Solos: aspectos físicos, químicos e biológicos

Os solos são cruciais para a nossa vida no planeta terra. A qualidade do solo determina, de forma significativa, a natureza dos ecossistemas das plantas e a capacidade da terra em sustentar a vida animal e a dos seres humanos.

Os solos continuarão a nos suprir com quase todo o nosso alimento, além disso, a biomassa que cresce sobre os mesmos, provavelmente se tornará a principal fonte de combustíveis e manufaturados a medida que as fontes de petróleo se esgotem.

A dura realidade do século XXI é que a população cresce exponencialmente e a produção de alimentos não é no mesmo ritmo. Além disto as áreas agricultáveis no mundo que podem ser usadas para agricultura estão restritas apenas alguns países ou regiões do planeta e fico muito feliz que um desses lugares é o Brasil. Porém, nossa responsabilidade como agrônomos e agricultores fica aumentada.

Desta forma devemos ver o solo não apenas como um meio de sustentação físico para as plantas, mas sim o meio que supre toda a necessidade nutricional das mesmas.

Estamos acostumados a visualizar a parte aérea dos vegetais, ou seja, o que está acima do solo. E na verdade o mais importante é o que está na subsuperfície, isto é, as raízes. Estas além de serem a sustentação (alicerce) para as plantas, é através dela que os vegetais se alimentam e no caso dos vegetais, os mesmos bebem os seus nutrientes, pois todos são absorvidos juntamente com a água.

Assim sendo, precisamos oferecer todas as condições para que esta raiz se desenvolva da melhor maneira possível, sem impedimentos químicos, físicos e biológicos. Para que isto aconteça temos que utilizar artifícios e manejos para que estas condições se criem no sistema. Assim, quanto maior a sua profundidade do perfil, maior será o crescimento radicular.

Quanto mais raízes temos, mais absorção de água e nutrientes e consequentemente melhor desenvolvimento vegetal e melhor produtividade.

Para tanto temos que pensar em 3 aspectos muito importantes na formação do perfil do solo que são os aspectos físicos, químicos e biológicos.

Índice

Aspectos físicos dos solos

O aspecto físico é muito importante principalmente quando nos referimos a solos compactados ou adensados. Já sabemos que solos com uma camada compactada impede o desenvolvimento radicular em profundidade o que pode causar maiores ou menores prejuízos dependendo da espécie cultivada, porém, de modo geral é ruim para todas as plantas.

image 2 - Solos: aspectos físicos, químicos e biológicos
Propriedade Física do solo
Fonte: UFVJM

Além de impedir o crescimento da raiz, um solo compactado tem menor número de macroporos e microporos, onde se encontra o oxigênio sem o qual não a respiração. E sem respiração não há vida e muito menos desenvolvimento.

Também em função disto temos menos retenção de água, o que nos causa dois problemas, sendo o primeiro menor capacidade de guardar água e segundo maior problema de erosão hídrica devido a baixa infiltração e maior escorrimento superficial. Então, acredito que o primeiro ponto a ser levado em consideração na construção de um bom perfil do solo é descompactação.

Neste momento, o agricultor ou o consultor tem que lançar mão de ferramentas para medir o nível de compactação como penetrômetro , ou seja, medir . Chegando a conclusão de que deve haver intervenção, deverá o fazer instantaneamente utilizando equipamentos como subsolador ou escarificador.

Hoje em dia com advento do plantio direto não se recomenda o revolvimento do solo, mas temos ótimas alternativas de plantas de cobertura que ajudam em muito a descompactação do solo. Porém, tem que ser práticas corriqueiras dentro da fazenda e não esporádicas, caso contrário não trarão os benefícios esperados.

Contudo, hoje existem equipamentos subsoladores que fazem um ótimo trabalho de descompactação sem revolver o solo.

Talvez, o melhor resultado seria a utilização dos dois métodos, ou seja, utilização de plantas de cobertura como a brachiaria e a utilização do equipamento como o escarificador.

O que não podemos é deixar o solo compactado de forma alguma. Acredito que é o ponto de maior perda de produtividade para todas as culturas em geral e assim, temos que MEDIR e AGIR para eliminarmos a compactação do solo.

Aspectos químicos

O aspecto químico vem em segundo lugar e acredito ser o mais difícil de acertar devido a vários parâmetros que se correlacionam. Da mesma forma que o aspecto físico, este deve ser analisado e condicionado em profundidade. E pensando em altas produtividades, acima da média brasileira e mundial, temos que pensar no mínimo a 1 metro de profundidade e analisarmos solo até 2 metros de profundidade.

Temos vários fatores que precisamos levar em consideração no aspecto químico, sendo pH, capacidade de troca de cátions (CTC), % de argila, areia e silte, teores de todos os macro e micronutrientes, % das bases como Cálcio, Magnésio e K na CTC, matéria orgânica (M.O.), % de alumínio na CTC efetiva (m%) entre outros. Isto no mínimo na camada de 0-20 cm e 20-40 cm. Sendo que a excelência deste processo além destas duas camadas, devemos fazer análises de solo em pontos do lote na camada de 0-50 de 10 em 10 cm e trincheiras para analisar até 2 metros de 20 em 20 cm.

Uma trincheira para cada tipo de solo dentro da fazenda, ou seja, se possuirmos áreas velhas (com mais de 10 anos de plantio) e áreas novas (com menos de 10 anos de plantio) devemos fazer uma trincheira para cada gleba.

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Propriedade química do solo
Fonte: Mundo Ecologia

Entendo que pH é o primeiro ponto a ser observado em uma análise química de solo, pois a partir dele podemos entender a disponibilidade da maioria dos nutrientes. Temos vários estudos que comprovam que determinados nutrientes ficam mais ou menos disponíveis de acordo com a faixa de pH existente no perfil do solo. Isto devido a mudança da CTC de acordo com esses níveis, ou seja, teremos maior ou menor quantidade de cargas negativas e positivas dependendo do pH, as quais afetam toda a parte de adsorção de nutrientes catiônicos e também aniônicos devido a capacidade de troca de ânions (CTA).

Então reações como hidrólise são fortemente afetadas por esta mudança e disponibilizam ou não alguns nutrientes essenciais para as plantas.

Além deste item afetar enormemente a vida microbiana no solo como discutiremos mais adiante. Após a determinação do pH temos que verificar todos os valores brutos dos macro e micronutrientes e fazermos as devidas comparações com as tabelas pré existentes para chegarmos a conclusão se estão em níveis baixos, médios ou adequados.

Entendermos também todas inter-relações dos nutrientes, cada um com sua particularidade. Isto é de fundamental importância, pois o excesso de um pode causar a inibição da absorção de outro. Sabendo disto vamos para a correção do perfil com os nutrientes que faltam de acordo com a nossa compreensão do que é necessário para construir um perfil para altas produtividades.

Para isto usamos várias ferramentas, como gessagem, calagem, fosfatagem entre outras. Mas precisamos ter em mente qual o nível de determinados nutrientes queremos e/ou precisamos em determinada profundidade para que a raiz se desenvolva na sua plenitude. Penso que na construção de perfil químico temos que dar extrema atenção para fósforo na camada de 20-40 cm, cálcio (Ca) e magnésio (Mg) na camada até 1 metro e boro (B) também na camada até 1 metro. Se possível o pH até a camada de 60 cm deve ser melhorado.

A camada de 0-20 nem sito neste momento pois acredito que todos os envolvidos no setor já sabem muito bem dos níveis que devemos adotar. Porém perfis de solos é abaixo da camada de 20 cm. Estes nutrientes são importantíssimos, pois são os principais na formação da parede celular dos vegetais e irão dar condições para que a raiz cresça o máximo possível.

Porém, fazer este processo através de incorporação com grades pesadas é relativamente fácil, mas muito oneroso. Saliento contudo, que é de primordial importância este processo para o bom desenvolvimento da cultura a ser implantada.

A manutenção química deste perfil pode ser mantida com segurança através da utilização de plantas de cobertura e plantio direto na palha, como já comprovam vários estudos de pesquisa.

Aspectos biológicos dos solos

O aspecto biológico é o terceiro passo para se chegar a excelência. Mas este não ocorrerá se não fizermos os dois primeiros processos com maestria.

A biologia ou a microbiologia do solo somente se evoluirá se dermos condições para o seu bom desenvolvimento.

E o que são essas condições?

É solo aerado, com disponibilidade de água e alimento para os microorganismos se desenvolverem , ou seja, matéria orgânica que se traduz em massa vegetal. E massa vegetal se caracteriza por parte aérea e radicular das plantas.

Quero destacar o aumento da M.O. através da decomposição microbiana se dá pela quantidade de massa seca disponibilizada, mas sobretudo, pela qualidade desta mesma. Assim, temos que saber ou entender que tipo de alimento estamos fornecendo para a microflora e microfauna do solo, ou seja, alimento com mais lignina, hemicelulose, celulose.

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Fonte: Climatempo

Para cada tipo teremos a formação dos vários componentes da M.O. que são:

  • HUMINA;
  • ÁCIDOS FÚLVICOS e;
  • ÁCIDOS HÚMICOS.

Hoje sabemos que M.O. orgânica se aumenta de forma mais contundente com LIGNINA.

Esta substância encontramos mais nas raízes dos vegetais. Desta forma temos que dar prioridade para plantas que tenhas sistema radicular agressivo e abundante como por exemplo a brachiaria.

E porque precisamos dos microorganismos para alcançar altos tetos produtivos? Sabemos que eles ajudam as plantas no fornecimento de vários nutrientes e também defesa, como Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), exudatos que são precursores hormonais, solubilização de fósforo, predadores de nematóides, simbiontes  como as micorrizas.

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O ganho de produtividade da soja dos 3600 Kg/ha para 6000 Kg/ha só acontecerá se dermos condições para que estes macro e microorganismos se desenvolverem. Através desta simbiose daremos este salto onde todos ganham, ou seja, a verdadeira relação GOLFINHO segundo a neurolinguística (relação do ganha-ganha).

Portanto, perfis de solos são todos os volumes de solo que dá condições para a raiz da planta crescer e deste modo absorver a água e os nutrientes que necessita.

Quanto mais profundo este perfil, mais raízes a planta consegue desenvolver e a boca fica maior. É consequência. Então para isto acontecer temos que lançar mão de várias ferramentas como plantio direto na palha, uso de fontes de nutrientes adequadas, aplicação na hora certa e no local certo e sobretudo na quantidade certa.

Desta forma estaremos produzindo alimentos com sustentabilidade, preservando meio ambiente e sendo economicamente viáveis.

O engenheiro agrônomo tem obrigação de entender todos esses fatores e aplica-los de forma consciente e precisa.

É obrigação do agricultor produzir alimentos de qualidade e sustentável.

Para isto precisamos experimentar, pesquisar, ousar e acima de tudo estudar. Sem os solos não há vida. O SOLO NÃO É UM BEM QUE HERDAMOS DOS NOSSOS PAIS, MAS SIM UM BEM QUE TOMAMOS EMPRESTADOS DE NOSSOS FILHOS.

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