Citros e o Manejo Integrado Pragas: como essa relação pode salvar seu pomar.

O Brasil se destaca na produção mundial de citros. De acordo com a Fundecitrus, o país é responsável por mais de 60% da produção mundial de suco de laranja. Para a safra 2021/2022 é esperado um aumento do potencial produtivo dos pomares. No entanto, espécies de citros são afetadas por pragas que podem reduzir produção e produtividade.

Os problemas fitossanitários associados às pragas da citricultura não se associam apenas com os danos que podem causar à produção de frutas. Como também às restrições impostas pelos mercados consumidores, às implicações de medidas de controle e aos impactos econômicos, políticos, sociais e ambientais do ataque de pragas. 

Sabendo da importância desse assunto para os citricultores, separamos as principais pragas que ocorrem nos pomares. Mas além disso, vamos explicar como utilizar as ferramentas do MIP para monitorar e controlar essas espécies. 

Mosca das frutas (Ceratitis capitata, Anastrepha fraterculus) 

As espécies de mosca das frutas são as pragas mais conhecidas nos citros. Existem diversas espécies, mas duas são as principais em termos de prejuízo nos pomares brasileiros: a mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitata) e a mosca sul-americana (Anastrepha fraterculus). 

A mosca do mediterrâneo mede de 4 a 5 mm de comprimento por 10 a 12 mm de envergadura. Apresenta tórax negro com manchas esbranquiçadas e escutelo dilatado, negro e brilhante, com faixa amarela na base. Nas asas é possível visualizar pontos

 negros. 

Já a mosca sul-americana tem coloração amarelada e mede cerca de 6,5 mm de comprimento. Nas asas, há três faixas, em S e em V invertido, que facilitam o seu reconhecimento. É a espécie que atinge o maior número de pomares no Brasil.

As fêmeas antes de ovipositarem nos frutos, consomem alimentos ricos em proteína, por um período entre 15 e 35 dias. Após, deixam seus ovos nos frutos, através de perfuração que fazem com seu ovipositor. Escolhem o fruto de acordo com seu estágio de amadurecimento, forma, tamanho e características da casca.

Dos ovos eclodem as larvas, que vão causar danos nos frutos. Quando as larvas estão totalmente desenvolvidas, abandonam o fruto e pupam no solo. O período de incubação leva de dois a três dias, o larval de 10 a 15 dias, o pupal de 13 a 17 dias, e os adultos podem viver até 180 dias. 

Os danos diretos do ataque de C. capitata e A. fraterculus ocorrem quando a fêmea coloca o ovo e deixa um ofício na superfície do fruto. Assim, se cria uma porta de entrada para bactérias e fungos fitopatogênicos que vão causar necroses e podridões. Além disso, as larvas se alimentam da polpa formando galerias, o que favorece o amadurecimento prematuro do fruto, que muitas vezes acaba caindo.  Os danos também afetam a aparência do fruto, que se torna impróprio para comercialização e consumo.

Pragas no Citros: Psilídeo (Diaphorina citri) 

Os psilídeos são insetos que se alimentam da seiva de diversas espécies de citros. Os principais danos não são os diretos e sim os indiretos. A Diaphorina citri é vetora da bactéria Candidatus Liberibacter spp. que causa o greening. A doença traz grande impacto nas produções brasileiras, como veremos a seguir.

A D. citri é um inseto de cerca de 2 mm de comprimento, de coloração marrom claro quando novo e manchado de escuro quando mais velho. Vivem principalmente nas brotações novas, folhas e ramos. Os ovos são de cor amarelada e as ninfas têm corpo achatado e amarelado. Os adultos são marrons e têm o corpo coberto por uma substância esbranquiçada. 

O greening é uma doença que causa severas perdas na produção de citros. Torna as plantas infectadas improdutivas e plantas novas podem nunca produzir. Os sintomas da doença são folhas amareladas, que progridem para cloroticas. Inicialmente os sintomas aparecem em regiões isoladas da planta, mas com o avanço da doença atingem toda a planta. A desfolha severa é uma das principais características da doença. 

Além das injúrias causadas nas folhas, a doença também pode atacar os frutos. Quando ocorre, ficam deformados, assimétricos, pequenos e não amadurecem. Os frutos sofrem queda prematura e seu suco é mais ácido quando comparado com os sadios.   

Larva Minadora (Phyllocnistis citrella)

A espécie é uma importante praga na citricultura. A larva da mariposa ataca as folhas das plantas e provoca baixa redução na taxa de fotossíntese e no desenvolvimento das brotações. 

O adulto mede cerca de 2,0 mm de comprimento e 4,0 mm de envergadura. Tem asas anteriores com escamas de coloração branca-prateada, brilhantes, plumosas e com manchas mais escuras, dispostas longitudinalmente e transversalmente.

As lagartas têm cor amarelada. As pupas apresentam coloração marrom-clara e têm no lugar dos olhos duas manchas escuras. 

As larvas formam galerias e manchas no tecido foliar. Inicialmente as galerias são pequenos riscos de coloração branca que depois formam um zique-zaque mais largo. Quando atacadas as folhas não se desenvolvem normalmente, seu crescimento é retardado, com áreas atrofiadas e aspecto amassado. 

Quando ocorrem infestações severas, o crescimento do caule também é prejudicado devido aos danos causados aos brotos. No ataque de folhas jovens acaba facilitando o desenvolvimento da bactéria do cancro cítrico (Xanthomonas axonopodis pv. citri). 

Controle através do Manejo Integrado de Pragas no Citros

Para executar o Manejo Integrado de Pragas é necessário que se inicie com a inspeção da presença dos insetos na área. Com essa medida, é possível obter dados seguros para as decisões a serem tomadas para controle de pragas e preservação de inimigos naturais.

Através das técnicas do MIP é possível manter as pragas sempre abaixo do nível de controle. A escolha do controle pode ser cultura, químico, biológico, ou em consórcio, sempre buscando técnicas já validadas e comprovadas para o cultivo. 

Vamos conferir alguns manejos que auxiliam no controle de pragas:

• Evitar plantios em áreas com alta incidência de pragas. É importante tratar a área antes de iniciar novos cultivos. 
• Sempre buscar utilizar mudas de viveiros certificados, para que o material não venha contaminado com ovos, larvas, pupas ou adultos de insetos pragas.
• Inspeção constante da área e monitoramento.
• Controle através de defensivos químicos seletivos aos inimigos naturais.
• Controle biológico através de produtos microbiológicos (fungos e bactérias) ou macrobiológicos (parasitóides e predadores).
• O manejo regional também é indicado. Quando vários produtores da região fazem uso da ferramenta do MIP, o controle é mais assertivo e as chances das pragas não retornarem ou reduzirem muito sua população são bem maiores.

Conclusão

Apresentamos neste artigo, as principais pragas associadas ao cultivo de citros. Conhecer o que ameaça o manejo dos pomares é essencial para reduzir custos e aumentar produtividade. No entanto, é importante que o produtor conheça todas as ferramentas que estão a sua disposição através do MIP. 

O controle de pragas não é um processo fácil e exige dedicação do produtor. Mas os ganhos são muitos! Desde a sanidade do pomar, frutos com maior qualidade, maior produtividade, melhor otimização dos manejos e maior lucratividade.

Referências

GRAVENA, S. et al. Manuela Prático de Inspeção de Pragas. Jaboticabal, 2002. 52p.

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SALVA, R. Prática de monitoramento em citros no Brasil, Anais: do 3º Seminário Internacional de Citros, MIP, Bebedouro, São Paulo, ed. Fundação Cargill, 1994, 310p.

SANTOS.