A participação do milho safrinha, ou milho segunda safra, na produção total de milho no Brasil cresce a cada ano e se consolidou no mercado como o maior contribuinte para a safra dessa cultura no Brasil, graças a estratégias de manejo como a adubação nitrogenada, por exemplo. Esse resultado, entretanto, não ocorreu necessariamente pela superação da produtividade do milho de segunda safra sobre a safra de verão, mas, sim, pelo aumento na área plantada nesse período (CONAB, 2024).
É por sua importância que o manejo da adubação para o milho safrinha se faz tão importante, mais notadamente em relação ao nitrogênio, sendo o nutriente mais absorvido e exportado pela cultura (Gott et al., 2014).
O nitrogênio é, ao mesmo tempo, o elemento mais frequentemente limitante à produção de cereais e o fertilizante cujas aplicações trazem as maiores variações nos custos aos produtores de milho (Poffenbarger et al., 2017). Além disso, o milho é uma cultura extremamente responsiva à adubação nitrogenada, sendo considerado o segundo fator em ordem de importância à produção do cereal, representando, aproximadamente, 26% da produção, apenas atrás do clima (Below, Universidade de Illinois, não publicado).
São por essas razões que discutiremos aqui a adubação nitrogenada para o milho, mais especificamente para a segunda safra, que possui alguns pontos importantes de serem diferenciados quanto à adubação de primeira safra.
Índice
A diferença do milho primeira safra e segunda safra
O milho safra é mais responsivo ao N do que o milho segunda safra, isso ocorre em razão do maior potencial produtivo (e, consequentemente, maior exigência em N), das condições climáticas mais favoráveis ao acúmulo de biomassa e da melhor distribuição de chuvas que melhoram a absorção do N-fertilizante, enquanto a resposta do milho safrinha ao N é reduzida pelas condições hídricas e térmicas que reduzem a eficiência de absorção do N-fertilizante (quando há déficit hídrico), além da mineralização do N dos restos culturais da soja que suprem em parte a demanda de N do milho (Shioga et al., 2004).
Dadas estas diferenças, é preciso traçar uma estratégia de adubação que minimize as perdas de N no sistema solo-planta, que podem ser resumidas pela regra dos quatro “C”s (forma Certa, lugar Certo, tempo Certo e quantidade Certa), aumentando as chances da disponibilidade do nutriente coincidir com a demanda pela planta (Fixen, 2020).
O manejo da adubação nitrogenada
A demanda de nitrogênio por parte da planta de milho é baixa nos estádios iniciais de estabelecimento do estande, e cresce rapidamente durante a fase de crescimento exponencial que se inicia em V6 (Scharf et al., 2002; Nelson et al., 2011).
Mas antes de partirmos para os fertilizantes minerais, é importante considerar os impactos do manejo da cobertura e da saúde do solo na nutrição do milho segunda safra. Os restos culturais da lavoura anterior, muito comumente soja, mas outras leguminosas também, podem contribuir com valores entre 35 e 45 kg de N ha-1 para o milho em sucessão (EMBRAPA, 2008). A matéria orgânica, por sua vez, desempenha um papel crucial no potencial de resposta da adubação nitrogenada: além de otimizar processos naturais como a fixação do N-atmosférico, a M.O. é substrato e fonte de energia para a biota do solo, regulando a atividade e diversidade microbianas, como as responsáveis pela hidrólise da ureia (Bettiol, 2023).
Para definir as doses de N a serem aplicadas, outros fatores além dos já citados devem ser considerados: a produtividade esperada, a eficiência de aproveitamento do N-fertilizante e o tipo de fertilizante utilizado e seu modo de aplicação.
Quanto às fontes, podemos considerar segundo Souza e Lobato (2004) eficiências de aproveitamento do N pelas plantas aproximadas de 70% para a ureia aplicada a lanço sem incorporação, 75% para ureia com inibidor de urease (NBPT) a lanço sem incorporação e 80% para ureia incorporada, sulfato e nitrato de amônio com ou sem incorporação.
A ureia é, a partir da atividade da enzima urease encontrada na M.O. pela atividade de microrganismos, hidrolisada e volatilizada. Fatores como temperatura, teor de M.O. e umidade aceleram esse processo. Por esse motivo, os inibidores de urease, como seu próprio nome diz, são utilizados na ureia a fim de reduzir suas perdas para a atmosfera por volatilização e garantir uma disponibilização mais gradual do nutriente. A incorporação do fertilizante após sua aplicação reduz sua exposição à água da chuva, umidade do ar e ao aquecimento pela radiação solar (Cantarella, 2007).
As doses, por sua vez, segundo Souza e Lobato (2004), adicionadas às considerações que fizemos sobre a contribuição da soja (pela sua produtividade na safra anterior) e da matéria orgânica na mineralização do N, podem ser encontradas na seguinte tabela:
Quanto à época e local de aplicação, estudos indicam máximas produtividades quando a adubação ocorre entre os estádios V4 e V6 (momento do desenvolvimento onde ocorre a definição do potencial produtivo), somados à uma adubação de arranque no sulco de plantio de 30 kg ha-1 (Debruin e Butzen, 2015). Esse fracionamento visa sincronizar a absorção de nitrogênio pela planta (que diminui com as condições climáticas menos favoráveis a sua absorção à medida que o ciclo avança) com sua disponibilidade no solo (quando a ureia aplicada no plantio já está em concentrações muito reduzidas).
Conclusão
Os cuidados na adubação nitrogenada são pontos-chave para definir o sucesso de qualquer lavoura de milho, considerando a grande resposta da cultura ao elemento.
No caso do milho segunda safra, é importante entender as limitações do período e da região de cultivo para adequar as práticas de adubação, minimizando perdas e maximizando o aproveitamento do nutriente pelas plantas.
Referências bibliográficas
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