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O que é Cigarrinha e qual o seu impacto?
Nenhum produtor fica contente quando encontra uma cigarrinha nas pastagens ou no canavial. Mas você sabe qual o impacto desta praga e quais métodos de manejo são utilizados para o controle de cigarrinhas?
As principais culturas que sofrem ataque desta praga, somaram R$ 420 bilhões em 2017 representando 6,6% do PIB Brasileiro no mesmo ano.
A perda em cana-de-açúcar ocasionada por presença de cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata) chega a 60%, enquanto no pasto a praga pode trazer perdas de até 15% de massa verde.
Isso mostra que um dos maiores desafios do produtor hoje é o controle desta praga que afeta setores importantes do agronegócio.
Comportamento da Cigarrinha
Como toda cultura manejada em climas tropicais e subtropicais, os desafios da produção incluem as pragas dentro do manejo no controle destes insetos. No caso das pastagens, temos exemplos frequentes de pragas como lagartas, formigas cortadeiras, cupins, percevejos e atualmente o maior desafio de controle no país são as cigarrinhas-das-pastagens.
Os danos causados pela cigarrinha são de forma direta por meio da sucção de seiva da planta, além da forma indireta, injetando “toxinas” que serão prejudiciais ao desenvolvimento das plantas. Estas substâncias injetadas alteram o metabolismo das plantas, causando perdas significativas no volume do material vegetal produzido.
Como os processos metabólicos da planta são afetados, a qualidade nutricional da forragem também é afetada, mostrando-se mais um fator da importância no controle desta praga.
As perdas estão presentes desde a forma quantitativa quanto qualitativa, caracterizando pela redução dos teores de proteína bruta, gordura e minerais essenciais, tornando assim o capim menos palatável ao consumo dos animais.
As cigarrinhas-das-pastagens possuem um comportamento adaptativo nestes ambientes que caracterizam os insetos a possuir altos níveis populacionais e uma severidade de ataque elevada, podendo ocorrer vários ciclos de vida durante uma mesma safra.
Ciclo de vida da praga
O comportamento destes insetos está diretamente ligado ao regime pluviométrico de cada região no país, tendo seu início dos ciclos muito associado à “época das águas”.
Neste período, após o terceiro trimestre do ano, ocorre a eclosão dos ovos que passaram a época das secas em diapausa – comportamento adaptativo que permite os ovos manterem-se viáveis no período de condições adversas ao ciclo do inseto – dando início à sua fase de ninfas até chegar a fase adulta.
Na fase de ninfas, uma das características marcantes destes insetos é a espuma na base das plantas que também faz parte de uma adaptação das cigarrinhas como proteção a sua fase inicial até chegar a fase de adulto. Esta espuma branca na base das plantas, bem característica da presença de cigarrinha-das-pastagens, aumenta as condições ideais para desenvolvimento do inseto como também dificulta a eficiência de controle dos inseticidas utilizados para controle do inseto.
Dentro destes grupos de insetos sugadores da ordem Hemiptera, existem algumas espécies mais agressivas que se destacam como por exemplo a Deois flavopicta, Deois schach, Mahanarva fimbriolata e Notozulia entreriana.
Mahanarva fimbriolata
Com relação ao conceito de danos das cigarrinhas-das-pastagens, a fase do inseto mais prejudicial as plantas estão na fase adulta. Entretanto, em especial a Mahanarva fimbriolata, possui um comportamento precoce, causando danos já na fase de ninfa, destacando-se dentro das espécies pelo maior dano a produção de matéria seca dos pastos.
Esta praga afeta também a cana-de-açúcar, principalmente a cana-soca, provocando a morte de perfilhos, encurtamento, rachaduras, murchamento dos colmos e brotações laterais, reduzindo a produção de açúcar.
Deois flavopicta
Encontrada ativamente nas folhas de pastagens ou capinzais, principalmente na região Sudeste onde existem áreas de pastagem em grandes quantidades, esta espécie apresenta um formato ovalado de cor preta com duas faixas transversais amarelas nas asas.
Deois schach
Esta praga está presente em diversas culturas, como: alfafa, arroz, cana-de-açúcar, centeio, feijão, soja e também nas pastagens.
Os prejuízos podem ser causados tanto por ninfas quanto por adultos, e geralmente são encontradas nas regiões litorâneas do Brasil, principalmente no Nordeste.
Notozulia entreriana
A identificação desta espécie de cigarrinha caracteriza-se por ter aproximadamente 7 mm de comprimento, e principalmente pela coloração preta e possuem uma faixa transversal de coloração branco-amarelada no terço apical das asas.
Os ovos são de coloração amarelada. As ninfas podem ser encontradas na base da planta, protegidas por uma espuma branca, característica da espécie. Esta adaptação das cigarrinhas contendo este tipo de espuma na base das plantas com a presença do inseto, aumentam a viabilidade e desenvolvimento dos ovos e todo ciclo da praga, além disso dificultam o controle da cigarrinha.
Nível de controle de cigarrinha
Com base na literatura, os níveis de controle estão sendo realizados quando os pastos atingem 25 adultos por m² no período de 10 dias, causando perdas de volume vegetal produzido por volta de 30% em espécies no caso de Brachiaria decumbens.
Controle da cigarrinha-das-pastagens
Nos manejos realizados para controle da cigarrinha-das-pastagens, existem diversas práticas que podem ser alocados, desde a escolha da espécie do capim a ser implantado como o manejo de lotação e rotação animal presente. Contudo, o conceito do Manejo Integrado de Pragas (MIP) mais uma vez é a chave para o sucesso no controle destas cigarrinhas. As recomendações em momentos corretos são essenciais dentro do MIP, sendo que as práticas realizadas com base no controle biológico, destacam-se cada vez mais como uma alternativa eficiente, econômica e sustentável no controle destas cigarrinhas.
Os inseticidas e bioinseticidas possuem efeitos distintos quanto ação na cigarrinha, o controle químico consegue ter um efeito de “choque” logo após aplicação, já o controle biológico apresenta um residual maior quanto ação aos insetos.
Eficiência de biodefensivos para o controle de cigarrinhas
No controle biológico, o fungo Metarhizium anisopliae apresenta um potencial elevado de controle de diversas espécies de cigarrinhas, inclusive uma das mais preocupantes atualmente como a do gênero Mahanarva. O próprio manejo das pastagens como uma cultura perene, auxilia muito nesta boa eficiência de controle pelo fato de existir, em grande maioria do ano, um microclima considerado favorável para desenvolvimento do fungo Metarhizium anisopliae.
O controle biológico consegue atingir um residual maior de ação e consequente maior eficiência de controle das cigarrinhas. Este fungo entomopatogênico (Metarhizium anisopliae) possui um comportamento de estar presente nos solos, tornando a cultura das pastagens um aspecto positivo dentro do contexto, pois o solo estaria sempre com uma cobertura vegetal visando um ambiente favorável.
Este ambiente favorável ao manejo de controle biológico utilizando o fungo, garante a alta umidade do ambiente para bom desenvolvimento e atuação nas ninfas e adultos da cigarrinha-das-pastagens. Durante o ciclo do inseto existem momentos em que a aplicação do Metarhizium anisopliae apresenta maior eficiência no controle, segundo a Embrapa este momento está na fase de ninfa.
A ação do Metarhizium anisopliae ocorre diretamente na cigarrinha penetrando em sua cutícula e colonizando seus órgãos, sendo um exemplo de doença. Os resultados da aplicação começam a ser eficiente desde o 2º dia após aplicação (DAA) até 10º DAA, tendo variações nestas performance dependendo da recomendação de aplicação.
O controle biológico com base no fungo exige uma atenção para atingirmos bons níveis de eficiência, logo alguns pontos destacam-se como a qualidade do insumo utilizado a base do Metarhizium anisopliae, concentração deste fungo e consequente dose a ser aplicado por hectare, método de aplicação, cepas do fungo e isolados que estão sendo utilizados, temperatura, umidade em cada condição específica de aplicação.
Outras culturas afetadas pela Cigarrinha
A presença das cigarrinhas-das-pastagens não está somente no contexto das pastagens. Temos a presença do inseto em ambientes de produção de arroz (Oryza sativa), alfafa (Medicago sativa) e principalmente a cultura da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum).
Estas culturas também possuem como base do controle das cigarrinhas o fungo Metarhizium anisopliae, com grande eficiência no caso da cana-de-açúcar. Segundo o Centro de Tecnologia Canavieiro (CTC), a base para o controle das cigarrinhas na cana (Mahanarva fimbriolata) estão sendo aplicações dentro do MIP com o fungo Metarhizium anisopliae.
Quer saber qual espécie de cigarrinha está presente em sua região? Baixe agora mesmo o infográfico que mostra quais espécies estão presente em cada estado do Brasil.
Graduando em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). Atuou no cargo de Coordenador do Grupo de Experimentação Agrícola (GEA – ESALQ). Atualmente é estagiário de Pesquisa e Desenvolvimento da Gênica – Inovação Biotecnológica.
Um pensamento em “Controle de cigarrinha: informações importantes para o manejo”