Adubação Verde: estratégias de recuperação de áreas degradadas

A recuperação de áreas degradadas é um dos grandes desafios para a agricultura moderna, especialmente em um cenário onde o uso de técnicas sustentáveis na produção é fundamental. Nesse contexto, a adubação verde se destaca como uma estratégia eficiente para reverter processos de degradação do solo, promover regeneração da biodiversidade e melhorar a qualidade dos recursos naturais para as próximas safras.

Sabendo dessa importância, nossa equipe preparou um artigo completo que explora diferentes técnicas de adubação verde e como elas podem ser aplicadas de forma prática no campo. O foco é difundir esse conhecimento, para que você agricultor possa restaurar e melhorar a qualidade do solo em áreas degradadas através da adubação verde.

Índice

Qual o papel da adubação verde na Regeneração do Solo?

A adubação verde tem um papel fundamental na regeneração do solo. A prática envolve o cultivo de plantas específicas (cobertura) com o propósito de melhorar a qualidade do solo. Essas espécies são, de forma geral, leguminosas, gramíneas ou crucíferas. Após cultivadas, as plantas são incorporadas ao solo, onde se decompõem e liberam nutrientes fundamentais para a regeneração. A matéria orgânica proveniente das plantas de cobertura aumenta a atividade biológica do solo, melhora sua estrutura e eleva os níveis de matéria orgânica.

Além desses benefícios, a adubação verde contribui para a fixação do nitrogênio atmosférico no solo, principalmente quando plantas leguminosas são utilizadas na cobertura. Dessa forma, existe uma redução da necessidade de uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos, reduzindo também os custos de produção. O manejo além de contribuir para a fertilidade do solo, melhora a retenção de água, diminui a compactação e reduz a possibilidade de erosão.

image - Adubação Verde: estratégias de recuperação de áreas degradadas
Benefícios da adubação verde e cobertura de solo.
Fonte: Esalq/USP – guia prático de plantas de cobertura.

Como escolher as espécies vegetais para adubação verde?

Essa é uma das principais dúvidas entre os agricultores. A escolha das espécies é um ponto crítico para o sucesso na regeneração dos solos. É fundamental selecionar as espécies certas e mais adequadas às condições locais de clima, tipo de solo e nível de degradação atual.

  • Adequação ao clima: Plantas adaptadas ao clima da região crescem com mais vigor e oferecem melhores resultados em termos de cobertura de solo e produção de biomassa. Em regiões com clima quente e úmido, por exemplo, espécies como feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e guandu  (Cajanus cajan) são frequentemente utilizadas devido sua alta capacidade de fixação de nitrogênio e resistência ao calor. Já em áreas com clima temperado, as leguminosas de inverno, como ervilhaca (Vicia sativa), são escolhas comuns.
  • Tipo de solo: o tipo de solo influencia diretamente na escolha das plantas de cobertura. Solos arenosos têm baixa capacidade de retenção de água e nutrientes, exigindo espécies que possam melhorar essas características.  O milheto (Pennisetum glaucum) e a crotalária (Crotalaria juncea) são excelentes opções para solos arenosos, pois suas raízes profundas ajudam a melhorar a estrutura do solo e a retenção de umidade. Em solos argilosos, onde a compactação é um problema comum, plantas com sistemas radiculares vigorosos e profundos são ideais. Um exemplo é o uso do nabo forrageiro (Raphanus sativus).
  • Tipo de degradação: Para áreas com baixa fertilidade, é importante utilizar plantas que possam contribuir significativamente para a adição de nutrientes ao solo. Plantas leguminosas como  o feijão-guandu, mucuna-preta (Mucuna pruriens) e mucuna jaspeada (Mucuna nivea) são altamente recomendadas, pois fixam nitrogênio no solo e aumentam a matéria orgânica. Em áreas sujeitas à erosão, a cobertura rápida e densa do solo é essencial para evitar a perda de solo e nutrientes. Gramíneas como o capim-sudão (Sorghum sudanense) e o milheto são ideais, pois oferecem uma excelente cobertura do solo e possuem raízes que ajudam a estabilizar o solo.
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Campo com adubação verde através de mucuna jaspeada.
Fonte: Porpino, Gustavo – Embrapa Cerrados
  • Consórcio de espécies: Em muitos casos, um consórcio de espécies vegetais pode ser a estratégia mais eficaz. O consórcio consiste no cultivo simultâneo de duas ou mais espécies de plantas de cobertura que têm características complementares. Por exemplo, uma leguminosa pode ser consorciada com uma gramínea para combinar a fixação de nitrogênio com o controle da erosão. O consórcio oferece uma abordagem multifacetada para a recuperação do solo, promovendo uma maior biodiversidade e resiliência do sistema agrícola.

Abaixo, seguem alguns exemplos práticos de consórcio de espécies:

Feijão-de-porco e Milheto: Ideal para solos arenosos em regiões tropicais. O feijão-de-porco fixa nitrogênio, enquanto o milheto melhora a estrutura do solo.

Guandu e Capim-Sudão: Recomendado para áreas com alta compactação e risco de erosão. O guandu melhora a fertilidade e o capim-sudão oferece uma excelente cobertura e descompactação.

Ervilhaca e Centeio: Adequado para climas temperados com solos argilosos. A ervilhaca contribui com a fixação de nitrogênio, enquanto o centeio melhora a estrutura do solo e a cobertura.

Como implementar a adubação verde?

Inicialmente é importante compreender que a implementação da adubação verde deve ser planejada. É importante considerar o ciclo de cultivo das culturas e o período de pousio (descanso do solo). As plantas de cobertura podem ser semeadas em rotação com a cultura principal ou em consórcio, dependendo da estratégia de manejo adotada.

Após a semeadura, as plantas de cobertura devem ser manejadas corretamente para garantir que os nutrientes sejam efetivamente incorporados ao solo. Isso pode ser feito por meio de roçagem, técnica onde as plantas são cortadas e deixadas na superfície para se decompor ou serem incorporadas ao solo pelos implementos. Durante a decomposição das plantas de cobertura, os nutrientes são liberados gradualmente, o que proporciona uma nutrição mais equilibrada para as culturas subsequentes.

Por isso, o momento correto de fazer cada manejo é crucial. É recomendado evitar o corte das plantas de cobertura antes que tenham atingido o máximo acúmulo de biomassa, para garantir máxima eficiência na ciclagem de nutrientes. Em áreas muito degradadas, pode ser necessário repetir o processo de adubação verde por várias safras até que o solo recupere sua plena funcionalidade.

Adubo verde/ Planta de coberturaMassa seca (t/ha)N (kg/ha)Hábito de crescimentoCiclo até o florescimento (dias)
Calopogônio4 a 5370 a 450TrepadoraPerene
Crotalária-breviflora3 a 598 a 160Arbustiva ereto90 a 100
Crotalária-juncea10 a 15300 a 450Arbustiva ereto90 a 120
Crotalária-ochroleuca7 a 10200 a 300Arbustiva ereto120 a 150
Crotalária-spectabilis4 a 660 a 120Arbustiva ereto90 a 100
Feijão-de-porco3 a 680 a 160Determinado90 a 100
Guandu5 a 9120 a 220Arbustiva ereto150 a 180
Lablab3 a 680 a 160Trepadora120 a 150
Milheto8 a 10Touceira ereto60 a 90
Mucuna anã2 a 450 a 100Determinado90 a 120
Mucuna cinza7 a 8180 a 220Trepadora120 a 150
Mucuna preta7 a 8180 a 220Trepadora150 a 180
Pueraria4 a 5100 a 120TrepadoraPerene
Tremoço branco2 a 560 a 90Arbustiva ereto120 a 150
Nabo forrageiro2 a 3Determinado60 a 90
Aveia amarela3 a 6Touceira ereto120 a 150
Aveia preta3 a 6Touceira ereto70 a 130
Produção de massa seca, fixação de nitrogênio, hábito de crescimento e ciclo de diferentes adubos verdes/plantas de cobertura.
Fonte: Piraí Sementes

Quais os benefícios da adubação verde na agricultura regenerativa?

Quando falamos de agricultura regenerativa a adubação verde é uma peça fundamental. A técnica promove a recuperação dos ecossistemas agrícolas de maneira natural e sustentável.

Destacamos alguns dos principais benefícios a seguir:

  • Melhoria da qualidade do solo: Aumenta a fertilidade, melhora a estrutura do solo e promove a atividade microbiana.
  • Controle da erosão: As plantas de cobertura protegem o solo da erosão hídrica e eólica, comum em áreas degradadas.
  • Ciclagem de nutrientes: As plantas de cobertura reciclam nutrientes que seriam perdidos por lixiviação, disponibilizando-os para as culturas subsequentes.
  • Sustentabilidade econômica: A redução da dependência de fertilizantes químicos e o aumento da produtividade ao longo do tempo resultam em menores custos e maior rentabilidade para o agricultor.

A integração da adubação verde com outras práticas regenerativas, como o plantio direto e o uso de compostagem acelera significativamente o processo de recuperação de áreas degradadas, O manejo integrado de técnicas favorece o desenvolvimento de sistemas agrícolas mais resilientes e produtivos.

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Conclusão

A adubação verde se destaca como uma estratégia eficaz e sustentável para a recuperação de áreas degradadas. Além disso, contribui para a regeneração do solo e a melhoria das condições de cultivo. A escolha correta das espécies vegetais, o manejo adequado e a integração com outras práticas agrícolas são essenciais para maximizar os benefícios desta técnica. A aplicação da adubação verde não apenas restaura a produtividade do solo, mas também promove a sustentabilidade do agroecossistema como um todo, tornando-se uma aliada poderosa na agricultura regenerativa.

Referências bibliográficas

ASSIS, R. L.; MENDES, I. C. Adubação verde: estratégias de uso na agricultura. Embrapa Cerrados, 2020. Disponível em: https://www.embrapa.br/. Acesso em: 15 ago. 2024.

CARNEIRO, M. A. C.; MARRIEL, I. E.; SOUZA, K. W. C.; GONTIJO NETO, M. M.; CUNHA, C. H. O. de M. Plantas de cobertura e sua contribuição para a sustentabilidade agrícola. Embrapa Milho e Sorgo, 2021. Disponível em: https://www.embrapa.br/. Acesso em: 15 ago. 2024.

SILVA, F. R. da; GUIMARÃES, M. de F.; MARTINS, A. L. S. Manejo de adubação verde em sistemas de produção agrícola sustentável. Ciência Rural, v. 50, n. 4, p. 1-9, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/. Acesso em: 15 ago. 2024.

Camila Vargas - Adubação Verde: estratégias de recuperação de áreas degradadas

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