Lagartas na soja: como se tornam resistentes aos defensivos?

Índice

Introdução

A produção de soja no Brasil enfrenta desafios cada vez maiores devido à resistência das pragas, especialmente lagartas, aos defensivos agrícolas. Essa resistência tem comprometido a eficácia dos inseticidas tradicionais, elevando os custos de controle e provocando uma queda na produtividade. Para reduzir esses impactos, é crucial compreender os mecanismos que levam ao desenvolvimento da resistência, identificar as práticas agrícolas que a favorecem e adotar estratégias eficazes de manejo.

Neste artigo, exploraremos as causas da resistência das lagartas aos defensivos, as soluções disponíveis para enfrentar esse problema e como essas abordagens podem contribuir para reduzir o risco de resistência, promovendo uma produção mais sustentável e eficiente.

Mecanismo de resistência em lagartas

A resistência das lagartas aos defensivos agrícolas é um fenômeno complexo, resultante de vários mecanismos da biologia do inseto. O principal mecanismo é a seleção natural, onde apenas as lagartas que possuem mutações que geram resistência sobrevivem à aplicação dos defensivos. Dessa forma, essas lagartas transmitem essas características às gerações futuras, aumentando a resistência das espécies às moléculas químicas.

A mutação genética é um processo natural. Por exemplo, podem resultar em alterações no local de ação do inseticida, tornando-o ineficaz. Outro mecanismo é a detoxificação metabólica. Nesse caso, as lagartas desenvolvem enzimas capazes de degradar os compostos tóxicos (presente nos defensivos químicos). Os compostos são eliminados antes que eles possam causar danos, permitindo sua sobrevivência e reprodução.

Além desses mecanismos, as lagartas podem desenvolver resistência comportamental. Os insetos alteram seu comportamento para evitar o contato com o defensivo. Isso pode incluir mudanças nos hábitos alimentares ou na maneira como se abrigam na planta. Essa capacidade de adaptação torna o manejo da resistência um desafio contínuo para os agricultores.

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Imagem 1: Falsa-medideira (Chrysodeixis includens), importante praga da soja.
Fonte: Revista Cultivar

Fatores que contribuem para o desenvolvimento da resistência

A pressão seletiva pelo uso contínuo e inadequado de defensivos é o principal fator que contribui para a resistência. A aplicação repetida de um mesmo produto, sem a devida rotação de princípios ativos, facilita e promove a seleção de indivíduos resistentes. A má calibragem de equipamentos ou a tentativa de economizar no uso do produto também são fatores críticos. Ambos permitem que as lagartas resistentes sobrevivam e se reproduzam.

Outro fator importante é a produção da soja, por repetidas safras, sem o manejo adequado. É essencial que seja realizada a rotação de culturas na entressafra, sem deixar o solo descoberto. Ao alternar culturas o ambiente se torna menos suscetível ao desenvolvimento das pragas. Culturas diferentes apresentam exigência ecológicas distintas, que muitas vezes não coincidem com os ciclos de vida das pragas. Além disso, algumas culturas podem não ser hospedeiras adequadas para as lagartas da soja, o que pode levar à sua redução natural.

A falta de diversificação no manejo reduz as chances de interromper o ciclo de vida das lagartas e aumenta a pressão sobre os defensivos aplicados. A resistência cruzada, onde as pragas ficam resistentes a múltiplos produtos, também é um risco quando não há estratégia adequada de manejo.              

Uso de biodefensivos: uma ferramenta eficaz contra as lagartas

Os biodefensivos são uma ferramenta promissora no combate à resistência das lagartas. Eles incluem agentes biológicos, como insetos predadores, parasitóides e patógenos (bactérias, fungos e vírus), que atuam especificamente sobre as pragas, causando sua morte sem os efeitos colaterais associados aos defensivos químicos.

Para controle da resistência das lagartas da soja, os produtos à base de Bacillus thuringiensis (Bt) são excelentes ferramentas biológicas. Seu modo de ação é diferente dos inseticidas tradicionais, o que reduz a pressão seletiva e risco de resistência.

Os produtos à base de Bacillus thuringiensis (Bt) controlam lagartas por meio da produção de proteínas cristalinas que, quando ingeridas pelas lagartas, se ativam no ambiente alcalino do intestino da praga. Essas proteínas se ligam às células intestinais, causando a ruptura das membranas celulares e levando à paralisação da alimentação e, eventualmente, à morte da lagarta. Como o Bt age especificamente sobre o sistema digestivo das lagartas e outras pragas-alvo, ele é considerado seguro para organismos não-alvo, incluindo humanos, animais e insetos benéficos.

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Imagem 2: Modo de ação de Bacillus thuringiensis em lagartas.
Fonte: Embrapa

Já o biodefensivo à base de baculovírus, atua especificamente para o controle de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho). Quando as lagartas ingerem o baculovírus, o patógeno invade suas células, causando infecção generalizada e, eventualmente, a morte da praga. Esse processo de infecção é específico para a essa espécie de lagarta, tornando o baculovírus uma opção segura e eficaz para o manejo integrado de pragas.

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Imagem 3: Lagarta infectada por baculovirus.
Fonte: Revista Cultivar

O uso de biodefensivos também deve ser integrado a outras práticas de manejo sustentável, como a rotação de culturas e a utilização de plantas atrativas para inimigos naturais. Esse tipo de manejo integrado é fundamental para reduzir a dependência de químicos e aumentar a resiliência das lavouras.

Estratégias integradas de manejo e resistência das lagartas

A implementação de um manejo integrado de pragas (MIP) é essencial para prevenir e gerenciar a resistência das lagartas. O MIP envolve a combinação de diferentes práticas, como o monitoramento contínuo das populações de pragas, a aplicação de defensivos somente quando necessário e a rotação de produtos com diferentes modos de ação.

A integração de biodefensivos, como o Bt e outros agentes biológicos, ao lado de defensivos químicos, pode aumentar a eficácia do controle de pragas e prolongar a vida útil dos inseticidas tradicionais. A diversificação das práticas de manejo, como a introdução de plantas de cobertura que servem de habitat para inimigos naturais, também pode contribuir para o controle biológico natural das pragas.

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Conclusão

O desenvolvimento da resistência das lagartas aos defensivos agrícolas representa um desafio significativo para a produção de soja no Brasil. No entanto, por meio da adoção de estratégias de manejo integrado de pragas, incluindo o uso de biodefensivos e a diversificação de práticas agronômicas, é possível mitigar os riscos associados à resistência. Buscar manejos eficientes e integrados é fundamental para implementar essas práticas de forma eficaz, garantindo a sustentabilidade da produção agrícola.

Referências bibliográficas

Campos, M. R., et al. (2022). “Biological control and insecticide resistance management in soybean pests.” Journal of Pest Science, 95(2), 651-669.

Foster, S. P., & Denholm, I. (2014). “Insecticide resistance in the Lepidoptera: strategies for effective management.” Annual Review of Entomology, 59, 469-492.

Melo, R. A., & Silva, A. G. (2021). “Uso de Biodefensivos na Agricultura: Eficácia e Sustentabilidade.” Revista Brasileira de Agroecologia, 16(1), 45-58.

Camila Vargas 1 - Lagartas na soja: como se tornam resistentes aos defensivos?

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