Práticas corretivas, em síntese, tem a função de corrigir o solo antes que outras operações relacionadas ao manejo da fertilidade no solo sejam efetuadas. As práticas corretivas compreendem calagem, gessagem e fosfatagem, porém é corriqueiro a realização somente da primeira, ficando as duas seguintes como operações dispensáveis. Afinal, por que elas são tão importantes? Sendo assim, Será que estamos dando a devida atenção para Gessagem e Fosfatagem?
A maior parte do território nacional se encontra na região tropical, onde fatores de formação dos solos atuam de forma intensa. Sendo assim, é comum a presença de solos intemperizados, que se caracterizam pelos baixos teores de nutrientes, elevada capacidade de adsorção (fixação) de fosfatos e principalmente altos índices de acidez (VITTI et al., 2008).
Assunto abordado anteriormente no site, a calagem corrige a acidez dos solos principalmente na superfície, a gessagem vai possibilitar o melhoramento do subsolo, visto que é interessante para o produtor ter um ambiente adequado que possibilite o crescimento de raízes após os 20 cm de solo, garantindo absorção de água e nutrientes (Figura 1).
A fosfatagem por sua vez, tem a finalidade de aumentar a eficiência da adubação fosfatada. Tais práticas serão abordadas detalhadamente a seguir e merecem devida atenção no seu manejo.
Índice
Gessagem, vale a pena investir na subsuperfície do solo?
O gesso agrícola (CaSO4.2H2O) é subproduto da produção de ácido fosfórico (H3PO4) e apresenta em sua composição principalmente 26% de CaO e 15% de S, ao ser solubilizado na solução do solo, segundo Pavan e outros (1992), apresenta o seguinte comportamento:
Como o gesso atua no solo?
Primeiramente, a gessagem não tem efeito de correção semelhante a calagem. Após a dissociação do gesso no solo, os íons Ca2+ e SO42- participam de trocas catiônica e aniônica, respectivamente, enquanto o CaSO4, que é móvel no perfil do solo, contribui para o movimento de pares iônicos.
Segundo Sousa, Lobato e Rein (2005), quando se aplica gesso agrícola em um solo em que a acidez da camada arável foi corrigida com calcário, após sua dissolução, o sulfato irá se movimentar para o subsolo acompanhado por cátions, especialmente o cálcio.
O uso do gesso agrícola possibilita melhora do ambiente radicular pelos seguintes motivos:
Em estudo realizado pela Embrapa disponível no Boletim sobre Uso de Gesso Agrícola nos Solos do Cerrado, mostra a movimentação do sulfato em subsuperfície, citado anteriormente, acompanhado também da movimentação do cálcio e magnésio.
Recomendação: Quando e quanto aplicar?
O emprego do gesso agrícola pode se dar visando o fornecimento de enxofre (efeito fertilizante) ou condicionador de subsuperfície.
Fornecimento de enxofre
Quando aplicar?
S < 15 mg.dm3 (camada 0-20cm para soja e feijão ou camada 20-40cm para milho, arroz, algodão e cana-de-açúcar).
Observação:
Este critério deve ser usado quando não necessitou de gesso como condicionador.
Quanto aplicar?
Em função do teor de S no solo:
Em função do teor de argila no solo:
De acordo com Souza et al. (1996), calcular a dose de acordo com a seguinte fórmula:
2) Condicionador de subsuperfície (Vitti, 2004).
Utilizar este critério quando V < 35% (camada 20-40 cm)
V2 = Saturação por bases (V%) desejado;
V1 = Saturação por bases atual do solo (20-40 cm);
CTC = Capacidade de Troca Catiônica em subsuperfície;
50 para CTC dada em cmolc.dm-3 ou 500 para mmolc.dm-3.
Fosfatagem, a prática corretiva que vem ganhando espaço
Prática corretiva que consiste em “pagar o pedágio”, “abastecer” o sistema.
Não entendeu?
O fósforo é o macronutriente menos extraído por boa parte das culturas, contudo é geralmente o mais aplicado no sulco de plantio por conta da sua alta reatividade com o solo, ou seja, fixação. Potencializa-se a máxima eficiência desse nutriente pela planta por meio de práticas corretivas, como calagem e aplicação de fósforo em área total (fosfatagem) (VITTI, 2015).
A figura abaixo mostra a fixação de fósforo de acordo com o pH do solo, nota-se que entre o pH 6 e 7 há uma faixa de maior disponibilidade de fósforo. Tal pH pode ser atingido através da realização da calagem, que associada a fosfatagem, pode-se obter melhores resultados.
Dentre as principais consequências práticas da fosfatagem, de acordo com Luz e Vitti (2008), são:
- Maior quantidade de P em contato com o solo (maior fixação);
- Maior volume de solo explorado pelas raízes;
- Maior absorção de água e nutrientes;
- Maior aproveitamento do fósforo aplicado no sulco de plantio.
Fosfatagem visando aumentar a eficiência da adubação fosfatada
O solo possui seus sítios de adsorção, o fósforo que está prontamente disponível para a planta absorver é o fósforo presente na solução do solo, que por sua vez não se encontra adsorvido.
Portanto, a fosfatagem consiste em fornecer uma fonte de fósforo para o solo visando ocupar esses sítios de adsorção. A eficiência da adubação fosfatada ser aumentada se da pelo motivo de quando aplicada, os colóides já estarão ocupados, então o P2O5 fornecido ficará disponível na solução do solo para a planta utilizar.
As fontes de P2O5 mais recomendadas para essa prática são as que apresentam teores médios a altos de P2O5 solúvel em ácido cítrico (HCi), como fosfato natural reativo (30% de P2O5 total e 10% P2O5 HCi), termofosfato magnesiano (18% de P2O5 total e 16% P2O5 HCi) ou mesmo torta de filtro. Nota-se que são fontes mais baratas em relação as utilizadas para adubação fosfatada, como MAP e Superfosfato Simples (VITTI, 2015).
Em estudos realizados por Mendonça et al. (2015), avaliaram o rendimento agrícola e industrial da cana-de-açúcar e concluíram que em condições de cana-planta, a fosfatagem influenciou positivamente o rendimento agrícola e a pureza do caldo, conforme figura abaixo.
Recomendação: Quando e quanto aplicar?
Quando aplicar?
A prática é recomendada quando o teor de P estiver abaixo do nível crítico para cada cultura ou P – Mehlich 1 nas classes muito baixo e baixo, ambos na camada 0-20 cm. Também quando o solo apresentar baixa CTC (< 60 mmolc.dm-3) ou teor de argila < 30% (VITTI, 2015).
Quanto aplicar?
Nathalia Sartore é estudante de Engenharia Agronômica na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). Atualmente é membro do Grupo de Apoio a Pesquisa e Extensão (GAPE). Foi Coordenadora do IX Simpósio “Tecnologia de Produção de Cana-de-Açúcar”.