Hortaliças: Saiba como realizar o manejo biológico

As hortaliças correspondem a um grupo de mais de 100 espécies com alto valor nutritivo, podendo ser consumidas de diferentes formas, fazendo parte do cotidiano alimentar brasileiro. Sua importância ao país, além de nutricional, é econômica, uma vez que o mercado de hortaliças movimentou – em 2022 – R$ 4,24 bi, comprovando a grande relevância ao setor olerícola (BRAINER, 2023).

O cultivo pode ser realizado desde pequenas escalas – para consumo próprio – até por grandes fazendas que realizam desde o cultivo até o processamento e embalagem do produto. A versatilidade de espécies e de modalidades de produção permitem que sua produção seja realizada em todo o país, havendo a necessidade de manejos diferentes de acordo com as condições edafoclimáticas da área cultivada.

Devido ao alto consumo in natura dos produtos hortícolas, releva-se o apelo recente ao menor uso de agroquímicos no seu desenvolvimento, visando a redução dos possíveis impactos à saúde humana pelo consumo indevido de moléculas utilizadas no sistema produtivo, como inseticidas, herbicidas e fungicidas.

Tendo isso em vista, vamos abordar um pouco mais sobre o manejo alternativo mais usado nos cultivos olerícolas, o manejo biológico.

Índice

Manejo Biológico

As tendências recentes dos cultivos olerícolas buscam a redução dos impactos ambientais e sanitários, levando em conta não só o uso de fertilizantes orgânicos, mas a redução do uso de agroquímicos para o controle de pragas e doenças. 

Dessa forma, o uso de organismos para favorecer o ambiente e beneficiar o desenvolvimento das culturas é uma das alternativas mais viáveis e utilizadas dentre as opções existentes no mercado. Além disso, quando bem manejado, pode reduzir os impactos ambientais causados pelo uso excessivo de defensivos agrícolas e o maior equilíbrio ecológico no ecossistema.

O seu uso abrange: microrganismos utilizados a fim de favorecer os processos de disponibilização de nutrientes no solo, como bactérias e fungos; controle de pragas e doenças, por meio de inimigos naturais dos insetos-praga e dos patógenos; além disso, produtos biológicos podem ser utilizados como atuantes fisiológicos que colaboram para o aumento da resistência das plantas a estresses abióticos, como o caso dos extratos de alga.

Apesar da diversidade de funcionalidades e ações do manejo biológico, o principal enfoque do uso dessa linha em culturas olerícolas é o controle de pragas.

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Figura 1 – Joaninha, predador de pragas olerícolas.
Disponível em: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.peritoanimal.com.br%2Fo-que-a-joaninha-come-23453.html&psig=AOvVaw1L6NBwwA3cjbeESb_zh2RR&ust=1685561178766000&source=images&cd=vfe&ved=0CBEQjRxqFwoTCODhve_inf8CFQAAAAAdAAAAABAQ

Agentes Biológicos de Controle nas Hortaliças

Os organismos utilizados para controlar pragas nos cultivos agrícolas, de maneira geral, são denominados de agentes biológicos de controle. Tal classe de seres podem ser classificados como predadores, parasitóides, fungos entomopatogênicos, bactérias e vírus.

Os predadores são insetos que procuram, de forma ativa, suas presas e se alimentam das mesmas. Os parasitóides são seres que parasitam outros organismos, impedindo os hospedeiros de atingirem sua fase reprodutiva. Assim, por meio do manejo correto e do estudo acerca das interações ecológicas, observa-se a aplicabilidade do uso dos insetos benéficos para o controle biológico de pragas.

O manejo biológico é muito utilizado a fim de controlar duas das pragas mais importantes das culturas olerícolas: a tripes e a mosca-branca.

A mosca-branca (Bemisia tabaci) é um dos principais insetos-praga nos cultivos hortícolas, tendo relevância ainda maior na cultura do tomate. Devido ao seu hábito alimentar, a mosca-branca realiza a sucção da seiva e, consequentemente, injeta substâncias tóxicas às plantas. Assim, há a redução do vigor das plantas e menor qualidade dos frutos, prejudicando o seu poder de comercialização. Além disso, a praga em questão excreta uma substância denominada honeydew, uma secreção açucarada que serve como substrato para o desenvolvimento de fumagina, que afeta a taxa fotossintética e reduz o desenvolvimento vegetal.

Latria - Hortaliças: Saiba como realizar o manejo biológico

A alternativa ao controle químico da Bemisia tabaci é a utilização de Beauveria bassiana. O fungo controlador realiza a infestação dos insetos-praga e penetra o organismo do inseto, ocasionando a sua morte por destruição interna. Com a morte do hospedeiro, os fungos emergem e esporulam, se propagando pela área e estabelecendo novas colônias.

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 Figura 2 – Beauveria bassiana infectando Bemisia tabaci.
Disponível em: https://promip.agr.br/mosca-branca-praga-polifaga-dificil-controle/

A traça-das-crucíferas (Plutella xylostella) é uma das principais pragas de culturas olerícolas, mais especificamente das espécies da família Brassicaceae, causando prejuízos em repolho, couve-flor, brócolis, entre outras. O ataque deste inseto é altamente prejudicial e pode originar galerias nas folhas e desfolha. O controle por agentes biológicos pode se dar por meio de bactérias, como o Bacillus thuringiensis e Trichogramma sp., parasitóides de ovos.

O controle por Bacillus thuringiensis acontece por meio da produção de cristais proteicos que são incompatíveis ao sistema digestivo dos insetos-praga e, dessa forma, levam à morte dos organismos prejudiciais. Enquanto isso, o controle por Trichogramma sp. ocorre por meio do parasitismo, por parte das vespas, dos ovos da praga. Após a oviposição, por parte dos agentes de controle, no interior dos ovos da traça-das-crucíferas, ocorre a eclosão e a consequente morte das estruturas reprodutivas do inseto.

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Figura 3 – Microvespa do gênero Trichogramma.
Disponível em: https://canaldohorticultor.com.br/saiba-como-a-micro-vespa-trichogramma-e-usada-no-controle-biologico-da-traca-do-tomateiro/

Integração do Sistema de Hortaliças

As diversas possibilidades de práticas para o desenvolvimento dos sistemas olerícolas possibilita manejos diferentes de acordo com as condições do ecossistema produtivo. Tendo isso em vista, o uso de diferentes métodos para o controle de pragas, doenças, adubação e demais atividades agrícolas é fundamental para que o sistema seja sustentável e que a produção de hortaliças seja viável aos produtores, além de atender a demanda do mercado consumidor.

Assim, espera-se que o desenvolvimento da produção de olerícolas no Brasil seja pautado no uso diversificado de insetos benéficos, atrelado ao desenvolvimento genético, manejo cultural e nutricional das culturas envolvidas.

Conclusão

Levando em conta as informações obtidas no texto e as tendências de mercado, tanto interno quanto externo, observa-se a necessidade de alterações e incrementos nos hábitos produtivos do setor hortícola brasileiro.

Diversas instituições, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), fornecem certificações que possibilitam maior valorização do produto final, além de garantir credibilidade aos alimentos produzidos. Um exemplo de selo de certificação muito relevante para o comércio mundial é o GLOBALGAP.

O GLOBALGAP é um certificado mundial que abre espaço para o desenvolvimento de mercado em diversas áreas do globo. As avaliações são estabelecidas de acordo com as necessidades impostas pela instituição. Vale ressaltar que as exigências são sempre atualizadas visando a manutenção dos padrões de acordo com o desenvolvimento do mercado e de tecnologias.

Logo, tem-se que o Brasil conta com potencial muito alto para ser referência no uso de biológicos na agricultura, especialmente no setor olerícola, com campos diversos para produção e ampliação da produção.

Referências Bibliográficas

BRAINER, Maria Simone de Castro Pereira. Produção de hortaliças na área de atuação do BNB. Caderno Setorial Etene, Nordeste, v. 2, n. 180, p. 1-14, 30 maio 2023.

CATAPAN, V., BUZANINI, A.C., MOURA, J.M.M., and SANTOS, S.S. Principais pragas de hortaliças-fruto nas famílias das Solanáceas, Cucurbitáceas e Fabáceas. In: BRANDÃO FILHO, J.U.T., FREITAS, P.S.L., BERIAN, L.O.S., and GOTO, R., comps. Hortaliças-fruto [online]. Maringá: EDUEM, 2018, pp. 357-386. ISBN: 978-65-86383-01-0.

HARTERREITEN-SOUZA, Érica Sevilha et al. Predadores e parasitoides: aliados do produtor rural no processo de transição agroecológixa. Brasília: Emater, 2011. 92 p.

REVISTA CULTIVAR.  2020. Disponível em: https://revistacultivar.com.br/noticias/estrategias-de-manejo-para-controle-da-traca-das-cruciferas. Acesso em: 30 maio 2023.

SCIENCE: LABORATORY & CERTIFICATION. O que é o EUREPGAP? 20??. Disponível em: https://www.belgelendirme.com/pt/eurepgap/eurepgap-nedir. Acesso em: 01 jun. 2023.VACARI, Alessandra Marieli; BORTOLI,Estratégias de manejo para controle da traça-das-crucíferas. Sergio Antonio de. Bacillus thuringiensis apresenta eficiência no controle das traça-das-crucíferas. 2015. Disponível em: https://revistacampoenegocios.com.br/bacillus-thuringiensis-eficiencia-no-controle-da-traca-das-cruciferas/. Acesso em: 30 maio 2023.

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