Nematóides: a importância do controle na segunda safra

O plantio de soja, um dos principais cultivos agrícolas do país, abrange atualmente cerca de 43 milhões de hectares e espera-se que continue a crescer nos próximos ciclos. No entanto, a produção de soja enfrenta desafios significativos, como a infestação de nematóides, que podem prejudicar o crescimento e a produtividade das plantas. Para enfrentar esse desafio, inovações tecnológicas estão sendo desenvolvidas para melhorar o manejo e controlar os nematóides, a fim de aumentar a lucratividade da produção de soja e garantir o seu papel fundamental no PIB agrícola do país.

O monocultivo na safra, apesar de lucrativo, pode trazer diversos prejuízos com o passar dos anos, uma vez que a constância das práticas de manejo favorece a seleção de organismos prejudiciais e resistentes, como os nematóides – que causam, em média, 30% de perdas na produtividade (CAMPOS et al., 2019).

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Figura 1 – Dano causado por nematóides.
Disponível em: https://www.sementesoesp.com.br/nematoides-tudo-o-que-voce-precisa-saber/

Portanto, é essencial que as práticas de manejo e cultivo contribuam com o controle desses agentes patogênicos, tanto na safra quanto na segunda safra – em outras culturas. Saiba mais sobre a importância do controle de nematóides no texto abaixo:

Índice

Impactos da infestação de nematóides

Os nematóides, membros da classe Nematoda, são organismos com corpo alongado e cilíndrico, com alta variabilidade de habitats, podendo ser encontrados em diversas condições edafoclimáticas (ROSSETTO; SANTIAGO, 2022).

Diferentes espécies habitam os solos agricultáveis e causam perdas em várias culturas, como a cana-de-açúcar, soja e milho. As principais e mais prejudiciais às lavouras são as de gênero Meloidogyne e Pratylenchus; cada um atua de forma diferente nas raízes e ocasionam processos fisiológicos diversos que prejudicam o desenvolvimento e o metabolismo das plantas.As espécies do gênero Meloidogyne são conhecidas como nematóides-das-galhas. Esses seres são endoparasitas, ou seja, se estabelecem no interior do organismo do hospedeiro, com exceção de sua fase vermiforme (logo após a eclosão dos ovos), quando habita o solo. As modificações celulares causadas pelos nematóides-das-galhas ocorrem nos sítios de alimentação nas raízes, beneficiando a multiplicação de células e, consequentemente, as galhas (GALBIERI; BELOT, 2016).

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Figura 1 – Galhas formadas nas raízes por espécie do gênero Meloidogyne.
Disponível em: https://agropos.com.br/nematoides-da-soja/

Os nematóides do gênero Pratylenchus, conhecidos também como nematóides-das-lesões, são de extrema importância agronômica já que podem afetar drasticamente o cultivo em áreas de infestação. Sua distribuição heterogênea e alta densidade populacional contribuem para o amplo espectro de prejuízos trazidos, principalmente, pela espécie Pratylenchus brachyurus. As raízes afetadas por tais organismos sofrem decréscimo na capacidade de absorver água e nutrientes, bem como têm seu potencial de desenvolvimento e produção reduzidos (COSTA et al., 2009). Além desses sintomas, também podem ser observados efeitos indiretos de Pratylenchus, como a observação de reboleiras – com plantas menos desenvolvidas no interior da área – e déficits nutricionais, causados pelo menor potencial de desenvolvimento radicular que, consequentemente, leva à menor absorção de água e nutrientes. Por fim, o movimento dos nematoides-das-lesões pelas raízes possibilitam abertura para a entrada de agentes patógenos, como fungos Fusarium e Verticillium, causando doenças potencializadoras das perdas.

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Figura 2 – Danos causados por P. brachyurus em milho.
Disponível em: https://agronomicabr.com.br/DetalheAgriporticus.aspx?id=913.

Os efeitos maléficos causados por esses organismos também refletem na parte aérea das plantas, originando sintomas em reboleiras, murcha das plantas e até mesmo necrose, levando à redução da produtividade (FERRAZ; MONTEIRO, 1995).

Safra subsequente

Usualmente se espera que a expressão de nematóides ocorra na safra, quando há uso mais intenso do solo e as condições climáticas favorecem o desenvolvimento das culturas implantadas. Entretanto, quando a segunda safra favorece a continuidade dos fitopatógenos no solo e sua reprodução, o problema tende a perdurar por mais tempo e, dessa forma, causar prejuízos exponenciais ao cultivo (PINHEIRO, 2022).

A segunda safra, no Brasil, é majoritariamente composta pelo cultivo do milho denominado safrinha, em sucessão à soja (principal cultura da safra brasileira). Este período é essencial para diversos processos, em especial os ecológicos, beneficiando a redundância funcional e a diversidade de espécies no bioma. Entretanto, o milho cultivado na segunda safra pode servir de hospedeiro, também, para espécies maléficas ao sistema como um todo e, dessa forma, perpetuar infestações como as de nematóides.

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Figura 3 – Tabela dos fatores de reprodução dos nematóides.
Fonte: Adaptado de Inomoto & Asmus, 2014. 

A Figura 3 representa o impacto de diferentes culturas na população de nematóides, como um referencial para o manejo de acordo com as espécies em abundância e o sistema de cultivo.

Tendo em vista a relação entre as culturas presentes na figura acima, nota-se a relevância da Crotalaria spectabilis, uma vez que apresenta como característica reduzir a população de diversas espécies de nematóides. A redução se dá devido à produção de monocrotalina, substância nematicida produzida pelas plantas da espécie. 

Dessa forma, o manejo do sistema deve ser cuidadoso e elaborado a fim de reduzir os impactos em potencial causados pelo monocultivo ou pela sucessão constante de culturas.

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Controle de nematóides

Tendo em vista a redução do rendimento dos cultivos, bem como o impacto não só na safra, mas nas produções subsequentes, o controle dos nematóides existentes na área faz parte da construção de um sistema de produção de sucesso.

O controle dos nematóides pode ser realizado de diversas formas, essencialmente através de práticas integradas a fim de evitar a seleção de organismos mais resistentes aos meios de manejo.

A rotação de culturas é caracterizada pelo cultivo consecutivo de diferentes espécies, cujos ciclos e manejos diferem entre si. Como os nematóides dependem da planta para sua reprodução, uma vez que se estabelece a relação de hospedeiro-parasita, é essencial que o manejo nas safras subsequentes à principal beneficie o cultivo de plantas não hospedeiras dos nematóides presentes na área. O principal exemplo de manejo para cessar a infestação pelos nematóides-das-galhas (Meloidogyne sp.) é a rotação com amendoim e crotalária, todas espécies que apresentam antagonismo aos nematóides.

Um dos métodos mais utilizados e de fácil acesso para os produtores é o uso de cultivares resistentes aos ataques dos nematóides. Entretanto, apesar de diminuir os impactos, o controle genético não é 100% eficiente e pode ser ignorado por organismos selecionados. Além disso, práticas como a remoção de restos culturais (principalmente em hortaliças) e uso de fertilizantes orgânicos, beneficiando a microbiota do solo e – dessa forma – aumentando a competição dos nematóides com inimigos naturais, são consideradas funcionais no manejo em questão.

Recentemente, diversos estudos mostraram o desenvolvimento de agentes biológicos de controle dos nematóides, como as bactérias do gênero Bacillus. Tais bactérias não afetam as plantas de maneira direta, mas contribuem com as condições biológicas do solo reduzindo os impactos dos nematóides no sistema. Dentro da espécie Bacillus subtilis, algumas cepas são selecionadas para o controle de nematóides, que atuam produzindo fitotoxinas que beneficiam o desenvolvimento vegetativo das plantas – contribuindo com o estabelecimento das culturas (SHARMA; GOMES, 1996). Essas substâncias produzidas pelas bactérias, além de promover o crescimento das plantas, também afetam – negativamente – o desenvolvimento das populações de nematóides, uma vez que seu ciclo reprodutivo (tanto na fase de ovo quanto na fase juvenil) pode sofrer a ação de endotoxinas produzidas pelas cepas de Bacillus subtilis.

Ademais, é válido ressaltar a importância da integração dos manejos visando maior amplitude de aplicação e melhores resultados, favorecendo o ecossistema como um todo. O uso de agentes biológicos de controle, culturas de cobertura e, até mesmo, nematicidas químicos pode beneficiar a redução dos impactos causados pelas espécies de nematóides presentes nas áreas de cultivo.

Conclusão

A intensificação e o uso constante do solo, principalmente em sistemas de plantio direto e safras seguidas, dificulta o manejo de pragas de solo e reduz o poderio contra agentes bióticos.

Dessa forma, a integração para controle de nematóides é essencial para o equilíbrio do sistema e para o desenvolvimento de cultivos mais produtivos. 

Por meio dessas alternativas, busca-se um sistema sólido de produção, viabilizando o ambiente agrícola em épocas diversas e sob plantios subsequentes durante o ano. 

Referências bibliográficas

ABREU, Ana Carolina. Conhecendo os nematoides: Nematoides-das-lesões radiculares (Pratylenchus spp.). 2022. Disponível em: https://blog.syngentadigital.ag/nematoides-pratylenchus/#:~:text=Intera%C3%A7%C3%A3o%20de%20Pratylenchus%20e%20outras%20doen%C3%A7as,-A%20movimenta%C3%A7%C3%A3o%20ao&text=Os%20danos%20ao%20sistema%20radicular,estruturas%20reprodutivas%20e%20menor%20produtividade.. Acesso em: 28 mar. 2023.

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FERREIRA, Roberta Mendes Isaac. Estrutura e desenvolvimento da galha radicular induzida por Meloidogyne javanica em Glycine max L. (Soja). 2017. 46 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Biologia Vegetal, Ufu, Uberlândia, 2017.

PINHEIRO, Jadir Borges. Nematóides. 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/pimenta/producao/doencas-e-pragas/doencas/nematoides. Acesso em: 18 fev. 2022.

SCHNEIDER, Rafael Eduardo. Reação do Milho (Zea mays) a diferentes níveis populacionais de Pratylenchus brachyurus em ambiente protegido. 2015. 33 f. TCC (Graduação) – Curso de Agronomia, Ufpr, Palotina, 2015.

XXXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE NEMATOLOGIA, 2019, Caldas Novas. Cenário atual de nematóides no cerrado: cultura da soja. Caldas Novas: Ufv, 2019.

WANG, K.H.; SIPES, B.S.; SCHMITT, D.P. Crotalária as a cover crop for nematode management: a review. Nematropica, v.32, p. 35-57, 2002.

XXXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE NEMATOLOGIA, 2019, Caldas Novas. Manejo Biológico de Nematoides em Soja, Milho e Algodão. Caldas Novas: Ufv, 2019.

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