O algodão é ameaçado por diversas pragas durante seu ciclo. No entanto, existem aquelas consideradas as principais. Isso devido a severidade de seu ataque e como afetam as estruturas das plantas. Tudo isso impacta diretamente a produtividade e rendimento da fibra, impactando no bolso do produtor.
Quais são as principais pragas do cultivo do algodão? Como monitorar e como realizar um controle efetivo? Neste artigo, separamos as principais informações para o produtor acertar no controle.
Índice
Principais pragas do algodão
Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis)
É considerada a principal praga do algodoeiro. Também é conhecida popularmente como gorgulho. É um besouro de tonalidade cinza ou castanha e apresenta mandíbulas afiadas. É considerada uma praga tardia, mas pode estar presente no início da formação dos botões florais até o período reprodutivo.
A principal fonte de alimentação do inseto (larva e adulto) são as estruturas reprodutivas da planta e as maçãs recém-formadas. As larvas são encontradas no interior dos botões e maçãs da planta. O adulto pode ser encontrado em flores abertas ou protegidos pelas brácteas.
Adulto do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis).
Fonte: ABAPA – Associação Baiana dos Produtores de Algodão.
Os principais danos estão associados a botões florais abertos e amarelados, presença de perfurações escuras (orifícios de alimentação ou de oviposição). Nestes casos, o botão floral atacado pode cair, as flores não abrirem e as pétalas ficarem perfuradas. Além disso, pode ocorrer a destruição das fibras e sementes dentro dos capulhos atacados.
Presença de larva do bicudo-do-algodoeiro em maçã do algodão.
Fonte: Revista Cultivar
É fundamental o monitoramento constante na lavoura para detectar a presença do bicudo. O ataque pode ser identificado quando observado que a lavoura está com ótimo desenvolvimento vegetativo, porém com perda da carga e quebra de produção. Além disso, é possível observar a infestação através da separação das brácteas dos botões florais. Quando há queda excessiva, é indicado que sejam recolhidos e vistoriados para registrar a presença do bicudo.
Algumas condições são favoráveis para a ocorrência do bicudo. É importante que o agricultor atente para plantios fora da janela, não destruição das soqueiras na entressafra, presença de plantas daninhas na pré-safra e presença de áreas de mata próximas à lavoura. Todos esses fatores podem favorecer a maior incidência do bicudo na área.
A principal forma de controle ainda é através do uso de defensivos químicos. Entretanto, outras medidas de controle como destruição total das soqueiras e antecipação do preparo do solo em média 40 dias auxiliam no controle do bicudo. O controle biológico ainda é pouco utilizado, mas pode ocorrer naturalmente quando o ambiente está equilibrado.
Lagarta da maçã (Heliothis virescens)
A espécie é considerada polífaga, ou seja, ataca diversas culturas. No cultivo do algodão é considerada uma praga chave. É comum sua ocorrência em áreas de cultivo do algodão na região noroeste de São Paulo e em Goiás. Porém sua ocorrência tem aumentado nas lavouras do centro-oeste e Bahia.
Lagarta da maçã se alimentando da maçã do algodoeiro.
Fonte: Divulgação Agro.Bayer
A lagarta, fase que causa danos, apresenta coloração variável de verde-claro a verde-escuro. Podem apresentar até 25 mm de comprimento e consumir mais de 15 estruturas produtivas durante o seu desenvolvimento. A fase larval dura entre 14 e 30 dias. Quando desenvolvida cai no solo e inicia a metamorfose. Após cerca de 18 dias dá origem a uma mariposa que reiniciará o ciclo de infestação.
Mariposa da lagarta da maçã (Heliothis virescens).
Fonte: Agrolink
Seu ataque ocorre principalmente nas estruturas reprodutivas da planta, como os botões florais e maçãs. Os danos se relacionam diretamente com a qualidade da fibra, principalmente consistência e cor. Reduzem a produção e causam grandes perdas econômicas. Seu período de maior ataque ocorre entre os 70 e 120 dias, por isso monitorar a área é essencial.
O controle pode ser realizado através de defensivos químicos e uso de variedades Bt (contendo as proteínas Cry1Ac e Vip3A). Para controle biológico recomenda-se o uso do parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum e de Bacillus thuringiensis.
Pragas do algodão: Mosca branca (Bemisia tabaci biótipo B)
É considerada uma das principais pragas do algodão, presente durante todo o ano agrícola. Os adultos possuem cerca de 2mm de comprimento e podem ser vistos infestando as folhas na lavoura. Os ovos são de cor amarelada e perto da eclosão das ninfas escurecem. As ninfas são translúcidas e permanecem na parte abaxial das folhas. Seu ciclo de vida varia em função do clima. Quanto mais quente, maior será a incidência da praga.
Adulto e ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci)
Fonte: Canal Rural.
A espécie causa danos diretos e indiretos ao cultivo do algodão. Os diretos estão associados à sua alimentação pela sucção de seiva que pode resultar no enrolamento de folhas jovens.
Algodão infestado pela mosca-branca (Bemisia tabaci)
Fonte: 10º Congresso Brasileiro do Algodão, 2015.
O indireto está associado à formação do honeydew, substância açucarada que favorece a formação do fungo conhecido como fumagina. O fungo causa a queda prematura das folhas, devido a dificuldade de fotossíntese. Além disso, reduz a qualidade das fibras do algodão, reduzindo o valor de mercado.
Presença de fumagina em plumas de algodão.
Fonte:Agrolink.
Além disso, a mosca branca é um importante vetor de viroses. Transmite o vírus “mosaico comum”, uma das principais doenças do algodão. O ataque deste patógeno causa redução da área foliar e queda de flores e frutos.
O controle cultural pode ser realizado através da eliminação de plantas daninhas, remoção e destruição de plantas infectadas por vírus, destruição de restos culturais após a colheita, rotação de culturas e barreiras vegetais. Para controle biológico é indicado o uso de Beauveria bassiana, que controla a fase de pupa e adulto.
Conclusão
Conhecer os insetos pragas do algodoeiro auxilia manter o baixo nível de insetos causadores de pragas no algodoeiro. É importante que o produtor esteja sempre atento às melhores técnicas de controle associadas à característica de cada espécie.
É sempre indicado realizar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) que utiliza diferentes técnicas de manejo para reduzir as populações de pragas e mantê-las abaixo do nível de controle.
Referências
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Leonardo é formado em Administração com ênfase em Agronegócios pela Universidade Estadual Paulista – “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente é aluno do MBA de Agronegócios da ESALQ/USP. Trabalha como Analista de Operações da Gênica – Inovação Biotecnológica.