O cultivo de soja enfrenta desafios constantes com a ocorrência de doenças que podem impactar diretamente a produtividade. Entre essas doenças, o mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, destaca-se como uma das mais destrutivas. O patógeno pode se espalhar rapidamente em condições favoráveis, prejudicando seriamente o desenvolvimento das plantas e levando a perdas expressivas na produção.
Para minimizar os danos, é fundamental que os produtores entendam como identificar precocemente a doença, implementar práticas eficazes de prevenção e adotar medidas de controle adequadas.
Neste artigo, exploraremos essas estratégias em detalhe, fornecendo um guia completo para enfrentar o mofo-branco na cultura da soja.
Índice
O que é mofo-branco?
O mofo-branco é uma doença fúngica que causa danos em diversas culturas, incluindo a soja. É causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum,que pode sobreviver no solo por muitos anos na forma de escleródios. Essas estruturas, são massas compactas e endurecidas de células fúngicas, que permitem ao fungo resistir a condições adversas, como secas ou falta de hospedeiros, por longos períodos (meses ou até anos).
Quando estão em condições favoráveis — alta umidade e temperaturas amenas (15°C a 21°C) — esses escleródios germinam, liberando esporos que infectam as plantas. Na soja, o mofo-branco afeta principalmente os ramos, hastes e vagens, levando a perdas severas na produção. A doença é mais comum em áreas com histórico de plantio de soja e outras culturas suscetíveis, como feijão, algodão e girassol.
Como identificar o mofo-branco na soja
A identificação precoce do mofo-branco é um passo fundamental para evitar graves danos à lavoura da soja. Estar atento aos principais sinais da doença pode ser o diferencial na produtividade. Abaixo seguem os principais sintomas:
- Murcha e colapso das hastes: O primeiro sintoma visível do mofo-branco na soja é o início de uma murcha nas hastes da planta, que ocorre devido à invasão do fungo no tecido vascular. Esse tecido é responsável pelo transporte de água e nutrientes da raiz para o restante da planta. Quando o fungo Sclerotinia sclerotiorum coloniza essas áreas, ele interrompe o fluxo de água, fazendo com que as hastes percam turgidez. Isso resulta no murchamento gradual das folhas, e as hastes podem começar a desidratar e escurecer. Se a infecção não for controlada, a haste colapsa completamente, levando à morte da planta.
- Manchas brancas e esporos: Um dos sinais mais comuns da infecção por mofo-branco são as manchas brancas que aparecem nas hastes e vagens da soja. Essas manchas são, na verdade, colônias de micélio (estrutura de crescimento do fungo) que se formam na superfície dos tecidos infectados. Elas têm uma aparência semelhante a tufos de algodão, sendo facilmente identificáveis a olho nu. Essas áreas são altamente infecciosas, pois podem liberar esporos que são disseminados pelo vento ou pela água, espalhando a infecção para outras plantas na lavoura. As manchas brancas são mais visíveis durante períodos de alta umidade, quando o fungo cresce rapidamente.
- Escleródios: Os escleródios são um estágio crucial no ciclo de vida do Sclerotinia sclerotiorum. Eles aparecem como pequenas estruturas escuras, geralmente com uma textura dura, que podem ser encontradas dentro das hastes e vagens das plantas afetadas. Esses escleródios funcionam como uma forma de resistência e sobrevivência do fungo, permitindo que ele permaneça viável no solo por vários anos. Sua presença dentro das plantas infectadas indica que o fungo já completou seu ciclo e está pronto para se preservar até que as condições favoráveis (umidade e temperatura) permitam sua germinação e o início de uma nova infecção. Detectar escleródios nas hastes é um sinal claro de que o fungo está presente no campo e pode ser uma ameaça contínua.
- Podridão de hastes e vagens: À medida que a infecção avança, a podridão se espalha pelas hastes e vagens da planta. Essa podridão é causada pela degradação dos tecidos pelas enzimas liberadas pelo fungo, que desintegram as células da planta. Como resultado, as hastes e vagens começam a apodrecer, perdendo completamente sua estrutura. O fungo ataca as vagens diretamente, comprometendo o enchimento dos grãos, o que impacta drasticamente o rendimento da lavoura. Mesmo em condições de alta umidade, as plantas mortas ou severamente infectadas podem secar, deixando hastes secas e quebradiças. Isso compromete o desenvolvimento da cultura e, muitas vezes, resulta em áreas inteiras de soja sem produção, visto que a doença se espalha rapidamente entre plantas próximas.
Como prevenir a disseminação do mofo-branco?
Prevenir a disseminação do mofo-branco é a melhor maneira de proteger a lavoura de perdas severas. Algumas medidas preventivas recomendadas incluem:
- Rotação de culturas: Alternar a soja com culturas não suscetíveis ao mofo-branco, como milho e cereais de inverno, pode reduzir significativamente a quantidade de escleródios no solo. A rotação de culturas de três a quatro anos é considerada eficaz.
- Plantio de soja em espaçamento adequado: A redução na densidade de plantas permite uma melhor circulação de ar e reduz a umidade no interior da lavoura, inibindo as condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo.
- Variedades resistentes: Escolher variedades de soja com maior resistência ao mofo-branco pode ser uma estratégia eficaz. No entanto, é importante combinar essa prática com outras medidas de manejo para garantir proteção adequada.
- Controle de plantas daninhas: Algumas plantas daninhas podem servir como hospedeiras secundárias para o fungo. O controle rigoroso dessas plantas nas áreas de plantio é essencial para reduzir a pressão da doença.
Estratégias de controle
Controle químico do mofo-branco
Quando a doença já está presente na lavoura, o controle químico pode ser uma ferramenta eficaz para minimizar os danos. Fungicidas específicos para o controle de Sclerotinia sclerotiorum devem ser aplicados de maneira preventiva ou logo nos estágios iniciais da infecção. Recomenda-se a aplicação em períodos de maior risco, especialmente durante a fase de floração da soja.
- Fungicidas à base de carbendazim e procimidona: São algumas das opções mais utilizadas no controle químico do mofo-branco.
- Aplicação preventiva: Aplicar fungicidas antes do aparecimento dos primeiros sintomas pode ajudar a proteger a lavoura de infecções severas. Monitorar a previsão do tempo para evitar aplicações em dias de chuva e garantir que o produto atue de forma eficaz.
Uso de ferramentas de controle biológico
O controle biológico é uma ferramenta eficaz no combate ao mofo-branco, e uma das espécies mais promissoras nesse cenário é o uso de Trichoderma asperellum. Esse fungo é um antagonista natural de vários patógenos, incluindo o Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo-branco na soja.
Trichoderma asperellum age de forma tripla contra o fungo patogênico: competindo por espaço e nutrientes, parasitando diretamente os escleródios, e produzindo enzimas e metabólitos que inibem o crescimento do patógeno. Ao ser aplicado no solo ou nas plantas, T. asperellum coloniza rapidamente o ambiente ao redor das raízes e da superfície das plantas, criando uma barreira protetora.
Essa capacidade de competição é crucial, pois impede que o S. sclerotiorum germine e infecte novas plantas. Além disso, o T. asperellum parasita os escleródios, utilizando-os como fonte de energia e nutrientes, o que reduz significativamente a quantidade de escleródios viáveis no solo. Esse processo de parasitismo é particularmente eficaz, pois enfraquece o ciclo de sobrevivência do fungo causador do mofo-branco.
Trichoderma asperellum também produz compostos antifúngicos, como enzimas quitinases e glucanases, que decompõem a parede celular do S. sclerotiorum, inibindo sua capacidade de crescer e causar infecções. Com o uso contínuo e adequado desse fungo biocontrolador, a pressão do mofo-branco na lavoura de soja pode ser consideravelmente reduzida ao longo do tempo, promovendo uma alternativa ambientalmente segura e economicamente viável para o manejo da doença.
Além de sua eficácia no controle do mofo-branco, o T. asperellum tem outros benefícios, como a promoção do crescimento das plantas ao melhorar a disponibilidade de nutrientes no solo e a resistência geral da planta a estresses abióticos. O que torna o fungo uma importante ferramenta no manejo integrado de doenças na agricultura.
Conclusão
O mofo-branco é uma das principais ameaças à cultura da soja, podendo causar perdas significativas na produção. Identificar os sintomas da doença cedo, entender os fatores que favorecem sua disseminação e adotar estratégias de prevenção e controle são essenciais para proteger a lavoura. O uso de práticas como rotação de culturas, controle químico e biológico, além de variedades resistentes, pode minimizar os impactos dessa doença devastadora. Com manejo adequado, os produtores podem manter suas lavouras saudáveis e produtivas
Referências bibliográficas
EMBRAPA Soja. (2021). Mofo-branco na soja: sintomas, epidemiologia e manejo. Retrieved from www.embrapa.br
Yorinori, J.T., & Azevedo, L.A.S. (2013). Doenças da soja causadas por fungos de solo. Manual técnico.