Adubação Foliar: potencializando o desenvolvimento das plantas

A adequada nutrição mineral das plantas tem papel fundamental na obtenção de altas produtividades, viabilizando assim, as práticas agrícolas. A fim de atender a demanda nutricional em estágios mais avançados dos cultivos, além de contribuir com processos fisiológicos iniciais, a adubação foliar surgiu como alternativa à aplicação de fertilizantes no solo, produzindo respostas mais rápidas e eficientes. 

Índice

Introdução

A adubação foliar é um complemento à adubação via solo, que visa suprir as necessidades nutricionais em diversos estágios de desenvolvimento das plantas. Além disso, os fertilizantes foliares podem ser utilizados para corrigir déficits estabelecidos durante o ciclo das plantas, seja por manejo errado do ambiente ou por condições adversas climáticas. Ademais, a adubação foliar pode contribuir com a produtividade dos cultivos mesmo em condições de solo e clima adequados, vide a adubação de boro em pré-maturação na cana-de-açúcar, que responde no acúmulo de sacarose no colmo.

Tendo isso em vista, é válido ressaltar que o desenvolvimento do mercado de adubos foliares está em pleno crescimento, escalando cerca de 30% ao ano, segundo a Abisolo (2021).

Devido à possibilidade de aplicação de baixas doses de nutrientes, os principais elementos realizados via foliar são os micronutrientes: boro, zinco, manganês, cobre, ferro, níquel e cobalto. Ademais, é possível que seja realizada adubação de macronutrientes, desde que via fertilizantes especiais, como o MAP purificado, fonte de fósforo e nitrogênio.

Entretanto, apesar dos benefícios propiciados pela adubação foliar, a mesma apresenta diversas limitações relacionadas às condições de aplicação e aos produtos utilizados, impactando diretamente na eficiência dos fertilizantes.

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Figura 1 – Representação da adubação foliar.
Disponível em: https://blog.chbagro.com.br/adubacao-foliar-o-que-e-e-como-fazer.

Adubação foliar: absorção foliar

O processo mais comum de absorção de nutrientes pelas plantas é o radicular, quando os nutrientes se movimentam pelo solo por meio do movimento da água, entram em contato com a raiz e, por processos de diferença de concentração, são absorvidos e transportados para a parte aérea das plantas. 

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 Tabela 1 – Tempo para absorção foliar de cada nutriente.
Fonte: Adaptado de Malavolta (1987).

A fim de obter maior eficiência da fertilização foliar, é essencial que as vias de absorção pelas folhas sejam eficientes e viabilizem o maior proveito dos fertilizantes aplicados. A absorção foliar é realizada por meio de aberturas na superfície foliar, que podem ser naturais (como os estômatos) ou ocorridas por condições externas (como aberturas realizadas por estresses). Isso se deve à camada hidrofóbica gerada pela cutícula, que impede a perda de água por transpiração, bem como a entrada de substâncias exógenas.

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Figura 2 – Esquema representativo da superfície foliar.
Fonte: Gomes et al. (2009).

Algumas condições são consideradas ideais para a aplicação foliar, visando a absorção mais eficiente e melhor distribuição do fertilizante pela área em questão. Segunda a EMBRAPA (2005), as melhores condições climáticas correspondem a:

  • Umidade relativa do ar entre 70 e 90%;
  • Temperatura entre 20 e 30 ºC;
  • Ventos com velocidade inferior a 10 km/h;
  • Sem condições de chuva iminente.

Além das condições climáticas, é essencial que o dossel não se encontre sob estresse, visando maior abertura estomática e – assim – maior eficiência de absorção dos fertilizantes. Ressalta-se, também, a importância de manter os equipamentos utilizados limpos e em bom funcionamento, aprimorando ainda mais a qualidade de aplicação dos fertilizantes foliares e desenvolvendo maior eficiência na operação.

Adubação foliar: adjuvantes

Tendo em vista as dificuldades oferecidas pelo clima e pelas condições de aplicação no campo, alguns produtos surgem como alternativas a fim de viabilizar a aplicação foliar e reduzir as perdas, seja por evaporação, escorrimento do produto ou deriva.

Os denominados adjuvantes atuam na camada cerosa da folha, propiciando alterações químicas e morfológicas que permitem maior eficiência da aplicação. Os principais utilizados são os surfactantes, espalhantes, molhantes e aderentes.

Os surfactantes têm a principal função de atuar na alteração de propriedades dos líquidos, beneficiando a interação entre os mesmos e a superfície das folhas, por meio de maior solubilização, diminuição da tensão superficial dos líquidos ou do maior molhamento da superfície foliar.

Os adjuvantes responsáveis pela redução da tensão superficial das gotas com o meio de aplicação são os “espalhantes”. Atuando na redução do ângulo de contato entre a superfície foliar e as gotas, possibilitam maior espalhamento da calda pela folha e maior superfície de absorção.

Os molhantes são os adjuvantes que auxiliam no retardamento da evaporação da calda, possibilitando que ela se mantenha em contato com a folha por mais tempo e, dessa forma, haja maior absorção. O uso dos molhantes é essencial em condições de aplicação não favoráveis, como de alta temperatura e baixa umidade do ar.

Por fim, os adjuvantes aderentes beneficiam a aderência dos líquidos às superfícies foliares, diminuindo o escorrimento das gotas e a perda de produtos para o ambiente. Seu uso é recomendado em áreas com alta umidade e precipitação, uma vez que as gotas de chuva podem contribuir com a perda de produtos.

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Quando realizar a adubação foliar?

Como citado anteriormente, a adubação foliar não pode ser realizada de forma exclusiva na lavoura, tendo em vista o baixo fornecimento de nutrientes e a necessidade nutricional do início do ciclo de desenvolvimento das culturas, quando as mesmas ainda não apresentam folhas.

Assim, a adubação foliar é realizada em estágios mais avançados da cultura a fim de corrigir deficiências ou beneficiar algum processo fisiológico essencial para completar seu ciclo.

Rezende et al. (2004) estudaram a adubação foliar de fósforo na cultura da soja, visando diferentes estádios fisiológicos, buscando maiores produtividades de acordo com o manejo. Os autores concluíram que a aplicação foliar de fósforo contribuiu com o aumento de 16% na produtividade, além de beneficiar os teores de outros nutrientes por meio de interações na planta. Outro estudo, realizado por Duarte (2021), concluiu que a adubação foliar de P durante o enchimento de grãos (R5.2) contribui com o teor de massa seca e, consequentemente, com a produtividade da soja. 

Altarugio et al. (2017) concluíram que a aplicação foliar de magnésio no período de enchimento de grãos da soja contribuiu com o aumento da taxa fotossintética e no teor de Mg na folha do milho, além de contribuir com o aumento do peso de 100 grãos em ambas as culturas.

Na cultura da cana-de-açúcar, é importante ressaltar a aplicação conjunta de maturadores e boro, via foliar, no período de pré-maturação do canavial. Siqueira e Crusciol (2014) concluíram que a aplicação citada contribui com o mais rápido acúmulo de sacarose no colmo, ou seja, aumento do POL (%), quando comparado à aplicação isolada do maturador.

Entretanto, o principal fator para a aplicação de fertilizantes foliares vêm das análises de teores de nutrientes foliares, que devem levar em conta a adubação realizada via solo e a necessidade real da planta, não apenas visual, como muito realizada no país.

Assim, recomenda-se a realização da análise foliar dos talhões a serem aplicados, visando o diagnóstico nutricional das plantas e o estabelecimento de planejamento para a aplicação de nutrientes via foliar.

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Tabela 2 – Teor foliar adequado de nutrientes em cada respectiva cultura.
Fonte: Prezotti e Guarçoni (2013).

Conclusões

A adubação foliar pode ser considerada um “ajuste fino” nas lavouras brasileiras, levando em conta o seu impacto na produtividade e a complementação realizada da adubação via solo. Entretanto, a adubação foliar não deve ser priorizada quando outras práticas, como a correção do solo e adubação via solo, não são realizadas de forma correta, o que causa prejuízos maiores que os benefícios trazidos pela complementação via folha.

Assim, o futuro da produção vegetal caminha para um aporte nutricional ainda maior, baseando-se em práticas comuns, além da realização de práticas específicas e mais aprimoradas, contribuindo para a maior sanidade e produtividade das lavouras.

Referências bibliográficas

ALTARUGIO, Lucas Miguel et al. Yield performance of soybean and corn subjected to magnesium foliar spray. Pesquisa Agropecuária Brasileira, [S.L.], v. 52, n. 12, p. 1185-1191, dez. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0100-204×2017001200007.

DUARTE, Fernando C. N.. Resposta da soja à adubação foliar com fósforo no período reprodutivo: mecanismos governando respostas da planta. 2021. 70 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Agricultura Tropical e Subtropical, Instituto Agronômico de Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical, Campinas, 2021.

PREZOTTI, Luiz Carlos; GUARÇONI, André. Guia de interpretação de análise de solo e foliar. Vitória: Incaper, 2013. 106 p.

REZENDE, Pedro Milanez de et al. Adubação foliar em épocas de aplicação de fósforo na cultura da soja. Ciência Agrotecnologia, Lavras, v. 29, n. 6, p. 1105-1111, dez. 2005.

STOLLER. Adjuvantes agrícolas: entenda os benefícios para sua lavoura. 2022. Disponível em: https://www.stoller.com.br/adjuvantes-agricolas-entenda-quais-sao-os-beneficios-para-sua-lavoura/. Acesso em: 25 jun. 2023.

VARGAS, Leandro; GLEBER, Luciano. Tecnologia de aplicação de defensivos. 2005. Disponível em: https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Ameixa/AmeixaEuropeia/tecnologia.htm#:~:text=A%20umidade%20relativa%20do%20ar,ou%20causar%20danos%20%C3%A0%20cultura.. Acesso em: 25 jun. 2023.

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