acamamento das plantas. Diferente do enfezamento, não ocorre a clorose marginal característica da outra doença.

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Figura 6 – Sintomas de cercosporiose em folhas de milho.
Fonte: Revista Campo&Negócios e Crop Protection Network.

A disseminação dos fungos ocorre pelos esporos, e sua permanência na lavoura ocorre por meio dos restos culturais após a colheita. Como o milho é o único hospedeiro do fungo, a rotação com girassol ou soja é uma alternativa ao controle.

Considerando as condições para o desenvolvimento do fungo, o espaçamento entre as plantas e linhas deve ser maior, evitando regiões densas que criem o microclima favorável. Além disso, o controle genético com variedades resistentes e o controle químico são possíveis.

Doenças do Milho: Helmintosporiose

A helmintosporiose causada por Trichometasphaeria turcica (Exserohilum turcicum) têm grande relevância para os cultivos de safrinha, visto as condições favoráveis de alta umidade e temperatura entre 18 e 27ºC. Algumas cultivares são mais suscetíveis que outras, com as cultivares de milho pipoca sofrendo mais; os danos econômicos podem ser mais severos se a infestação for alta antes do embonecamento.

Os sintomas da helmintosporiose são o surgimento de manchas necróticas elípticas de cor marrom que podem chegar até 15cm de comprimento.

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Figura 7 – Sintomas da infecção por Exserohilum turcicum em milho.
Fonte: Cota, L.V., 2013 (A); 2015 (B).

Para o seu controle, a melhor medida é a escolha por variedades resistentes, mas como algumas variedades são mais suscetíveis, a escolha cuidadosa da época e local de plantio é muito importante. Uma atenção especial deve ser dada à adubação nitrogenada, que, se excessiva, pode favorecer a incidência da doença.

Para o controle químico, benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas estão disponíveis.

Para cada fase, uma doença

Além das cinco doenças mencionadas anteriormente, são muitas as outras doenças que podem afligir as lavouras de milho pelo país, com sua presença variando muito pela região e clima das fazendas. Por isso, é importante dizer que todas as doenças têm períodos mais favoráveis ao seu desenvolvimento, e a identificação delas e o planejamento de seu controle deve observar esse calendário.

Abaixo fornecemos um calendário simplificado dos estádios fenológicos do milho com as doenças que estão sujeitas:

DOENÇAVEV1+V3+V6+V9+VTR1R2R3R4R5R6
Ferrugem comum    
E. turcicum   
Ferrugem polissora    
Cercosporiose    
Mancha de Diplodia    
Ferrugem tropical     
Physoderma maydis      
Mancha-branca    
Kabatiella zeae      
Mancha-escura       
Podridão de Diplodia       
Podridão de Fusarium        
Podridão de Giberella        
Carvão comum         
Fonte: Adaptado de Robson Fernando de Paula e José Carlos Madalóz em Pioneer Sementes.

Conclusão

Muitos dos esforços e dos gastos por parte dos produtores e técnicos agrícolas são direcionados ao combate dessas doenças e dos seus agentes vetores, por isso a correta identificação de uma doença é essencial para um combate eficiente, o mais cedo e econômico possível.

Segundo o Manual de Fitopatologia, livro base para a construção desse texto, a melhor e mais eficiente maneira de controlar doenças é a partir da aplicação conjunta das diversas medidas de controle possíveis para cada uma, como mencionado repetidamente nas cinco doenças acima: (i) escolha cautelosa da época e locais de plantio; (ii) uso de cultivares resistentes às doenças da região e da época; (iii) utilizar sementes de qualidade fitossanitária garantida; (iv) escolha da densidade de plantio recomendada à cultivar escolhida; (v) realizar a adubação de plantio e cobertura de modo a manter o equilíbrio ideal dos nutrientes no solo; (vi) manter a lavoura livre de daninhas; (vii) realizar o controle das pragas, quando necessário; (vii) realizar a rotação de culturas.

Como dito, a adoção conjunta de algumas dessas práticas a depender da doença é a chave para que os danos econômicos dessas doenças sejam reduzidos.

Referências bibliográficas

PEREIRA, O. A. P.. Doenças do Milho. In: KIMATI, H. et al. Manual de Fitopatologia: Vol.2 Doenças das plantas cultivadas. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1997. p. 500-515.

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