O Brasil sofre um cenário de incertezas no agronegócio, principalmente uma possível crise dos fertilizantes, devido a guerra entre Rússia e Ucrânia. A Rússia suspendeu a exportação de fertilizantes para vários países, mas o Brasil não se encontra nessa lista. Entretanto, o país não consegue receber os insumos russos devido à falta de navios e de seguro para que as embarcações trazendo os insumos cheguem em território brasileiro.
Nessa situação, podemos perceber cada vez mais a importância de se utilizar manejos mais sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental, quanto econômico. Com a possível crise dos fertilizantes, o mercado direciona a atenção para os manejos biológicos. Como eles podem ajudar? Será possível obter bons resultados através dessas ferramentas?
Neste artigo, vamos trazer alguns manejos biológicos que irão auxiliar no desenvolvimento do seu cultivo.
Índice
Fixadores Biológicos de Nitrogênio
Explorar a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), além de evitar que a crise dos fertilizantes atrapalhe na produção, é uma excelente forma de contribuir para a fertilidade e nutrição das plantas. O processo ocorre através de enzimas que que reduzem o N2 (gás nitrogênio livre)em NH3 (amônia) pela ação de microrganismos simbiontes (bactérias) que se associam às plantas. As bactérias fixadoras de nitrogênio invadem os pelos das raízes onde se multiplicam e estimulam a formação de nódulos radiculares. Dentro dos nódulos, as bactérias convertem o nitrogênio livre em amônia que será utilizada pela planta para seu desenvolvimento.
Entenda no esquema acima como ocorre a fixação biológica de nitrogênio pelas plantas.
Foto: CropLife
Na natureza existem dois tipos de microrganismos fixadores de nitrogênio. As bactérias de vida livre (não simbióticas), que incluem as cianobactérias (algas verde-azuladas) e os gêneros Azobacter, Beijerinckia e Clostridium. E as bactérias mutualísticas (simbióticas) como Rhizobium associadas às plantas leguminosas e Azospirillum associada às gramíneas. As duas últimas são comercialmente conhecidas, e amplamente utilizadas na agricultura.
Nódulos produzidos em raiz de soja.
Foto: Divulgação Globo Rural
O uso de bactérias simbiontes substitui ou reduz o uso de fertilizantes químicos. No cenário geoeconômico que o Brasil se encontra, o uso desses microrganismos são excelentes opções para aumentar a nutrição das plantas. Conheça os benefícios do uso de bactérias fixadoras de nitrogênio:
- Redução do uso adubos nitrogenados, resultando em economia para o agricultor;
- Melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo;
- Aumenta a produtividade, principalmente em solos pobres de nitrogênio;
- Minimiza os impactos do nitrogênio no meio ambiente, contribuindo para a sustentabilidade;
Solubilizadores de fósforo
Os solubilizadores de fósforo são microorganismos que quando em associação a rochas naturais são capazes de solubilizar fósforo e deixá-lo disponível para as plantas. Em geral são encontrados naturalmente na superfície das sementes ou na microbiota do solo. Rochas fosfáticas são encontradas em pequenas quantidades no Brasil, pois isso mais de 50% do fósforo utilizado na agricultura provém da importação. É essencial que os produtores comecem a utilizar soluções sustentáveis, pois o fósforo é um recurso finito.
Existem vários gêneros de bactérias e fungos que são solubilizadores se destacando as bactérias dos gêneros Pseudomonas e Bacillus e os fungos Aspergiluus, Penicillium e Saccharum.
De forma geral, esses organismos atuam de duas formas. A primeira é mineralizando o fósforo. Neste, as enzimas do grupo fosfatase hidrolisam o fósforo orgânico e liberam imediatamente no solo. A segunda ocorre pela redução do pH do solo que auxilia os fungos e bactérias na solubilização do fosfato.
Na figura acima podemos observar como ocorre a solubilização do fósforo no solo.
Foto: Esalq/USP
Para que esses microorganismos tenham eficiência agronômica precisam ser aplicados pelo produtor no solo, a fim de aumentar sua eficiência e população. Quando o solo é saudável, com uma biota equilibrada e presença de matéria orgânica, os organismos solubilizadores encontram um local apto para seu desenvolvimento. Por isso, busque manter o solo em boas condições químicas, físicas e biológicas Faça uso de manejos sustentáveis que favoreçam o desenvolvimento de microorganismos benéficos.
Diferença entre das raízes entre plantas inoculadas por fungos ou bactérias e não inoculadas. É possível observar a diferente no desenvolvimento das raízes.
Foto: Embrapa
Além da solubilização do fósforo, o uso desses microrganismos apresentam outros benefícios:
- Auxiliam na disponibilização de cálcio, ferro e alumínio no solo, principalmente através de ácidos graxos.
- Mineralizam fósforo orgânico e resíduos orgânicos liberando enzimas fosfatases essenciais para o desenvolvimento das plantas.
Conclusão sobre o uso de biológico para amenizar a crise dos fertilizantes
O manejo biológico do solo auxilia na manutenção de um solo saudável e minimiza os efeitos externos que impactam a produtividade da cultura, como a crise dos fertilizantes. Com uso de tecnologias naturais, a atividade biológica do solo é favorecida, refletindo no maior potencial produtivo.
Construir um solo equilibrado em seus aspectos físicos, químicos e biológicos permite o aumento da produtividade. Em um cenário de crise de fertilizantes, utilizar insumos biológicos e promover a saúde do solo, se torna essencial. Procure conhecer as soluções que contribuem para o desenvolvimento da sua cultura e que promovem um desenvolvimento mais sustentável.
Referências
Baldani, V. L. D. History on the biological nitrogen fixation research in graminaceous plants: special emphasis on the Brazilian experience. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.77, 2005.
Basu S.e Kumar G., Nitrogen fixation in a legume-rhizobium symbiosis: the roots of a success story. Plant Microbe Symbiosis, 2020.
Sprent, J. I.. Nodulation in Legumes. Kew: Royal Botanic Gardens, 2001. [4] Baldani, J. I.;
Leonardo é formado em Administração com ênfase em Agronegócios pela Universidade Estadual Paulista – “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente é aluno do MBA de Agronegócios da ESALQ/USP. Trabalha como Analista de Operações da Gênica – Inovação Biotecnológica.