A podridão vermelha da cana-de-açúcar é uma das principais doenças que acometem esta cultura no mundo, gerando grandes prejuízos na produção sucroalcooleira. A estimativa máxima de perdas do açúcar recuperável ocasionada por esta doença chega a 35%.
Nesse sentido, conhecer mais sobre esta importante doença e suas formas de controle é essencial para que o produtor realize o melhor manejo.
Índice
Sobre a Podridão vermelha da cana-de-açúcar
A podridão vermelha da cana-de-açúcar é ocasionada por um fungo fitopatogênico denominado Colletotrichum falcatum (e na fase perfeita corresponde a Glomerella tucumanensis), que apresenta hifas finas, incolores, ramificadas e septadas que infectam o hospedeiro (cana-de-açúcar) tanto de modo intercelular quanto intracelular.
Podridão vermelha
Fonte: Agrolink
Por meio destas hifas, o fungo consegue sobreviver através da produção de propágulos vegetativos denominados clamidósporos (estruturas de resistência) que se mantém viáveis por um longo período no ambiente.
Transmissão
A principal forma de transmissão deste patógeno é através de fontes de inóculo primário, que podem ser folhas e outros detritos sobre os quais o fungo cresce de forma saprófita, enquanto as fontes de inóculo secundário, por sua vez, são as nervuras centrais de folhas doentes, onde a contaminação ocorre pelos conídios (esporos do fungo).
A disseminação destes conídios pode ocorrer por ventos, chuvas, insetos, irrigação e restos culturais.
Ao atingir as gemas do colmo da cana-de-açúcar, este patógeno penetra na planta e, em contato com os seus tecidos internos, produz uma enzima conhecida como invertase, que ocasiona a inversão da sacarose presente nos colmos, ocasionando, portanto, a baixa recuperação de sacarose pela indústria.
Fatores que colaboram para incidência da podridão-vermelha
São vários os fatores que colaboram para a incidência desta doença nos canaviais, como através do cultivo contínuo de uma mesma variedade de cana-de-açúcar em uma área, do cultivo de variedades suscetíveis a este patógeno e do crescimento tardio da planta decorrente de um manejo inadequado.
Além da penetração direta nos tecidos da planta, este fungo normalmente utiliza como porta de entrada os orifícios formados por uma importante praga da cultura: A broca-da-cana (Diatraea saccharalis).
Broca da cana-de-açúcar
Fonte: Agrolink
Em locais onde já há o ataque da broca-da-cana, torna-se comum haver a associação conhecida como “complexo broca-podridão”, que favorecerá a infecção da doença e resultará em perdas que variam de 50 a 70% da sacarose nos colmos.
Sintomas e formas de ocorrência
A podridão vermelha pode ocorrer em várias partes da planta a depender do seu estágio de desenvolvimento.
No momento da germinação/brotação da cana-de-açúcar, a doença pode ocasionar o apodrecimento dos toletes, danos aos tecidos internos, comprometer a germinação e o vigor e promover a morte das gemas.
Como o próprio nome da doença sugere, as lesões internas nos colmos, após a fase de brotação, apresentam-se com uma coloração vermelha evoluindo para marrom-claro nas infecções mais avançadas.
Gepema-Agrimet
Há também a formação de manchas alongadas de coloração vermelho-amarronzada de tamanho variável que podem surgir na nervura central das folhas, podendo atingir toda a extensão da nervura em folhas mais velhas.
Sintomas de podridão vermelha nas nervuras da folha da cana-de-açúcar
Adriano Andreoti (IFMT – Campus: Campo Novo do Parecis)
Identificação
A mancha presente nas nervuras das folhas pode se assemelhar à deficiência de potássio, e, portanto, para a identificação é recomendável realizar um corte transversal na nervura onde a mancha vermelha encontra-se presente.
Se for verificado uma coloração totalmente vermelha em toda a seção do corte, supõe-se que é a doença ocasionada por Colletotrichum falcatum, porém, se a mancha for vermelha apenas nas bordas e tiver um centro branco, suspeita-se da deficiência de potássio.
A melhor forma de identificar esta doença nos canaviais é através da partição longitudinal dos colmos da planta, para a observação se há ou não a presença de manchas vermelhas (podridão), dado que ela é observada nas partes internas do tecido vegetal.
Nas infestações mais graves, além da podridão, a cultura pode apresentar necrose da região onde se encontra os nós, secamento dos colmos e até mesmo morte das plantas, o que resulta em falhas nos canaviais.
Manejo da podridão vermelha na cana-de-açúcar
As principais formas de controle da podridão vermelha são através do uso de variedades resistentes, uso de mudas sadias e eliminação de restos culturais, dado que produtos químicos não são eficientes para o controle direto desta doença.
Uma outra estratégia é o controle da broca-da-cana, visto que esta praga facilita a entrada do fungo por meio dos orifícios formados no colmo. O controle biológico também é uma outra forma de controle desta doença. Em um estudo realizado utilizando produtos a base de Trichoderma spp. (microorganismo muito conhecido por controlar certos tipos de doenças em plantas), foi constatado o potencial de redução e controle da população de C. falcatum em resíduos de pós-colheita da cana-de-açúcar em apenas uma única aplicação, corroborando, portanto, com mais um pilar no manejo integrado de doenças.
Ao longo do texto, foi verificado a importância de se identificar e controlar a podridão vermelha da cana-de-açúcar, para que, através disso, se obtenha plantas com maior vigor e produção.
Graduando o último ano do curso de Engenharia Agronômica na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP). Atualmente é Estagiário na área de Qualidade e Assuntos Regulatórios na Empresa Gênica Inovação Biotecnológica, Organizador do ciclo de palestras e mídias sociais do Grupo ESALQiNOVA e integrante do Grupo Boa Vontade (voluntariado). Possui experiência no desenvolvimento de projetos (Empresa Júnior), microbiologia e fitopatologia (laboratório) e em grandes culturas (soja, milho, sorgo e cana-de-açúcar).