Calagem: O que você precisa saber antes de realizar este manejo

No texto de hoje elaborado pela agroinovadora Amanda Borghetti abordaremos um assunto de extrema importância nas lavouras em todo país, a correção do pH do solo por meio do corretivo agrícola, a calagem. Nesta prática pode considerar que não existem mais margens para questionamentos quanto a sua utilização e seus resultados em produtividade. Entretanto, o conhecimento técnico junto a alocação deste insumo pode resultar em ganhos de produtividade nas diversas culturas.

Índice

Por que realizar correção de solo?

Os solos de regiões tropicais, como a maioria dos solos brasileiros, sofrem muito intemperismo, isto é, intensa ação do clima (pluviosidade e temperatura). O intemperismo afeta a retenção de bases na CTC (Capacidade de Troca de Cátions) no solo, pois causa a sua lixiviação, e com isso, há um aumento na acidez do solo.

O que a acidez do solo influencia?

A acidez do solo é representada pela atividade dos íons de H+ e  Al3+ na solução do solo ou adsorvido nos coloides. Solos ácidos, ou seja, com alta concentração desses elementos, não possuem a disponibilidade ideal dos nutrientes para as plantas, pois esses não são adsorvidos, devido às reações desses elementos na solução de acordo com o pH. Além disso, o Alumínio (Al) é um elemento tóxico para maioria das plantas, principalmente limitando a formação de raízes.

Gráfico 1. Disponibilidade dos nutrientes na solução do solo conforme o pH.

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Fonte: Adaptado de Malavolta (1979).

Quais os benefícios da correção de solo?

Segundo a Embrapa (1981) e PNFCA – Plano Nacional de Fertilizantes e Calcário Agrícola – (1974), a absorção dos nutrientes pelas raízes se torna mais eficiente quanto mais próximo da neutralidade estiver o pH do solo. Dados compilados de produtividade em diversas cultivares de soja mostram que podem haver incrementos de produtividade de até 40% com a aplicação de altas doses de corretivos em áreas com pH inadequado (Mascarenhas et al., 1996).

Dessa forma, é necessária a correção do pH dos solos para otimização das produções agrícolas. O calcário agrícola, além de possuir capacidade de correção da acidez do solo, fornece os nutrientes Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg) elevando a saturação por bases, que possui relação estreita com as produtividades das culturas.

A correção de solo com calcário é a base da lavoura, a construção de perfil do solo proporciona, além da nutrição adequada das plantas, maior resistência à invasão de patógenos e maior tolerância ao estresse hídrico, pois permite crescimento radicular, ou seja, maior exploração do solo pelas raízes.

Quando e como aplicar?

A qualidade do calcário depende do PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total), uma medida que relaciona sua granulometria com composição química. Quanto maior o PRNT do calcário, mais rápida é sua reação no solo. Isso não significa que quanto maior o PRNT melhor o produto, o tipo de calcário a ser aplicado depende da cultura, do período de reação e do maquinário disponível para aplicação. Entretanto, valores de PRNT muito baixos (<80%) podem indicar que parte do produto não terá reação no solo por um período muito longo. O teor de magnésio também é um ponto importante, pois o calcário é uma das poucas formas de repor esse nutriente no solo, e a sua concentração varia de acordo com a rocha de extração do calcário.

É recomendada a aplicação deste insumo com aproximadamente 3 meses de antecedência ao plantio, para que ocorra a reação de correção no solo. Entretanto, com o cultivo de duas a três safra, e janelas mais curtas nas entressafras, essa aplicação é maleável, pois o calcário continua reagindo no solo após o plantio.

Quais doses aplicar?

Para a maioria das culturas, como grãos, algodão, hortifrúti e pastagens, recomenda-se a aplicação superficial em área total, apesar de haverem outras modalidades de aplicação do calcário. Por exemplo, no caso específico da cana-de-açúcar, muitos produtores utilizam um subsolador com aplicação em profundidade visando aumentar a eficiência do insumo utilizado.

Os principais cálculos para a recomendação de aplicação de calcário utilizam critérios de Saturação por bases (V%), um dado da análise de solo, sendo que cada cultura responde melhor a um V% diferente, normalmente indicado nos Boletins de Recomendação, como este que você pode baixar clicando aqui.

image 2 - Calagem: O que você precisa saber antes de realizar este manejo

Sendo:

NC = Necessidade de calagem na camada 0 – 20 cm em t ha-1

V1 = Saturação por Bases atual do solo

V2 = Saturação por Bases desejada (específica para cada cultura)

T = Capacidade de troca de cátions potencial em mmolc dm-3

PRNT = Poder relativo de neutralização total em porcentagem (específico do calcário)

Existe também o critério de teores de Ca e Mg, e o critério por neutralização do alumínio.

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Sendo:

NC = Necessidade de calagem na camada 0 – 20 cm em t ha-1

Ca = teor de Ca no solo em cmolc dm-3 (0 – 20 cm)

Mg = teor de Mg no solo em cmolc dm-3 (0 – 20 cm)

T = Capacidade de troca de cátions potencial em mmolc dm-3

PRNT = Poder relativo de neutralização total em porcentagem (específico do calcário)

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Para realizar uma correção de solo de qualidade é muito importante que a amostragem de solo para análises químicas sejam representativas e que o critério utilizado para cálculo de dose e qualidade de aplicação seja muito bem observado.

Referências Bibliográficas

Embrapa. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Relatório técnico anual do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados 1979-1980. Planaltina, DF: Embrapa cerrados, 1981. 190p.

MASCARENHAS, H.A.A et al.  Efeito da Calagem sobre A Produtividade De Grãos, Óleo E Proteína Em Cultivares Precoces De Soja. Sci. agric.,  Piracicaba ,  v. 53, n. 1, p. 164-172,  Jan.  1996 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-90161996000100024&lng=en&nrm=iso>. access on  25  July  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-90161996000100024.

MALAVOLTA, E. ABC da adubação. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Ceres, 1979. 255 p. il.

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