Agricultura de Precisão: como implementá-la?

A correlação do ambiente rural com o baixo desenvolvimento tecnológico e a rusticidade é prática arcaica, que deixou de ser atribuída à verdade com a implementação da tecnologia no campo (Agricultura de Precisão), por meio dos mais diversos métodos de cultivo e da disseminação do conhecimento.

O primeiro passo para o aprimoramento tecnológico das zonas agrícolas brasileiras se deu por meio do contato com inovações observadas nas universidades de ciências agrárias, que demonstraram a importância do uso de processos tecnificados e – muitas vezes – virtuais, para o desenvolvimento de lavouras mais produtivas e eficientes. Dessa forma, a observação se tornou fator primordial na construção de ambientes produtivos lucrativos, sendo o primeiro processo da conceituada agricultura de precisão.

O termo agricultura de precisão (ou AP) tem como definição “um sistema de gerenciamento agrícola baseado na variação espacial e temporal da unidade produtiva e visa o aumento do retorno econômico, à sustentabilidade e à minimização do efeito ao ambiente” (MAPA, 2010). Assim, pode-se concluir que a agricultura de precisão está presente em cada processo tecnificado e tecnológico de ajuste e manejo de um sistema produtivo, trazendo informações e recomendações de acordo com as condições da lavoura e do ambiente ao seu redor de forma integrada.

Revoluções Agrícolas

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano entendeu a necessidade de se alimentar e, tendo em vista as diferentes condições enfrentadas pelos mesmos, de cultivar seu próprio alimento. Assim como todos os outros âmbitos da sociedade, a agricultura se desenvolveu de forma intensa com o passar dos séculos e, recentemente, sofreu mudanças drásticas levando em conta as novas tecnologias e a integração com o meio-ambiente, visando a redução dos impactos à nível global no ecossistema.

O conceito de agricultura de precisão, como supracitado, é muito recente e surgiu com a implantação de tecnologias, principalmente eletrônicas, no desenvolvimento da agricultura. Esse processo de inserção da eletroeletrônica e dos processos computadorizados faz parte da “Revolução Verde”, que tem sua ocorrência atrelada à segunda metade do século XX. Mudanças ocorridas nos processos agrícolas, na execução das práticas como adubação e plantio, e o gerenciamento remoto das condições das lavouras foi um marco crucial para a conscientização da necessidade de mudanças no sistema produtivo, visando o aumento das produtividades e uso racional dos insumos, uma vez que muitos deles são finitos. 

O conhecimento acerca da eficiência das práticas agrícolas foi propiciado pelos sistemas de informação desenvolvidos durante o período citado, sendo fundamental para que a agricultura se tornasse mais sustentável, por meio da análise e tomada de decisão de acordo com as condições de campo, e lucrativa, uma vez que — apesar do investimento inicial elevado — os resultados podem ser enxergados a longo prazo na manutenção de um bom ambiente produtivo. 

Dessa forma, pode-se correlacionar a relevância do setor agrícola brasileiro para o mundo e o desenvolvimento tecnológico ocorrido no país durante esse período, principalmente no ramo agropecuário. Segundo a EMBRAPA, principal órgão agropecuário brasileiro, a produção de alimentos nos primeiros anos após a Revolução Verde alcançou um aumento de 20%, elevando o Brasil ao patamar de maior exportador mundial de alimentos.

Tecnologia no campo

Tendo em vista tantos benefícios propiciados pelo desenvolvimento tecnológico agrícola e a importância do mesmo para o patamar brasileiro de exportação, é válido ressaltar — também — que o Brasil ainda não possui homogeneidade na distribuição de tais tecnologias. Isso significa que, apesar da relevância da tecnologia no campo, a mesma ainda não se faz presente na maioria dos sistemas produtivos nacionais, principalmente em locais isolados e pequenas propriedades.

Dessa forma, para a implementação da agricultura de precisão no sistema produtivo, releva-se a importância da observação dos padrões de produção. Dentro de uma gama enorme de fatores que afetam a produção agrícola, é essencial que sejam observados os principais pontos negativos e que podem estar trazendo prejuízos à produção, visando a observação e a coleta de dados. Um exemplo, tendo em vista o início da implementação da AP, é a coleta e análise de solo de um talhão, sendo processo fundamental para a correção e adubação de acordo com as condições edáficas do ambiente de cultivo. Por meio da obtenção e análise dos dados, podem ser elaborados mapas de fertilidade, como na Figura 1, com o auxílio de softwares e imagens de satélite, fornecendo parâmetros qualitativos e quantitativos da fertilidade química do solo, por exemplo. Ademais, até mesmo os pontos de amostragem podem ser obtidos por meio do uso de sensoriamento remoto e softwares de gestão agrícola.

Após a obtenção dos resultados por meio da coleta e processamento dos dados, pode-se iniciar a tomada de decisão para as práticas agrícolas. É fundamental que tais decisões sejam assertivas, visando o uso eficiente da AP e, consequentemente, dos produtos e do solo. Dessa forma, recomenda-se que haja a instrução de um técnico para auxiliar na interpretação dos resultados obtidos e na correlação entre os dados processados e a intensidade das práticas a serem realizadas. Seguindo com o exemplo anterior, esse segundo passo se refere ao planejamento da correção e adubação do solo tendo em vista os teores de nutrientes e os parâmetros químicos do solo, obtidos por meio da coleta e análise do mesmo, executada no passo anterior. Tal tomada de decisão deve levar em conta, também, os equipamentos disponíveis na propriedade e a possibilidade, ou não, dos mesmos realizarem tais funções planejadas.

Por fim, mas de fundamental importância, é a realização das práticas planejadas no passo anterior. Apesar de simples, a aplicação da agricultura de precisão pode apresentar diversos problemas como: indisponibilidade de tecnologia, erros na operação e viabilidade de aplicação. Devido a isso, o planejamento prévio se faz essencial e resulta na tomada de decisão para a utilização da agricultura convencional ou de precisão. A fim de mitigar as possíveis perdas por falha humana, as operações são — majoritariamente — realizadas por meio de sistemas remotos de controle, que buscam otimizar o operacional e reduzir os impactos do mesmo, tanto ambiental quanto na utilização de insumos. Para finalizar o exemplo construído ao longo desse texto, a adubação em taxa variável é a suma da adubação, tendo em vista a aplicação da agricultura de precisão. Dessa forma, programa-se a maior deposição de insumos nas áreas menos férteis da lavoura, enquanto as áreas com maiores teores de nutrientes recebem menores doses de fertilizantes. Assim, obtém-se o uso racional dos fertilizantes, viabilizando a fertilização das lavouras.

Conclusões

A utilização da tecnologia no campo e o proveito tirado do desenvolvimento da agricultura ao longo dos séculos é cotidiana e pode ser vista em pequenas práticas, como a própria adubação.

Entretanto, tendo em vista a obtenção de maiores produtividades, maior integração com o meio ambiente e eficiência das operações agrícolas, o ajuste fino deve ser realizado e — se feito da maneira correta — pode trazer ganhos incríveis a médio prazo. Devido a isso, o uso de tecnologias avançadas, como o sensoriamento remoto das lavouras e a tecnificação dos serviços, deve se tornar cada vez mais intenso e, com isso, o Brasil deve atingir patamares históricos na produção de alimentos para o mundo.

Assim, como síntese do conhecimento, a prática agrícola está ligada diretamente à produção de tecnologias e conhecimento, sendo fundamental que o campo caminhe simultaneamente à produção de ciência.

Referências bibliográficas

OCTAVIANO, Carolina. Muito além da tecnologia: os impactos da Revolução Verde. Comciência. Campinas, p. 1-3. jan. 2010.

Pusch, M.; Machado, T.P.; Amaral, L.R. Introdução a Agricultura de Precisão, 03/2019. Disponível em: <www.feagri.unicamp.br/gitap> . Acesso em: 01 ago. 2023.