Você já deve ter ouvido falar de controle biológico ou do Trichoderma ssp, não é mesmo? Aqui no blog AgroInovadores, inclusive, fizemos uma matéria sobre a importância e o crescimento do uso de defensivos biológicos.
Mas, você sabia que um fungo é capaz de controlar doenças de solo que podem estar afetando a sua lavoura?
No texto de hoje, o AgroInovador André Carvalho falará um pouco sobre um tema muito importante: a eficiência do fungo Trichoderma ssp. E seus benefícios para uma agricultura mais sustentável.
Índice
Controle biológico
O controle biológico é conhecido há décadas, mas somente nos anos 60 que os estudos se uniram a prática (Paulitz & Belanger, 2001).
Os métodos de controle utilizados tendem a se tornarem cada vez mais aperfeiçoados com o objetivo de assegurar o uso correto e racional de produtos químicos, bem como, garantir a rentabilidade da atividade ao agricultor e reduzir os riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
Para isso, o controle biológico se constitui em demanda atual e de alta importância para viabilizar a substituição dos agroquímicos.
Pode ser encontrado em praticamente todos os tipos de solos, com maior frequência em regiões de clima temperado e tropical, associado às raízes das plantas e à matéria orgânica morta.
Por ser saprófita, ajuda na decomposição dos resíduos vegetais e animais. Estes, depois de decompostos, retornam ao solo e servem de alimentos para as plantas.
Fungos do gênero Trichoderma encontram-se entre os agentes de controle biológico mais estudados e empregados na produção agrícola mundial. Isto porque, além de possuírem grande potencial para melhorar a sanidade e o desenvolvimento de plantas, não são patogênicos ao homem e ao meio ambiente, além do seu uso emculturas de grande importância como a soja.
O gênero Trichoderma spp.
O Trichoderma spp. é um gênero da ordem Hypocreales, de vida livre, que se reproduzem assexuadamente, filamentosos, comumente chamado de bolor ou mofo, de crescimento rápido e que produz colônias de coloração verde.
Com o uso de tecnologias moleculares para identificação de microrganismos, acredita-se que atualmente, exista mais de 300 espécies do gênero Trichoderma.
Dentre elas, as mais importantes para o uso na agricultura são o complexo: T. harzianum, T. asperellum, T. asperelloides, T. koningiopsis, T. virens, etc. sendo os dois primeiros mais utilizados como defensivos biológicos.
Vantagens, importância e doenças controladas pelo fungo do gênero Trichoderma ssp.
Pensando no uso de diferentes ferramentas dentro do manejo integrado, o uso de biodefensivos à base de fungos do gênero Trichoderma tem assumido grande importância como alternativa dentro dessa engrenagem, sendo eficiente na sua função de controlar doenças de solo e atender à procura, cada vez maior, de produtos e alimentos livres de resíduos deixados pelas aplicações de agrotóxicos.
O Brasil e outros países, que tem na agricultura a base de sua economia, necessitam do aumento na produção e oferta de alimentos mais saudáveis, onde o controle biológico deve ser indispensável para se obter um sistema sustentável de produção integrada (Lopes, 2009).
Os pesticidas químicos perdem a eficiência devido à resistência dos microrganismos patógenos, são substituídos ou têm seu uso diminuído em ambientes onde se deseja manter as comunidades microbianas benéficas do solo.
Os patógenos controlados pelo fungo Trichderma ssp, são aqueles que vivem no solo, e que infectam raízes, caules e o sistema vascular das plantas. As principais doenças causadas por esses patógenos e de grande importância econômica são, Fusarium, Rhizoctonia, Sclerotinia, Verticillium, Phytophthora, Pythium, entre outros.
Mecanismos de ação do Trichoderma ssp.
Os fungos do gênero Trichoderma, são microrganismos de grande eficiência, devido aos diferentes mecanismos de ação que utilizam para o controle de patógenos, como, competição, antibiose, parasitismo e indução de resistência. Além desses mecanismos, diversos estudos comprovam sua capacidade de promover o crescimento e desenvolvimentos das plantas.
- Competição: o patógeno e o antagonista disputam os mesmos recursos como alimentos e espaço para sobreviver. A competição entre o antagonista e o patógeno no solo ou na superfície da raiz pode, por exemplo, impedir que as estruturas de infecção do patógeno que estão presentes no solo entrem em contato com a planta para causar danos.
- Antibiose: o antagonista produz uma ou mais substâncias que inibem o crescimento ou a reprodução do fitopatógeno no ambiente ou na planta.
- Parasitismo: o antagonista se alimenta do fitopatógeno, enfraquecendo ou causando a sua morte.
- Indução de Resistência: Algumas linhagens de Trichoderma podem agir como indutores de resistência em plantas, ou seja, um tipo de “vacinação” contra diversos tipos de fitopatógenos (vírus, bactérias e fungos).
- Promoção de Crescimento: A aplicação do Trichoderma ssp tem mostrado ser capaz de atuar no crescimento da parte radicular da planta, através de bioestimulantes melhorando a assimilação de nutrientes e aumentando a tolerância aos fatores bióticos desfavoráveis, como estresse hídrico (Harman et al., 2004). Melo, 1996 e Contreras-Cornejo et al., 2009, observaram aumentos significativos na porcentagem e precocidade da germinação, na altura e peso seco das plantas tratadas com Trichoderma.
Conclusão
É importante salientar que um ou mais mecanismos de ação podem ser utilizados ao mesmo tempo pelas linhagens de Trichoderma.
No site da Associação Brasileira de Empresas de Controle Biológico dispõe da lista de produtos á base de micro e macrorganismos agentes de biocontrole, e dentre eles, 11 são produtos com ingrediente ativo composto por diferentes fungos do gênero Trichoderma, mostrando que o produtor tem a possibilidade de escolher o melhor adaptado para o seu ambiente de cultivo e para a doença que deseja prevenir e combater.
Referências bibliográficas
CONTRERAS-CORNEJO, H. A., et al,. Trichoderma virens, a plant beneficial fungus, enhances biomass production and promotes lateral root growth through an auxin-dependent mechanism in Arabidopsis. Plant Physiol. v.149, p. 1579–1592, 2009.
GUIMARÃES, Alexandre Martins; PAZ, Dr.ª Isabel Cristina Padula. Trichoderma e sua crise de identidade. Disponível em: https://elevagro.com/materiais-didaticos/trichoderma-e-sua-crise-de-identidade/. Data de acesso: 25 de setembro de 2019.
HARMAN, G.E., et al.,. Trichoderma species- opportunistic, avirulent plant symbionts. Nature Reviews/Microbiology, v.2, p. 43-56, 2004.
LOPES, R.B. A indústria no controle biológico: produção e comercialização de microrganismos no Brasil. In: Bettiol, W. e Morandi, M.A.B. (Ed.) – Biocontrole de doenças de plantas: uso e perspectivas. Jaguariúna, Embrapa Meio Ambiente, p. 15–28, 2009.
LUCON, C.M.M. Trichoderma no controle de doenças de plantas causadas por patógenos de solo. Disponível em: http://www.biologico.sp.gov.br/artigos_ok.php?id_artigo=77. Acesso em: 25 de setembro de 2019.
MELO, I.S. Trichoderma e Gliocadium como bioprotetores de plantas. Revisão anual de patologia de plantas. V.4, p261-295, 1996.
PAULITZ, T.C.; BÉLANGER, R.R. Biological control in greenhouse systems. Annual Review of Phytopathology, v.39, p.103-133, 2001.
Leonardo é formado em Administração com ênfase em Agronegócios pela Universidade Estadual Paulista – “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente é aluno do MBA de Agronegócios da ESALQ/USP. Trabalha como Analista de Operações da Gênica – Inovação Biotecnológica.
2 pensou em “Fungos do gênero Trichoderma ssp.: Eficiência e sustentabilidade.”