O solo é um ambiente diverso e dinâmico, onde habitam inúmeras espécies de animais, fungos, bactérias e nematoides. Esses organismos têm suma importância no equilíbrio das características físicas e químicas do solo, regulando desde a decomposição da matéria orgânica até a diversidade funcional do agroecossistema.
Dentre esses organismos existem os nematoides. Esses seres são vermes microscópicos que sobrevivem em diversos ambientes, como solo, rios, lagos e mares. Possuem um corpo alongado com extremidades afiadas cujo comprimento varia entre 0,5 e 4 mm. Algumas espécies, conhecidas como nematoides de vida livre, se alimentam de algas e fungos, enquanto as espécies mais estudadas e conhecidas pelos agricultores são aquelas que se especializaram em se alimentar de plantas superiores, denominados nematoides fitoparasitas, ou fitonematoides (Silva e Athayde Sobrinho, 2017). Ao todo, existem mais de 25.000 espécies de nematoides descritas até o momento, mas estima-se que existam milhões de espécies ainda não descobertas (Bayer, 2023). Os principais gêneros encontrados no Brasil são: nematoide das galhas (Meloidogyne), nematoides das lesões radiculares (Pratylenchus) e nematoide de cisto (Heterodera).
Seu impacto na produtividade agrícola é enorme, com estimativas indicando que 12 a 15% de toda a produção mundial é perdida por conta da ação desses microrganismos (Silva e Athayde Sobrinho, 2017).
Índice
Como identificar visualmente um ataque de nematoides?
A grande dificuldade no controle de nematoides é, justamente, identificar sua presença na lavoura. Dada a vasta diversidade de espécies e, muitas vezes, à falta de sintomas claros de seu ataque, definir visualmente apenas pela observação de sintomas na planta pode levar a erros de interpretação. Segundo Castro e Moreira (2012), a exemplo das videiras, com exceção das galhas incitadas por Meloidogyne spp. nas raízes, nenhum outro sintoma específico pode auxiliar no diagnóstico dessas doenças.
Entretanto, por atacarem o sistema radicular das plantas, os nematoides afetam a absorção de água e nutrientes pelas plantas, o que resulta em plantas murchas nas horas mais quentes do dia, amarelecimento e queda de folhas, deficiência mineral acentuada, declínio da população e diminuição da produção. Nas raízes, são observados sintomas como aumento na densidade do sistema radicular (raízes muito ramificadas), poucas raízes, necrose, descolamento do córtex radicular, manchas escuras em folhas, galhas, raízes em formas de dedo (digitamento) e rachaduras em órgãos subterrâneos (Silva e Athayde Sobrinho, 2017).
O ponto chave na diferenciação do ataque de nematoides de outros fatores muito frequentemente confundidos como acidez elevada do solo e falta de nutrientes, é pela sua forma de ocorrência: os ataques acontecem em reboleiras; mesmo assim, ainda é possível a confusão com ataques de fungos e bactérias.
Análise nematológica
Se apenas os sintomas apresentados pelas plantas não são o suficiente, qual o caminho para identificar corretamente uma área infestada por nematoides? Para se ter certeza de que esses organismos estão presentes é imprescindível recorrer a uma análise nematológica do solo e das raízes das plantas, o que é realizado em laboratórios especializados.
A análise nematológica possui o papel de trazer informações para o produtor que irão auxiliar no seu manejo contra o alvo, fornecendo: quais espécies de nematoides parasitas de plantas estão ocorrendo no local e qual o nível populacional de cada espécie. A partir da análise o produtor pode optar pela melhor rota de controle e manejo da sua lavoura.
Como coletar corretamente as amostras para análise de nematoides?
As amostras de solo devem ser coletadas da rizosfera (região de maior concentração de raízes), de 0 a 20-30 centímetros de profundidade, de vários pontos da área sintomática, caminhando-se em zigue-zague, de modo a cobrir toda a área. Para culturas perenes arbóreas, retirar amostras próximo a projeção da copa (norte, sul, leste, oeste) ou nas áreas onde se encontram as raízes mais jovens.
Também não se recomenda que as amostras sejam coletadas diretamente sobre as reboleiras, uma vez que a população de nematoides nessas regiões pode estar desequilibrada e causar discrepâncias na análise (Silva et al., 2019).
Com covas abertas com enxadão ou pá, recomenda-se a coleta de 10 subamostras por hectare, de modo a formar uma amostra composta que contenha de 300 a 500g de solo + 100 a 150g de raízes. As coletas das 10 subamostras são homogeneizadas e enviadas para o laboratório, sendo a melhor época de amostragem 60 dias após a germinação, presando a época de florescimento.
É importante selar bem os sacos de amostra para evitar a perda de água e abrigá-los protegidos do calor, visto que os nematoides precisam de certa umidade e temperatura para sobreviver. Em caso de solo seco, deve-se umedecer a amostra. As amostras devem ser enviadas o mais rápido possível (4-5 dias) ao laboratório e devidamente identificadas, contendo o nome da propriedade e do proprietário, município, se a cultura é anual ou perene, e a porcentagem da área com problema.
Os procedimentos comentados acima estão de acordo com as recomendações de coleta feitas pela EMBRAPA por Silva e Athayde Sobrinho (2017), e pelo procedimento de coleta do laboratório Ribersolo. Entretanto, não são definidos níveis críticos estabelecidos para as análises de nematoides, e os resultados são uma ferramenta para entender quais espécies e em que grau estão presentes na área.
Conclusão
Uma vez introduzidos em uma área, a erradicação dos nematoides é muito difícil, porque estes apresentam diversos mecanismos de sobrevivência, podendo permanecer no solo por longos períodos, mesmo na ausência de plantas hospedeiras.
Tendo isso em vista, a análise feita da maneira correta fornece ao produtor a informação necessária para que este adeque seu manejo à presença desses organismos. Dentre essas práticas estão a utilização de cultivares ou porta-enxertos resistentes, rotação de culturas com espécies antagônicas ao nematoide (crotalárias, por exemplo) e o uso de sementes tratadas com produtos específicos para a defesa contra esses fitonematoides.
Referências bibliográficas
BAYER. Saiba mais sobre nematoides. 2023. Disponível em: https://www.agro.bayer.com.br/conteudos/saiba-mais-sobre-nematoides. Acesso em: 19 abr. 2024.
CASTRO, J. M. da C. e; MOREIRA, W. A. Nematóides. In: LIMA, M. F.; MOREIRA, F. R. B. (Ed.). Uva de mesa: fitossanidade. 2. ed. rev. e ampl. Brasília, DF: Embrapa, 2012. cap. 5 p. 59-70. il. (Frutas do Brasil, 14).
RIBERSOLO. Análise de nematóides. 2023. Disponível em: https://ribersolo.com.br/analise-de-nematoides/?doing_wp_cron=1713366976.0167090892791748046875. Acesso em: 19 abr. 2024.
SILVA, G. S. da; ATHAYDE SOBRINHO, C. Nematóides. In: CARDOSO, M. J.; BASTOS, E. A.; ANDRADE JUNIOR, A. S. de; ATHAYDE SOBRINHO, C. (Ed.). Feijão-Caupi: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília, DF: Embrapa, 2017. p. 175-184. (Coleção 500 perguntas, 500 respostas).
SILVA, Santino A.; MACHADO, Andressa C. Z.. Amostragem. In: MACHADO, Andressa C. Z.; SILVA, Santino Aleandro da; FERRAZ, Luiz Carlos C. B.. Métodos em Nematologia Agrícola. Piracicaba: Sociedade Brasileira de Nematologia (Sbn), 2019. Cap. 1. p. 1-7.