A agricultura moderna é baseada no desenvolvimento de novas estratégias de manejo a fim de contornar possíveis fatores que trazem prejuízos às lavouras e, dessa forma, possibilitar maiores produtividades. Desse modo, é essencial que seja realizada a supressão desses fatores prejudiciais, desde antes do plantio, com a realização da correção e condicionamento do solo, até a gestão dos agentes patógenos de solo, ponto principal do material a seguir.
Dessa forma, saiba mais sobre a importância da amostragem, identificação e controle das pragas e doenças que existem no solo.
Índice
Biodiversidade agrícola no manejo
O conceito de biodiversidade tem como princípio a reunião de variedades de seres vivos em um local, com variedade genética e regional, dentro de um mesmo ecossistema. Assim como outros sistemas, o ambiente agrícola também possui uma biodiversidade enorme, que atua diretamente no desenvolvimento das plantas, tanto benéfica quanto maleficamente.
O manejo agrícola, até alguns anos atrás, era estabelecido com objetivo de melhorar as características físico-químicas do solo, sem levar em conta a biologia do solo e os organismos que fazem parte dos processos de produção. Entretanto, o conceito de redundância funcional surgiu como alerta para profissionais da área, uma vez que o entendimento de que o solo possui microrganismos de diferentes grupos funcionais e os mesmos são essenciais para a produção agrícola, contribuiu para a correlação de estabilidade e complexidade do sistema.
A atividade dos microrganismos pode ser afetada por diversos fatores, sendo os principais: luz, aeração, disponibilidade hídrica e temperatura. A manutenção da faixa ótima de condições varia de acordo com a espécie em questão e, tendo isso em vista, pode-se concluir a importância da diversificação da microbiota e da otimização do uso do solo. Além disso, em um sistema biodiverso e funcionalmente redundante, os processos – como a mineralização/imobilização, fixação biológica de nitrogênio e as relações naturais de controle de pragas/doenças – podem ser realizados em diferentes condições edafoclimáticas.
Tendo isso em vista, diversas práticas, como a manutenção da palhada e o uso de agentes biológicos de controle, passaram a ser adotadas a fim de beneficiar também o aspecto biológico do sistema de cultivo, além do físico-químico.
Agentes patógenos no manejo e suas interações
Diversos organismos, sejam macro ou micro, apresentam potencial prejudicial às lavouras, bem como capacidade de infestar e reduzir a qualidade produtiva. Assim, o manejo integrado de pragas e doenças é primordial para que esses organismos maléficos não atinjam níveis populacionais danosos às culturas.
Tal manejo integrado consiste no uso de diversos mecanismos de ação contrários à sobrevivência e reprodução das espécies indesejadas, de acordo com a figura abaixo.
O uso variado de métodos de controle, como o químico, biológico e genético, beneficia o impacto dos mecanismos defensivos sobre os patógenos.
Apesar de não ser amplamente difundido, o controle biológico tem destaque na integração e proteção das lavouras, uma vez que permite uso de inimigos naturais específicos, sem afetar diretamente uma ampla gama de organismos. Assim, reduz-se a possibilidade de afetar, negativamente, o nível populacional de espécies benéficas ao ecossistema e, dessa forma, mantém o equilíbrio ecológico. A tomada de decisão para intervenção, geralmente, se dá quando o nível populacional da espécie prejudicial atinge o nível de controle, sendo a menor densidade populacional no qual medidas de controle precisam ser tomadas a fim de evitar o nível de dano econômico. Tendo em vista o controle biológico de pragas, recomenda-se o controle preventivo, anterior ao nível de controle – uma vez que a ação dos agentes biológicos de controle não é instantâneo – bem como a integração do mesmo com outros métodos de controle, como o químico e o cultural.
Além disso, o controle biológico favorece a sustentabilidade do sistema a longo prazo, já que a inserção dos inimigos naturais – como insetos, bactérias e fungos – no ecossistema perdura por diversas safras, bem como o efeito dos mesmos. O uso de culturas de entressafra beneficia a manutenção dos biocontroladores na área de produção, já que podem servir de habitat para os mesmos quando as culturas principais não se encontram no campo. Além disso, processos como a reprodução dos organismos (facilitada por condições que beneficiem a mesma) e a reinfecção de novas gerações de patógenos.
A qualidade de aplicação, em relação a doses e épocas de tal atividade, influencia diretamente o sucesso ou não do uso de agentes biológicos de controle.
Entretanto, o uso irracional de quaisquer métodos citados anteriormente pode afetar negativamente o equilíbrio do ecossistema e, consequentemente, causar prejuízos. Este impacto deve ser evitado, uma vez que os organismos presentes nas zonas de cultivo têm importância na cadeia trófica interna, desde que em níveis populacionais não prejudiciais à produção.
Continuidade do sistema produtivo
O impacto causado pelo descontínuo uso do solo, tanto nos aspectos físicos, químicos e biológicos, como no equilíbrio do ecossistema e na cooperação com o meio ambiente é relevante, tendo em vista a sustentabilidade e boas práticas agrícolas.
O manejo do solo afeta as condições da microbiota tanto benéfica quanto maléfica, sendo necessário ponderar – na tomada de decisão – quão direcionadas serão as práticas com o objetivo de reduzir o inóculo de organismos prejudiciais, como fungos patogênicos e nematóides, e beneficiar a manutenção da ciclagem de nutrientes.
O sistema de plantio direto é uma das alternativas mais utilizadas, junto ao manejo integrado de pragas e doenças, a fim de reduzir os impactos da ação antropológica sobre o solo. Seus pilares consistem na cobertura permanente do solo, durante todo o ano; não revolver o solo, seja por arado ou grade; rotação de culturas – sendo essencial para a biodiversidade das áreas cultivadas.
O monocultivo é um empecilho ao desenvolvimento de um sistema biodiverso, uma vez que suprime a sobrevivência de diversas espécies – tanto de macro quanto de microrganismos – atuando de forma seletiva na microbiota. Dessa forma, cada vez mais o sistema é suprimido e reduz a eficiência da redundância funcional, afetando todos os processos de desenvolvimento das plantas.
O benefício do SPD sobre o manejo de pragas de solo se dá através do favorecimento de um maior número de espécies existentes e, consequentemente, de agentes biológicos de controle. Assim, espera-se a redução da população de pragas de solo e nematóides, gerando reflexos nas produtividades.
Além disso, o Sistema de Plantio Direto também favorece a redução do inóculo de patógenos, desde que associado ao manejo integrado de doenças. Alguns cuidados são exigidos, tendo em vista que a palhada deixada sobre o solo pode ser sítio para hospedagem de patógenos polífagos.
Conclusão
O uso contínuo do solo vem se intensificando na busca pela maior rentabilidade da produção agrícola e para a diversificação de renda no agronegócio. Entretanto, essa intensificação implica em diversas práticas necessárias e cuidados que, com o menor uso do ambiente edáfico, não eram requisitados anteriormente.
Dessa forma, é essencial que sejam adotados métodos de redução de revolvimento do solo, beneficiamento da microbiota – levando ao controle natural de agentes patogênicos – e maior qualidade físico-química do ambiente produtivo.
Referências bibliográficas
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