Na agricultura, o uso de bioestimulante, solução com a finalidade de aumentar a produtividade das culturas agrícolas, tem se intensificado nos últimos anos. Constituídos por uma série de insumos como extratos de algas, hormônios sintéticos ou subprodutos de fermentação (Colla et al., 2014; Shalaby; El-Ramady, 2014), eles têm se mostrado promissor, tanto no tratamento de sementes quanto na aplicação foliar (Khan et al., 2009; Crainge, 2011, Soares, 2014).
Mas, afinal, o que são bioestimulantes? Qualquer resíduo orgânico pode ser utilizado como tal? Quais são os principais bioestimulantes? Neste texto buscaremos discutir mais sobre esses insumos que têm sido tão discutidos e utilizados em diversos setores do agronegócio.
Índice
O conceito de bioestimulante
Apesar de muito discutido entre produtores e pesquisadores, o termo bioestimulante não existe formalmente na legislação brasileira. Essa carência de definição legal pode dificultar a comercialização de produtos e até mesmo a informação por parte do consumidor, que pode se encontrar perdido em meio a tantos produtos rotulados com esse nome.
Contudo, em 2020 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) lançou o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB), onde define o conceito de bioestimulante como:
“produto que contém substância natural com diferentes composições, concentrações e proporções, que pode ser aplicado diretamente nas plantas, nas sementes e no solo, com a finalidade de incrementar a produção, melhorar a qualidade de sementes, estimular o desenvolvimento radicular, favorecer o equilíbrio hormonal da planta e a germinação mais rápida e uniforme, interferir no desenvolvimento vegetal, estimular a divisão, a diferenciação e o alongamento celular, incluídos os processos e as tecnologias derivados do bioestimulante;”
De forma mais simples e direta, o Conselho Europeu da Indústria de Bioestimulantes define o termo como “produtos que auxiliam as plantas adquirirem e utilizarem mais eficientemente os nutrientes disponíveis no solo, aumentam sua resiliência à estresses abióticos e melhoram a saúde do solo em geral”.
No campo acadêmico, é possível encontrar a definição de Patrick du Jardin (2015):
“Bioestimulante é qualquer substância ou microrganismo aplicado em plantas com o objetivo de aumentar a eficiência de uso de nutrientes, a tolerância ao estresse abiótico e/ou indicadores de qualidade da lavoura, independentemente de nutrientes em sua composição. Por extensão, bioestimulantes também englobam produtos comerciais contendo a mistura de tais substâncias e/ou microrganismos.” (Tradução própria)
Fica evidente, portanto, que o termo bioestimulante abrange um amplo espectro de produtos, os quais podem ter origens diversas.

Do que um bioestimulante é composto?
Segundo du Jardin (2015), é possível dividir os bioestimulantes em 6 categorias:
- Substâncias húmicas.
- Hidrolisados de proteína e outros compostos nitrogenados.
- Extratos de algas e plantas.
- Quitosana e outros biopolímeros
- Compostos inorgânicos
- Microrganismos benéficos.
As substâncias húmicas são componentes naturais da matéria orgânica do solo, formadas a partir da decomposição de resíduos orgânicos e da atividade de microrganismos que utilizam esse substrato como fonte de energia. Elas são classificadas em três categorias, de acordo com sua solubilidade em meio aquoso: ácidos fúlvicos (AF), solúveis tanto em pH ácido quanto alcalino; ácidos húmicos (AH), solúveis em pH alcalino; e humina (HU), insolúvel em qualquer pH. Esses compostos estabelecem interações complexas com coloides do solo, raízes de plantas e exsudados radiculares.
As substâncias húmicas representam entre 60% e 80% da matéria orgânica do solo e cerca de 80% do carbono orgânico presente. Sua atuação é fundamental para a fertilidade do solo, influenciando suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Nos bioestimulantes, essas substâncias desempenham um papel essencial na promoção e facilitação da absorção de macro e micronutrientes, além de contribuírem para a disponibilização de fósforo. Adicionalmente, favorecem o crescimento radicular e podem mitigar estresses causados pelo uso de pesticidas e fertilizantes.
Os hidrolisados de proteína e outros compostos nitrogenados são aminoácidos e substâncias peptídicas obtidos a partir de subprodutos da agroindústria, originados tanto de resíduos vegetais quanto animais. Esses compostos influenciam diversos processos fisiológicos das plantas, incluindo a absorção e assimilação de nitrogênio, a fixação de carbono e a produção de hormônios vegetais envolvidos na sinalização vegetal.
Além disso, os hidrolisados de proteína podem estimular a síntese de proteínas nas plantas, aumentar a resistência ao estresse hídrico e a temperaturas elevadas, além de conferir maior tolerância ao ataque de pragas e doenças.
Os extratos de algas e plantas são fontes de matéria orgânica utilizadas como fertilizantes desde os primórdios da agricultura. Esses compostos são ricos em aminoácidos, vitaminas, minerais, polissacarídeos e hormônios vegetais. Os polissacarídeos presentes nesses materiais desempenham um papel importante na retenção de água e na aeração do solo.
Além disso, esses extratos apresentam efeitos positivos na promoção do crescimento de bactérias antagônicas a patógenos, na germinação de sementes, no estabelecimento das plantas e no desenvolvimento das culturas. Também contribuem para a proteção contra estresses abióticos e bióticos, além de favorecer a recuperação das plantas em condições adversas.

A quitosana e outros biopolímeros podem ter origem natural ou sintética, sendo capazes de induzir mecanismos de defesa contra doenças e conferir resistência a estresses abióticos. Alguns desses biopolímeros são derivados de algas marinhas, conforme mencionado anteriormente.
Os compostos inorgânicos, por sua vez, visam fornecer elementos benéficos, ou seja, aqueles que, embora não sejam considerados nutrientes essenciais para que a planta complete seu ciclo de vida (Malavolta, 2006), apresentam efeitos positivos no metabolismo vegetal. Entre eles, destacam-se o silício (Si), o selênio (Se) e o cobalto (Co). Diversos benefícios desses elementos já foram documentados na literatura, incluindo o enrijecimento da parede celular, a osmorregulação, a redução da transpiração, a regulação térmica, a ativação enzimática por meio de cofatores e a proteção antioxidante.
Entre os microrganismos benéficos, destacam-se os fungos micorrízicos, que estabelecem simbiose com mais de 90% das espécies vegetais, auxiliando na absorção de água e nutrientes pelas plantas. No grupo das bactérias, um exemplo amplamente conhecido são as diazotróficas do gênero Rhizobium, responsáveis pela formação de nódulos em raízes de soja e outras leguminosas, além das bactérias de vida livre do gênero Azospirillum. Ambas desempenham um papel essencial na fixação biológica do nitrogênio atmosférico, tornando-o disponível para as culturas agrícolas. Essa interação contribui significativamente para a redução da dependência de fertilizantes nitrogenados, auxiliando na diminuição dos custos de produção.
Conclusão
Sistemas produtivos e eficientes são cada vez mais necessários para garantir a sustentabilidade econômica da atividade agrícola, bem como a sustentabilidade ambiental. Nesse contexto, os bioestimulantes surgem como alternativas promissoras para aprimorar a qualidade dos solos e estimular o crescimento vigoroso e saudável das culturas agrícolas.
Embora o termo ainda careça de uma definição consensual, o uso de bioestimulantes envolve a aplicação de substâncias cujos benefícios foram descobertos por meio da observação detalhada de processos biológicos complexos, até então não compreendidos. A partir da identificação e utilização desses insumos, é possível potencializar a produtividade agrícola e oferecer soluções para enfrentar desafios como secas prolongadas e solos inférteis.
Referências bibliográficas
COLLA, G.; ROUPHAEL, Y.; CANAGUIER, R.; SVECOVA, E.; CARDARELLI, M. T.; Bioestimulant action of a plant-derived protein hydrolysate produced through enzymatic hydrolysis. Frontiers in Plant Science, Lausanne, v.5, p.1-6, 2014.
CRAINGE, J. S.; Seaweed extract stimuli in plant science and agriculture. Journal of Applied Phycology, Sidney, v.23, p.371-393, 2011.
du JARDIN, Patrick. Plant biostimulants: definition, concept, main categories and regulation. Scientia Horticulturae, [S.L.], v. 196, p. 3-14, nov. 2015. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.scienta.2015.09.021.
KHAN, W.; RAYIRATH, U.P.; SUBRAMANIAN, S.; JITHESH, M.N.; RAYORATH, P.; HODGES, D.M.; CRITCHLEY, A.T.; CRAIGIE, J.S; NORRIE, J.; PRITHIVIRAJ, B. Seaweed extracts as biostimulants of plant growth and development. Journal of Plant Growth Regulation, Secaucus, v.28, p.386-399, 2009.
MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo, Agronômica Ceres, 2006. 638p.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Conceitos: Conheça a base conceitual do Programa Nacional de Bioinsumos. Programa Nacional de Bioinsumos. Brasília, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inovacao/bioinsumos/o-programa/conceitos. Acesso em: 31 jul. 2024.
SHALABY, T. A.; EL-RAMADY, H. Effect of foliar application of bio-stimulants on growth, yield, components, and storability of garlic (Allium sativum L.). Australian Journal of Crop Science, Madison, v.8, n.2, p.271-275, 2014.