Neste artigo escrito pela AgroInovadora Samanta Nanzer, entenderemos um pouco sobre o comportamento e o controle de percevejos na agricultura.
Existe uma infinidade de espécies de percevejos conhecidas atualmente, esses possuem aparelho bucal sugador, tendo a capacidade de perfurar diferentes organismos: fungos, algas, produtos vegetais, insetos e até vertebrados. Porém, os diferentes percevejos presentes na sua cultura agrícola, não possuem diferentes hábitos alimentares, na verdade, esses percevejos são fitófagos, pois estão localizados em uma cultura agrícola, que é o local de abundância de seu alimento.
Percevejos fitófagos, causam problemas sérios na produção, pois se alimentam de produtos vegetais. Os maiores problemas registrados pelos produtores são os percevejos que atingem diretamente os grãos, que são conhecidos como os percevejos do complexo da soja (Família: Pentatomidae). Já o percevejo-castanho (Família: Cydnidae) não atinge diretamente os grãos, pois possui hábito subterrâneo, e se alimenta da seiva das raízes, mas tem se destacado devido o fato de ser dificilmente controlado quimicamente por estar protegido embaixo da terra.
Os percevejos fitófagos são atualmente a principal praga da soja, pois conseguem atingir os grãos através da vagem. Atingindo a vagem, ela pode não amadurecer normalmente e ser infectada por algum patógeno, organismo infeccioso que atinge a planta a partir do aparelho bucal de um inseto infectado. Em relação aos grãos, podem resultar na perda total da semente ou na redução do poder germinativo, afetando de forma significativa a qualidade e rendimento dessas sementes. Os percevejos que aparecem na sua cultura agrícola, depende da região em que você se encontra, pois esses variam sua abundância de acordo com ano, local e plantas hospedeiras.
As diferentes espécies de percevejos atingem uma grande gama de culturas agrícolas: soja, milho, trigo, algodão, girassol, abóbora, arroz, batata, berinjela, beterraba, chuchu, citros, fumo, mandioca, melão, milho, pepino, pimentão, tomate. A maioria desses insetos, possui um hábito polífago, ou seja, se alimentam de uma grande variedade de culturas. Inclusive, determinados percevejos migram de uma cultura para outra, atingindo primeiramente a soja, depois o milho, e podendo atingir o trigo.
O percevejo-marrom, principal praga da soja, possui uma característica que o protege durante um período do ano, ele entra em diapausa durante a entressafra, um período de dormência, em que os insetos sobrevivem apenas de reservas acumuladas durante o período da safra.
Em relação as perdas ocorridas na produção, em decorrência da presença desses insetos pragas, esses são considerados dentre o complexo de pragas presente na soja, a que causa maior risco para a cultura. Possuem esse destaque, pois os percevejos atingem ativamente as vagens e os grãos, a partir do estágio reprodutivo 3 (R3), com o surgimento das vagens, e do estágio reprodutivo 5 (R5), com o enchimento dos grãos.
Índice
Impacto dos percevejos nos grãos
Em regiões como Mato Grosso do Sul, o percevejo-marrom (E.heros) chega a ser responsável por 40% de perda na produção na cultura da soja, enquanto o percevejo barriga-verde (D. furcatus), pode ser responsável pela perda 100% da cultura do milho. O impacto do percevejo-verde na cultura do milho é tão discrepante, pois esses percevejos atingem a cultura já no início do desenvolvimento.
É importante ressaltar a importância que a soja e o milho possuem dentro do setor do agronegócio. Segundo o levantamento divulgado pelo IBGE do ano de 2017, houve um aumento de 1% no PIB (Produto Interno Bruto), e um aumento de 13% no setor do agronegócio. Tendo destaque para as produções de milho (55,2%) e soja (19,4%).
Desenvolvimento dos Percevejos
Os percevejos possuem uma fase de ovo, e depois 5 estágios de desenvolvimento como ninfas, até se tornarem adultos. É importante salientar, que mesmo as ninfas podem causar prejuízos para a cultura agrícola. Temos como exemplo o percevejo-marrom (E.heros), pois quando este atinge o terceiro estágio de desenvolvimento, já possui grande capacidade de locomoção, na necessidade de se alimentar, tornando-se o principal responsável (72%) pelos prejuízos na produção .
Outra dificuldade em relação as ninfas é a sua visualização. Essas acabam se localizando nas partes inferiores da cultura, sendo constatado a sua presença e os seus impactos apenas no momento da colheita.
Após se tornarem adultos, as fêmeas começam a colocar os ovos em 13 dias, e cada fêmea coloca em média de 120 a 170 ovos. Esses insetos costumam sobreviver em média de 50 a 120 dias (CORRÊA-FERREIRA; ANTÔNIO R. PANIZZI, 1999). Como ressaltado anteriormente, os principais percevejos que causam impactos na cultura agrícola, são divididos em duas principais famílias: Pentatomidae e Cydnidae.
A principal é a dos Pentatomídeos, que abrange principalmente: percevejo-marrom(E.heros), percevejo-verde (N. viridula), percevejo-verde-pequeno (P. guildinii), percevejo-barriga-verde (D. furcatus) e o percevejo-asa-preta(Edessa meditabunda). O único percevejo que causa grandes problemas ao produtor e não faz parte dos pentatomídeos, é o percevejo-castanho (S. castânea), da família Cydnidae. É muito importante reconhecer esses percevejos, para que seja feito um manejo adequado de acordo com o monitoramento da área.
Controle dos Percevejos
Como já reforçado anteriormente, os percevejos causam grandes danos a diferentes culturas agrícolas, por isso, existe uma demanda crescente do seu controle. Porém com o passar dos anos, estamos encontrando maior densidade de percevejos resistentes nas culturas, que é resultado de diversos fatores: expansão do sistema do plantio direto, cultivo do milho de segunda safra, uso de cultivares super-precoces, monitoramento inadequados, aplicações de produtos de forma indiscriminada.
As melhorias para otimizar a produção das culturas agrícolas, acabaram resultando em um tempo maior da disponibilidade de alimento e o uso inadequado de produtos químicos, selecionando populações resistentes de inseto e causando a mortalidade de insetos benéficos, que controlam outras pragas.
Manejo Integrado de Pragas
A melhor alternativa para o controle dos percevejos, é o uso do conceito de Manejo Integrado de Pragas (MIP), pois é um conjunto de diferentes ferramentas de controle, que tem como objetivo principal: controlar as pragas, buscando minimizar os impactos ambientais e seus efeitos residuais.
Das alternativas desenvolvidas dentro do MIP para o controle de percevejos, temos o monitoramento periódico da área através do “pano de batida”, que consiste em um pano com suporte de madeira nas laterais, colocado entre duas fileiras da soja e batendo vigorosamente nas plantas, os insetos caem no pano e são contados e anotados. O controle químico só deve ser realizado quando a população atingir quatro percevejos (adultos ou ninfas a partir do terceiro instar) por pano de batida (2 m de fileira), em áreas de lavouras de grãos. Se for lavoura de sementes, a quantidade de percevejos necessários para realizar o controle, cai para metade.
Se ainda restam dúvidas de como realizar o monitoramento desses percevejos, clique aqui.
É importante ressaltar, que comumente o controle desses percevejos é realizado com aplicações de produtos químicos, porém para se obter um resultado satisfatório, é necessário um monitoramento antes e durante a aplicação do produto. Também deve ser considerado o horário de aplicação, pois os percevejos se “escondem” nas horas mais quentes do dia, sendo importante aplicar em horários com temperaturas mais amenas. A dose a ser aplicada também é importante, pois se não for uma dose letal pode causar um choque, mas não irá matar o inseto. Se não forem considerados esses aspectos, estamos apenas causando mais problemas, em vez de controlar a praga.
Controle de percevejos com biodefensivos
Felizmente, já estamos progredindo no desenvolvimento de tecnologias para realizar o controle biológico. O grande diferencial, é que esse controle possui um efeito mais direcionado no organismo que queremos atingir. É o caso, das vespinhas que parasitam ovos e adultos de percevejos.
As vespinhas parasitam ovos de várias espécies de percevejos da família Pentatomidae: N.viridula, E. heros, P.guildinii, D. melacanthus. Mas determinados parasitoides (insetos que passam pelo menos uma fase do seu ciclo de vida, dentro de um hospedeiro) possuem hospedeiros principais ou preferenciais. T. basalis parasita ovos do percevejo-verde preferencialmente, enquanto T. podisi, parasita ovos do percevejo-marrom. Para saber se os ovos foram parasitados por esses parasitoides, esses adquirem uma coloração diferente, bem escuros perto da data de emergência. Também já foram identificados, parasitoides que atacam os percevejos adultos, é o caso da H. smithii, que parasita o percevejo-marrom, é a mosca T.nitens, que parasita o percevejo-verde.
Esses parasitoides já estão presentes naturalmente no ambiente, e dessa forma, ajudam a diminuir o impacto econômico desses percevejos na cultura. Porém com o aumento da incidência de percevejos causando danos, é necessário aumentar a quantidade desses parasitoides em ação e diminuir o que pode resultar na diminuição desses insetos em ação.
Dessa forma, podem ser liberados em campo vespinhas adultas ou cartelas de ovos, para aumentar a ação desses parasitoides. E se for adotado a presença desses parasitoides na cultura agrícola, monitorando a densidade de insetos pragas, podemos evitar o uso de produtos químicos, prezando para um ambiente cada vez mais equilibrado.
É importante salientar que para manter a sua cultura agrícola saudável, e minimizar as suas perdas por ataque de percevejos, é essencial que seja feito o seu monitoramento periódico durante toda a produção. Adotando o controle químico apenas se for necessário e no momento adequado. Dessa forma, mantendo por mais tempo os inimigos naturais e diminuindo o efeito residual de produtos químicos na sua lavoura.
Referências
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CORRÊA-FERREIRA, B. S. Maior eficiência no monitoramento dos percevejos da soja. Folder n°09/2005, Embrapa-Ministério da Agricultura e do Abastecimento, Nov.2005. Disponível em:< https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/109881/1/folder-percevejo.pdf >. Acesso em: 20 de Jun. de 2019.
CORRÊA-FERREIRA, B.S.; KRZYZANOWSKI, F.C.; MINAMI, C.A. Percevejos e a qualidade da semente de soja – série sementes. Circular Técnica n.67, Embrapa Soja- Londrina, Abr. 2009. Disponível em:< https://www.embrapa.br/en/soja/busca-de-publicacoes/-/publicacao/471343/percevejos-e-a-qualidade-da-semente-de-soja—serie-sementes>. Acesso em: 14 de Jun. de 2019.
CORRÊA-FERREIRA, B.S.; PANIZZI, A.R. Percevejos da soja e seu manejo. Londrina: EMBRAPA-CNPSo. p.45., 1999. Disponível em:< https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/461048/1/circTec24.pdf>. Acesso em: 12 de Jun. de 2019.
CUSTÓDIO, F. Percevejo marrom pode ocasionar perdas de até 40% nas lavouras de soja. Notícias agrícolas, 23 de jan. de 2017. Disponível em: < https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/soja/185882-percevejo-marrom-pode-ocasionar-perdas-de-ate-40-nas-lavouras-de-soja.html#.XCL91FVKjIU>. Acesso em: 15 de Jun. de 2019.
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SOJA E MILHO PUXAM ALTA DE 13% NO RESULTADO DO PIB AGROPECUÁRIO NO BRASIL. Notícias agrícolas, 02 de mar. de 2018. Disponível em: < https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/soja/185882-percevejo-marrom-pode-ocasionar-perdas-de-ate-40-nas-lavouras-de-soja.html#.XSy4outKjIV>. Acesso em: 15 de Jun. de 2019.
Graduada em Biologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). Atualmente é mestranda pelo Instituto Biológico de São Paulo.
Artigo interessante, irei até retornar ao seu site com mais
frequência, para mais artigos como estes. Obrigado. 🙂