O milho é uma das culturas mais antigas do mundo, cultivada há pelo menos 5.000 anos. Sua importância se caracteriza pelas diversas formas de sua utilização, que vão desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. Neste texto veremos o controle biológico no milho.
O uso do milho em grãos como alimentação animal representa a maior parte do consumo desse cereal.
Já na alimentação humana, apesar de não ter uma participação muito grande, pois se caracteriza mais por seus derivados, é uma importante fonte de alimento para a população de baixa renda.
Já na balança comercial do agronegócio o milho está, cada vez mais, ocupando posição de destaque.
Em 2020, o milho registrou um VBP de mais de R$ 99 bilhões, representando cerca de 11% da produção agropecuária e mais de 17% da produção agrícola do país.
Ocupa o 2º lugar entre as culturas do agronegócio brasileiro.
Índice
Principais problemas associados a pragas e doenças
Manter o cultivo com sanidade deve ser um dos principais objetivos dos produtores. Quando estamos tratando de um cultivo tão importante como o milho, estes cuidados devem ser redobrados.
A preparação dos manejos para evitar a ocorrência de pragas e doenças deve começar ainda no planejamento pré-safra. Algumas infestações podem causar danos de 50%, 60% a até 100%. Para reduzir esses danos, é necessário conhecer as principais pragas e doenças associadas ao cultivo.
Principais Doenças do milho
Cescosporiose (Cercospora zeae-maydis)
É uma das mais importantes doenças do milho. Possui alto potencial de causar danos e se distribui amplamente por todas as regiões brasileiras. Os sintomas aparecem nas folhas com lesões paralelas às nervuras. Inicialmente a cor das lesões pode variar de verde a marrom. Quando em alta umidade, as folhas ficam cobertas de esporos, adquirindo uma coloração cinza.
Imagem: Folha de milho com sintomas de mancha branca.
Fonte: Agrolink
Mancha branca (Phaeosphaeria maydis)
É amplamente difundida em todo o território brasileiro. As perdas podem chegar até 60% em condições favoráveis. Inicialmente os sintomas são nas folhas inferiores progredindo para as superiores. Nas folhas é possível observar lesões arredondadas de coloração esbranquiçada com bordos escuros.
Imagem: Folha de milho com sintomas de mancha branca.
Fonte: agriculture.basf
Ferrugem
Para realizar o manejo da ferrugem é importante saber qual tipo de ferrugem você tem na lavoura.
A ferrugem comum é a menos severa, caracteriza-se pela presença de manchas elípticas e alongadas, em ambas as fases da folha.
A ferrugem polissora (Puccinia polysora) é a que causa maiores danos, e pode representar danos econômicos de até 65% nas lavouras. Ferrugem Tropical ou Ferrugem Branca (Physopella zeae) tem sintomas que aparecem, em ambas as fases das folhas. Apresenta manchas dispostas em pequenos grupos, paralelos às nervuras de cor amarelada a castanho.
Imagem: Podemos observar a comparação da infestação dos três tipos de ferrugem.
Fonte: Pioneer Sementes
Agora que conferimos algumas das principais doenças, vamos conhecer os principais insetos praga que causam danos ao cultivo:
Principais pragas do milho
Lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda)
É considerada a principal praga do milho. Causa grandes perdas quando não controlada. A lagarta penetra no colmo da planta, criando galerias, que provoca um sintoma conhecido como “coração morto”, que ocorre pelo dano no crescimento da planta. No início da infestação, quando as lagartas ainda estão muito jovens, é possível observar raspagens nas folhas, indicando sua presença.
Imagem: A lagarta do cartucho pode ser identificada pelo Y invertido na cabeça.
Fonte: Pioneer Sementes
Lagarta da espiga do milho (Helicoverpa zea)
É muito importante, pois ataca a partea espiga, parte comercializável da planta. A mariposa oviposita nos estigmas e passa a atacar estes, ocasionando a redução da fertilização e do peso dos grãos. O controle químico é quase ineficiente para essa espécie, pois a lagarta fica protegida dentro da espiga.
Imagem: Lagarta da espiga em espiga de milho.
Fonte: Agrolink
Larva alfinete (Diabrotica speciosa)
Esse inseto ataca a parte radicular da planta, que deixa mais suscetível ao acamamento. Provoca um sintoma conhecido como “pescoço de ganso”. A praga possui potencial de causar perdas elevadas, podendo chegar até 70% em ataques severos e em situações experimentais.
Imagem: Larva alfinete (Diabrotica speciosa)
Fonte: Embrapa
Imagem: Plantas de milho atacadas pela larva alfinete, com sintoma de “pescoço de ganso”.
Fonte: Thiago Bernardes – UFLA
Controle biológico de pragas e doenças no milho
Os produtos biológicos são importantes agentes de controle tanto para pragas, como para doenças. Por isso, separamos alguns produtos biológicos que auxiliam no manejo do cultivo de milho:
Azospirillum brasilense
As bactérias do gênero Azospirillum fazem parte das bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP). Elas estimulam o crescimento das plantas e trazem diversos benefícios como: fixação biológica de nitrogênio, produção de hormônios, solubilização de fosfato, e atuam como agente de controle biológico de patógenos.
Imagem: A direita planta tratada com Azospirillum e a esquerda planta sem tratamento. É possível observar a diferença do rigor das raízes nas plantas tratadas e não tratadas.
Fonte: Labnetwork
Trichoderma spp.
Os fungos do gênero Trichoderma spp. podem aumentar a produtividade em 60%, além de melhorar tolerância das culturas aos estresses. São fungos encontrados naturalmente nos solos. Seu principal benefício é serem capazes de controlar diversos fitopatógenos em plantas.
No milho, a inoculação com o fungo pode resultar em incrementos significativos na produtividade. Efeitos positivos são observados sobre o comprimento e o diâmetro da espiga, número de grãos por linha, peso total da espiga e peso de grãos por espiga.
Imagem: Diferença entre espigas não tratada e tratada com Trichoderma.
Fonte: Grupo Cultivar
Tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) como controle biológico no milho
É uma tecnologia amplamente utilizada para controle de lagartas na cultura do milho. Confere às plantas a capacidade de resistir a determinados insetos-praga. Isso ocorre, pois através de ferramentas de biotecnologia, ocorre a inserção de genes da bactéria Bacillus thuringiensis que produz proteína tóxica para alguns insetos. Quando o inseto se alimenta da planta, acaba morrendo e sendo controlado.
É uma excelente tecnologia, que deve ser utilizada de forma correta, mantendo áreas de refúgio, com plantas não Bt. Assim as chances de resistência de lagartas ocorrem são reduzidas.
Imagem: Esquema de como a tecnologia Bt atua em lagartas praga.
Fonte: DB Biotec
Controle biológico no milho utilizando Beauveria bassiana
É um fungo entomopatogênico queatua causando uma doença no inseto praga, seus conídios/esporos podem penetrar em qualquer parte da cutícula do inseto. Após, os esporos seguem para a hemolinfa do inseto e o fungo se multiplica pelo corpo.
Dessa forma o inseto morre, o fungo sai do corpo dele e forma uma massa branca bastante característica de sua infecção.
A beauveria é considerada um excelente agente de controle biológico tanto para lagartas como para outras pragas do milho como cigarrinha e percevejos.
Imagem: Diabrotica speciosa, adulto da larva alfinete, infectado por Beauveria bassiana.
Fonte: Occasio
O controle biológico é uma estratégia que deve ser associada ao manejo integrado de pragas. Conheça seu cultivo, o histórico de infestação de pragas e doenças, para ter mais assertividade no manejo.
Leonardo é formado em Administração com ênfase em Agronegócios pela Universidade Estadual Paulista – “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente é aluno do MBA de Agronegócios da ESALQ/USP. Trabalha como Analista de Operações da Gênica – Inovação Biotecnológica.