Damping-off na cultura do milho (Zea mays)

A busca incessante pelo aumento na produtividade, junto à integração com o meio ambiente, têm demandado alternativas de manejo para contornar os desafios enfrentados pelos produtores no ambiente produtivo, como o damping-off.

O damping-off, ou também conhecido como “tombamento de mudas”, é um problema causado tanto por fatores bióticos quanto abióticos e, recentemente, vem causando perdas produtivas nas lavouras de milho. A alta incidência pode ser relacionada às variações de temperatura, qualidade da semente e, principalmente, por ação de patógenos fúngicos da espécie Rhizoctonia solani. Por isso, essa publicação tem como objetivo esclarecer a ocorrência dessa doença e como o manejo pode favorecer seu controle e maior produtividade.

Índice

Fatores bióticos do damping-off

O período de pré-germinação e germinação das sementes (emissão da radícula) consiste em alguns dos estágios mais sensíveis do ciclo vegetal, quando a ação de fatores negativos para o desenvolvimento pode afetar todo o ciclo da planta, refletindo no momento da colheita

O impacto inicial de fungos, como espécies de Pythium e Fusarium – assim como o Rhizoctonia solani – podem acarretar em redução do estande inicial de plantas e, consequentemente, em falhas visíveis nas linhas de plantio da lavoura.

A ação desses patógenos afeta a região do mesocótilo, próximo ao ponto de contato da planta com o solo. Assim, com a fragilidade estrutural da parede celular, há o tombamento das plântulas e, como observado na figura abaixo, há redução da população de plantas em estádios posteriores de desenvolvimento.

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Figura 1 – Damping-off na cultura do milho.
Fonte: University of Delaware..

A infecção pelos agentes patogênicos pode se dar antes do plantio ou quando a semente é inserida no sistema e, em contato com o solo, serve como hospedeiro para tais organismos. No primeiro caso, a semente já sofre os impactos negativos da infecção e pode morrer antes do seu plantio; já em caso de infecção posterior, quando a semente é inserida no campo, os danos podem ser observados também nas plântulas.

Além dos organismos citados previamente, como Rhizoctonia e Fusarium, espécies dos gêneros Aspergillus, Rhizopus e Pythium também podem atuar como agentes causadores de damping-off. Condições subótimas de cultivo, como solos mal drenados, frios (com temperatura abaixo dos 13 ºC) e com baixa disponibilidade de oxigênio (compactado), favorecem o estabelecimento de colônias de fungos maléficos às sementes e às plântulas.

Tipos de tombamento

O apodrecimento da semente, causado pelos patógenos, causando sua morte e,  logo, impedindo a germinação é classificado como “tombamento de pré-emergência”, sendo classificado como o mais prejudicial, uma vez que reduz o estande de plantas e gera falhas nas linhas de plantio.

As plantas com sistema radicular mais desenvolvido ou em estágios mais avançados de desenvolvimento podem, ainda, sofrer com o impacto dos patógenos causadores de damping-off, sofrendo danos no hipocótilo e, assim, possibilitando a morte das plantas. Esse tombamento é classificado como “tombamento pós-emergência”.

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Figura 2 – Tombamento de pós-emergência.
Fonte: EMBRAPA.

Por fim, nem todas as sementes/plântulas afetadas pelos patógenos, necessariamente morrerão e, dessa forma, darão origem à plantas com menor vigor vegetativo e reprodutivo, ocasionando perdas de produtividade da lavoura.

Manejo adequado do damping-off

Tendo em vista o impacto causado pelos patógenos em questão e o prejuízo ocasionado pelo manejo não assertivo da lavoura, tanto em relação ao controle fitossanitário quanto ao manejo físico do solo, a tomada de decisão é fundamental para o desenvolvimento de lavouras de alta produtividade. 

O primeiro passo para o estabelecimento de um plantio saudável é o uso de sementes sadias, que não carreguem junto a si patógenos. A taxa de transmissão de damping-off via propagação de sementes é de 35%; assim, pode-se obter uma redução do inóculo dos fungos fitopatogênicos através do cuidado com o armazenamento das sementes, transporte e tratamento das mesmas com fungicidas, reduzindo o impacto inicial dos patógenos e evitando o tombamento em pré-emergência.

O plantio em condições físicas ideais propicia um melhor ambiente para o desenvolvimento inicial, com boa drenagem e favorecimento da aeração do solo, contribuindo para o crescimento radicular e estabelecimento da cultura. Dessa forma, não é recomendado que a semeadura do milho seja realizada em solos com alta umidade, baixa temperatura, má drenagem e, consequentemente, baixa disponibilidade de CO2. As condições citadas contribuem para o desenvolvimento dos patógenos causadores do tombamento e com o menor aproveitamento da cultura.

A integração entre os métodos de controle de doenças tem como objetivo ampliar os meios de reduzir o inóculo, desfavorecendo a seleção dos organismos resistentes a um único método de manejo. Tal manejo integrado consiste no uso de variedades menos suscetíveis, rotação/sucessão de culturas, defensivos químicos, bem como os biológicos.

Esses, por sua vez, têm recebido destaque, tendo em vista o desenvolvimento de novos produtos e organismos que contribuem tanto quanto agentes controladores químicos, porém com menor impacto ambiental, se realizados de forma correta. Os principais agentes biológicos de controle dos fungos Rhizoctonia e Fusarium são os fungos fitopatogênicos do gênero Trichoderma; tais organismos podem ser utilizados no tratamento de sementes, uma vez que o damping-off ocorre no início do desenvolvimento da cultura, reduzindo o impacto do tombamento de pré e pós-emergência.

Os fungos do gênero Trichoderma podem ser encontrados em diferentes solos e condições climáticas, tendo fácil reprodução e aplicação na agricultura. Assim, seu uso é recomendado para o controle biológico de Rhizoctonia, uma vez que possui enzimas antagonistas à atividade metabólica dos agentes patógenos, reduzindo sua atividade e, consequentemente, sua ação sobre as plantas.

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Figura 3 – Trichoderma sp. agindo sobre fungo (gênero Pythium) causador de damping-off.
Fonte: Cornell University.
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Conclusão:

O conhecimento acerca do manejo da cultura do milho tem exigido alternativas para o desenvolvimento de lavouras mais rentáveis. Através de pesquisas sobre o manejo de doenças e do estudo sobre a atuação dos diversos agentes patogênicos causadores de damping-off, é possível obter resultados positivos em relação ao manejo integrado da doença e do impacto da mesma sobre o desenvolvimento inicial da cultura do milho, bem como seu reflexo na produtividade da lavoura.

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