A adubação orgânica não é só manter ou aumentar a fertilidade do solo. Adubar com resíduos orgânicos é uma ação que tem como objetivos simultâneos melhorar a saúde do solo agregando em todos os seus aspectos, seja eles físicos, químicos ou biológicos para que desta forma se assegure a nutrição das plantas de forma sustentável. Mas então, quais são os benefícios proporcionados pela adubação orgânica?
Atualmente, com pressão cada vez maior para se produzir mais sendo sustentável e rentável, os produtores tem buscado aproveitar de maneira integral e racional todos os recursos disponíveis que são gerados dentro do próprio sistema produtivo, reduzindo custos e aumentando de forma significativa sua produtividade (Santos et al., 2008).
Exemplos de sistemas produtivos que fazem a adubação orgânica são usinas que usam vinhaça e torta de filtro em seus canaviais visando fornecer principalmente potássio e fósforo, respectivamente. Confinadores de gado de corte usando esterco bovino nas lavouras para produção de silagem, produtores de soja usando compostos orgânicos para nutrição das lavouras com objetivo de diminuir custos, entre vários outros.
Índice
Quais são os benefícios proporcionados pela adubação orgânica?
A adubação orgânica pode apresentar muitos benefícios para o solo, para as plantas e para o sistema produtivo como um todo. Para falar sobre suas vantagens em relação ao solo, pode-se dividir suas ações considerando suas principais propriedades, ou seja, as questões físicas, químicas e biológicas, as quais se manejadas proporcionam (LUZ, 2012):
Efeitos Físicos
Melhorias da estrutura e aeração do solo, amplia sua drenagem interna e sua capacidade de armazenamento de água. Favorece também a diminuição das altas variações de temperatura do solo que interferem em seus processos biológicos.
Efeitos Químicos
Um enriquecimento gradual do solo com macro e micronutrientes essenciais às plantas, incremento do teor de matéria orgânica do solo e consequentemente da CTC (capacidade de troca de cátions), melhoria na adsorção de nutrientes o que também diminui a lixiviação de nutrientes causada pela chuva ou pela irrigação.
Efeitos Biológicos
Um aumento na biodiversidade de microrganismos úteis que agem na solubilização de vários fertilizantes de modo a liberar nutrientes para as plantas. Esse aumento também é capaz de criar um ecossistema mais equilibrado, sendo capaz de controlar microrganismos nocivos às plantas, como os nematoides que são pragas que atacam as raízes das plantas.
Disponível em: Meio Ambiente Técnico
Principais adubos orgânicos
Origem Animal
O esterco animal utilizado como adubo é o material orgânico em decomposição avançada derivado dos excrementos de animais. São utilizados para promover melhorias para o solo e na nutrição de plantas devido ao seu alto potencial fertilizante, podendo substituir completamente a adubação química quando misturado com outro adubo orgânico, contribuindo significativamente para o aumento da produtividade das culturas.
Os adubos orgânicos de origem animal mais utilizados são o esterco bovino e suíno compostos principalmente por fezes e urina, e a cama de frango composto por todo material depositado sobre o piso dos galpões onde são criados os frangos, como esterco, urina, penas, ração e o material utilizado como cama (FUKAYAMA, 2008). A composição nutricional de cada material orgânico varia principalmente de acordo com a alimentação proporcionada para cada animal, entretanto, existem parâmetros médios desses materiais (Tabelas 1 e 2)
É muito importante que esses materiais sejam bem fermentados para se inativar os microrganismos patogênicos, diminuindo o risco de contaminação.
Disponível em: ResearchGate
Resíduos da Agroindústria
Vinhaça
A vinhaça é um subproduto da produção de etanol com alta concentração de potássio, sendo utilizado no fornecimento de água e nutrientes para o sistema produtivo.
A aplicação da vinhaça pode ainda ser complementada (enriquecida) com adubos minerais como a ureia, por exemplo, com objetivo de obter uma adubação mais completa, reduzindo o número de operações necessárias.
Pode ser dividida em “in natura”, representando a vinhaça gerada no processo de produção do etanol, com alto volume devido à grande quantidade de água. E “concentrada” que é o mesmo produto resultante de um processo de concentração do resíduo baseado na evaporação de água.
Torta de Filtro
A torta de filtro é um resíduo proveniente da filtração do caldo extraído das moendas no filtro rotativo no processo de clarificação do açúcar (ROSSETTO, 2006).
Esse material apresenta umidade alta que é importante para a brotação de cana plantada em época de inverno, além de possuir alto teor de matéria orgânica, fósforo, cálcio, magnésio e nitrogênio. Dentre os nutrientes fornecidos pela torta de filtro destaca-se o fósforo, que pode ter seu fornecimento via adubação fosfatada substituído total ou parcialmente Aproximadamente 50% do fósforo da torta se encontra na forma prontamente disponível, já o restante deve ser mineralizado e disponibilizado de forma mais lenta (ROSSETTO, 2006).
Fonte: Fravet et al, 2010.
Composição dos fertilizantes e resíduos orgânicos de origem animal, vegetal e agroindustrial
Fonte: Trani et al. (2011).
Fonte: Trani et al (2011).
Locais de aplicação de adubos orgânicos
De acordo com Penteado (2007), o local onde será realizado a aplicação (sobre o solo, juntamente às raízes das plantas e nas covas de plantio) implica em objetivos distintos:
- Sobre o solo: Favorece muito o solo e pouco as plantas.
- Junto às raízes das plantas: favorecer as plantas e não o solo.
- Covas de plantio: favorecer muito as plantas e pouco o solo.
No geral, os adubos orgânicos são incorporados ao solo com antecedência aos processos de semeadura, nos sulcos ou covas de plantio evitando assim, possíveis adversidades para as plantas.
Desvantagens da adubação orgânica
A adubação orgânica, apesar de todos seus benefícios, também pode ser prejudicial quando mal manejada, como por exemplo, a introdução de microrganismos fitopatogênicos através de materiais orgânicos mal decompostos ou mesmo pela introdução de um banco de sementes de plantas daninhas pelo uso de material de origem não confiável. Outro problema, menos comum, é a inserção de metais pesados proveniente de alguns adubos orgânicos (TRANI et al,2013).
Além disso, os custos de transporte e aplicação dos adubos orgânicos normalmente são mais elevados em relação aos fertilizantes minerais principalmente pela presença de água em sua composição o que promove um incremento de massa do material. Entretanto, esse problema pode ser minimizado através da utilização de fertilizantes organominerais.
Outro ponto relevante é a questão da proporção dos nutrientes presentes nesse tipo de fertilizantes que nem sempre atende as necessidades das plantas.
Recomendação de adubos orgânicos
Para se efetuar o cálculo de recomendação de adubos orgânicos, é necessário ter o conhecimento do teor de nutrientes no fertilizante orgânico sólido, dado com base na matéria seca; o teor de matéria seca ou matéria orgânica; e o índice de conversão da forma orgânica para a forma mineral. As seguintes fórmulas podem ser usadas para calcular a quantidade de fertilizante a ser aplicada (PENTEADO, 1998):
Onde:
X = Quantidade do fertilizante orgânico sólido aplicado ou a aplicar (Kg/ha);
A = Quantidade do nutriente desejada para aplicar (Kg/ha);
B = Teor de matéria seca do fertilizante (%);
C = Teor do nutriente na matéria seca (%);
D = Índice de conversão (%).
Considerando-se que frequentemente os fertilizantes orgânicos possuem baixa disponibilidade dependendo da região e evitando-se aplicar quantidades maiores que as recomendadas, os cálculos são realizados com base no nutriente que necessita da menor dose para correção.
No caso dos fertilizantes orgânicos líquidos, como chorume e vinhaça, por exemplo, a fórmula passa a ser a seguinte:
Onde:
X = Quantidade de fertilizante orgânico líquido aplicada ou a aplicar (m3/ha);
C’ = Concentração do nutriente no adubo orgânico (g/m3);
D = Índice de conversão (%).
Texto Revisado por Victor Rizzo
Referências
DAL’AGNOL, Sidnei. Esterco de galinha e seus benefícios. 2013.
FUKAYAMA, E. H. Características quantitativas e qualitativas da cama de frango sob diferentes reutilizações: efeitos na produção de biogás e biofertilizante. 2008. 99 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.
FRAVET, P. R. et al. Efeito de doses de torta de filtro e modo de aplicação sobre a produtividade e qualidade tecnológica da soqueira de cana-de-açúcar. 2010. 7 f. Tese (Doutorado) – Curso de Agronomia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2010.
LUZ, Pedro Henrique de Cerqueira. BENEFICIOS DO USO DE RESÍDUOS. São Paulo: Pedro Henrique de Cerqueira Luz, 2012. Color.
MALAVOLTA, Eurípedes. ABC da adubação. 5. ed. Piracicaba: Ceres, 1989.
PANIAGO, Rodrigo. Qual o valor do esterco de confinamento de bovinos? 2006. Disponível em: <https://www.beefpoint.com.br/qual-o-valor-do-esterco-de-confinamento-de-bovinos-28974/>. Acesso em: 21 set. 2019.
PENTEADO, S.R. COMO FAZER OS CALCULOS DE ADUBAÇÃO NO SISTEMA ORGÂNICO. 1998. Disponível em: <COMO FAZER OS CALCULOS DE ADUBAÇÃO NO SISTEMA ORGÂNICO>. Acesso em: 25 set. 2019.
PENTEADO, S.R. Manual Prático de Agricultura Orgânica. 1. Campinas (SP): Ed. Via Orgânica, 2007. 213p.
ROSSETTO, Raffaella; SANTIAGO, Antonio Dias. Adubação – resíduos alternativos. 2006. Disponível em: <https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de acucar/arvore/CONTAG01_39_711200516717.html>. Acesso em: 18 set. 2019.
SANTOS, Gabriel de Araújo et al. Fundamentos da matéria orgânica do solo: Ecossistemas tropicais e subtropicais. 2. ed. Porto Alegre: Metrópole Editora Ltda, 2008.
TRANI, P.E.; TERRA, M.M.; TECCHIO, M.A. et al. Adubação Orgânica de Hortaliças e Frutíferas. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/imagem_informacoestecnologicas/83.pdf>. Acesso em: 27 abr.2015
Lucas Demétrio é estudante de Engenharia Agronômica na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). Atualmente está no processo seletivo do Grupo de Apoio a Pesquisa e Extensão (GAPE).