Ponte verde soja-algodão: principais pragas e formas de controle

O produtor está sempre buscando meios de aumentar os lucros de sua produção e rentabilidade. Realizar cultivos sucessivos, principalmente nos estados do centro-oeste e nordeste é uma realidade no Brasil. Principalmente quando a sucessão ocorre entre os cultivos de soja-algodão. A produção de lavouras em sequência é conhecida como ponte verde.

O sistema permite o cultivo de até três safras anuais, intensificando as produções. No entanto, apesar de trazer diversos benefícios para o agronegócio, também aumenta o risco de infestações de insetos praga. 

Espécies consideradas polífagas, ou seja, que se alimentam de diversas plantas, podem permanecer na área mesmo após o fim da safra. O cultivo sucessivo de plantas hospedeiras facilita a proliferação desses insetos, principalmente nas regiões de maior produção do país.

No artigo de hoje, vamos conhecer as principais pragas do sistema de cultivo intensivo da soja-algodão em ponte verde. Assim, o produtor pode se preparar e se prevenir para reduzir danos e corrigir o problema com eficiência. 

Índice

Ponte verde soja-algodão: pragas comuns entre as culturas

Mosca-branca (Bemisia tabaci), uma das pragas da ponte verde soja-algodão

A mosca branca causa danos importantes na cultura da soja e algodão. Por isso, sua importância no sistema ponte verde soja-algodão. Os danos da praga são diretos e indiretos como veremos a seguir. 

Os adultos da espécie possuem coloração amarelo-palha e medem entre 1 e 2 mm. Os ovos têm formato de pêra e são colocados na parte abaxial (“costas”) das folhas. Cada fêmea tem capacidade de postura de 100 a 300 ovos durante seu ciclo de vida. Ao eclodir, as ninfas são amarelo-palha e se locomovem pelas folhas. 

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Ciclo de vida da mosca branca (Bemisia tabaci).
Fonte: Instituto Mato-grossense do Algodão 2018.

Após seu desenvolvimento se fixam nas folhas e succionam a seiva da planta. Os adultos também se alimentam dessa forma e podem injetar toxinas, que provocam alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta. 

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Presença adultos e ninfas da mosca branca em folha de algodão.
Fonte: Mais Soja

Ao se alimentar, a espécie excreta um líquido açucarado, conhecido como “honeydew”. Essa substância induz o crescimento de fungos que provocam a fumagina. O fungo recobre a planta e impede que ela absorva luz, reduzindo sua capacidade fotossintética e em consequência sua produtividade. 

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Folha de soja com presença de “honeydew”.
Fonte: Arquivos Embrapa Soja

Além disso, a mosca branca é um importante vetor de vírus fitopatogênicos, que causam severas doenças. No cultivo do algodão é vetor do vírus do mosaico comum (AbMV). Na soja do vírus do mosaico anão (VME) e vírus do mosaico crespo (VMCrS).

O controle da espécie pode ser realizado via inseticidas, como os do grupo de reguladores de crescimento. Através de controle biológico o produto mais indicado é a base do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana

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Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

É uma das espécies mais importantes no cultivo de soja e algodão, pois seu ataque é muito agressivo. A ponte verde é uma forma de permanência das lagartas nas lavouras, o que pode acarretar resistência no controle. 

As lagartas apresentam coloração escura, com “Y” invertido na cabeça, listras claras no dorso e pontuações escuras em todo o corpo, incluindo 4 pontos pretos no abdome (região posterior da cabeça). A espécie passa por quatro fases distintas de desenvolvimento: ovos, lagartas, pupas e adultos. O ciclo completo dura cerca de 30 dias. 

Na soja, seu ataque ocorre principalmente na fase vegetativa. A praga é desfolhadora e pode consumir uma grande área foliar. Quando presente após a emergência das plântulas, apresenta o hábito rosca, causando redução do estande inicial. 

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Danos de raspagem de folhas por lagartas neonatas recém eclodidas.
Fonte: Phytus Group

As lagartas recém eclodidas iniciam os danos através da alimentação nas folhas da cultura. Entretanto, preferem raspar as brácteas dos botões florais, o que os danifica. Ao se desenvolverem, perfuram o interior das flores ou a base das maçãs. Seu ataque pode ocorrer nas folhas, brácteas, flores e maçãs. 

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Presença de Spodoptera frugiperda no cultivo de algodão.
Fonte: Instituto Mato-grossense do Algodão 2018.

O controle de S. frugiperda em pode ser realizado através de defensivos químicos ou através de produtos biológicos. O uso de produtos à base de baculovírus é recomendado para a espécie. Ao ingerir as partículas virais, essas dissolvem-se no intestino da lagarta e se espalham para o resto do corpo, levando o inseto à morte.

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A liberação de macrobiológicos como Trichogramma pretiosum, que parasita os ovos da espécie e o predador Orius insídiosus também são indicados para controle.

Percevejo-castanho (Scaptocoris castanea

Também conhecido como percevejo-castanho-da-soja devido sua importância nessa cultura. É considerado um inseto polífago, por isso sua importância também na lavoura de algodão. 

Seus danos são ocasionados por ninfas e adultos. Através da sucção da seiva injetam substâncias tóxicas, que causam atrofiamento de raízes e dificulta o desenvolvimento das plantas.  

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Adulto do percevejo-castanho (Scaptocoris castanea)
Fonte: Agrolink

O ciclo biológico do percevejo passa por ovo, ninfa e adultos. Dura em média 125 dias, mas os adultos podem viver por cerca de 4 meses. As ninfas passam por 5 instares e tem coloração branco-leitosa. Os adultos medem cerca de 8 mm e são marrom-claro. 

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Ciclo do percevejo-castanho
Fonte: J.M.S.Bento

Devido ao hábito subterrâneo do inseto, o controle químico é difícil de ser realizado. Por isso, o uso de produtos biológicos como Metarhizium anisopliae é altamente recomendado.

Conclusão

Vimos neste artigo, a importância das pragas comuns à soja e algodão no sistema ponte verde. O produtor agrícola deve sempre estar atento a presença de pragas, danos e buscar formas de controle eficiente. 

Por isso, é importante manter o controle do histórico das infestações das espécies pragas na área. Assim, ao iniciar uma nova safra é possível prever a sua ocorrência e estabelecer a forma de manejo mais adequada. 

O monitoramento de pragas nas culturas da soja e algodão deve ser realizado durante toda a safra, desde a fase vegetativa. Muitas espécies, como demonstramos acima, atacam principalmente nessa fase. A desfolha prejudica a capacidade fotossintética das plantas, reduzindo sua produtividade. Por isso, é preciso evitar a presença dessas pragas nos cultivos. 

A união de ferramentas do MIP (Manejo Integrado de Pragas) auxilia na manutenção da sanidade dos cultivos. Cada praga apresenta uma melhor forma de controle. No entanto, manejos como aplicações no nível de dano econômico, rotação de ingredientes ativos, controle de plantas hospedeiras, preservação de inimigos naturais e consórcio com biológicos, são comuns a todas e devem ser exploradas.

Referências

BARROS et al. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE Spodoptera frugiperda (J. E. Smith 1797) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA DO ALGODOEIRO. Pesquisa Agropecuária Tropical, 35 (3): 179-182, 2005.

EMBRAPA. Manejo da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, em milho. EMBRAPA milho e sorgo.

PEREIRA, Luciano de Carvalho. Monitoramento e manejo integrado das pragas do algodoeiro (Gossypium spp.) em cultivo no cerrado. 2005.

SANTOS, K.B.; MENEGUIN, A.M.; NEVES, P.M.O.J. Biologia de Spodoptera eridania (Cramer) (Lepdoptera: Noctuidae) em diferentes hospedeiros. Neotropical Entomology, v. 34, p. 903-910, 2005.
VIEIRA, S. S. Redução na produção da soja causada por Bemisiatabaci(Gennadius) Biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) e avaliação de táticas de controle. Dissertação de Mestrado. Lajes, SC. Disponível em http://www.cav.udesc.br/arquivos/id_submenu/721/dissertacao_simoni_silveira.pdf

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