Acompanhar as expectativas de produção da safra de cana-de-açúcar é uma importante ferramenta para o produtor compreender a precificação do seu produto e, dessa forma, estimar a sua rentabilidade operacional.
Anualmente, a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) realiza dois levantamentos por ano, indicando as tendências de produtividade e contextualizando o cenário econômico quanto à precificação do produto.
De acordo com o segundo levantamento para a safra 24/25 de cana-de-açúcar, a produção total para o ano agrícola está estimada em 689,8 milhões de toneladas, uma redução de 3,3% em relação à safra anterior, puxada principalmente pelas chuvas abaixo do esperado e altas temperaturas na região Centro-Sul. Entretanto, considerando as condições climáticas mais favoráveis na região Nordeste e a expectativa de aumento de 3,5% na área colhida (expansão de 290 mil hectares, totalizando 8,63 milhões de hectares), o cenário é menos pior do que o esperado no primeiro levantamento, postado em abril deste ano, mesmo com redução de 6,6% na produtividade esperada (para 79.953 kg/ha) em relação à temporada anterior. Mesmo com todos os desafios climáticos, o Brasil continuará sendo o maior produtor de açúcar, além de manter uma oferta constante de biocombustível.
O boletim coloca ainda que grande parte da colheita deverá ser destinada à produção de açúcar, embora ainda se espera um aumento da produção de etanol, principalmente o hidratado. O relatório ainda destaca o crescimento da produção de etanol derivado do milho.
Para a elaboração do relatório, a CONAB utiliza de modelos estatísticos para previsões e realiza censos nas unidades produtivas para orientar políticas governamentais.
Abaixo, destrinchamos os detalhes da produção de cada estado quanto às expectativas postadas pelo segundo levantamento já comentado.
Índice
A produção de cana-de-açúcar em cada região:
Região sudeste
Na principal região produtora do país (64,2%), espera-se uma produção de 442,8 milhões de toneladas de cana, uma redução de 5,6% em relação à safra 23/24, enquanto a área colhida está estimada em 5,34 milhões de hectares (+4,8%) e a produtividade média é de 82.879 kg/ha (-9,9%). Considera-se que 55% da safra estimada já esteja colhida, enquanto o restante deverá findar, na maioria dos estados, em dezembro.
Apenas no estado de São Paulo, maior produtor do país e responsável por mais de 50% da produção nacional, com destaque para as regiões de Ribeirão Preto, Piracicaba, Araraquara, Araçatuba, Presidente Prudente e São José do Rio Preto, destacou-se uma redução significativa na produtividade. A diminuição é um reflexo do forte déficit hídrico, que ocasionou níveis críticos de disponibilidade de água no solo, em concordância com o que foi estimado no primeiro levantamento da CONAB de abril.
A produtividade e o ATR (Açúcar Total Recuperável) são indicadores interligados importantes para definir o rendimento econômico das lavouras de cana-de-açúcar. No estado de São Paulo, em comparação à safra passada, o ATR manteve-se estável, mesmo diante da redução na produtividade, o que indica uma manutenção da qualidade da cana em termos de açúcar recuperável. A produtividade afeta diretamente a quantidade total de matéria-prima disponível para a produção de açúcar, enquanto o ATR determina a eficiência na extração do açúcar por tonelada de cana.
Região centro-oeste
Na segunda maior região produtora de cana do país, a estimativa de produtividade é de 149,17 milhões de toneladas (81.577 kg/ha). A área cultivada, estimada em 1,83 milhões de hectares, cresceu 2,8% em virtude de novos arrendamentos próximos às unidades de produção.
Região nordeste
A colheita da produção ainda está em etapa inicial na região, em torno de 5%. A estimativa de produção, entretanto, é de 59,62 milhões de toneladas, um aumento de 5,6% em relação à safra anterior.
Região sul
Com a redução na produtividade dos canaviais e da área plantada, a estimativa de produção para o Sul do país é de 34,21 milhões de toneladas.
Região norte
A região é a menor produtora de cana-de-açúcar do país, com sua produtividade representando em torno de 0,6% do total nacional. A produção esperada é de 4,04 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 2,6% em relação ao ano anterior.
O mercado de açúcar e etanol
Uma boa leitura do mercado auxilia o produtor a entender a dinâmica dos preços de seus produtos, permitindo que realize um bom planejamento e aumentando a rentabilidade.
Na safra 24/25, o açúcar brasileiro teve uma forte demanda internacional, com mais de 11,6 milhões de toneladas comercializadas, 27,1% a mais que no mesmo período da safra anterior. As exportações de açúcar geraram US$ 5,6 bilhões, um aumento de quase 24%, incentivando a produção de açúcar sobre o etanol. Os principais destinos foram China, Indonésia e Emirados Árabes Unidos. Em contraste, as exportações de etanol diminuíram 17,2%, totalizando 440,1 milhões de litros. A Coreia do Sul foi o principal importador de etanol brasileiro, com 36% do volume, seguida pelos Estados Unidos e Holanda, que juntos somaram 72% das exportações.
Nos próximos meses, espera-se que os preços subam, tanto no Brasil quanto no exterior. Essa expectativa se baseia na redução da produção prevista na Ásia e no Brasil. Um superávit global menor do que o aguardado, junto com incertezas climáticas na Índia e no Brasil, provavelmente manterá os preços do açúcar elevados na bolsa de Nova York durante o terceiro trimestre de 2024.
Conclusão
Para a cultura da cana-de-açúcar, a safra 24/25 foi bastante desafiadora quando pensamos nas condições climáticas apresentadas durante o ciclo. A falta de chuvas foi um dos fatores que acabou limitando a produtividade da cultura, ainda mais quando comparada a última safra, que foi marcada pelo grande volume e, consequentemente, altas produtividades. Na região nordeste, uma boa expansão de área colhida foi marcada por essas condições positivas, o que deixou o cenário mais otimista do que o que era esperado no primeiro semestre. Conclui-se que a produtividade está prevista em 79.953 kg/ha, representando uma diminuição de 6,6% em relação à safra anterior (recorde na série histórica da Conab).
Em relação a produção de açúcar na safra 24/25, está estimada em 689,8 milhões de toneladas, representando uma queda de 3,3% em relação à safra anterior. Apesar dessa redução, a produção de açúcar deve crescer 0,6%, atingindo quase 46 milhões de toneladas. O setor prevê direcionar mais cana para a produção de açúcar do que para etanol, devido ao mercado internacional favorável, especialmente com a redução da oferta de outros países exportadores. No entanto, o volume final de açúcar e etanol poderá variar conforme as decisões tomadas nas unidades de produção ao longo do ciclo.
A produção de etanol na safra 24/25 deve ser menor que a safra anterior, devido à menor oferta de cana e à maior competitividade do açúcar no mercado global. A produção de etanol está estimada em 28,5 bilhões de litros, uma queda de 4,1% em relação à safra 23/24, com uma maior redução esperada para o etanol anidro em comparação ao hidratado.