Fósforo: conheça seu ciclo no sistema solo-planta

O fósforo (P) é considerado um elemento essencial às plantas devido às suas funções vitais no desenvolvimento das mesmas, independente das condições às quais estão submetidas. Devido à quantidade extraída pelas plantas comerciais durante seu ciclo, o fósforo é caracterizado como um dos três macronutrientes primários, ao lado do nitrogênio e potássio.

A agricultura tropical apresenta inúmeras limitações e a disponibilização de tal elemento de forma absorvível para as plantas é uma das principais, tendo em vista sua dinâmica no solo e as características dos ambientes edáficos tropicais. Assim, levando em consideração sua baixa eficiência e alta relevância, é fundamental que se conheça os manejos adequados para maior aproveitamento das fontes fosfatadas voltadas à agricultura.

Índice

Fósforo no solo

O Brasil, apesar de sua dimensão continental, tem suas áreas produtivas concentradas na faixa tropical do globo terrestre, que ocasiona especificidades dos processos de formação do solo e, dessa forma, contribui com a predominância de solos altamente intemperizados e de baixa fertilidade natural. Tendo isso em vista, é válido citar que é comum encontrar ambientes com acidez (pH < 5,0) e que, devido à elevada atividade dos óxidos de ferro e alumínio, favorece a adsorção e fixação dos íons de fósforo nos colóides, indisponibilizando-o.

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Figura 1 – Representação dos processos de precipitação do fósforo no solo, de acordo com o pH.
Fonte: IPNI (s.d.).

Como observado na figura acima, em pHs menores que 6,5 (água) e 6 (em CaCl2), há alta taxa de fixação do fósforo. Em ambientes muito ácidos, ocorre a predominância da fixação pelos óxidos de ferro e em pHs mais próximos ao ideal, há o pico de fixação pelos óxidos de alumínio. Dessa forma, pode-se notar a importância do manejo adequado da acidez do solo por meio da utilização de corretivos, principalmente o calcário, a fim de neutralizar os cátions monovalentes de hidrogênio (H+) e, assim, aumentar o pH do solo até a faixa ideal de 5,5 – 6,0 (em CaCl2).

Tendo em vista a dinâmica de adsorção do fósforo, pode-se citar que três frações do P no solo: P-solução, que consiste nos íons fosfato (PO43-), ortofosfato primário (H2PO4) e ortofosfato secundário (HPO42-), disponíveis na solução do solo; P-lábil, que consiste no fósforo ligado aos colóides de forma não específica, ou seja, que pode retornar à solução do solo mediante mudanças físico-químicas do ambiente edáfico; P-não lábil, fração formada pelo fósforo fixado aos óxido de ferro e alumínio em pHs ácidos, bem como pelo P precipitado com cálcio em pH alcalino, por meio do processo de retrogradação.

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Figura 2 – Ciclo do fósforo no sistema solo-planta-ambiente.
Fonte: OpenStax College (s.d.).

Por meio do conhecimento das interações do P no solo, é fundamental que se entenda que o mesmo possui baixa mobilidade no perfil de enraizamento, fator que impacta diretamente no manejo de aplicação de fertilizantes fosfatados, visando seu melhor aproveitamento e eficiência de uso nos cultivos comerciais.

Fósforo nas plantas

Como citado anteriormente, o fósforo é considerado essencial para o desenvolvimento vegetal, tendo impactos diretos na produtividade dos cultivos comerciais.

As principais formas absorvidas de fósforo são as formas inorgânicas de HPO42- e H2PO4, que são preferencialmente absorvidas de acordo com o pH da rizosfera, onde ocorre o contato – por difusão – das raízes com o P-solução.

O transporte de fósforo por meio do xilema ocorre na forma absorvida e sua redistribuição é constituída, principalmente, por moléculas orgânicas em alta taxa ascendente e descendente, sendo considerado um nutriente móvel nas plantas.

As principais funções do fósforo nos organismos vegetais estão ligadas à disponibilidade de energia às mesmas, principalmente devido à participação do fósforo na composição da adenosina trifosfato (ATP), molécula energética mais importante. Além disso, o P participa da composição de fosfolipídios, componentes fundamentais da membrana plasmática, que permite a permeabilidade seletiva, que atua fundamentalmente na estrutura e funcionamento das células.

Levando em conta a importância citada do fósforo, é relevante ressaltar que sua deficiência em plantas ocasiona sintomas específicos, sinalizando a necessidade de manejos repositivos a fim de elevar o fornecimento do elemento às plantas, visando a melhora nutricional dos cultivos. O sintoma característico de deficiência de fósforo é o acúmulo de antocianina nas folhas, originando manchas arroxeadas, como as observadas na Figura 3.

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Figura 3 – Acúmulo de antocianina observado em folha de milho.
Disponível em: https://blog.aegro.com.br/deficiencia-de-fosforo-em-milho/.

Além disso, por estar estritamente relacionado à distribuição energética das plantas, pode-se observar – em plantas deficientes em fósforo – o menor porte em relação às bem nutridas, assim como menor número de flores, frutos e sementes.

Devido à alta mobilidade do fósforo nas plantas, os sintomas de deficiência são observados – primeiramente – em folhas velhas; em casos mais graves de desnutrição, os sintomas se tornam generalizados.

Alternativas de manejo

O manejo do fósforo nos solos tropicais exige alternativas eficientes, uma vez que as reservas fosfáticas mundiais são limitadas e, tendo isso em vista, é fundamental que ocorra o uso racional dos recursos.

Assim, estabeleceram-se manejos funcionais e diversificados para enfrentar os desafios propostos pelas condições dos solos tropicais em relação à dinâmica do fósforo no sistema produtivo.

Adubação corretiva de fósforo: também conhecida como fosfatagem, trata-se da aplicação de fertilizantes fosfatados de baixa solubilidade visando o fornecimento de P ao solo por meio de fontes de baixo custo, aumentando a eficiência da adubação fosfatada com fontes nobres, como o MAP, Superfosfato Simples e o Superfosfato Triplo.

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Microrganismos mobilizadores de P: alternativa biológica para a mobilização de fósforo fixado para a solução do solo, é realizado por fungos e bactérias, como Pseudomonas spp., Penicillium spp. e Bacillus spp. Tais organismos podem apresentar diversos mecanismos de ação, mas o principal consiste na liberação de ácidos orgânicos, que permitem a troca de ligantes com os óxidos de ferro e alumínio, disponibilizando íons fosfato na solução do solo.

Fertilizantes de liberação controlada: o uso de fertilizantes que possuem em sua composição fontes altamente solúveis e fontes menos solúveis, visando a disponibilização imediata e a longo prazo de fósforo para a solução do solo é alternativa utilizada nos sistemas produtivos.

Conclusões

O manejo do fósforo nos solos tropicais representa um dos principais problemas enfrentados pela agricultura brasileira e, por mais que sejam recomendadas diversas alternativas para o desenvolvimento de ambientes produtivos eficientes, é necessário o acompanhamento contínuo a fim de estabelecer um sistema altamente rentável.

Dessa forma, nota-se a importância da correção do solo, propiciando condições físico-químicas para a maior disponibilidade de fósforo, bem como beneficiando o enraizamento, que possui papel fundamental na absorção de fósforo em subsuperfície.

Referências bibliográficas

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MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. de. Avaliação do estado nutricional

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YAMADA, T. et al. Fósforo na Agricultura Brasileira. Piracicaba: Potafos, 2004.

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